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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O despacho britânico

Alexandre Guerra, 09.12.11

 

"For his fellow European leaders, this was a moment of truth. After years of swerving round the core question – are you truly committed to Europe? – Britain was finally forced to give an answer. And its answer was No. Even Margaret Thatcher had avoided doing that, threatening but never using her veto." 

 

The Guardian, 9 de Dezembro de 2011

 

Afinal, o Irão sempre tinha o "Sentinel"

Alexandre Guerra, 09.12.11

 

O Brigadeiro General Amir-Ali Hajizadeh (dir.) ao pé do "Sentinel"/Foto: Revolutionary Guards, via Agence France-Presse — Getty Images

 

Washington começou por dizer há dias que não tinha perdido qualquer "drone", mas rapidamente se percebeu que aquilo não estava a ser dito com muita convicção. Dias depois percebeu-se porquê. As autoridades iranianas anunciaram que tinham em sua posse um avião não tripulado RQ-170, mais conhecido por "Sentinel", com tecnologia "stealth" e que estaria ao serviço da CIA.

 

Confrontados com isso, os americanos vieram, timidamente, dizer que mesmo que isso fosse verdade, o "drone" estaria todo destruído, devido ao impacto da queda, e que não haveria perigo dos iranianos tentarem usurpar a sua tecnologia. 

 

Perante isto, o regime de Teerão divulgou finalmente há umas horas imagens do "Sentinel", que terá sobrevoado 250 quilómetros adentro do território iraniano na região da cidade de Taba, tendo alegadamente sido imobilizado pelas forças armadas do Irão. Washington tinha dito que o "drone" teria caído devido a uma avaria.

 

Teerão acusou os Estados Unidos de terem violado o espaço aéreo iraniano e já escreveu uma carta ao Conselho  de Segurança, denunciado aquilo que considera serem acções "encobertas" e "provocadoras" por parte de Washington.

 

Entretanto, os Estados Unidos ainda não reagiram às imagens divulgadas por Teerão.

 

A ler

Alexandre Guerra, 09.12.11

 

 

Na linha de pensamento de textos como este e este publicados neste espaço, o Diplomata sugere a leitura da crónica de hoje de Jaime Nogueira Pinto no semanário Sol.

 

Morte de Hussein há 1300 anos é pretexto para xiitas e sunitas alimentarem divisões

Alexandre Guerra, 08.12.11

 

Imã Hussein na Batalha de Karbala (680) numa luta desigual, acabando por perecer nas mãos dos inimigos/Brookly Museum 

 

O Ashura, celebrado na passada Terça-feira nalguns países muçulmanos, trouxe à luz do dia o conflito crónico entre os dois principais ramos do Islão, xiita e sunita. Em apenas um dia, foram emitidos vários sinais, em diferentes locais e por diferentes intervenientes, que agudizaram o estado de animosidade histórica entre xiitas e sunitas.

 

No Afeganistão, vários atentados suicidas coordenados em Cabul, Kandahar e Mazar-i-Sharif provocaram a morte de pelo menos 59 crentes xiitas que celebravam o Ashura. Uma data importante para aquele ramo do Islão, porque assinala a morte de Hussein, neto de Maomé e considerado pelos xiitas o sucessor do profeta.

 

Apesar da extrema violência que tem assolado o território afegão, é a primeira vez que ocorre um atentado sectário deste género. Embora a minoria xiita tenha estado sob pressão durante o regime taliban, nunca tinha sido alvo de actos violentos direccionados.

 

E, de facto, os taliban rejeitaram de imediato qualquer responsabilidade nos atentados, o que se confirmou na Quarta-feira, com a reivindicação do ataque por parte de um pequeno grupo terrorista baseado no Paquistão. O Lashkar-e-Jhangvi (LeJ) tem ligações fortes à al-Qaeda, de base sunita, e também aos taliban.

 

Não são ainda claras as razões que levaram aquele grupo a atacar a comunidade xiita no Afeganistão, mas alguns observadores falam na possibilidade de se estar a incitar o sectarismo no País, eventualmente, com o objectivo de fragilizar a actual liderança política do Presidente Hamid Karzai e o modelo de governação daquele Estado.

 

O jornal paquistanês Dawn interrogava-se precisamente sobre essa possibilidade e referia que as autoridades afegãs acreditam que estes atentados tinham como objectivo reforçar a insurreição que se prolonga já há dez anos, altura em que os Estados Unidos decidiram invadir o Afeganistão.

 

Uma coisa é certa, sublinhava o mesmo Dawn, os atentados de Terça-feira importaram do Iraque e do Paquistão um estilo de violência sectária até então inexistente no Afeganistão.

 

Ainda nesta lógica de guerra intestina islâmica entre xiitas e sunitas, da Síria vieram sinais reveladores de que os tempos vindouros poderão trazer ainda mais violência sectária. Dominada há décadas pela minoria alauita (xiitas), a Síria é um país predominantemente sunita, embora, por razões óbvias, tenha mantido relações estreitas com o regime xiita do Irão e partilhe com este o apoio a movimentos como o Hezbollah ou o Hamas.

