O Governo chileno acabou de inviabilizar aquele que seria o maior projecto energético do País: a construção de cinco mega-barragens em dois rios numa zona da belíssima Patagónia. Uma decisão louvável nos tempos que correm e que revela inteligência por parte das autoridades chilenas na equação custos/benefícios.
O Governo chilento, resistindo, provavelmente, a inúmeros lobbys e pressões, percebeu que a médio e a longo prazo aquele projecto revelar-se-ia prejudicial para o país, já que, além dos enormes impactos ambientais, iria colocar em causa a sustentabilidade social e cultural daquela região e, deste modo, afectando também o turismo, uma actividade fundamental.
É certo que as soluções energéticas que apontem no caminho das renováveis e na menor dependência dos combustíveis fósseis são, à partida, de saudar, no entanto, é preciso equacionar todos os custos e benefícios de forma cuidadosa e numa lógica de longo prazo. Porque, em matéria de energia nenhuma solução é perfeita e nem está isenta de custos, sobretudo na área hidroeléctrica.
Embora necessite de novas fontes de electricidade, o Governo chileno fez as suas contas e chegou à conclusão que o projecto do consórcio HidroAysen, composto pela Endesa e pela chilena Colbun, não servia os interesses do país. Uma decisão que parece ser a mais acertada.
Só é pena que o Governo português, em 2007, não tenha tido a inteligência e a sensibilidade de fazer essas mesmas contas, quando aprovou o Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH). Uma iniciativa que de pouco servirá em termos de fornecimento de electricidade, contrapondo com os enormes custos ambientais, sociais e culturais que a medida implica. A barragem da Foz do Tua é exemplar na forma como o Estado português encara a médio e a longo prazo os seus interesses estratégicos.