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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Desta vez, os líderes europeus tiveram alguma sorte

Alexandre Guerra, 10.04.14

 

No meio de toda esta crise entre a Ucrânia e a Rússia, os líderes europeus têm pelo menos uma razão para respirar de alívio: o início da Primavera. Com a chegada do bom tempo e a menor necessidade dos europeus recorrerem ao consumo de gás natural para aquecimento, o Kremlin vê enfraquecer uma das suas principais "armas" de pressão político-diplomática.

 

O presidente Vladimir Putin já veio avisar a Europa, através de uma carta enviada os seus líderes, que poderão haver cortes no fornecimento de gás natural, tendo em conta os atrasos de pagamentos da Ucrânia à fornecedora Gazprom.

 

São avisos (leia-se ameaças) que a Europa deve levar a sério, é certo, até porque no passado já houve crises energéticas, precisamente, por causa do corte do abastecimento de gás natural por parte da Rússia. No entanto, o efeito pretendido por Putin não terá os mesmos resultados se esta situação estivesse a acontecer em pleno pico do Inverno, como foi o caso das crise anteriores.

 

Desta vez, e apesar de todos os erros que a Europa tem cometido neste processo, os líderes europeus tiveram alguma sorte com os timings desta crise. Para já, têm alguns meses de menor dependência energética da Rússia, os quais poderão aproveitar para resolver ou, pelo menos, estabilizar a situação dos pagamentos entre a Ucrânia e a Gazprom.

 

A ler

Alexandre Guerra, 10.04.14

 

 

O jornalista Nuno Tiago Pinto relembra hoje na revista Sábado a história do encontro entre Kumba Ialá, falecido esta semana, e Marcelo Rebelo de Sousa, aquando da visita deste, na altura líder do PSD, à Guiné Bissau, em Janeiro de 1998. Um episódio com contornos engraçados e curiosos.   

 

Lisboa de 1940, uma cidade recomendável para espiões

Alexandre Guerra, 09.04.14

 

No segundo episódio da nova série biográfica, Fleming: The Man Who Would Be Bond, o Almirante John Godfrey, director da "Naval Intelligence" da Royal Navy, recebe Ian Fleming em Lisboa no ano de 1940: 

"Bem vindo à maldita Lisboa. Território neutro e a encruzilhada do mundo. Está nitidamente cheia de nazis. Todo o tipo de refugiados, traidores, fascistas, comerciantes de armas e do mercado negro."

"Já estou a gostar", diz Fleming.

 

Dispatches from Brussels

Alexandre Guerra, 09.04.14

 

A new programme worth €33 million to improve land governance and help improve the food and nutrition security of family farmers and vulnerable communities in Sub Saharan Africa, will be announced today by Development Commissioner, Andris Piebalgs. Roughly 1.2 billion people worldwide live without permanent homes, land access or formal property rights, a reason which is often used for their land to be attributed to large scale land investors. Therefore, land governance issues are strongly linked to key challenges such as food scarcity, water shortages or urban and population growth.  Speaking ahead of the high level conference on land tenure, due to take place today at the European Parliament in the presence of President Blaise Comparoe of Burkina Faso, Commissioner Piebalgs said: "I am convinced that these land tenure guidelines, which recognise farmers’ ownership and access rights, are essential to achieve efficient, sustainable and inclusive agriculture, and to promoting human rights and peace in society. This new programme will help farmers, and specially women, to make a living and feed their families, without fear of losing their property."

The programme will be rolled out across ten African countries: Angola, Burundi, Côte d'Ivoire, Ethiopia, Kenya, Malawi, Niger, Somalia, South Sudan and Swaziland.

The UN’s Food and Agriculture Organization (FAO) contributes to the in-country implementation of the programme: in Somalia, it will carry out an in-depth assessment on territorial rights and will set up strategies on land management. In Kenya it will review and harmonise the national strategies, policies and legislation required for strengthening of institutions and for the building up of future strategies.