 

Curiosamente, também na Terça-feira, um dos líderes sunitas da oposição ao regime de Bashar al-Assad veio cavar ainda mais as trincheiras.  Burhan Ghaliun, líder do recém criado Conselho Nacional Sírio, avisou que se a Síria vier a ser liderada por si cortará as relações com o Irão, com o Hezbollah e com o Hamas.

 

Reagindo a estas palavras, e também por ocasião da celebração do Ashura, mas desta vez no Líbano, o líder xiita do Hezbollah, Hassan Nasrallah, veio manifestar o seu apoio a Bashar al-Assad. Numa rara aparição pública e falando para milhares de pessoas num bairro a sul de Beirute, um bastião xiita, Nasrallah aproveitou ainda para atacar Ghaliun.

 

"Gamers" podem ficar descansados porque não correm risco de serem acusados pelo TPI

Alexandre Guerra, 08.12.11

 

 

Os "gamers" já podem estar mais tranquilos porque não correm o risco de virem a sentar-se no banco dos réus do Tribunal Penal Internacional (TPI) sob a acusação de terem violado as Convenções de Genebra nos vários videojogos que simulam combates de guerra em diferentes cenários. O Comité Internacional da Cruz Vermelha informou hoje que "violações sérias das leis da guerra só podem ser cometidas em situações de vida real". 

 

Um exemplo daquilo que os Estados Unidos têm de melhor e que Portugal devia seguir

Alexandre Guerra, 07.12.11

 

 

Charles Rex Arbogast/Associated Press

 

Rod Blagojevich, antigo governador do estado do Illinois, foi setenciado esta Quarta-feira a 14 anos numa prisão federal sob acusações de corrupção, entre as quais a tentativa de vender o lugar de senador deixado vago por Barack Obama quando foi eleito para a Casa Branca. Sendo Blagojevich na altura governador do Illinois, cabia-lhe a si a responsabilidade de nomear um substituto para ocupar o assento no Senado deixado vazio por Obama.

 

Um mês após as eleições presidenciais de Novembro de 2008, Blagojevich foi detido pelo FBI e pouco tempo depois foi a vez do Senado daquele estado, que se mostrou indiferente às reiteradas manifestações de inocência por parte do político, ter accionado a figura de "impeachment". Por 59 votos contra 0, aquela câmara destituiu Blagojevich da governação do Estado do Illinois depois de ter considerado que tinha havido abuso de poder.

 

As investigações que levaram ao processo de "impeachment" duraram apenas alguns dias: Uma comissão de 21 membros do congresso estadual, em parceria com o FBI através do fornecimento de relatos por parte dos agentes envolvidos no processo de investigação a Blagojevich, apurou as suas conclusões.

 

Na altura, o Diplomata escreveu que "apesar de Blagojevich ter revelado uma teimosia insustentável ao manter-se agarrado ao poder, as instâncias políticas mais elevadas não permitiram que tal situação permanecesse".

 

No entanto, aquela tinha sido apenas a primeira parte do processo, já que se tratou exclusivamente do "julgamento político", com os senadores estaduais a assumirem as suas responsabilidades políticas e morais perante a sua comunidade.  

 

A outra parte do processo, reservada aos tribunais,  terminou agora, com a condenação de Blagojevich. 

 

Este processo do Blagojevich é um exemplo interessante, porque tanto o poder político como o judicial desempenharam os seus papéis na responsabilização do ex-governador sem se compromoterem nem intrometerem no campo um do outro. Cada um geriu o processo com o seu tempo e metodologias. O poder político fez de forma célere aquilo que lhe competia: punir politicamente Blagojevich. A justiça não se ficou atrás e em tempo útil e aceitável acabou por "fazer justiça".

 

Os tempos da História e as suas "crises"

Alexandre Guerra, 06.12.11

 

No período em que José Manuel Durão Barroso, actual presidente da Comissão Europeia, andava pelos Estados Unidos a tirar o seu doutoramento em Georgetown e se prepara para vir a ser um dia primeiro-ministro de Portugal, o autor destas linhas chegou a ouvi-lo citar, por uma ou duas vezes, algumas estrofes da música Zooropa do álbum homónimo dos U2 (diga-se de passagem, repositório dos últimos resquícios da genial criatividade musical daquela banda que tinha atingido o corolário com Achtung Baby, dois anos antes).

 

Considerações artísticas à parte, Barroso lá dizia: “Zooropa… Don't worry baby, it's gonna be alright. Zooropa… Uncertainty can be a guiding light.” Disse-o, por exemplo, em Novembro de 1997, durante um colóquio com o nome de “Portugal na Transição do Milénio”.

