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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Estado e a classe média

Alexandre Guerra, 29.04.12

 

Foto: Frank Martin  /  Getty Images

 

Reler alguns dos ensinamentos dos grandes filósofos da Antiguidade Clássica é sempre um exercício intelectual estimulante, ora porque se fazem novas descobertas, ora porque se relembram princípios escritos há mais de 2000 anos e que continuam a ser verdades sábias nos dias que correm.

 

Uma dessas reflexões, neste caso de Aristóteles (384 a.C - 322 a.C), falava na importância da classe média no modelo de organização da sociedade da Cidade, da polis. Dizia o filósofo de Estagira que a “sociedade civil mais perfeita é a que existe entre cidadãos que vivem numa condição média; e que não pode haver Estados bem administrados senão aí onde a classe média é numerosa, e a mais poderosa do que as outras duas [ricos e pobres]”.

 

Um pensamento óbvio, dirá, eventualmente, o leitor deste blogue e com razão. Mas, mesmo assim, não deixa de ser uma verdade que os líderes políticos devem ter presente todos os dias, atendendo ao enfraquecimento galopante dessa tal classe média resultante das graves dificuldades económicas e financeiras sistémicas que se vivem nalguns países, nomeadamente em Portugal.

 

Porque é importante não esquecer que um Estado composto por uma classe média forte “é o único que está isento de perdições e sedições. Pois deve haver muito poucas desordens dessas em toda a parte onde a classe média é numerosa”.

 

"A política é um jogo sujo", mesmo ao serviço do Bem

Alexandre Guerra, 27.04.12

 

Agora, depois de o ter visto, o Diplomata percebe porque é que o All The King’s Men (1949) é um daqueles filmes obrigatórios para quem trabalha em comunicação política.

 

Vencedor de três óscares da Academia, incluindo Melhor Filme, e baseado na obra homónima de Robert Penn Warren, de 1946, laureada com o Pulitzer no ano seguinte, All The King’s Men conta a história da ascensão política de Willie Stark nos anos 30 num Estado pobre dos Estados Unidos que, com a sua base de apoio assente nos “hicks” (provincianos, labregos), conquista o poder e o vai mantendo a todo o custo. Porque, a verdade é que a “política é um jogo sujo”, mesmo que esteja ao serviço do “Bem”.

 

A seu lado, Willie Stark tem Jack Burden, um antigo jornalista, que, acreditando no homem e no político, passa para o “outro lado” e se torna no seu assessor mais próximo.

 

O filme começa precisamente com Jack Burden, ainda repórter político do “Chronicle”, a ser chamado ao gabinete do seu editor. Este pergunta-lhe se já ouviu falar num tal de Willie Stark. Ao que Burden responde não.

 

É então que o editor lhe diz que se trata de um político de Kanoma City, uma capital de comarca “típica, quente, poeirenta e remota”, que se vai candidatar a um cargo público no “county council”.

 

E perante esta informação aparentemente algo inócua e sem interesse jornalístico, Stark pergunta: “E o que tem isso de especial?”

“Dizem que é um homem honesto”, responde o editor.

 

É neste discurso que Willie Stark, falando com paixão e com sinceridade ao povo, inverte a tendência negativa da sua primeira campanha eleitoral para Governador. Acabaria por perder, mas longe de ser a derrota estrondosa que muitos previam. Na altura em que soube os resultados eleitorais, anunciando a sua derrota, Willie Stark sorriu. Alguém perguntou-lhe porquê e ele respondeu: "Agora perdi, mas aprendi como se ganha!"

O despacho...

Alexandre Guerra, 26.04.12

 

"Andam por aqui estas beldades, e um homem, por mais agente secreto que seja, não deixa as partes privadas em casa."

 

A douta opinião de Elgoyo Payares, dono da La Bodeguita Del Medio, um bar e restaurante no centro histórico de Cartagena na Colômbia, ao Washington Post (citado pelo jornal Público), a propósito do escândalo que envolveu agentes dos serviços secretos americanos naquela cidade colombiana, onde alegadamente se terão envolvido com prostitutas na véspera da viagem do Presidente Barack Obama à Cimeira das Américas. 

 

Mein Kampf vai voltar a ser publicado na Alemanha

Alexandre Guerra, 25.04.12

 

O governo da Baviera anunciou esta Quarta-feira que vai voltar a publicar o "Mein Kampf" antes de 2015, altura em que expiram os direitos de autor, actualmente detidos pelas autoridades daquele "land" alemão.  

 

Embora a lei alemã não proíba a publicação da obra de Adolf Hitler, as autoridades da Baviera têm utilizado os seus direitos de autor para impedir que qualquer cópia fosse novamente editada desde 1945.

 

A partir de 2015, altura em que se assinalam 70 anos sobre a morte de Hitler, a região da Baviera vai deixar de ter o exclusivo dos direitos de autor daquela polémica obra. 

 

Como forma de esgotar o potencial comercial de eventuais edições após 2015, o governo da Baviera informou que está a ultimar uma edição do "Mein Kampf", devidamente anotada e comentada, para estudantes. Com esta iniciativa, as autoridades da Baviera esperam poder deitar por terra quaisquer oportunidades de negócio por parte de editoras que queiram publicar o "Mein Kampf".

