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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Um aparente contra-senso

Alexandre Guerra, 28.02.15

 

O sistema eleitoral americano pode gerar resultados que podem ser vistos como um contra-senso. E isso deve-se ao modelo de grandes eleitores na eleição presidencial, no qual os eleitores começam por votar nas primárias dos partidos para atribuírem delegados afectos a um determinado candidato e, assim, ser nomeado para disputar uma eleição.

 

Ao ler uma passagem do livro "The Audacity to Win", de David Plouffe, director de campanha presidencial de Barack Obama em 2008, percebe-se que nem sempre uma derrota em votos significa uma derrota. Confuso? Nem tanto.

 

Depois de Obama ter ganho as primárias no Iowa e ter perdido, dias depois, em New Hampshire, logo no início de 2008, o palco que se seguia era o Nevada, onde uma derrota era quase certa contra a outra candidata democrata, Hillary Clinton. Mas, na noite das eleições, e com os resultados a darem 51 por cento para Clinton e 45 para Obama, Jeff Berman, coordenador regional da campanha deste último no Nevada, entra na sala onde estava o staff e, segundo Plouffe, estava mais contente do que aquilo que seria de esperar, tendo em conta os resultados conhecidos.

 

"I think we might have won more delegates than Clinton", disse Berman.

 

"Why, because we were more balanced statewide?", perguntou Plouffe.

 

"Yep", respondeu Berman.

 

De um momento para o outro, em contraponto à tristeza da derrota dos votos, a equipa de Obama pôde festejar pela vitória dos delegados ganhos.

 

Banksy na Faixa de Gaza

Alexandre Guerra, 26.02.15

 

 

Banksy, o anónimo mas conceituado artista de rua, volta a surpreender e, desta vez, entrou na Faixa de Gaza pelos túneis clandestinos que ligam aquele enclave ao Egipto. O resultado do trabalho pode ser visto no seu site oficial e é compilado num vídeo de dois minutos, onde se pode ver a destruição da Faixa de Gaza resultante dos bombardeamentos israelitas. 

 

Obamacare sobe mais uma vez ao Supremo

Alexandre Guerra, 24.02.15

 

O Supremo Tribunal dos Estados Unidos é mais do que o guardião da Lei Fundamental é, sobretudo, o último bastião dos valores e princípios basilares que orientam a sociedade norte-americana. É àquela instituição a quem cabe a última palavra na discussão de temas fracturantes. Agora, três anos depois de se ter pronunciado favoravelmente, o Supremo volta a ter em mãos o "Obamacare", fruto da resistência dos sectores mais conservadores à reforma levada a cabo pelo Presidente Barack Obama.

 

São nove os juízes do Supremo, sendo que o órgão está literalmente dividido entre conservadores e mais progressistas, cabendo, normalmente, ao presidente John Roberts desempatar as votações. Embora tenha sido nomeado pelo anterior Presidente George W. Bush e seja mais conotado com o campo conservador, há três anos, Roberts votou a favor da lei de Obama, sendo que também agora se espera que o seu voto siga no mesmo sentido. Lá para Junho deverá ocorrer a votação final.

 

A geopolítica da crise grega

Alexandre Guerra, 11.02.15

 

Para os EUA, a questão da Grécia deixou de ser um assunto meramente europeu sobre “quem paga o quê a quem”, para passar a ser um assunto geoestratégico, a partir do momento em que Atenas, mais concretamente o seu ministro da Defesa, diz que o seu país precisa de um “plano B” e que poderá vir a pedir um empréstimo à Rússia. Aqui, Washington passa a seguir este assunto com toda a atenção, já que a Grécia é, e sempre foi, um importante membro da NATO, sobretudo naquela região da Europa.  

 

É importante sublinhar que a Grécia é um país ortodoxo, tal como o Chipre, que, através do seu Presidente, já veio dizer que está em negociações com a Rússia, para permitir que este país utilize portos e espaço aéreo cipriota em manobras militares com fins humanitários ou em situações de emergência. Nicosia prepara-se, assim, para renovar o acordo de cooperação militar com Moscovo, o que está a levantar sérias preocupações no Reino Unido, que utiliza duas bases no Chipre ao abrigo de um acordo de 1960. Tudo isto faz da questão grega um assunto bem mais vasto do que aquele que à partida parece ser.

 

As movimentações silenciosas da NATO

Alexandre Guerra, 11.02.15

 

Em relação à crise que se vive na Ucrânia, é importante tentar perceber qual o papel da NATO no processo de decisão política. Oficialmente, a Aliança continua empenhada no reforço da parceria Nato-Rússia, no entanto, sabe-se que os mais recentes países da Aliança andam em manobras no Mar Negro e, no passado dia cinco, os ministros da Defesa aprovaram importantes decisões para reforçar uma eventual resposta no âmbito do famoso Artigo 5º. Uma resposta que está focada nas fronteiras oriental e a sul da Aliança, com a criação da “Spearhead Force”, uma brigada de activação rápida com 5 mil homens. Esta brigada terá apoio aéreo, marítimo e de forças especiais e poderá ser reforçada com mais duas brigadas. A NATO garante que a sua força de reacção rápida pode chegar aos 30 mil homens. Além disso, foram instaladas seis unidades de comando e controlo na Bulgária, Estónia, Lituânia, Letónia, Polónia e Roménia. Embora silenciosa, a NATO parece estar a movimentar-se no terreno, na antecipação de uma eventual intervenção militar na Ucrânia.

 

Lições da História

Alexandre Guerra, 09.02.15

 

Lá mais para o final do ano assinalam-se os 20 anos sobre o fim das barbáries que se cometeram nos Balcãs, nomeadamente na Bósnia Herzegovina. Uma violência sectária que a Europa julgaria nunca mais voltar a viver depois da II GM. Mas, enganou-se, e às portas do século XXI, o conflito na antiga Jugoslávia confrontou os europeus com uma realidade de terror. Na altura, os líderes europeus demoraram a reagir e a comunidade internacional acabou por intervir militarmente de uma forma tão incompetente, que os próprios capacetes azuis no terreno se tornaram no símbolo do cinismo e da incoerência da medidas tomadas nas chancelarias.Tudo isso foi estudado e bem documentado. Ninguém, pelo menos com responsabilidades de liderança e militares, pode dizer que não soube o que aconteceu.


Mas, olhando hoje para o que se está a passar na Ucrânia, o que acontece é que os líderes europeus, pelo menos aqueles que contam, não parecem estar muito empenhados em retirar ensinamentos do que aconteceu nos Balcãs. E as opiniões públicas dos vários países também andam distraídas com os seus afazeres, e pouca atenção têm dado ao conflito interno que assola uma parte da Ucrânia. Muitos pensarão que a Ucrânia fica lá, bem longe, mas não fica. Fica tão longe ou tão perto, como ficava a Bósnia da Europa de então.

 

 

No Man´s Land de Danis Tanovic, 2001 (Óscar para melhor filme em língua estrangeira), uma das melhores caricaturas da intervenção da ONU no conflito da Bósnia