 

O agora líder da Comissão Europeia mostrava-se na altura desiludido com o rumo da Europa, em parte consubstanciado no então novíssimo Tratado de Amesterdão, assinado em Outubro de 1997.

 

Na sua intervenção por ocasião do debate na Assembleia da República para a aprovação do Tratado de Amesterdão, a 6 de Janeiro de 1999, Barroso dizia que “sem embargo de desenvolvimentos positivos, ele representa uma certa frustração e fica-se, sem dúvida, com um sabor a pouco em termos de ambição europeia”. Salientava ainda: “Ficamos com a impressão de reformas mais uma vez adiadas. Ficamos com a consciência de que a Europa continua à procura de um caminho. […] Não pode, pois, honestamente dizer-se que o Tratado de Amesterdão esteja à altura dos desafios que a Europa hoje enfrenta.”

 

Mais à frente dizia que na União Europeia não existia “uma vontade política proporcional à dimensão dos desafios que os europeus enfrentam”. Acrescentaria ainda que “actualmente [1999], os líderes europeus vão, na sua maioria, atrás das sondagens, em vez de procurarem ir à frente das respectivas comunidades políticas”. E já quase a concluir: “Que faremos com esta Europa? Para onde vamos? O que quer a Europa, se é que quer realmente alguma coisa? A verdade é que a União Europeia parece cada vez mais à deriva. Sem um propósito claro. Sem uma linha de rumo. Sem uma verdadeira visão estratégica.”

 

Ora, estes tempos de excepcional “crise” que se viviam no final dos anos 90 não eram afinal tão excepcionais quanto isso, bastando apenas recuar até ao início da mesma década e encontrar mais um momento de “crise” para a Europa.

 

Na ressaca do Tratado de Maastricht, mais concretamente em Julho de 1993, o mesmo Durão Barroso escrevia num artigo de opinião no Die Ziet seguinte: “Tenho para mim que é nos momentos mais difíceis que a validade dos projectos políticos pode ser de facto posta à prova. Ora justamente o projecto de construção vive numa fase marcada pela incerteza, pelo cepticismo e até pela desconfiança. De facto, é inquestionável que em muitos países europeus se nota hoje um pessimismo crescente.” E notava que “como pano de fundo, a recessão económica internacional tornou mais evidente a perda de competitiva em relação” aos concorrentes mundiais da Europa.

 

Enfim, certamente que se continuasse a regredir no tempo muitos seriam os discursos alinhados por este diapasão, porque a verdade é que poucos serão os períodos da construção do edifício europeu em que os tempos fossem de tranquilidade e de prosperidade, pelo menos à lupa dos políticos e dos líderes.

 

Tal como daqui a 20 anos, a autor destas linhas apostaria que a Europa, dirão então os seus governantes, estará numa crise de identidade, sem rumo, sem liderança ou qualquer coisa deste género.

 

Independentemente das conjunturas históricas, os homens têm uma tentação e tendência para assumirem a excepcionalidade do seu próprio tempo (isto dará um dia um texto interessante sobre Hegel, Marx, Fukuyama, Kojève, Políbio…) e, por vezes, esta assumpção poderá toldar a sua objectividade do pensamento e o seu espírito crítico em determinado momento.

 

Como aliás, actualmente acontece, na modesta opinião do autor destas linhas, onde os problemas são mais que muitos, é certo, mas a sua leitura e o respectivo enquadramento na linha da História não parece estar a ser feito de uma forma equilibrada e pragmática.

 

Mas, para isso acontecer é preciso, antes de mais, conhecer e ter a sensibilidade histórica, porque só assim se pode ter uma perspectiva verdadeiramente objectiva e focada no essencial, liberta das questões acessórias, que daqui a alguns anos não serão mais do que notas de rodapé da História.  

 

Nota: Durão Barroso foi aqui visado enquanto objecto de estudo, como poderia ter sido outro qualquer político ou líder. Tratou-se apenas de uma questão de maior disponibilidade no acesso à informação.

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.


A ler

Alexandre Guerra, 04.12.11

 

 

 

José Cutileiro, no seu habitual artigo de Sábado no jornal Expresso, é uma das poucas pessoas que escreve algo verdadeiramente lúcido sobre a tão badalada "crise" europeia. A ler.

 

O Diplomata relembra dois textos sobre as ameaças no ciberespaço

Alexandre Guerra, 01.12.11

 

Nos últimos dias, o tema das ameaças cibernéticas voltou a ser destaque na imprensa portuguesa, a propósito de uns ataques "piratas" a alguns sites e portais de entidades públicas.

 

Sobre as novas realidades do ciberespaço, o Diplomata escreveu há sensivelmente um ano dois textos sobre o que se passa nos Estados Unidos e que talvez ajude a enquadrar o assunto.

 

O ciberespaço é o novo domínio da doutrina militar dos Estados Unidos (1)

 

 

O ciberespaço é o novo domínio da doutrina militar dos Estados Unidos (2)

 

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