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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Só mesmo no México é que se rouba às autoridades o corpo do fundador de um cartel

Alexandre Guerra, 09.10.12

 

O Diplomata escreveu há uns dias um texto sobre o problema da droga no México, destacando o papel violento de alguns cartéis, nomeadamente o do Los Zetas, tendo o caracterizado como um "dos maiores cartéis do México, sendo conhecido pela sua violência, dizendo-se que costuma desmembrar as suas vítimas quando ainda estão vivas. Foi fundado por ex-soldados e além da droga, dedica-se à extorsão, raptos e tráfico humano".

 

Nesse mesmo texto o autor destas linhas sublinhava a violência que assola algumas regiões do México por causa da guerra declarada pelas autoridades e por causa dos conflitos entre os cartéis rivais.

 

No âmbito dessa sangrenta guerra governamental aos cartéis, elementos da marinha mexicana abateram mortalmente o fundador dos Los Zetas, Heriberto Lazcano, no Domingo, tendo a sua identidade sido confirmada esta Terça-feira. Mas a situação chegou a tal ponto que horas depois foram as próprias autoridades mexicanas a anunciar que o corpo de Lazcano tinha sido foi roubado por um bando armado.  

 

A importância de uma bandeira hasteada no Forte

Alexandre Guerra, 07.10.12

 

Fort McHenry, com a bandeira americana hasteada, a ser bombardeado pelos navios ingleses a 13 e 14 de Setembro de 1814/Aguarela de J. Bower, Maryland Historical Society

 

A indigna e patética cena do Presidente de Portugal a hastear a bandeira nacional na posição invertida, em plena varanda da Câmara Municipal de Lisboa, no dia em que se celebrava o feriado da implantação da República, suscitou de imediato alguma reflexão do Diplomata e trouxe à memória um dos episódios mais inspiradores dos primeiros tempos da formação da república dos Estados Unidos.

 

É interessante constatar a incoerência e o descaramento de alguns políticos, “senadores” e figuras proeminentes deste burgo, que não se coibiram de manifestar a sua indignação, esquecendo-se que têm sido os mesmos que nas últimas quase quatro décadas de regime democrático têm demonstrado um profundo desprezo pelos símbolos de soberania e do Estado. Um desprezo, refira-se, igualmente manifestado pelo Povo.

 

Sobre este ponto convém não haver hipocrisias. Sendo o autor destas linhas da geração pós-25 de Abril pode apenas afirmar com bastante convicção que os símbolos de soberania e de autoridade nunca foram respeitados e muito menos venerados no chamado “Portugal democrático”. Não existe essa cultura em Portugal a não ser, de tempos a tempos, uma espécie de histeria nacionalista colectiva (e algo bacoca, refira-se) materializada em cachecóis, bandeirinhas e no cântico do hino em redor da Selecção Nacional.

 

Em países como os Estados Unidos, Inglaterra, França ou Israel onde, apesar de tudo, a bandeira é vista como algo sagrado, os símbolos do poder e autoridade do Estado são ainda muito importantes como elementos agregadores e mobilizadores da nação. As bandeiras nos Estados Unidos ou em Israel, a Coroa no Reino Unido, o tríptico “liberdade, fraternidade e igualdade” em França são apenas alguns exemplos.

 

Por detrás destes símbolos existem histórias inspiradoras, mas que o tempo acabou por esbater. É precisamente uma dessas histórias que o autor destas linhas recupera.

 

Quando a 13 de Setembro de 1814 os navios da Marinha Real britânica iniciaram o bombardeamento ao Fort McHenry na cidade de Baltimore, Francis Scott Key, um jovem cavalheiro de uma família abastada com várias plantações e escravos na zona de Chesapeake Bay, Maryland, encontrava-se numa posição privilegiada para ver os acontecimentos que o iriam tocar de uma forma profunda.   

 

E seria uma bandeira hasteada que provocaria tamanha comoção. Uma bandeira americana de enormes proporções que o major George Armistead, comandante do Fort McHenry, tinha mandado fazer durante os meses de preparação para a defesa de um ataque mais que provável dos ingleses.

 

Embora consciente da desvantagem em relação aos ingleses, Armistead foi ousado e corajoso quando hasteou a sua gigantesca bandeira no Fort McHenry: “It is my desire to have a flag so large that the British will have no difficulty in seeing it from a distance.”  

 

E foi essa mesma bandeira que Francis Scott Key continuou a ver hasteada ao longe, depois de uma noite de intensos bombardeamentos dos navios britânicos sobre o Forte. A resistência heroica dos americanos evitou que Baltimore caísse nas mãos do inimigo.

 

Um esforço ainda mais valorizado aos olhos de Francis Scott Key, já que assistiu ao bombardeamento do Fort McHenry a bordo de um navio de tréguas, porque tinha ido a Baltimore utilizar os seus bons ofícios para libertar um amigo que estava detido pelos ingleses num dos navios da Marinha Real.

 

Francis Scott Key, que tinha uma sensibilidade romântica e nos tempos livres gostava de escrever poemas e sonetos em papéis que trazia sempre nos bolsos, emocionou-se às primeiras horas da manhã de 14 de Setembro ao ver que a bandeira de Armistead continuava hasteada após os britânicos terem cessado os bombardeamentos e baterem em retirada.

