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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

A irresistível política italiana

Alexandre Guerra, 30.04.13

 

 

A Itália é um país fascinante a vários níveis. A arte, a história, a cultura, a beleza, a elegância, o prazer, a gastronomia, a paisagem, tudo se conjuga de uma forma desorganizada, mas ao mesmo tempo irresistível. 

 

Com a política italiana passa-se o mesmo. Apesar de por vezes ser dominada por uma total ausência de ordem e lucidez, a verdade é que é impossível ficar-se indiferente ao que por lá se vai passando. Por vezes, assemelha-se a uma arena romana que vai servindo para entreter o povo, onde tudo é possível, mesmo as maiores barbaridades, mas os aplausos não deixam de soar.

 

Em Itália tudo é vivido com intensidade, paixão e irracionalidade, para o melhor, mas também para o pior. Nada é inconsequente.  

 

Só em Itália se encontram fenómenos como o da deputada Cicciolina (hoje seria apenas uma pequena excentricidade, mas como explicar uma coisa destas ainda nos anos 80) ou de Sílvio Berlusconi (imagine-se, o político que se manteve durante mais tempo no cargo de primeiro-ministro desde a II GM). Ou mais recentemente, o da ascensão meteórica de um palhaço (no sentido literal) na cena política transalpina.

 

É por isso que o sistema político italiano é um autêntico laboratório. Só num país extravagante é que um presidente de 87 anos é obrigado a cumprir mais um mandato para assegurar a formação de um Governo. Um Executivo que, por sua vez, tem uma amplitude ideológica de tal forma acentuada que mais parece as pernas abertas de uma dançarina de cabaré.

 

Em Itália tudo é possível e tudo é aceite com a maior das normalidade. Regras e normas ficam para os europeus "normais", já que os italianos preferem a incerteza do dia seguinte e a animação da anarquia sistémica. Mas, o curioso é que o sistema político italiano lá vai funcionando. À sua maneira, é certo.   

 

É isto acontece perante a desconfiança, mas também inveja (pois claro), dos restantes parceiros europeus. O que até é compreensível, porque no fundo são os italianos que a "levam bem". Têm a melhor a arte, a melhor história, a melhor cultura, a melhor gastronomia, o melhor design, as melhores roupas... e já agora, as mulheres e os carros mais bonitos.  

 

Assim, é impossível não gostar da política italiana.

 

Uma questão de perspectiva sobre um atentado

Alexandre Guerra, 25.04.13

 

Nos últimos dias, e à medida que a comoção dá lugar à razão, começaram a surgir na Internet (e não só) inúmeras teorias da conspiração sobre o atentado de Boston ocorrido há quase duas semanas. As redes sociais potenciaram essas mesmas teorias, através da propagação viral de muitas fotografias e montagens gráficas que alimenta as mais fantasiosas explicações.

 

Ora, mas esta Quinta-feira, foram os próprios pais dos dois suspeitos que, em conferência de imprensa no Daguestão, vieram inicitar ainda mais a ideia de existir uma conspiração que levou à morte do irmão mais velho. Zubeidat Tsarnaev, mãe dos dois suspeitos, recusa-se aceitar a acusação que recai sobre os seus filhos e tentou denunciar várias contradições das autoridades norte-americanas, nomeadamente do FBI. 

 

É certo que muito há por explicar e compreender. Aliás, foi o próprio Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a dizer que havia muitas questões sem resposta. Mas será razoável alimentar teorias da conspiração?

 

A julgar por aquilo que a história dos bastidores mais obscuros da política norte-americana tem revelado ao longo dos anos não será totalmente descabido colocar-se aquela questão. Basta recuar um pouco e encontram-se histórias verídicas dignas de um guião de Hollywood (na verdade algumas deram mesmo em filme, como foi o caso do "Valeriegate"), e que até serem descobertas não passavam de teorias da conspiração.

 

Por isso, é aconselhável que se faça um exercício analítico que pondere várias perspectivas sobre este tipo de crises. Como tal, o mesmo deve ser feito em relação ao atentado de Boston, porque também o Diplomata considera que existem contornos estranhos em toda esta história.

 

Um autêntico feito

Alexandre Guerra, 22.04.13

 

O Eurostat divulgou esta Segunda-feira os valores finais dos défices dos vários Estados-membro da União Europeia relativos a 2012. Sem grandes surpresas, os países da Zona Euro como Portugal (6,4 por cento), Espanha (10,6 por cento), Irlanda (7,4 por cento) ou Grécia (10 por cento) apresentaram dos défices mais elevados, enquanto a Estónia (0,3 por cento), a Suécia (0,5 por cento) ou o Luxemburgo (0,8 por cento) os valores mais baixos. A Alemanha foi o único país a apresentar um superhavit (0,2 por cento).

