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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O despacho...

Alexandre Guerra, 31.03.13

 

"A política é como um caminho de ferro. Por detrás de um comboio pode vir sempre outro comboio."

 

Nuno Rogeiro, especialista em assuntos internacionais, no programa A Sociedade das Nações na SIC N, a propósito do debate sobre o modelo político que poderia substituir o actual paradigma vigente. Partindo-se de um exercício abastracto em que seria possível adoptar um novo sistema político para a gestão da "coisa" pública ninguém poderia garantir que o que viesse a seguir não pudesse ser pior.


O importante legado que o discreto Ban Ki-moon deixará na ONU

Alexandre Guerra, 31.03.13

 

 

Foi com alguma surpresa que a comunidade internacional viu o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovar por unanimidade, há uns dias, a primeira força militar com perfil "ofensivo". O contingente terá 2500 capacetes azuis e será destacado para a República Democrática do Congo (RDC) com o objectivo de "neutralizar" e "desarmar" os vários grupos armados que dilaceram aquele país. 

 

É a primeira vez que o Conselho de Segurança aprova, de forma peremptória, um mandato ofensivo, alargando as "rules of engagement" de quem está no terreno, podendo assim assumir uma postura mais agressiva perante situações que, muitas das vezes, resvalam para autênticas tragédias. 

 

Ainda em Novembro último, o Dilomata abordou precisamente esse tema, sublinhando os casos do Ruanda (UNAMIR, Outubro de 1993 a Março de 1996) e dos Balcãs (UNPROFOR, Fevereiro de 1992 a Março de 1995), nomeadamente na Bósnia Herzegovina (sendo Srebrenica o melhor exemplo), como exemplos de missões sem capacidade de resposta perante as adversidades no teatro de operações e que conduziram aos massacres que se conhecem.


O Sri Lanka foi um deles, estimando-se que só nos últimos cinco meses de conflito, que terminou em Maio de 2009, tenham morrido mais de 40 mil civis de etnia tamil. Um número impressionante provocado em parte pela retirada dos “capacetes azuis” do Sri Lanka, deixando os civis indefesos entre os forças governamentais e os guerrilheiros tamil.


Conclusões lidas num relatório interno da ONU pedido pelo secretário-geral Ban Ki-moon, no qual foram apontadas falhas graves na forma como aquela organização geriu a crise do Sri Lanka. Ban Ki-moon admitiu que aquele relatório iria ter “profundas implicações”, sendo que uma das recomendações contidas no documento era a de que as Nações Unidas revissem os mandatos para as missões humanitárias e de protecção a civis.


Ora, o primeiro passo foi dado logo em Dezembro, quando o Conselho de Segurança aprovou uma resolução para a criação de uma força internacional para combater a ramificação da al Qaeda no Norte do Mali. Como na altura o Diplomata escreveu, aquela resolução "assumia contornos históricos. Não tanto pela sua missão, mas pelo seu mandato".


resolução que tinha sido aprovada, para a criação da AFISMA com 3300 homens, viabilizava no mandato daquela força o uso de "todos os meios necessários" para a prossecução da sua missão. Esta introdução foi de extrema relevância e talvez tenha marcado uma nova abordagem das Nações Unidas às missões militares internacionais, já que passa a estar implícita a validade da intervenção militar sempre que os soldados considerem necessária sem terem que recorrer à cadeia de comando.


A resolução agora aprovada esta semana vem apenas concretizar as "profundas implicações" de que Ban Ki-moon tinha falado, tendo o processo inciado-se já há uns meses. Não se pode, por isso, dizer que esta última resolução de carácter claramente "ofensivo" seja propriamente uma surpresa. É sim a confirmação de que o "apagado" Ban Ki-moon está disposto a deixar uma marca muito importante no seu mandato à frente da ONU.

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.


Momentos com história

Alexandre Guerra, 29.03.13

 

Foto: AP


O Papa Francisco, esta Sexta-feira, na Basílica de São Pedro, em mais um gesto de humildade perante os desígnios superiores. Já se percebeu que o novo chefe do Vaticano tem sido pródigo na quebra das tradições protocolares e dos hábitos instituídos. 

Agora, a questão fulcral é saber se terá essa mesma vontade e disponibilidade para criar uma ruptura com os interesses instalados numa Cúria, claramente debilitada e ultrapassada pelos tempos.


A Via Sacra dos dias de hoje

Alexandre Guerra, 29.03.13

 

 

Diz a tradição cristã que há cerca de dois mil anos um judeu da Nazaré percorreu com uma cruz de madeira às costas e em grande sofrimento as ruas estreitas de Jerusalém. Hoje, a cruz é outra e quem a carrega são palestinianos, que vêem cada vez mais distante o sonho da criação de um Estado independente.

 

Um ornitólogo com licença para espiar

Alexandre Guerra, 28.03.13

 

 

O MI5, agência britânica dos serviços secretos internos, tem um novo director-geral, Andrew Parker. Curioso, é o facto de o novo homem forte da contra-espionagem inglesa, há mais de 30 anos no MI5, ser ornitólogo de formação. Para quem gosta destas coisas, o Diplomata relembra que James Bond, o verdadeiro e aquele que inspirou Ian Fleming para o nome do seu agente 007, era um reputado ornitólogo americano, nascido em 1900 na cidade de Filadélfia. 

 

Fleming, um entusiasta da "bird watching" nas Caraíbas, viu pela primeira vez o livro de James Bond, "Birds of the West Indies", na Jamaica. Inspirou-se imediato naquele nome para baptizar o espião mais famoso do mundo, que se estrearia em Casino Royale, o primeiro livro de Fleming da saga 007.

