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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Uma morte esperada e uma sucessão já há algum tempo anunciada

Alexandre Guerra, 19.12.11

 

Kim Jong-il como o seu filho Kim Jong-un no ano passado/Foto: Kyodo News, via Associated Press

 

Foi com lágrimas e mergulhada numa profunda tristeza que uma mulher anunciou na televisão nacional norte-coreana a morte de Kim Jong-il, o "Querido líder" da Coreia do Norte. Esta era uma notícia já esperada há algum tempo, tendo em conta o estado debilitado da saúde do líder do regime de Pyongyang.

 

Há quase três anos que o Diplomata tem vindo a acompanhar que se vai passando naquele país, nomeadamente as movimentações que antecipavam uma sucessão para o seu filho Kim Jong-un. Em Abril de 2009, foi a primeira vez que o autor destas linhas falou aqui no nome de Kim Jong-un, o agora "Grande sucessor".

 

Ficam aqui alguns desses registos que talvez ajudarão a conhecer melhor o novo homem forte do regime mais fechado do mundo:

 

A aparição de Kim Jong-il (9 de Abril de 2009)

 

Estará Kim Jong-il a preparar a sucessão ou apenas a consolidar poder na base de apoio? (29 de Abril de 2009)

 

Registos (8 de Junho de 2009)

 

Mais informação sobre a sucessão de Kim Jong Il (7 de Junho de 2010)

 

Algo de importante deverá estar para acontecer em Pyongyang nos próximos dias (2 de Setembro de 2010)

 

Regime norte-coreano convoca conferência para abrir caminho à sucessão de Kim Jong-il (21 de Setembro de 2010)

 

Momentos com história (10 de Outubro de 2010)

  

Morreu Vaclav Havel, um líder que assumiu o seu papel na História europeia

Alexandre Guerra, 18.12.11

 

Vaclav Havel em 2010/Foto:Petr Josek - Reuters

 

Na Europa de hoje são raros os líderes que a História há de recordar pelo seu contributo na arte da Política dos homens. E os que ainda resistem de outros tempos, vêem as suas ideias e apelos serem abafados pelo ruído estridente que se ouve nas sociedades europeias. 

 

Vaclav Havel, ex-Presidente checo, foi um líder que assumiu o seu papel na História europeia e na liderança do seu povo. O homem da "Revolução de Veludo" morreu este Domingo com 75 anos.

 

Sobre a actual conjuntura na Europa, Vaclav Havel dizia recentemente ao El País: "Un político debe regir el comportamiento de la economía y las finanzas, un político debe imponerse a la economía y las finanzas. Un buen político debe influir en la sociedad, liderarla, proponer las prioridades y, si los ciudadanos le votan, ejecutarlas con responsabilidad."

 

Entre tanta coisa sem importância que tem sido dita pelos dirigentes (e não só) desta Europa a 27, ora aqui está uma verdade digna de um líder que assuma a responsabilidade de governação dos povos a pensar no bem comum.

 

Nick Clegg, o melhor "aliado" da Europa no Reino Unido

Alexandre Guerra, 16.12.11

 

 

Nick Clegg/Foto:The Guardian - David Levene

 

As ondas de choque da última cimeira europeia continuam a fazer-se sentir com muita intensidade em terras de Sua Majestade. Mas, curiosamente, as consequências estão a ser diferentes daquelas que se poderiam supor à partida.

 

Basta relembrar que poucas horas depois de ter sido conhecido o "veto" do primeiro-ministro britânico, David Cameron, ao acordo celebrado por todos os outros dirigentes europeus, Nick Glegg, líder dos Democratas Liberais e número dois do Governo inglês, dava uma entrevista televisiva para manifestar de forma veemente a discordância com a decisão do seu "chefe".

 

Aquilo que poderiam ser declarações explosivas e fatalistas para o Governo de coligação, estão a servir, antes, para clarificar algumas águas políticas no Reino Unido. 

 

Ao vir a público com tanto estrondo, Clegg obrigou Cameron e as várias fileiras do Labour e dos tories a assumirem sem rodeios as suas posições sobre a Europa.

