Poucas pessoas deverão ter essa noção, mas até Janeiro deste ano já tinham morrido quase 48 mil pessoas no México em violência relacionada com o tráfico de droga, desde 2006, altura em que o então Presidente Filipe Calderón iniciou uma campanha militar contra os vários cartéis, mal tomou posse.
Depois da guerra ao narcotráfico levada cabo na Colômbia durante, sobretudo, a década de 90, e que resultou no enfraquecimento dos cartéis de Cali e de Medellín, o México tornou-se na principal plataforma de produção e distribuição de droga para os Estados Unidos. A Ciudad Juárez, na fronteira com o Texas, tem sido nos últimos anos o símbolo mais evidente dessa realidade, marcada por violência, seja entre cartéis rivais ou entre estes e as forças de segurança.
Actualmente, existem vários cartéis a operar no México com diferentes características e dimensões. Ficam aqui os mais importantes.
Sinaloa é actualmente o mais poderoso cartel, assente numa estrutura tradicional, liderado por Joaquín “El Chapo” Guzmán Loera. Los Zetas, mais pequeno em dimensão do que o Sinaloa, é o outro dos maiores cartéis do México, sendo conhecido pela sua violência, dizendo-se que costuma desmembrar as suas vítimas quando ainda estão vivas. Foi fundado por ex-soldados e além da droga, dedica-se à extorsão, raptos e tráfico humano.
Existe também o cartel do Golfo, bem armado e um dos mais poderosos dos últimos anos, embora se diga que tenha andado a perder força. Já o cartel de Juárez continua a ser importante pela área que controla, visto ser um “corredor” para a passagem de droga para os Estados Unidos. Por outro lado, o cartel de Tijuana está hoje longe de ser a organização poderosa que foi nos anos 90.
Há ainda o cartel de Beltrán Leyva que resulta de uma cisão da organização de Sinaloa, composto por vários grupos de assassinos que conseguem através da intimidação e da violência infiltrar “fontes” nas estruturas políticas e policiais.
Quando em Dezembro de 2006 Filipe Calderón iniciou a sua guerra aos cartéis da droga recorreu a milhares de soldados do Exército, mas contou igualmente com a ajuda norte-americana, nomeadamente através da Merida Initiative, lançada no tempo de George W. Bush, com um orçamento de 1,4 mil milhões de dólares. Anos mais tarde, já sob o mandato do Presidente Barack Obama, procedeu-se a um reajustamento do modelo de cooperação entre os dois países, mantendo-se no entanto, muitos dos projectos da Merida Initiative.
Uma das novidades passou a ser a utilização, no ano passado, por parte do Pentágono de drones a alta altitude para recolher “intelligence” em território mexicano e depois ser transmitida às autoridades daquele país.
Uma das grandes dúvidas que se coloca é saber qual a estratégia que o novo Presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, irá adoptar na guerra ao narcotráfico. Provavelmente, não irá alterar a estratégia em curso, até porque os estudos de opinião revelam que cerca de 70 por cento das pessoas exigem “mão pesada” contra os “narcos” e a pena de morte como sentença.
O que não deixa margem para dúvidas é o desafio que Nieto terá pela frente para “limpar” a corrupção das estruturas do Estado e do Governo.
Note-se que um dos grandes problemas com que as autoridades mexicanas se têm defrontado é a corrupção enraizada nas estruturas de Governo e do Estado. Seja a um nível mais inferior, como polícia ou poder político local, seja num grau mais elevado da hierarquia. Por exemplo, no passado mês de Maio, o Governo anunciou a detenção de três generais de alta patente, sendo que um deles chegou mesmo a ser o número dois no Ministério da Defesa.
Estes generais estavam ao serviço dos cartéis de droga, tendo como missão facilitar o tráfico, ou seja, o transporte da mercadoria para fora do país, e ao mesmo tempo filtrar e desviar toda a informação vinda das autoridades americanas, nomeadamente do DEA, que pudesse pôr em causa os esforços dos narcotraficantes.