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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

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A "ajuda" do Sandy

Alexandre Guerra, 31.10.12

 

Barack Obama conforta o governador de New Jersey, Chris Christie, em Atlantic City, uma das áreas mais devastadas pelo Furacão Sandy/Foto: Doug Mills/The New York Times

 

Faltam poucos dias para as eleições presidenciais nos Estados Unidos e o Diplomata está convencido que Barack Obama será reencaminhado para a Casa Branca. O Sandy é capaz de ter dado uma ajuda decisiva para essa vitória.

 

Sandy

Alexandre Guerra, 28.10.12

 

Ao ouvir os especialistas da meteorologia a anunciar que a costa Leste dos Estados Unidos vai ser atingida pelo Furacão Sandy nas próximas 48 horas, uma tempestada "híbrida" que pode ser, potencialmente, uma das mais violentas de sempre, o Diplomata, estranhamente, lembrou-se de outra Sandy.

 

O "clube um por cento"

Alexandre Guerra, 25.10.12

 

Fonte: Fortune


Numa das últimas edições da revista Fortune encontrava-se um gráfico muito interessante, que demonstra a evolução da concentração de rendimentos do “clube um por cento” dos mais ricos dos Estados Unidos.

 

Os números apresentados reportam-se ao período compreendido entre 1920 e 2010 e é muito curioso constatar que os dois momentos de maior concentração de rendimentos na faixa exclusiva dos mais ricos da população norte-americana foram nas vésperas das piores crises financeiras dos últimos 100 anos.

 

Em 1928, um por cento dos americanos mais ricos auferia 23,9 por cento dos rendimentos totais da população dos Estados Unidos. Um valor que voltaria a registar um pico em 2007, com esse mesmo “clube um por cento” a ganhar 23,5 do rendimento nacional.

 

Os "novos milionários" da Faixa de Gaza*

Alexandre Guerra, 20.10.12

 

Desenho da Middle East Children's Alliance 

 

Há anos que as forças de segurança israelitas (IDF) impõem um bloqueio impiedoso à Faixa de Gaza, sendo este o principal factor responsável pela deterioração das condições de vida dos palestinianos que vivem naquele enclave.

 

Um bloqueio que, até ao Verão de 2010, permitia apenas a entrada de alguns alimentos básicos e medicamentos. Nessa altura, devido à pressão internacional no seguimento do incidente que envolveu o assalto militar israelita à flotilha humanitária turca, o Governo hebraico aligeirou o cerco, permitindo a entrada de uma maior variedade de bens de consumo.

 

Mas o controlo continuou a ser muito restrito, impedindo a entrada de materiais essenciais para a reconstrução e recuperação de um enclave totalmente asfixiado e parcialmente destruído, sobretudo a partir do momento em que o conflito israelo-palestiniano voltou a aquecer com o início da intifada de al Aqsa, em Setembro de 2000.

 

As três semanas de bombardeamentos israelitas no Inverno de 2008/2009 (Operação “Cast Lead”) vieram lançar ainda mais caos sobre os principais centros urbanos: a cidade de Gaza, Khan Yunis e Rafah. Mais de seis mil casas foram destruídas, assim como quase duzentas estufas. Contaram-se para cima de 900 crateras em estradas e ruas provocadas pelo impacto das bombas israelitas, 25 milhões de dólares em estragos nas universidades, mais de 35 mil cabeças de gado e um milhão de aves mortas. Dezassete por cento da área cultivável foi destruída.

 

Fonte: Relatório "Gaza in 2020: A liveable place?"/UNRWA

 

O Governo hebraico justificou a sua acção bélica com os mesmos argumentos com que tem sustentado o bloqueio: os lançamentos constantes de morteiros, por parte de militantes do Hamas, sobre zonas israelitas contíguas ao enclave, e a incursão de terroristas suicidas no território judaico.