 

Um das primeiras consequências foi colocar o próprio Cameron à defesa, já que nunca um líder britânico tinha desferido um golpe tão duro contra o projecto europeu. E as coisas, efectivamente, não estão a correr bem ao primeiro-ministro, querendo, por um lado, enviar um sinal conciliatório para a Europa e, por outro, não decepcionar os eurocépticos britânicos.

 

Aqueles, no seu tradicional discurso, fazem-se ouvir cada vez mais alto, contaminando a opinião pública, historicamente pouco entusiasmada com a Europa, mas que nas actuais circunstâncias poderá vir a radicalizar o seu sentimento hostil em relação ao projecto europeu.  

 

Clegg está a aproveitar este momento como uma espécie de hora da verdade. Politicamente, está a jogar a sua cartada. 

 

Ainda esta Sexta-feira, em declarações ao The Guardian, Glegg, num discurso apaziguador e conciliatório, veio apelar à calma entre Paris e Londres e defender o regresso do Reino Unido ao "coração da Europa". Clegg posiciona-se, assim, como um mediador do "conflito".

 

Ao mesmo tempo, aproveitou um telefonema do primeiro-ministro francês, Francois Fillon, esta Sexta-feira, para demonstrar a firmeza que neste momento parece estar a faltar a Cameron.

 

Fillon queria clarificar as declarações inflamatórias proferidas pelo seu ministro das Finanças, Francois Baron, que referiam que a situação económica e financeira do Reino Unido era muito pior do que a da França no âmbito da vigilância das agências de rating. Clegg disse a Fillon que as declarações de Baron eram inaceitáveis, no entanto, referiu que deviam ser dados passos para acalmar a retórica.  

 

O número dois do Governo britânico sabe que por estes dias é o melhor "aliado" da Europa no Reino Unido. Mas, de forma inteligente, tenta também ganhar espaço político a Cameron, ciente de que só o conseguirá através de um discurso firme e que seja visto pelos britânicos como a defesa dos seus interesses. Porém, o grande desafio de Clegg será explicar aos britânicos, sobretudo aos mais eurocépticos, que os seus interesses também se jogam na Europa.

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.


Uma promessa cumprida

Alexandre Guerra, 15.12.11

 

Michael Kamber/The New York Times

 

Há pouco mais de três anos, Barack Obama, o candidato presidencial, tinha prometido... Agora, Barack Obama, o Presidente, cumpriu aquela que talvez fosse a mais importante medida deste seu mandato: a retirada dos soldados americanos do Iraque. 

 

Hoje, realizou-se em Bagdad a cerimónia da retirada formal do contingente americano, ficando agora no terreno alguns militares com funções de apoio à formação e aconselhamento aos soldados e forças de segurança iraquianas.

 

Não deixe de ser interessante ver que Obama, com sensivelmente ano ainda de mandato pela frente, afinal conseguiu fazer aquilo que muitos tinham condenado à partida.

 

O Diplomata recorda-se que quando Washington foi obrigado a reforçar o contingente no Iraque antes de iniciar a retirada, caíram de imediato as críticas sobre Obama de que já não iria cumprir esta sua promessa.

 

Nos tempos que correm, a paciência é uma virtude que escasseia e a precipitação nas opiniões dá quase sempre mau resultado no exercício analítico.

 

O autor destas linhas até admite que muitos erros e críticas possam ser apontadas a Obama, mas no que toca a esta importante medida do seu programa, o Presidente americano cumpriu-a e isso deve ser justamente reconhecido.

 

Mikhail Prokhorov, o oligarca que se segue à conquista do Kremlin

Alexandre Guerra, 15.12.11
Mikhail Prokhorov/Foto:Mary Altaffer/AP
Há uma nova figura a emergir na cena política russa. A grande questão é saber se não terá um destino semelhante ao antigo patrão da Yukos, Mikhail Khodorkovsky, a passar uma longa temporada numa prisão da Sibéria.

 

Para já, Mikhail Prokhorov parece estar a ser prudente no lançamento da sua corrida às eleições presidenciais de Março do próximo ano e evitar cometer os mesmos erros de Khodorkovsky quando este começou a demonstrar as suas ambições políticas de forma mais veemente com vista o Kremlin.

