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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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O Diplomata já tinha alertado para as explicações pouco convincentes do FBI

Alexandre Guerra, 30.05.13

 

O Washington Post avançou ontem uma notícia que vai de encontro àquilo que o Diplomata escreveu há dias, em que levantava várias questões estranhas relativamente à investigação que o FBI tem estado a fazer no âmbito do atentado de Boston de 15 de Abril, nomeadamente, sobre a morte de um suspeito na Florida, na semana passada, em circunstâncias mal explicadas.

 

Depois do Washington Post vir dizer que o suspeito morto afinal não tinha qualquer arma, contrariamente ao que foi dito inicialmente pelas autoridades, hoje foi a vez do pai do homem abatido vir dizer que o seu filho foi executado. 

 

UE "abre as portas" à internacionalização do conflito na Síria

Alexandre Guerra, 29.05.13

 

Forças leais a Bashar al-Assad treinam em local incerto, 22 de Maio de 2013/Foto: Reuters

 

A decisão do último Conselho Europeu dos Ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, reunido durante 12 horas, abriu formalmente as portas à internacionalização e à escalada do conflito na Síria, ao deixar, na prática, a cada Estado-membro o critério de enviar armas para os rebeldes sírios.

 

Apesar dos 27 se terem comprometido a não enviar qualquer material bélico para aquele país até ao dia 1 de Agosto, altura em que será revista esta posição, este gesto não é mais do que uma declaração de princípios, já que formalmente o embargo de exportação de armas que tinha sido imposto pela UE à Síria não foi renovado. 

 

Mais do que internamente -- porque é bastante provável que nenhum dos 27 vá enviar armas para a Síria até Agosto --, esta decisão do Conselho Europeu tem implicações na percepção que algumas potências terceiras com interesses na Síria possam ter. O caso mais imediato é o da Rússia que já reagiu com desagrado à posição da UE.

 

Para o Kremlin, a diplomacia europeia está a enviar sinais claros de que pretende, a curto prazo, começar a fornecer armamento à oposição síria. Uma interpretação que o autor destas linhas considera ser pertinente, atendendo à deterioração que se vai sentido no terreno, com mais de 80 mil mortos e 1,5 milhões de refugiados.

 

Na verdade, a situação está a tornar-se insustentável para as chancelarias ocidentais mais poderosas, que começam a ter muitas dificuldades para explicar a passividade em relação ao que se passa na Síria, ao mesmo tempo que prestam apoio militar noutros cenários de guerra, provavelmente nesta altura bem menos dramáticos e sangrentos.

 

Neste sentido, o chefe da diplomacia britânica, William Hague, fez questão de sublinhar que o dia 1 de Agosto não representa qualquer "deadline", porque o Reino Unido poderá começar a partir de agora a armar os rebeldes sírios, no entanto, não existem planos para tal. Pelo menos até à ronda de negociações de Genebra agendada para meados de Junho.

 

Quem não vai esperar pela próxima ronda de negociações é a Rússia, que reagiu de imediato à decisão do Conselho Europeu com o anúncio do envio do poderoso sistema de míssil terra-ar S-300 comparável ao famoso sistema americano Patriot.

 

A decisão do Kremlin veio dar uma nova dimensão ao conflito sírio, uma vez que Israel já avisou, através do seu ministro da Defesa, Moshe Yaloon, que não tolerará a instalação dos S-300 na Síria. Para já, o Governo hebraico informa que os sistemas S-300 ainda não saíram da Rússia. Por outro lado, surgem notícias de que o Kremlin poderá aproveitar esta situação para negociar com Israel. Ou seja, recua na questão dos S-300 em troca do compromisso israelita de não efectuar raides aéreos sobre território sírio. 

 

Por esta altura em Israel as forças armadas hebraicas (IDF) devem estar em alerta máximo, perante a volatilidade na Síria e o crescente envolvimento de mais actores. Como escrevia o Haaretz, Israel está entre os guerrilheiros do Hezbollah e os mísseis russos, jogando cada vez mais os seus interesses em território sírio.

 

Neste momento, existe a ideia em Israel que uma derrota massiva do Hezbollah na Síria poderia representar um golpe fatal para aquela organização terrorista no Irão e no Líbano. E nesta lógica, Telavive pretendia aproveitar o apoio europeu aos rebeldes sírios para ajudar a combater os  homens do Hezbollah, porém, a movimentação mais recente da Rússia veio alterar esse cenário.

 

Em Washington, bem longe, a administração do Presidente Barack Obama critica a atitude da Rússia ao mesmo tempo que se congratula com a decisão do Conselho Europeu. Mas para já, a Casa Branca não parece muito disposta a enviar armamento para os rebeldes, apesar das pressões de muitos republicanos nesse sentido. 