 

Mas para o Diplomata, o valor mais supreendente é o da Bulgária, com um défice de apenas 0,8 por cento. Para quem conhece aquele país, que inspira pouca confiança nas contas públicas, trata-se de um autêntico feito.

 

Muitas questões sem resposta

Alexandre Guerra, 20.04.13

 

Depois da detenção de um dos dois suspeitos do atentado de Boston que ainda andava a monte, o Presidente Barack Obama foi à sala de conferências de imprensa da Casa Branca para congratular-se com o fim de "um capítulo importante". Mas fê-lo num registo solene e carregado. E talvez se perceba porquê.

 

Como Obama disse, há "muitas questões sem respostas". Na verdade, mais do que aquelas que seriam aceitáveis para uns serviços de "intelligence"que desde o 11 de Setembro passaram a estar mais vigilantes a tudo o que se passa em território americano. 

 

Um vergonhoso Senado trai americanos

Alexandre Guerra, 19.04.13

 

Obama conforta a mãe de uma vítima do tiroteiro de Newtown após a conferência de imprensa na Casa Branca de Quart-feira/Foto: Doug Mills/The New York Times

 

O Congresso norte-americano tanto é capaz de defender os mais elevados valores que se pretendem para uma sociedade democrática avançada, inspirando povos em todo o mundo, como pode cometer os maiores atentados ao progresso da "polis", gerando as maiores desconfianças e traindo o eleitorado que representa.

 

Quarta-feira, 90 por cento dos americanos (a julgar pelas sondagens), incluindo o Presidente Barack Obama, sentiram-se frustrados e, até mesmo, revoltados com o bloqueio no Senado de uma proposta de "bill" com várias medidas que iria na direcção de controlar o louco e frenético mercado interno de armas.

 

Refira-se que as medidas eram muito "suave", impondo algumas restrições pouco significativas, mas nem assim conseguiu ultrapassar o poderoso lobyy das armas, personificado naquela câmara do Congresso por mais de 50 senadores (a lei precisava de pelo menos 60 votos em 100 senadores para passar), que se opuseram à sua aprovação.

 

Obama, com razão, disse que aquela votação envergonhava "Washington". Mas mais do que isto, aqueles senadores traíram os americanos e fizeram vir ao de cima o pior da política dos corredores do poder: a cedência a uma minoria de americanos radicais na sua abordagem à II Emenda, com a National Rifle Association (NRA) à cabeça.

 

A imprensa americana foi implacável com os senadores que votaram contra a "bill", sobretudo porque esta foi forjada pelo democrata Joe Manchin e pelo republicano Pat Toomey, ambos entusiastas de armas.

 

Apenas quatro meses depois depois da América e os seus políticos terem "chorado" a morte de 20 crianças e seis adultos numa escola em Newtown, Connecticut, o Congresso não correspondeu às expectativas da sociedade, que após as promessas feitas pelos governantes em Dezembro esperavam medidas concretas.

 

Não só o Senado inviabilizou uma proposta de "bill" que fosse nesse sentido, como pretende tirar o tema da agenda. Harry Reid, líder daquela câmara, disse que os legisladores iam agora dedicar-se a outros assuntos e fazer uma "pausa" na matéria do controlo de armas.

 

Entretanto, é certo que mais tragédias vão acontecer nos Estados Unidos com armas de fogo e nesses momentos lá virão, novamente, todos os políticos em uníssono "chorar" os mortos e prometer medidas para combater o controlo de armas. Mas no final, já se sabe, fica tudo na mesma, imperando a hipocrisia e os interesses de minorias poderosas. E assim se vê a política americana no seu pior.

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.


Aos papéis

Alexandre Guerra, 18.04.13

 

Por incrível que pareça, o FBI continua sem pistas sólidas quanto ao(s) autor(es) dos atentados de Boston. Tirando algumas imagens e informações sobre os engenhos, a polícia norte-americana parece andar literalmente aos "papéis", chegando mesmo a pedir a colaboração de todos os americanos para fornecerem qualquer informação que conduza a uma pista.

 

Ao ver a CNN na Terça-feira à noite, o Diplomata constatava que os comentários dos jornalistas eram arrasadores para o FBI. E a cada dia que passa sem qualquer pista, a polícia de investigação federal americana vai ficando cada vez mais fragilizada. Pelo menos, as suas cúpulas.

 

A ver neste momento...

Alexandre Guerra, 16.04.13

 

 

Ver filmes como o The Alamo (batalha mítica onde morreu Davy Crockett), realizado por John Wayne, é uma espécie de regresso ao passado. Neste caso à Revolução Texana (1835-36), um dos grandes momentos da história da construção dos Estados Unidos e que culminaria na guerra com o México dez anos depois, da qual resultaria a anexação do Texas.

