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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O apelo às massas e a ruptura dos paradigmas de sociedade*

Alexandre Guerra, 29.05.14

 

 

Nestes últimos tempos, muitos têm sido aqueles que, desiludidos, chocados ou revoltados com o paradigma de sociedade vigente, têm apregoado uma revolução (ou revoluções). Na maioria dos casos não se percebe muito bem o que move estas vozes de descontentamento: se é uma convicção ideológica, desespero, irreverência ou, simplesmente, a resposta ao apelo irreflectido para a contestação de “rua”.

 

Uma coisa é certa, as massas têm se feito ouvir de forma ruidosa e, nalguns casos, estrondosa, como a Grécia ilustrou bem há uns meses, ou agora, mais recentemente, o Brasil e a Ucrânia. Já antes, também os países da Primavera Árabe tinham saído para a rua. E em Portugal, nos últimos três anos, foram tantas as manifestações...

 

Mas, por mais que se tente ouvir as pessoas, a falta de sofisticação ideológica (leia-se ideias) no suporte ao seu discurso torna difícil qualquer leitura coerente que permita a construção de um modelo de pensamento que possa servir de referência para as gerações vindouras.

 

Perante isto, poder-se-á dizer que o apelo à revolta (das ideias) é desprovido de consistência intelectual e de profundidade quanto ao seu alcance? Provavelmente, sim.

 

A ausência de pensamento e de reflexão em cada uma das pessoas que faz ouvir a sua voz cinge o seu protesto a um acto de descontentamento pelo seu quotidiano, provocado apenas pelo desconforto material (leia-se, falta de dinheiro) das suas vidas.

 

E já não é pouco, dirão muitos leitores (e com razão), mas não o suficiente para se proceder à tal revolução de paradigma mais abrangente. Porque, essa tem que ir além da “crise” dos mercados e da falta de emprego. Aqui, as pessoas terão que, obrigatoriamente, reflectir sobre elas próprias, sobre o seu papel enquanto “animal” inserido numa sociedade.

 

O problema é que este exercício torna-se de difícil execução, porque pressupõe racionalidade, intelecto, autocrítica, humildade (outros adjectivos haveria).

 

Quantas das milhares de pessoas que ainda há uns meses desfilaram nas ruas de algumas cidades portuguesas ou estrangeiras chegariam à conclusão que, talvez, a sua forma de estar em sociedade possa já não estar adequada aos novos desafios que se impõem no sistema internacional e na realidade nacional?

 

Por isso, antes de erguerem a sua voz na crítica inócua, talvez fosse importante, primeiro, pensarem sobre a forma como educam os seus filhos, como abordam o seu trabalho, o que fazem para serem pessoas informadas, o que fazem para enriquecer intelectualmente, o que contribuem para a sustentabilidade do planeta, o que partilham com o próximo, e por aí diante.

 

E, desculpe o leitor, mas não há revolução de paradigma de sociedade que se faça sem uma reflexão profunda sobre estas e outras questões, porque a “crise” da dívida e do desemprego são problemas sociais graves mas, apesar de tudo, circunscritos em termos de paradigma.

 

Ainda há uns tempos, quando o autor destas linhas via o filme Simpathy For The Devil, de Jean-Luc Godard, de 1968, pensava sobre a grande diferença dos tempos contestatários de hoje e aqueles que se viveram nos anos 60, uma década de pensamento e de ideologia que alterou o modelo de se estar em sociedade no Ocidente.

 

E uma das conclusões a que chegou tem a ver com as motivações e os ideais que “chamaram” as pessoas para as ruas naquela altura. Partindo de fracturas concretas com que as sociedades se deparavam (guerra, discriminação, direitos cívicos, etc), o apelo à revolta das ideias foi sofisticado e consistente. O resultado: dinâmica com forte base ideológica (ideias), grupos organizados e focados, movimentos sociais poderosos, entre outros fenómenos consequentes (para o bem e para o mal).

 

Quando Godard decide centrar o seu filme na gravação em estúdio da música Simpathy For The Devil dos Rolling Stones, acaba por reforçar ainda mais esse apelo à revolta.