 

Caso esta escalada se acentue, a Síria poderá tornar-se no palco de um potencial conflito regional. As perspectivas não são animadoras, até porque não se esperam grandes resultados da conferência de Genebra.

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.


No "day after" ficou tudo na mesma

Alexandre Guerra, 26.05.13

 

Há uns dias, o Diplomata teve finalmente oportunidade de ver o Margin Call, um filme independente lançado em Janeiro de 2011 no Festival de Sundance, e que retrata o colapso de um banco de investimento de Wall Street, numa clara alusão ao início da hecatombe do sistema financeiro em 2008, com a queda do Lehman Brothers.

 

Um dos aspectos interessantes deste filme prende-se com a humanização de todo o processo que conduziu à implosão do sistema financeiro. Ou seja, a actual crise não teve origem numa falha sistémica, mas sim no "erro (consciente) humano", em acções imputáveis aos (poucos) privilegiados que vivem e usufrem da "cidade do pecado", Wall Street.

 

A ganância, o lucro rápido, a adoração pelo dinheiro, a sacralização da teoria dos "jogos de soma nula" e a crença da infalibilidade do sistema financeiro são algumas das características do que se pode chamar de capitalismo desregulado. Em Margin Call tudo isto é muito bem retratado.

 

Mas a passagem mais bem conseguida deste filme surge no final (em baixo), num diálogo magistral entre Jeremy Irons, no papel de Chairman of the Board do banco de investimento, e Kevin Spacey, no papel de Head of Sales and Trading daquela instituição. 

 

Irons, um implacável crente do sistema financeiro anárquico, e Spacey, um veterano jogador de Wall Street que é confrontado com a sua consciência, estão frente a frente, numa andar alto de uma torre de Wall Street, num ambiente calmo, horas após a noite trágica em que colapsou o seu banco de investimento e que espoletou o turbilhão no sistema financeiro.  

 

Naquele "day after", Irons, a tomar o pequeno almoço, explica calmamente a Spacey a "normalidade" histórica do sucedido, e que depois da "tempestade" nem tudo é assim tão mau, já que, bem vistas as coisas, até é possível retirarem-se dividendos de toda aquela situação. Em suma, aquilo que Irons diz a Spacey é que tudo ficará na mesma, com os mesmos a continuarem a usufruir da "cidade do pecado" e todos os outros a perderem nesse jogo. A reacção amarga mas conformada de Spacey é a confirmação disso mesmo.

 

Afinal, foi tudo "show off"

Alexandre Guerra, 24.05.13

 

 

Karima Mahroug, mais conhecida por "Ruby", veio agora dizer em tribunal que mentiu aos investigadores em 2010, quando afirmou, entre outras coisas, que tinha recebido dinheiro do então primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, para participar activamente nas famosas festas "bunga-bunga". Ruby revelou que inventou ter recebido uma soma de 187 mil euros em dinheiro apenas por "show off".

 

Drones: o enquadramento que faltava

Alexandre Guerra, 23.05.13

 

Como observou Mark Mazzeti, especialista em assuntos de "intelligence" do New York Times, um dos aspectos mais extraordinários do discurso do Presidente Barack Obama desta Quinta-feira, na National Defense University, foi a "transparência" com que falou do novo enquadramento processual para os ataques selectivos efectuados por drones não tripulados.

 

O FBI ainda tem muita coisa por explicar

Alexandre Guerra, 22.05.13

 

À medida que o tempo vai passando mais luz se deveria fazer sobre os contornos nebulosos do atentado terrorista de Boston do passado dia 15 de Abril, que fez três mortos e mais de 200 feridos. No entanto, e apesar da detenção quase imediata de um dos supostos autores e da eliminação de outro, o FBI continua sem apresentar qualquer explicação coerente sobre o sucedido.

 

Logo após aquela "caça ao homem" em Boston, o Presidente Barack Obama avisou, em conferência de imprensa, que havia muitas questões por responder. Questões essas que continuam envoltas em mistério.

 

E pelos vistos as autoridades americanas continuam -- supostamente por motivos de força maior -- a "eliminar" possíveis fontes de informação. Veja-se, o seguinte: Ainda em circunstâncias por explicar, quatro dias após os atentados, a polícia de Boston matou um dos supeitos e feriu gravemente outro, a ponto de o impossibilitar de falar.

 

Agora, o FBI veio informar que hoje de manhã, em Orlando na Florida, foi abatido um outro homem com alegadas ligações ao suspeito morto no dia 19 de Abril.

 

As circunstâncias da morte desta manhã são no mínimo estranhas, já que o FBI se limitou a informar que aquele homem foi abatido quando atacou com uma faca o agente federal que lhe estava a fazer um interrogatório.   

 

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