 

É com base neste receio que o Governo israelita mantém a proibição de entrada e saída de palestinianos de Gaza, apenas em casos específicos ou de emergência médica. O autor destas linhas chegou a ouvir testemunhos de palestinianos na Cisjordânia a lamentarem-se pelo facto de já não visitarem familiares seus na Faixa de Gaza há muito tempo, por causa de não poderem circular em Israel nem entrar no enclave.

 

A verdade é que nestes doze anos, desde o início da intifada de al Aqsa, que entretanto terminou, os palestinianos de Gaza estão praticamente entregues à sua sorte, valendo-lhes o apoio das instituições sociais do Hamas e de algumas ONG.

 

Em Agosto, as Nações Unidas divulgaram um relatório importante, “Gaza in 2020: A liveable place?”, no qual lançaram o alerta: Gaza não será “habitável” em 2020 a não ser que se actue urgentemente em áreas como o saneamento básico, o abastecimento de água potável, o fornecimento de electricidade, a saúde ou o ensino.

 

O documento da agência da ONU de apoio aos refugiados palestinianos (UNRWA) estima que nos próximos oito anos a população da Faixa de Gaza chegue aos 2,1 milhões, mais 500 mil pessoas que actualmente.

 

Apesar da economia ter crescido nos últimos anos, os palestinianos vivem em média pior do que nos anos 90, onde o rendimento per capita era superior ao do ano passado. 

 

Esta aparente contradição explica-se pelo facto desse crescimento estar focado na construção, como foi aliás abordado no primeiro texto desta série, e não em sectores produtivos e sustentáveis da economia.

 

E uma vez que não é a população em geral a ganhar os dividendos do crescimento (pelo contrário), alguém há de estar a fazer dinheiro na Faixa de Gaza. Ou melhor dizendo, alguns homens bastante ricos, próximos do Hamas.

 

Citado pela BBC News, Omar Shabban, economista do think thank Palthink, baseado em Gaza, refere que devem existir actualmente entre 100 a 200 “novos milionários” que juntaram muito dinheiro em pouco tempo e que devem fazer 2 milhões de dólares de dois em dois meses.  

 

Estes homens têm usufruído do “boom” da construção e de toda uma economia paralela que é alimentada pelas centenas de túneis que existem entre a Faixa de Gaza e o Egipto, pelos quais é contrabandeado todo o tipo de materiais provenientes do território egípcio. Um tema a ser analisado no terceiro e último texto desta série.

 

*Este é o segundo de três textos sobre a Faixa de Gaza

 

O sonho perdido de Arafat (1)

 

O despacho...

Alexandre Guerra, 16.10.12

 

"I should have been rewarded for all the good things I've done."


Uma declaração no mínimo polémica proferida esta manhã pelo antigo líder sérvio Radovan Karadzic, na sessão de sua defesa numa das salas de audiência do Tribunanal Penal Internacional para a Ex-Jugoslávia (ICTY). Karadzic foi preso em 2008 na cidade de Belgrado, após 13 anos em fuga. Sobre ele recaem 10 acusações de genocício, crimes de guerra e crimes contra a Humanidade perpetrados no conflito da ex-Jugoslávia na primeira metade da década de 90. O julgamento iniciou-se em Outubro de 2009.


O sonho perdido de Arafat*

Alexandre Guerra, 16.10.12

 

Vista aérea da cidade de Gaza com o Mar Mediterrâneo ao fundo 

 

Ainda Yasser Arafat era vivo quando o autor destas linhas ouviu alguém dizer que o sonho do líder palestiniano era fazer da Faixa de Gaza uma espécie de Miami da Palestina. Um devaneio total do antigo líder palestiniano, dirão os leitores. Porém, talvez nem tanto.

 

Certo dia ao final da tarde, de copo na mão, num terraço estilo árabe virado para o Mediterrâneo, num dos poucos hotéis da marginal da cidade de Gaza, este vosso escriba pensava que ali estava mais um exemplo de um pedaço de terra que tinha condições para florescer e, no entanto, a História ditara outro curso.

