A confrontação enquanto condição natural
Primeira página da edição da Charlie Hebdo que vai para as bancas esta Quarta-feira
Entre 1968 e 1973, em plena Guerra Fria, o produtor Arthur P. Jacobs levou até ao cinema a obra literária de Pierre Boulle, La Planète des Singes, escrita no início da década de 60, e que remete a condição humana para um estado primitivo quase "hobbesiano" e eleva os símios a um patamar de inteligência que os torna força dominante num planeta pós-nuclear.
Nos cinco filmes de Jacobs a relação entre opressor e oprimido vai-se alterando no tempo, à medida que a faculdade da inteligência evolui de um lado ou regride no outro. Nesta lógica, há sempre uma das comunidades que é subjugada sem qualquer capacidade de resposta. Aceita passivamente o seu destino. É uma sociedade opressiva, mas sem conflito
Tudo se altera quando ambas as comunidades têm a faculdade do conhecimento e interiorizam conceitos clássicos como a manutenção de poder e do "status quo" (força dominante) e o incitamento à revolta e à conquista de poder (força dominada).
Como em qualquer utopia negativa, quanto menor a inteligência e o conhecimento, mais "adormecidas" são as sociedades, assentes num estado letárgico de aparente tranquilidade e acalmia. Já uma democracia tem que ser alimentada pela criatividade de pensamento, porque é essa a condição para a expressão máxima de liberdade de cada cidadão, mesmo que isso implique a confrontação intelectual e, por vezes, material entre diferentes indivíduos e comunidades.