 

Como escreveu David Hackett Fischer, os “sentimentos românticos de Francis Scott Key estavam ao rubro”, tendo tirado um papel do bolso “no fervor do momento” para começar a escrever o poema que viria a ser o “The Star Spangled Banner” e que passaria a ser recitado ao som de uma música antiga inglesa chamada “Anecreon in Heaven”.

 

A letra do novo hino seria impressa a 17 de Setembro no Baltimore Patriot e em Outubro já a música era cantada em concertos públicos e replicada um pouco por todo o lado.

 

Desde então que o “The Star Spangled Banner” se tornou num elemento inspirador para os americanos, tal como a bandeira de Fort McHenry inspirou os soldados do major Armistead e Francis Scott Key. 

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.


Leituras

Alexandre Guerra, 03.10.12

 

Thomas Friedman olha para o Império do Meio no seu artigo de opinião no New York Times, China Needs Its Own Dream, para se questionar se o novo lider do Partido Comunista Chinês, o vice-Presidente Xi Jinping, tem o "sonho" de uma China sustentável perante o crescimento avassalador da classe média.

 

Registos

Alexandre Guerra, 02.10.12

 

Na Euronews o Diplomata ficou a saber que a Grécia perspectiva para 2013 uma dívida pública de quase 180 por cento do PIB. Não deixa de representar alguma esperança para Portugal, sabendo que, apesar de tudo, ainda pode percorrer um longo caminho de pecado sem que com isso o país imploda.

 

A "doutrina Begin"

Alexandre Guerra, 01.10.12

 

 Caça F-16 israelita

 

Benjamin Netanyahu encenou, na passada semana, um espectáculo que terá agradado à maioria dos embaixadores presentes na Assembleia Geral das Nações Unidas. Foi certamente do agrado da imprensa internacional, a julgar pelo destaque que deu ao primeiro-ministro hebraico, que mostrou um desenho de uma bomba para exemplificar a “linha vermelha” que Israel não vai permitir que o Irão atravesse no que diz respeito ao seu programa nuclear.

 

Aquilo que Netanyahu disse não é uma novidade, já que qualquer observador mais atento sabe que Israel jamais permitirá que Teerão chegue a um estádio próximo da bomba atómica.

 

Se até aqui não houve qualquer acção militar israelita, isso deve-se não tanto às pressões de Washington para a contenção, mas sim ao facto de Israel ainda não se sentir verdadeiramente ameaçado com o poder nuclear iraniano.

 

Porque, a partir do momento em que os serviços de “intelligence” israelitas reunirem informação que coloque o Irão na iminência de alcançar a bomba atómica, Israel atacará cirurgicamente as várias instalações nucleares iranianas, sem qualquer aviso prévio, incluindo a Washington, que só deverá ter conhecimento da operação quando esta já estiver em curso.

 

A Mossad está atenta ao Irão, tal como sempre esteve em relação aos programas nucleares da Síria e do Iraque, tendo agido preventiva e militarmente contra estes dois países a partir do momento em que se sentiu efectivamente ameaçada.

 

Em 1981, o primeiro-ministro Menachem Begin deu ordem para que oito caças F-16 destruíssem o reactor nuclear de Osirak, no Iraque, que Israel acreditava produzir plutónio para ogivas. Secretamente e contra a vontade de Washington, Begin não hesitou. Estava lançada a “doutrina Begin”, que assenta no seguinte princípio: “The best defense is forceful preemption." Para Begin, nenhum adversário de Israel deveria adquirir armas nucleares.

 

Em 2007 seria a vez de Ehud Olmert pôr em prática a “doutrina Begin”, desta vez contra a Síria. Ainda recentemente, a New Yorker explicava como Israel tinha bombardeado secretamente o suposto reactor nuclear de Al Kibar sem que ninguém desse por isso e o assumisse posteriormente.

 

O ataque resultou de uma operação da Mossad em Viena, em Março de 2007, na qual recolheu “intel” na casa de Ibrahim Otham, o director da Comissão Síria de Energia Atómica. As provas recolhidas, incluindo fotos do local do reactor, eram conclusivas. Washington foi informado, mas o Presidente George W. Bush não ficou muito convencido.

 

Olmert, por seu lado, tinha poucas dúvidas e a 5 de Setembro, pouco antes da meia noite, quatro F-15 e quatro F-15 levantaram voo de bases israelitas com destino à Síria.

 

Através de mecanismos electrónicos, os israelitas “cegaram” o sistema de defesa anti-aéreo sírio, entre as 00:40 e as 00:53, o suficiente para entrarem no espaço aéreo do inimigo sem serem vistos e lançaram várias toneladas de bombas sobre o alvo. Hoje, cinco anos depois, ninguém fala no assunto ou o reconhece, seja Israel ou a Síria.

 

O Irão poderá ser o próximo alvo da “doutrina Begin”, embora Israel reconheça tratar-se de uma operação mais complexa do que as duas anteriores.

 

Uma coisa é certa, a encenação de Olmert na passada semana na Assembleia Geral poderá ter servido para sossegar a Casa Branca e dar mais algum tempo ao Presidente Barack Obama, numa altura em que está em plena campanha eleitoral. Mas que ninguém duvide, a partir do momento em que a Mossad tiver dados conclusivos que apontem para uma ameaça nuclear iminente vinda do Irão, os caças bombardeiros israelitas voltarão a levantar voo em segredo. A grande questão é saber se a Casa Branca será informada antes ou depois de descolarem em direcção ao alvo.

 

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