 

Já agora, a propósito do livro que Hitler escreveu em 1924 enquanto estava na prisão, o "Mein Kampf" foi publicado em Julho de 1925 com uma tiragem de 10 mil exemplares. O livro tinha quatrocentas páginas e a capa ostentava uma fotografia a preto e branco de Hitler. O título estava estampado numa faixa vermelha que rasgava na diagonal a capa.

 

Em Dezembro de 1926, e motivado pelo prazer da escrita, Hitler viria a publicar um segundo volume, no qual dá um particular destaque ao "projecto político", dissertando sobre questões ideológicas, como o Estado nacional-socialista, a propaganda ou a política internacional.

 

Só em 1930 viria a ser publicada uma edição com os dois volumes, que viria a ser conhecida como a "bíblia nazi", tendo em conta o seu papel fino, o formato de bolso e a capa escura. Houve ainda uma edição de luxo do "Mein Kampf" numerada de 1 a 500.

 

Quanto aos números impressionantes da obra, veja-se logo no início: Até 1929 tinham sido vendidos 23 mil exemplares do primeiro volume e 13 mil do segundo. Um sucesso, portanto.

 

No ano seguinte, e por motivos que agora não serão aqui explanados, o livro vendeu mais 54 mil exemplares. No final de 1932 as vendas já chegavam a 230 mil exemplares. Estima-se que só até Janeiro de 1933, altura em que Hitler sobe ao poder, o "Mein Kampf" terá vendido na Alemanha cerca de 241 mil.

 

Provavelmente, muitas pessoas não terão a noção de que o "Mein Kampf" continuou a ser um "best seller" mesmo depois do II GM. Desde então que tem vendido milhões. Segundo a revista americana Cabinet, só da versão inglesa deverão ser vendidos anualmente 20 mil livros. Nalguns países, o "Mein Kampf" chegou a ocupar o top dos livros mais vendidos. Por exemplo, na Turquia houve um ano em que chegou a vender 80 mil exemplares.  

 

Nem um ano passou e o Presidente do Sudão do Sul já diz que está em guerra

Alexandre Guerra, 24.04.12

 

Soldado do Sudão do Sul junto a um mercado em Rubkona, perto de Bentiu, alegadamente destruído por uma bomba lançada ontem por aviões do Sudão/Foto:Reuters/Goran Tomasevic  

 

Nem um ano de existência tem e o mais recente Estado do mundo já está em guerra, pelo menos a julgar pelas palavras do seu Presidente, Salva Kiir. Segundo este, o Sudão do Sul, que se tornou independente em Julho do ano passado, está a ser alvo de uma "declaração de guerra" por parte do regime de Cartum. 

 

Apesar do Sudão não ter feito formalmente qualquer declaração nesse sentido, analistas citados pela BBC News consideram que é o próprio Salva Kiir a fomentar uma escalada de palavras. Seja como for, fontes oficiais militares do Sudão do Sul disseram esta Terça-feira que Cartum lançou oito bombas sobre o seu território na noite passada, o que levou Salva Kiir a classificar este acto como uma autêntica "declaração de guerra". 

 

Há várias semanas que os confrontos fronteiriços entre as tropas do Sudão do Sul e do Sudão se têm intensificado em áreas de exploração petrolífera. As acusações têm sido mútuas e neste momento não se vislumbra qualquer possibilidade de diálogo entre os dois países vizinhos.

 

Quando em Janeiro do ano passado, por altura do referendo da independência do Sul do Sudão, o Diplomata se questionava quanto à possibilidade de mais uma guerra civil em África, estava precisamente a prever um caminho sinuoso nas relações entre os dois países.

 

Na altura, o Diplomata desconfiou de imediato das palavras do Presidente sudanês, Omar al-Bashir, que disse que iria acatar o resultado do referendo, fosse ele qual fosse. O passado sangrento e violento de al-Bashir, seja em relação às populações do Sul ou da região de Darfur, perspectivavam tudo menos um desfecho pacífico e tranquilo deste processo de independência.

 

Mas, neste momento, é preciso também contar com o carácter provocatório e belicista do Presidente do Sul do Sudão, que está a dar mostras de não estar muito disponível para uma via mais diplomática.

 

A ler

Alexandre Guerra, 23.04.12

 

 

João Carlos Espada, cujos seus artigos são uma presença habitual aqui neste espaço, escreve no jornal Público sobre a sua recente visita a Porto Alegre para participar na 25ª edição do Fórum da Liberdade que se realizou na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa e do Colégio da Europa em Varsóvia relata uma experiência verdadeiramente inspiradora.

 

O despacho...

Alexandre Guerra, 19.04.12

 

"Sometimes the most obvious and tempting strategy is the stupidest. That applies to Argentina’s decision to seize a majority share in YPF, its biggest oil company, from Repsol, the Spanish energy group."

 

John Gapper, colunista no Financial Times, referindo-se num artigo de opinião à recente decisão da Presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner, de nacionalizar a subsidiária da espanhola Repsol no país das pampas.


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