 

Em circunstâncias normais a Faixa de Gaza teria requisitos para se tornar numa estância turística de referência, soalheira, banhada pelo azul do Mediterrâneo e com areal. Ou seja, poderia ser uma colónia de férias dos palestinianos (e por que não também dos jordanos?), enquanto a Cisjordânia seria sempre o território para viver e trabalhar, já que é lá que estão as principais cidades, universidades, serviços e Governo. A Faixa de Gaza seria assim como o Algarve é para milhares de portugueses, que se concentram nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.

 

Mas a verdade é que as circunstâncias são cada vez menos normais naquele enclave, que mede 41 quilómetros de extensão e nunca mais de 12 quilómetros de largura, e no qual estão literalmente enclausurados cerca de 1,6 milhões de palestinianos, tornando-o num dos territórios com maior densidade populacional do mundo.

 

Com uma população a crescer (e a economia também) o exíguo território está a ficar cada vez mais exíguo e ao mesmo tempo desorganizado e caótico.

 

O preço do terreno tem disparado, sobretudo na cidade de Gaza, entre 40 a 50 por cento anualmente nos últimos anos. Actualmente, o metro quadro na cidade de Gaza pode atingir os 20 mil dólares. Um valor que não fica atrás daquele que é praticado em bairros de luxo em Londres, Nova Iorque ou Paris.

 

Obviamente que este mercado não é acessível para a maioria dos palestinianos da Faixa de Gaza, no entanto, existem muitos homens ricos que conseguem fazer entrar dinheiro vindo do Egipto através dos famosos túneis clandestinos. Convém relembrar que Israel tem imposto há vários anos um bloqueio feroz à Faixa de Gaza, dificultando a mobilidade de pessoas, bens e serviços.

 

Mas com a economia, em geral, e o sector da construção, em particular, dinamizados com os “esquemas” transfronteiriços entre Gaza e o Egipto vai-se construindo um pouco por todo o lado, sem qualquer planeamento e quase sempre sem qualidade, já que os materiais são escassos.

 

Numa reportagem desta semana, a BBC News dizia que os poucos espaços verdes naquele enclave vão ficando cada vez mais cinzentos, com o mercado do imobiliário a tornar-se bastante atractivo perante o aumento de população.

 

Embora a construção desenfreada e desordenada na Faixa de Gaza tenha contribuído para dissipar o sonho de Arafat, a verdade é que há muito que esse mesmo sonho já tinha sido destruído pela guerra e pelo bloqueio. O Sul da Faixa de Gaza está particularmente martirizado, quando comparado com a cidade de Gaza, com muitas poucas casas incólumes às balas e bombas israelitas e com uma pobreza acentuada. 

 

A Faixa de Gaza dos dias de hoje está cada vez mais longe do sonho de Yasser Arafat, mas, apesar de tudo, não deixa de ser um local onde a terra se torna um bem cada vez mais precioso. 

 

*Este é o primeiro de três textos sobre a Faixa de Gaza


A importância de não esquecer a História

Alexandre Guerra, 12.10.12

 

Numa altura em que escasseiam verdadeiros líderes europeus que apontem um rumo ao Povo e homens de visão que inspirem as sociedades;

 

Numa altura em que nas televisões e nos jornais se anuncia o fim do mundo por causa de uma tal "crise" da dívida soberana que alguns teimam em equiparar a uma espécie de Apocalipse;

 

Numa altura em que a Política se confina à mediocridade do debate económico-financeiro, perdendo a sua grandeza de entrega à causa pública e à governança dos homens;  

 

Numa altura em quase todos se esqueceram da História recente e da importância que o projecto europeu teve na pacificação da Europa;

 

Numa altura em que muitos criticam ou estranham o Nobel da Paz atribuído à União Europeia;

 

É importante relembrar o que acontecia na Europa apenas há 20 anos... 

 

Campo de concentração de Omarska na Bósnia, 1992/Foto:ITN

 

Ou até mesmo há 25 anos.

 

Muro de Berlim

 

Já para não ir mais atrás...

 

Reichstag, Berlim, Maio de 1945/Foto: Yevgeny Khaldei


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