 

Além das várias citações de textos revolucionários, das referências ao marxismo, aos Black Panthers e às contradições de uma sociedade que precisava de mudança, que se podem ver ao longo do filme (espelhando o carácter activista e politicamente interventivo de Godard), a música Simpathy for the Devil dá um toque de sofisticação ao chamamento revolucionário.

 

As referências às guerras religiosas da Europa, à violência da Revolução Russa ou à morte dos Kennedy, que se podem ouvir na letra de Simpathy For The Devil fizeram desta música um tónico artístico ao apelo de Godard.

 

*Hoje é dia de Rolling Stones no Rock in Rio Lisboa e, muito provavelmente, de Simpathy for the Devil... E a este propósito, o Diplomata lembrou-se de um texto que tinha escrito há uns tempos sobre esta música e o célebre documentário de Jean-Luc Godard, rodado durante a gravação em estúdio daquela música.

 

A virose socialista

Alexandre Guerra, 28.05.14

 

 

As eleições europeias, ou melhor dizendo, os resultados das eleições europeias provocaram um fenómeno curioso nas estruturas partidárias socialistas de Lisboa a Paris. Uma espécie de virose política infectou o PS, o PSOE e o PSF. Talvez por proximidade geográfica, os sintomas são bastante semelhantes entre os dois partidos ibéricos. Tanto o PS, de (ainda) António José Seguro, como o PSOE, do demissionário Alfredo Pérez Rubalcaba, iniciaram um processo de luta interna muito idêntico.

 

Veja-se, a questão central que assalta neste momento os socialistas portugueses prende-se em saber se Seguro vai, ou não, convocar um congresso extraordinário para a disputa da liderança. Também em Espanha, com vários nomes a perfilarem-se à liderança socialista, discute-se se o PSOE deverá realizar primárias ou ir directamente para congresso.

 

No entanto, em França, e apesar da virose ter atacado forte o PSF, enfraquecendo-o de uma forma que os franceses nunca tinham visto, o seu líder e chefe de Estado, François Hollande, parece estar a ser bem medicado. Porque, não só resistiu, como lendo os destaques das edições online dos principais jornais franceses de hoje, é caso para perguntar: crise no PSF? Mas qual crise? O que está a dar são os números do desemprego, o escândalo no UMP, a Frente Nacional e Roland Garros.

 

Blair foi o primeiro a saltar para a arena política em defesa da Europa em que acredita

Alexandre Guerra, 27.05.14

 

 

Dois depois das eleições europeias, as ondas de choque ainda se fazem sentir e, muito certamente, assim continuará nos próximos tempos. O seu impacto será sentido de forma diferente em cada país, mas uma coisa é certa, Estados como a França, a Grécia ou o Reino Unido viram o seu sistema político ser abalado de forma substancial, com a emergência de forças exteriores ao quadro "mainstream".

 

E perante esse vendaval, Tony Blair foi a primeira grande figura europeia a saltar para a arena política para manifestar a importância de se combater forças políticas mais radicais ou eurocépticas. Hoje, em entrevista à rádio BBC, o antigo primeiro-ministro trabalhista britânico disse que as pessoas vão descobrir coisas desagradáveis assim que começarem a conhecer melhor o UKIP, partido independentista que venceu as eleições em Inglaterra.

 

Blair, que foi um dos líderes mais carismáticos das últimas décadas em terras de Sua Majestade, apela a Ed Miliband, actual líder do Labour, para combater de forma determinada o UKIP e para não ceder na recusa a um referendo de "in/out" à União Europeia. Um apelo que se estende também aos outros líderes políticos dos partidos tradicionais.

 

Goste-se ou não, há que reconhecer que Blair foi um líder que sempre acreditou que o Reino Unido estaria melhor na UE do que fora dela e muito fez para aproximar o seu país ao projecto europeu, percebendo também que, por exemplo, Londres é hoje o que é por causa, em grande parte, da imigração. De certo modo, Blair foi mais europeísta do que outros líderes de países com tradições mais enraízadas na UE. 

 

Depois de nos últimos anos ter andado por este mundo fora a ganhar fortunas em conferências, fica-lhe bem regressar agora à arena política para defender os valores e ideais de uma Europa em que acredita. 

