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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

...e ainda dizem que a política é chata

Alexandre Guerra, 26.02.13

 

Ilustração de Belle Mellor/The Guardian

 

Como o Diplomata escreveu em tempos, é impossível não gostar da política italiana. Ao contrário de quase todos os outros sistemas políticos do mundo, em Itália tudo parece ser possível. Mesmo perante os cenários mais inverosímeis, os italianos conseguem sempre ir um pouco mais além, dentro daquilo que é uma anormal normalidade.


Só quem anda muito distraído ou não acompanha minimamente a política italiana é que terá ficado surpreendido com os mais recentes resultados eleitorais naquele país. Nada de novo, apenas mais uma situação dramática, criada pelos próprios italianos, à qual reagem sem grande histeria, embora com muito alarido. Como trazia o Libération em manchete, está-se perante uma "fractura à italiana".


A política em Itália é uma verdadeira excitação, um espectáculo para todo o mundo, mas ao mesmo tempo um laboratório fascinante para os cientistas políticos. É que perante tanto absurdo e loucura, num país que teve mais de 60 governos desde a II GM, a Itália vai funcionando, ao ponto de continuar a ser a terceira potência da União Europeia, membro do G7, um farol na arte e na cultura, uma inspiração na beleza e no estilo e um destino turístico ambicionado por todos.

 

A "imprevisibilidade" como factor inerente à arte de governar

Alexandre Guerra, 17.02.13

 

Talvez por ser uma pessoa minimamente exigente com aquilo que lê e ouve, o autor destas linhas conta pelos dedos de uma mão aqueles que, entre os que ocupam o espaço mediático em Portugal, têm um pensamento verdadeiramente consistente e sofisticado. Ou seja, homens que “pensam bem” e que, sempre que escrevem ou falam, merecem a atenção redobrada deste vosso escriba.

 

Adriano Moreira é uma dessas pessoas. Aos 90 anos é um dos poucos pensadores dignos desse nome em Portugal e, sem qualquer dúvida, uma das mentes mais esclarecidas entre todos aqueles que, por esse mundo fora da "intelligentsia", vão debitando as suas opiniões sobre o modelo de governança das sociedades actuais.

 

Nos últimos anos, Adriano Moreira tem abordado vários assuntos sobre os quais tem problematizado, nomeadamente, as funções do Estado e a responsabilidade dos governos.

 

E a este propósito, ainda há uns tempos, o mesmo Adriano Moreira desconstruía de forma magistral o argumento da “incerteza” provocada pela conjuntura internacional que o Governo português (e outros) recorrentemente utiliza para justificar eventuais desvios de previsões ou falhanço de políticas.

 

Ora, para Adriano Moreira, a capacidade de lidar com a “imprevisibilidade” é precisamente um dos requisitos da função de um Governo, seja em que país for. A Política assume a “imprevisibilidade” e a “incerteza” como factores naturais inerentes à arte de governar e não como “desculpas” ou “refúgios” de previsões erradas ou más políticas levadas a cabo por um Governo.

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.


A vencedora do World Press Photo 2012

Alexandre Guerra, 15.02.13

 

 

A fotografia tirada por Paul Hansen na cidade de Gaza, no passado dia 20 de Novembro, durante o funeral da menina de dois anos, Suhaib Hijazi, e do seu irmão mais velho, Muhammad, mortos num ataque de míssil israelita, é a vencedora do World Press Photo 2012. O pai das crianças, Fouad, também morreu nesse ataque, cabendo aos seus irmãos carregar nos braços os corpos dos sobrinhos.  

 

O padre que se fez Santo dos apaixonados depois de ter desafiado o poder de Roma

Alexandre Guerra, 14.02.13

 

Santo Valentinus baptiza Santa Lúcia/Pintura de Jacopo Bassano de 1575/ A primeira representação conhecida do Santo Valentinus encontra-se na "Crónica de Nuremberg de 1493"

 

O Dia de São Valentim é hoje celebrado por milhares de namorados e de casais em todo o mundo, e enquanto os apaixonados e amantes vão trocando todo o tipo de mensagens, rosas, bombons, peluches (e sabe-se lá mais o quê), poucos saberão que na origem destes rituais está uma história de poder, que acabou em decapitação e na martirização de um padre.

 

Embora não haja uma certeza absoluta sobre quem era o Santo que  se celebra neste Dia, seria provável que fosse um padre cristão romano, de nome Valentinus (latim), que desafiou o poder instituído de Roma, personificado no imperador de Cláudio II.

 

Embora se possam encontrar pelo menos outros dois Santos Valentinus associados ao dia 14 de Fevereiro, um bispo de Interamna (moderna Terni) e um outro que terá morrido em África em difíceis condições, foi sem dúvida o padre de Roma que se tornou no mártir mais famoso e celebrado, até porque os arqueólogos descobriram uma catacumba e uma antiga igreja dedicada ao Santo Valentinus precisamente naquela cidade.

 

Além disso, no ano de 1493, na Crónica de Nuremberg, é pela primeira vez feita referência ao Santo Valentinus, como padre romano martirizado durante o reinado de Cláudio II. O padre Valentinus, tal como aconteceu com outros cristãos, desafiou a lei do Império, que proibia a prática do cristianismo, assim como o auxílio a quem praticasse esta religião.

 

Valentinus não só era um homem de fé cristã como casava em segredo os casais cristãos e auxiliava todos aqueles que eram perseguidos pelas autoridades. Supostamente também ajudava a libertar os cristãos enclausurados sujeitos a torturas.