Full Press release: http://europa.eu/rapid/press-release_IP-14-397_en.htm

 

Apontamentos históricos

Alexandre Guerra, 06.04.14

 

"Os Açores desempenharam um papel vital no prolongado planeamento militar anglo-português nos anos intermédios da guerra, supervisionado directamente por Salazar. Acordou-se enfim que, no cas de a Alemanha invadir Portugal, fosse por que razão fosse, haveria defesa simbólica do território continental, enquanto o Governo se transferiria para os Açores. Visto que uma invasão de Portugal só poderia ocorrer se Espanha estivesse em guerra com os Aliados, este cenário também incluía a queda de Gibraltar: por este motivo, deter o controlo dos Açores era crucial para Londres e Washington. Para ajudar à sua defesa, e seguindo conselho britânicos, os portugueses tinham começado a construir, em 1943, duas pistas para uso militar. 

 

[...] A 8 de Junho [de 1943] Campbell [embaixador britânico em Lisboa] estava agora em condições de oferecer a Portugal uma quantidade apreciável de artilharia. [...] Parecia chegada a hora de formalizar o pedido, ao abrigo dos termoss d Aliança, para usar as bases dos Açores, evitando medidas mais dramáticas. Iniciaram-se conversações  formais sobre os Açores a 18 de Junho de 1943, quando Campbell abordou o assunto pela primeira vez com Salazar; foi feito um pedido para o uso, por aviões de reconhecimento, das ilhas de São Miguel e da Terceira, bem como para um reabastecimento irrestrito de escoltas em São Miguel ou no Faial. [...] A 23 de Junho, Salazar deu a Campbell uma resposta favorável."

 

in "Salazar" de Filipe Ribeiro de Meneses (D. Quixote, 2009)

 

Mesmo para os padrões africanos, Kumba Ialá era uma autêntica "personagem"

Alexandre Guerra, 04.04.14

 

 

Figura polémica, algo excêntrica e que se diria uma autêntica "personagem" (mesmo para os padrões africanos), que ficou sobretudo conhecida pelo seu gorro vermelho (um dos elementos identitários da etnia balanta), Kumba Ialá, ex-Presidente da Guiné Bissau, morreu esta Sexta-feira, por motivos de doença cardíaca. Tinha 61 anos.

 

Embora nunca tenha sido um exemplo de liderança nem um modelo político propriamente saudável para ser seguido, Kumba Ialá foi um participante muito activo na vida democrática (se é que se pode chamar isso) guineense desde os anos 90. Além de ter sido o fundador do Partido da Renovação Social (PRS), Kumba saltou para a arena política com bastante entusiasmo e conseguiu cativar o eleitorado. De tal forma, que meteu fim ao domínio do histórico PAIGC, quando em 2000 foi eleito Presidente.   

 

A morte de Kumba está a ser sentida pelo Diplomata com alguma nostalgia, já que, de certa forma, entre 2000 e 2003, o autor destas linhas muito escreveu e ouviu sobre aquela personalidade. Na altura, estava no Semanário e foram muitos os artigos escritos sobre o que se passava na Guiné Bissau. Muitas entrevistas e conversas com "fontes" bem informadas e colocadas. Uma delas foi Carlos Gomes Júnior, que mais tarde viria a ser primeiro-ministro da Guiné Bissau.

 

E desde essa altura que Kumba Ialá era uma figura cativante do ponto de vista jornalístico. Não tanto pelo seu desempenho enquanto político, mas pelo estilo pouco ortodoxo que imprimiu na forma de comunicar com o povo. A acrescentar a isto, havia os inúmeros relatos, alguns inacreditáveis, que iam chegando ao autor destas linhas, sobre os comportamentos de Kumba Ialá para lá dos olhares públicos. 

 

Kumba Ialá era um homem com um sentido político interessante (nem bom nem mau), sustentado com uma ideologia muito própria, em que misturava uma espécie de socialismo (muito característico nas lideranças africanas) com um messianismo de inspiração divina (alguns líderes africanos vincam esta vertente). 

 

Ironicamente, e contrariando o registo que o marcou durante a sua actividade política, Kumba Ialá foi elegante na sua retirada da política. Fê-lo sem confronto e aparentemente sem mágoa em relação aos seus inimigos. Em África, é algo de louvar.