 

Da burocracia comunitária ao quotidiano dos cidadãos europeus

Alexandre Guerra, 15.04.13

 

As tradicionais bandeiras da UE alinhadas à frente do Edifício Berlaymont, sede da Comissão Europeia

 

Para muitos é apenas mais um tema burocrático e complexo, mas quando, por exemplo (e trata-se apenas de um exemplo entre muitos), no ano passado foi publicado um “green paper” chamado “Towards an integrated European market for card, internet and mobile payments”, a Comissão Europeia estava a dar um passo importante num processo que poderá (pela informação disponível ainda não estará concluído) ter implicações directas no quotidiano das pessoas.

 

Este é apenas um caso entre muitos processos legislativos que são produzidos em Bruxelas e que, no fim da linha, têm consequências práticas naquilo que poderá ser o mais mundano acto de qualquer cidadão no seu dia-a-dia: tal como a harmonização de tarifários (em curso) de redes de telemóvel entre diferentes países ou a simplicidade de se poder pagar um almoço no restaurante com cartão, seja em Lisboa, Faro ou Varsóvia, sem que para isso o cidadão seja sujeito a diferentes regras ou taxas.

 

No meio da actual “crise” e, por vezes, de tantas críticas ao edifício europeu, os cidadãos dos vários Estados-membro nem sempre têm consciência da implicação directa que determinadas discussões e decisões tomadas em Bruxelas (ou Estrasburgo) têm no seu quotidiano.

 

Normalmente, estes processos legislativos reflectem tendências da sociedade para as quais é preciso dar resposta. Lia-se no comunicado de imprensa do “green paper” aqui referido: “Carrying a virtual train ticket or repaying a friend with your mobile phone, buying your groceries online, paying with your debit card abroad – the way European citizens shop and pay is radically changing. A secure and transparent integrated payments environment throughout the EU could create more efficient, modern and safer means of payments – for the benefits of consumers, merchants and payment providers.”

 

Decisões, essas, que têm a ver com legislação comunitária específica e que, obrigatoriamente, é enquadrada na ordem interna jurídica de cada país dos Vinte e Sete. Em causa está a regulamentação de sectores e áreas tão variadas que afectam diariamente a vida das pessoas, sem que estas se apercebem de todo o processo legislativo que produz a directiva europeia.

 

Segurança alimentar, índices de qualidade de produtos, certificação energética de electrodomésticos ou de imóveis, educação, telecomunicações (velocidade, preço, capacidade, etc), defesa do consumidor, segurança rodoviária, são apenas alguns exemplos de matérias regulamentadas pela União Europeia e que os cidadãos já têm como adquiridas, garantindo-lhes uma melhoria na qualidade de vida.

 

Este progresso civilizacional e social resulta de uma lógica legislativa complexa e morosa no seio do edifício comunitário, na qual o Parlamento Europeu assume cada vez mais preponderância, através da co-decisão.

 

É ao longo deste processo criativo de normas comunitárias que tudo se discute antes de se chegar a uma directiva final. Nesta fase é dada voz aos especialistas, às partes interessadas, aos governos, às associações sectoriais, entre outros, e, acima de tudo, é onde se valoriza os exemplos que estão na vanguarda da matéria em discussão.

 

Cada Estado pode dar o seu contributo e, acima de tudo, pode aproveitar o processo de elaboração de leis comunitárias para promover soluções de empresas nacionais, entidades ou pessoas que estejam em condições exemplares para “ensinar” algo de útil em matérias que estejam prestes a ser regulamentadas.  

 

Um desses casos, e que está relacionado como o exemplo aqui dado, tem a ver com os “meios de pagamentos electrónicos” que, de forma simplificada, os portugueses tão bem conhecem como “pagamento com multibanco”.

 

Nesta matéria, Portugal é um dos países na vanguarda europeia, em que os cidadãos nacionais usufruem das virtudes da utilização da rede do sistema multibanco, sem que isso acarrete custos acrescidos para os mesmos. Mas nem todos os países da União Europeia gozam de um sistema como o português.

 

O debate suscitado pelo tal “green paper” prende-se com a harmonização na utilização de cartões (débito e crédito), porém, Portugal terá aqui que fazer ouvir bem a sua voz no processo legislativo, de modo a “vender” um modelo de sucesso e que tem tido resultados positivos óbvios.

 

Mas, ironicamente, a “crise” levou a que se começasse a ponderar em Portugal o retrocesso nalgumas práticas consideradas inovadoras a nível europeu e mundial. E isto está a acontecer em várias áreas.

 

Naturalmente, caberá às associações de consumidores e aos principais actores em Portugal com responsabilidades no sector serem os interlocutores privilegiados neste processo: Primeiro, para manter intacto aquilo que foi alcançado neste País nos últimos anos; Segundo, para tentar “exportar” junto de Bruxelas o que de melhor Portugal tem para oferecer ao nível de serviços e tecnologia.

 

Neste sector em especial, mas também noutros, deve ser Portugal a “influenciar” e não a ser “influenciado”.

 

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