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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

A percepção do terror

Alexandre Guerra, 29.06.15

 

Por mais que custe admiti-lo, o Estado Islâmico (ISIS) tem sido muito eficaz na propagação do terror, ou melhor dizendo, na propagação de uma sensação de terror a uma orla cada vez mais distendida e que já se aproxima, perigosamente, da costa do sul da Europa. E o problema é que basta um atentado para que o ISIS coloque em causa um dos bens mais preciosos de países como a Tunísia: a sua relativa estabilidade de segurança. De facto, a Tunísia, no conjunto dos países do Magreb, sempre foi aquele que melhores condições de segurança apresentou, um vector essencial para a dinamização do turismo e que, aliás, cativou ao longo dos últimos anos muitos portugueses. Ali, com um voo de pouco mais de duas horas entre Lisboa e Tunis, já podiam encontrar um "cheirinho" da cultura árabe, boas praias, bons hotéis, costumes relativamente ocidentalizados e...segurança. Até ontem.

 

Essa estabilidade de que a Tunísia gozava até ontem (excepto durante aquele período mais conturbado da fantasiosa "Primavera Árabe" e de um atetntado mais recente) é hoje uma miragem, não necessariamente em termos objectivos e de segurança, mas naquilo que é a percepção das pessoas. Na verdade, a Tunísia será nos próximos dias um dos países mais vigiados e seguros do mundo, mas não é por isso que milhares de turistas cancelaram as suas férias e tentam regressar a casa.  

 

Este ataque na Tunísia deve alertar as consciências dos líderes políticos de Portugal, Espanha e França, cujas suas costas do sul são fortes atractivos turísticos e, nalguns casos, estão a relativos poucos quilómetros do norte de África.  Porque, qualquer estratego do ISIS saberá que um atentando numa praia do Algarve, da Costa do Sol ou da Côte d'Azur é o suficiente para, além das consequências humanas directas, inflingir danos douradouros na imagem de tranquilidade e calmaria que estes locais hoje em dia representam para milhares de turistas. E como foi dito acima, bastava um atentado, mesmo sem vítimas, para que os objectivos do ISIS se revelassem cumpridos. A percepção mudaria...

 

Decidir com bom senso e sentido dos tempos

Alexandre Guerra, 26.06.15

 

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O Supremo Tribunal dos Estados Unidos é daqueles órgãos de soberania que, independentemente da sua composição ideológica, revela sempre um elevado nível de bom senso e um sentido muito apurado dos tempos. O que de certa forma é surpreendente, se tivermos em consideração que os seus nove juízes são nomeados vitaliciamente e carregam consigo, quase sempre, uma carga ideológica bem vincada, seja mais para o lado conservador, seja mais para o lado liberal. Mas, a verdade é que o discernimento da decisão final dos noves juízes não é afectado e, quase sempre, vai no sentido certo do progresso da Humanidade. 

 

Ontem, o Supremo Tribunal deu mais um exemplo dessa capacidade de decidir bem, ao rejeitar pela segunda vez em três anos as pretensões dos opositores ao Affordable Care Act, mais conhecido como "Obamacare", o sistema implementado pelo Presidente Barack Obama em 2010 e que permite providenciar condições para que milhares de americanos tenham acesso a seguros de saúde.

 

A votação foi 6-3 no sentido de "salvar" o Obamacare e é muito interessante constatar que a actual composição do Supremo Tribunal não é maioritariamente de cariz liberal, no entanto, parece que aquelas três mulheres e seis homens, quando são chamados a pronunciarem sobre grandes decisões relacionadas com os temas "fracturantes" da sociedade americana, são sempre acompanhados pela razão e espírito de clarividência.

 

Pontes de confiança destruídas

Alexandre Guerra, 17.06.15

 

A situação na Grécia degrada-se de dia para dia. O banco central grego veio hoje alertar para um cenário dramático, caso não seja alcançado qualquer acordo entre Atenas e os credores internacionais. Aquela instituição utilizou a expressão de "crise incontrolável" para descrever o que pode vir aí, se os dirigentes políticos gregos e restantes parceiros europeus não chegarem a uma solução consensual.

 

E o problema reside aqui mesmo, porque neste momento está instalado um clima de desconfiança e, até mesmo, de engano e de distorção nas negociações em curso entre o primeiro-ministro Alexis Tsipras e o seu principal interlocutor, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. As acusações entre os dois são graves e pouco próprias entre pessoas que fazem parte do mesmo "clube". Juncker chegou mesmo a acusar o Governo grego de estar a dizer coisas aos cidadãos gregos que não foram ditas pelo responsável máximo da Comissão.

 

Ora, há um princípio basilar sem o qual não há qualquer possibilidade de uma negociação ser bem sucedida: a confiança. Sem pontes de confiança é impossível passar-se a uma fase de discussão técnica sobre as questões em causa e, neste momento, essas mesmas pontes parecem estar praticamente destruídas. 

 

O despacho...

Alexandre Guerra, 17.06.15

 

"A Grécia nunca deveria ter sido membro de uma zona euro que nunca deveria ter existido com tantos defeitos."

 

Ao defender esta ideia, o historiador de Oxford, Timothy Garton Ash, considera que é mais benéfico manter a Grécia no seio da Zona Euro do que optar pela sua saída. Até porque isto seria um passo quase inevitável para o abandono da Grécia do projecto de construção europeia, algo que teria consequências muito negativas para a UE.

 

Apontamentos históricos

Alexandre Guerra, 14.06.15

 

"Oferecendo-se David a Saul para ir combater Golias, provocador filisteu, Saul, para lhe dar ânimo, armou-o com as suas armas, as quais, depois de ter as ter vestido, David recusou, dizendo que com elas, se não poderia bem valer de si mesmo, e que queria defrontar o inimigo com a sua funda e o seu punhal.

 

As armas alheias, enfim, ou fogem das mãos do príncipe, ou lhe pesam, ou o constrangem."

 

in "O Príncipe" de Nicolau Maquiavel (Guimãres Editores)

 

Incompreensível

Alexandre Guerra, 13.06.15

 

Para quem anda nas lides da comunicação política não pode deixar de ficar estupefacto com erros primários que são cometidos por governantes experientes. O mais recente caso envolve Manuel Valls, primeiro-ministro francês, que, após um congresso do PS em Poitiers, apanhou o Falcon do Estado para se deslocar até Berlim para assistir à final da Liga dos Campeões Europeus, num acto classificado como oficial. Até aqui nada de extraordinário, até porque a França se prepara para organizar o Europeu de Futebol no próximo ano.

 

Qual foi então o problema? Não é que Valls decidiu levar dois dos seus filhos no Falcon para assistir também ao jogo... Ora, bastou isto para que a deslocação "oficial" do chefe do Governo francês a Berlim se transformasse num acto privado, de uma ida de um pai ao futebol acompanhado pelos filhos, mas à boleia do jacto do Estado, ou seja, à custa dos contribuintes.

 

Como é possível que hoje em dia um político ainda se sujeite a uma situação destas? É incompreensível, até porque Valls reconheceu de imediato a sensibilidade do assunto e disse que iria pagar do seu bolso a viagem dos seus filhos.

 

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