 

A primeira surpresa na europeias

Alexandre Guerra, 23.05.14

  

 

Já se vota na Europa e da Holanda veio a primeira surpresa. Afinal, o Partido da Liberdade (PVV), de extrema direita e xenófobo, ficou muito abaixo daquilo que as sondagens lhe davam, segundo as projecções conhecidas. O polémico Geert Wilders parece não ter conseguido manter atractivo o seu discurso populista.

 

Apenas no Domingo, altura em que serão conhecidos os resultados oficiais, se poderá confirmar se esta e, eventualmente, outras surpresas se confirmam.

 

O despacho...

Alexandre Guerra, 16.05.14

 

"A Europa é o nosso destino. A Europa continua a ser uma questão de guerra e de paz com tudo o que isso traz: a paz, a liberdade, a prosperidade e a democracia."

 

Aos 84 anos, aquele que foi um dos grandes arquitectos do projecto europeu e responsável pela reunificação alemã, deu uma entrevista ao jornal Bild, na qual sintetiza de forma lúcida e realista a relação da Europa com as pessoas. As palavras de Helmut Kohl, antigo chanceler alemão, só vêm pôr a descoberto o vazio de liderança que existe actualmente ao nível da União Europeia. Longe vão os tempos em que nos corredores de algumas chancelarias europeias circulavam estadistas dignos desse nome e que lutavam apaixonadamente por um projecto europeu que estivesse verdadeiramente ao serviço das pessoas e da Europa.  

 

Narendra Modi, o hindu todo o poderoso

Alexandre Guerra, 16.05.14

 

 

A concretizarem-se as projecções das eleições legislativas na Índia, o partido nacionalista hindu BJP terá conseguido uma maioria muito alargada ou, até mesmo, absoluta. Narendra Modi, até agora o homem forte do principal estado indiano, Gujarat, foi o principal responsável pela derrota histórica do Congresso, um partido que tem dominado a cena política na Índia desde a sua independência, em 1947.

 

A vitória do BJP de Narendra Modi e a derrota do Congresso de Rahul Gandhi, partido que se confunde com a dinastia Nehru-Gandhi, poderá reflectir uma dinâmica popular de rejeição ao "establishment", que, por um lado, proporcionou progresso aos estratos mais bem instalados, mas, por outro lado, não tem conseguido corrigir assimetrias gritantes na sua sociedade -- De certa maneira, assiste-se a uma realidade parecida no Brasil, trazida à tona de forma mais evidente com a realização do Mundial de Futebol, provocando reacções inesperadas (para os mais desatentos) das classes médias e baixas.

 

De origem mais humilde e mais focado numa economia ao serviço da população, Narendra Modi disse aquilo que os indianos queriam ouvir: reformas económicas e emprego, sobretudo para os mais jovens. Como bom exemplo tinha o estado de Gujarat, à frente do qual esteve nos últimos 12 anos. Para alguns analistas, os indianos vêem Modi como o homem do "pro-development, pro-action and can-do".

 

A questão agora é saber o que Modi fará com todo o poder que os indianos lhe entregaram. 

 

Dispatches from Brussels

Alexandre Guerra, 14.05.14

 

One year after the Donors' Conference for Mali that was held in Brussels on 15 May 2013 and raised 3.3 billion euro to support the reconstruction of the country, EU Development Commissioner, Andris Piebalgs, hosts an event in Bamako to follow-up on the commitments. During his visit, the Commissioner will inaugurate the resumption of works on the road between Niono and Timbuktu, in the north of the country, which had been interrupted during occupation of the area by rebels and terrorist groups. The road will be the first and only paved link between the capital Bamako and Timbuktu.

Ahead of his arrival in Mali, Commissioner Piebalgs said: "This event shows that the international community continues to stand side by side with the Malian people one year after. A lot of progress has already been made in recent months in the areas of development and governance. But much remains to be done to ensure that Malians can prosper in a safe and democratic society. The EU was one of the first to mobilise support in the recent crisis and the government can count on us to continue to provide help with rapid and concrete reforms.”

 

http://europa.eu/rapid/press-release_IP-14-553_en.htm

 

MEMO: L'Union européenne poursuit son engagement en faveur du développement et de la stabilisation du Mali
http://europa.eu/rapid/press-release_MEMO-14-347_en.htm

 

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