    

Parte da América à espera de um salto civilizacional

Alexandre Guerra, 27.03.13

 

 

A imprensa americana avança que o Supremo Tribunal dos Estados Unidos poderá estar inclinado a alterar o conceito federal de "casamento", contemplado na lei de 1996, que consigna aquele acto apenas entre um homem e uma mulher. Algo que só será possível com o voto favorável (swing vote) do juiz Anthony Kennedy, já que dos nove juízes do Supremo, quatro são liberais e outros tantos conservadores.

 

As informações vindas a público vão no sentido de que a maioria do Supremo contestou a constitucionalidade do Defense of Marriage Act (Doma), após dois dias de audições relativas a casos apresentados na principal instituição de justiça dos Estados Unidos. Uma decisão só será conhecida em Junho.

 

O Supremo Tribunal é uma instituição fascinante, porque apesar da sua composição ideológica, por vezes mais conservadora ou liberal, o colectivo  dos nove juízes, no seu todo, parece ter sempre uma noção adequada dos ventos civilizacionais que sopram na sociedade americana, muitas das vezes assente na protecção das minorias.  

 

Mais um conto africano

Alexandre Guerra, 24.03.13

 

Rebeldes do movimento Séléka/Foto:Sia Kambou/AFP/Getty Images 

 

A República Centro Africana (CAR) caiu finalmente nas mãos dos rebeldes, ou seja, a capital Bangui foi tomada pelo movimento Séléka, obrigando o Presidente François Bozizé a fugir do país para a vizinha República Democrática do Congo (RDC). O acordo alcançado em Dezembro e que instituiu um Governo de unidade nacional durou pouco tempo. 

 

Como vem sendo habitual nestes conflitos africanos, e segundo as Nações Unidas, mais de 170 mil pessoas abandonaram as suas casas, sendo que muitas delas terão atravessado a fronteira para o Chade e para a RDC. Há relatos de mortes, torturas e violações.

 

Trágicos acontecimentos que vêm confirmar aquilo que o Diplomata tinha antecipado para este ano de 2013. Países como a CAR, a Nigéria, a RDC ou o Uganda vão continuar a ser fustigados pelos conflitos étnicos, inflamados por alguns movimentos religiosos, como é o caso do LRA de Joseph Kony.

 

Além disso, os conflitos naquela região africana têm uma tendência para se regionalizar, já que é comum a intervenção de vários estados, mesmo que esta possa ser camuflada. Por exemplo, o Presidente Bozizé contou sempre com o apoio do Chade, país que o ajudou a chegar ao poder em 2003 através de um golpe de Estado. 

 

Por outro lado, o Governo em Bangui tem acusado os rebeldes do movimento Séléka de terem nas suas trincheiras mercenários do Sudão, Nigéria e do próprio Chade. O que é perfeitamente plausível.

 

Quanto às implicações imediatas... O Chade liderado pelo Presidente Idriss Deby poderá ter uma situação grave para resolver, já que ficou sem o seu aliado, o que poderá criar problemas ao nível do controlo de fronteiras. A África do Sul, potência africana que tem tentado mediar aquele conflito, vê-se perante o falhanço da sua missão. A França, antiga potência colonial, já deu sinais que não terá uma intervenção tão enérgica na CAR, como teve no Mali, estando apenas a reforçar o número de soldados para assegurar a protecção dos cidadãos franceses naquele país africano.

 

As Nações Unidas devem ficar-se nos próximos tempos pela declaração deste Domingo do Conselho de Segurança, que basicamente demonstra a "preocupação" daquela organização pelos mais recentes acontecimentos na CAR e apela às "partes" que se entendam. Quanto muito poderá haver um reforço da força militar regional sob a égide da Comunidade Económica dos Estados da África Central (ECCAS). 

 

A médio e a longo prazo vai ser interessante ver os alinhamentos de países como a China, Rússia, França ou Estados Unidos, tendo em consideração que a CAR é um país com reservas consideráveis de ouro, diamantes e urânio.

 

Escócia e Inglaterra, continuarão unidas sob o Reino de Sua Majestade?

Alexandre Guerra, 21.03.13

 

Foto: Murdo Macleod 

 

Os ingleses podem, mais cedo do que o previsto, vir a perder uma das suas (últimas) “jóias da Coroa”. Alex Salmond, primeiro-ministro da Escócia, anunciou esta Quinta-feira no parlamento a data do referendo para a independência daquele país.

 

O dia 18 de Setembro de 2014 foi o escolhido para os escoceses se pronunciarem sobre a continuidade, ou não, do seu país no Reino de Sua Majestade.

 

Para já, as sondagens apontam para a permanência da Escócia no Reino Unido, no entanto, parte do discurso político que levou Salmond a vencer em Maio de 2011, com o seu Partido Nacional Escocês, assentou, em parte, na promessa de um referendo para a independência.

 

A pergunta do referendo será simples: "Should Scotland become an independent country?"

 

Caso o “sim” vença, o que para já não se vislumbra, as consequências práticas não serão substanciais para o Reino Unido, no entanto, o orgulho inglês será fortemente afectado.

 

Como escrevia Margaret Curran no The Guardian, este referendo não será apenas um debate em torno da possível independência da Escócia, mas sim um debate alargado sobre os desafios do Reino Unido enquanto potência num mundo cada vez mais globalizado.

  

“The decision about Scotland's future will, rightly, begin and end in Scotland, but the impact is one that will be felt across the whole of the United Kingdom. Today, I hope, is the day that the countdown starts and the rest of the UK starts paying more attention to the decision that we are about to take.”

 

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