 

O padre acabou por ser detido e, segundo consta, terá tentado converter o Imperador ao cristianismo. Um erro capital. Valentinus acabou por ser espancado e, finalmente, morto. Decapitado. No dia 14 de Fevereiro (instituído formalmente pelo Papa Gelásio em 496) do provável ano de 269.

 

Rezam as crónicas que, durante o seu cativeiro, a filha do seu carcereiro se terá apaixonado pelo padre, com quem chegou a encontrar-se.

 

Apaixonada e cega, a jovem terá recuperado a visão depois daquele encontro. Um autêntico milagre. Diz ainda a lenda que na noite anterior à sua execução o padre terá feito chegar uma carta à jovem apaixonado, na qual exprime o seu amor cristão, despedindo-se com um “do seu Valentinus”.

 

Sem rodeios

Alexandre Guerra, 13.02.13

 

John Boehner, congressista pelo Ohio e "speaker" da Câmara dos Representantes/Foto: J. Scott Applewhite/AP

 

Uma das coisas boas da Política americana é a frontalidade com que os seus actores expõem, publicamente, o que lhes vai na alma. Por mais que se discorde de uma ou outra posição veiculada por um ou outro político americano, não deixa de ser entusiasmante a forma descomplexada como algumas opiniões vêm para a opinião pública.

 

Noutros sistemas políticos, como o português, os seus intervenientes refugiam-se no "politicamente correcto" e nunca dizem aquilo que pensam. Falam sempre em "cooperação" e "pontes de entendimento" entre diferentes forças políticas, mesmo que na realidade não seja isso que pensem ou pretendam fazer. Ou seja, o "combate" político nunca é assumido de forma honesta e objectiva. Tudo é muito dissimulado e, até, por vezes, cobarde.

 

Num registo contrário, republicanos e democratas no Congresso dos Estados Unidos não hesitam em partir para o "campo de batalha", mesmo que isso às vezes possa prejudicar o interesse dos próprios americanos.

 

Em linha com este espírito combativo, o republicano John Boehner, "speaker" da Câmara dos Representantes, em reacção ao discurso do Estado da União proferido pelo Presidente Barack Obama, revelou abertamente e sem rodeios os seus intentos políticos. Num debate televisivo ontem à noite, Boehner afirmou que a imigração será o único tema da agenda presidencial com alguma hipótese de passar no Congresso este ano.

 

Estas palavras de Boehner são uma autêntica "declaração de guerra" do Grand Old Party contra o Presidente Obama, deixando de lado o hipócrita discurso da "cooperação" que, tantas vezes, se assiste no sistema político português, com resultados inócuos.

   

Pyongyang aumenta a "parada" negocial

Alexandre Guerra, 12.02.13

 

O anúncio do terceiro teste nuclear norte-coreano (o primeiro foi em 2006 e o segundo em 2009) feito pela televisão estatal

 

No final do ano passado, e em jeito de previsão para a 2013, o Diplomata fazia a seguinte pergunta: "É possível que Pyongyang volte a fazer lançamentos de propulsores balísticos (foguetões) em 2013. Mas haverá algum teste nuclear?"


A resposta de Pyongyang veio mais cedo do que se esperava, com a realização, esta Terça-feira, de um teste nuclear, o terceiro do seu programa atómico. A Agência Internacional de Energia Atómica, sediada em Viena, informou que a explosão subterrânea teve o dobro da força do que o último teste realizado em 2009.

 

Trata-se, claramente, de uma posição de força do líder Kim Jong-un que, por um lado, alimenta o delírio colectivo em redor de uma certa iconografia de poder, e por outro, aumenta a "parada" negocial junto da comunidade internacional, demonstrando que tem uma "moeda de troca" muito valiosa.  

 

Momentos com história

Alexandre Guerra, 12.02.13

 

Basílica de São Pedro, Roma, 11 de Fevereiro de 2013/Foto: Alessando Di Meo/ANSA 

 

Ontem, o cardeal Angelo Sodano, antigo secretário de Estado do Vaticano, referia-se ao anúncio dramático de Bento XVI como "um trovão em céu sereno". Horas depois, já ao final da tarde, a profecia parecia concretizar-se e um repórter da agência de notícias italiana ANSA captava este momento (de intervenção divina, dirão alguns) na cúpula da Basílica de São Pedro. 

 

Na linha de fronteira das coreias responde-se com tiros às "provocações" do inimigo

Alexandre Guerra, 10.02.13

 

Soldados sul-coreanos ao longo da Zona Desmilitarizada em Yeoncheon/Foto:Reuters/Kim Hong-Ji 

 

Por mais paradoxal que parece, a área em redor da Zona Desmilitarizada (DMZ) que acompanha o paralelo 38 que separa as duas coreias, é a região mais militarizada do mundo. Em ambos os lados da fronteira, ao longo dos 250 quilómetros daquela "zona tampão" com quatro quilómetros de largura, tanto Pyongyang como Seul têm mobilizado um forte contingente militar permanente, reforçado com torres de vigia e outros meios. Seul conta ainda com o apoio de soldados americanos. 

 

Por aqueles lados o clima de tensão está sempre presente, com os soldados a vigiarem-se constantemente e preparados para reagir a qualquer provocação do inimigo: "Nós responderemos imediatamente a qualquer provocação do inimigo", informou há uns dias à Reuters, o capitão Kim Sang-min, o comandante da unidade sul-coreana "Invincible Typhoon", estacionada apenas a 800 metros da linha divisória. 

 

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