 

Prokhorov faz bem em ser cauteloso nos passos que dá, ou não fosse um dos célebres oligarcas que enriqueceu durante os anos 90. Com 46 anos, bem parecido, é o terceiro homem mais rico da Rússia e, entre outras coisas, é dono dos New Jersey Nets, equipa de basquetebol da NBA.  

 

Há dias anunciou a sua candidatura, pouco depois das eleições legislativas de 4 de Dezembro, que foram um duro golpe para o primeiro-ministro Vladimir Putin e para o seu partido Rússia Unida, que viu ser reduzida, consideravelmente, a maioria que detinha na Duma.

 

Prokhorov parece determinado nesta candidatura, que poderá ganhar, inesperadamente, um fôlego nas actuais circunstâncias, de forte contestação ao último processo eleitoral e de desafio ao poder instalado.

 

Além disso, o milionário russo parece representar uma centelha de esperança para os mais jovens, mesmo para aqueles que são próximos de Putin. Exemplo disso é Alena Arshinova, líder da Jovem Guarda, a juventude partidária do Rússia Unida, que confessou à revista Time depositar esperanças em Prokhorov.

 

No entanto, e como escrevia o Washington Post, os milhares de jovens que têm vindo para as ruas da Rússia nos últimos dias defendem uma causa, e não um líder.

 

Nos próximos tempos, Prokhorov terá pela frente o desafio de aglutinar o descontentamento dos muitos jovens e manifestantes numa base de apoio à sua candidatura.

 

Para já, anunciou que a sua candidatura será apartidária, tendo aliás se demitido da liderança do seu partido Causa Justa, em Setembro último, depois de divergências no interior daquela formação.

 

Por outro lado, Prokhorov tem evitado adoptar um tom de confronto directo com Putin ou com o Presidente Dimitri Medvedev, com quem aliás, tem tido alguma relação, pelo menos no campo institucional.

 

Seja como for, uma coisa é certa, Putin já deu provas que não gosta de oligarcas, sobretudo aqueles que começam a mostrar as garras de fora com pretensões políticas.

 

Mas mesmo que Prokhorov endureça o discurso, dificilmente Putin tentará silenciar o seu opositor, já que seria uma medida muito arriscada e que poderia colocar em risco a sua eleição para o Kremlin.

 

É que apesar de Vladimir Putin ter vindo a perder pujança nas sondagens, a verdade é que os seus índices de popularidade continuam bastante altos, perspectivando-se uma vitória sem grandes dificuldades. Porque como escrevia Alexander Boot no seu blogue do Daily Mail, Prokhorov é “o Presidente que nunca será”.

 

Barack em busca do drone perdido

Alexandre Guerra, 12.12.11

 

Depois dos Estados Unidos terem cometido a proeza de "perderem" um drone "Sentinel" precisamente no território de um dos seus maiores inimigos, o Irão, hoje o Presidente Barack Obama veio informar que o Governo norte-americano já pediu ao regime de Teerão para devolver aquele avião não tripulado de vigilância secreta.

 

No meio de toda esta a história, ficam as declarações de Obama, que o Diplomata confessa não perceber, se são de uma ingenuidade cómica ou de uma astúcia maquiavélica: "We have asked for it back. We'll see how the Iranians respond."

A ler

Alexandre Guerra, 12.12.11

 

 

Pela pena de um (autêntico) conservador, João Carlos Espada faz um enquadramento histórico e ideológico ao comportamento do primeiro-minsitro David Cameron na última cimeira europeia. Um texto lúcido e inteligente, que merece uma leitura.

 

O despacho...

Alexandre Guerra, 12.12.11

 

"O mundo inteiro está a ser guiado por declarações idiotas de alguns decisores europeus. [...] O problema na Europa não é realmente uma crise de dívida, é uma crise sobre estrutura de liderança... A Europa precisa de se organizar e mostrar que tem uma liderança própria."

 

Jim O'Neill, presidente da Goldman Sachs Asset Management citado pelo jornal i