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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Sonho de Mina

Alexandre Guerra, 29.11.11

 

 

 

Todas as crianças têm sonhos, mesmo quando vivem em realidades de enorme dureza e de drama, como é o caso do Afeganistão. Aqui, o conceito de "crise" facilmente se relativiza.

 

Numa tentativa de tornar esses sonhos mais reais, a Hope of Mother, uma ONG afegã, tem como objectivo construir escolas e centros de formação profissional no Afeganistão. Do seu esforço, já foi construída uma escola em Jalalabad (junto à fronteira com o Paquistão), que contou com o financiamento da portuguesa AMI.

 

E para ajudar a divulgar o trabalho da Hope of Mother em Portugal foi criado o blogue O Sonho de Mina, cujos seus autores estão ligados de dferentes formas à realidade afegã.  

 

Uma das autores do blogue, a Margarida, é jornalista do Expresso com experiência no terreno afegão e noutros teatros de conflito, e esteve em Abril último naquela escola, constatando que tinha mais alunas do que alunos. Uma aritmética perfeitamente normal em qualquer escola portuguesa ou europeia, mas profundamente motivadora neste caso, já que a área de Jalalabad tem uma forte influência talibã.

 

A Hope of Mother foi fundada por Mina Wali que regressou recentemente ao Afeganistão para promover contactos com vista à elaboração de um projecto para a criação de um Centro Vocacional em Cabul.

 

Por detrás da farsa montada por "Scooter" Libby que conduziu à guerra no Iraque

Alexandre Guerra, 26.11.11

 

 

O leitor lembra-se do "Valeriegate"? Talvez o pior escândalo desde o "Watergate" e que chegou a ser referido pelo Diplomata em Março de 2007. Uma autêntica história de espionagem, com consequências directas na polítca externa norte-americana e na intervenção militar no Iraque.

 

Foi uma boa surpresa para o autor destas linhas descobrir que tinha sido feito um filme sobre este caso. "Fair Game", baseado no livro da própria Valerie Plame "Fair Game: My Life as a Spy, My Betrayal by the White House", foi lançado no ano passado e está bastante fiel às informações vindas a público na altura do escândalo.

 

O enredo está centrado na suposta "venda" de 500 quilos de urânio do Níger ao Iraque (algo que nunca aconteceu) e na aquisição por parte de Bagdad (que também nunca se concretizou) de tubos de alumínio que, supostamente, seriam usados para a construção de centrifugadoras, que serviriam para enriquecer aquele minério.

 

No filme, que conta com a participação de Sean Penn no papel do embaixador Jospeh Wilson e de Naomi Watts enquanto Valerie Plame, é interessante perceber-se as movimentações da Casa Branca, em particular dos homens do vice-presidente Dick Cheney, destacando-se o então seu chefe de Gabinete, Lewis "Scooter" Libby, figura central e maquiavélica na encenação do "caso" contra o Iraque. Perante a falsidade dos argumentos apresentados, a reacção do embaixador Wilson viria a ser fulcral para o espoletar do escândalo. 

 

Curiosamente, "Fair Game", um filme que terá passado despercebido ao grande público apesar de ter estado na competição oficial de Cannes no ano passado, é um bom testemunho dos contornos de uma fase específica da política externa americana durante a presidência de George W. Bush no que respeita à "guerra contra o terrorismo".

 

Alguns dados importantes

Alexandre Guerra, 25.11.11

 

Numa leitura da imprensa internacional, o Diplomata reteve alguns dados importantes:

 

- O Rússia Unida, partido do primeiro-ministro Vladimir Putin, poderá emagrecer a sua maioria na câmara baixa do parlamento russo nas eleições legislativas do próximo dia 4 de Dezembro, a julgar pelas mais recentes sondagens (independentes) do Levada-Center. Sendo as últimas antes do escrutínio, o Rússia Unida poderá obter entre 252 a 253 assentos, no total de 450, descendo assim dos actuais 315. Apesar desta tendência, Putin não deverá ter dificuldades em regressar à presidência da Rússia nas eleições de Março do próximo ano.

 

-  Um estudo levado a cabo pela GlobeScan para a BBC News em países com programas nucleares revela que as populações estão pouco entusiasmadas com a utilização daquela tecnologia para a produção de energia eléctrica. De acordo com os dados obtidos, as pessoas daqueles países tornaram-se mais reticentes em relação à energia nuclear quando se compara com os indicadores de 2005. Apenas os Estados Unidos e o Reino Unido contrariam esta tendência. Em termos globais, os inquiridos acham que as energias renováveis podem colmatar o que é produzido pelo nuclear.

 

- O Governo britânico diz que todos os meses as suas redes informáticas são afectadas por mais de 20 mil e-mails nefastos, 1000 dos quais são deliberadamente enviados e com objectivos maliciosos.

 

- Dizia o New York Times em editorial que um em três norte-americanos (ou seja, 100 milhões) é pobre ou está no limiar da probreza. Os últimos censos revelam que 49,1 milhões de cidadãos nos Estados Unidos vivem abaixo da linha da probreza e 51 milhões estão pouco acima.

 

Registos

Alexandre Guerra, 22.11.11

 

A propósito dos acontecimentos violentos na Síria e daqueles que se têm verificado nos últimos dias no Egipto, o Diplomata recorda um texto publicado neste espaço em Junho último, precisamente sobre as "primaveras árabes".

 

Mais um episódio da interminável novela do "dossier" nuclear iraniano

Alexandre Guerra, 19.11.11

 

 

O "dossier" nuclear iraniano transformou-se numa longa novela, com um enredo repetitivo sem que conduza a lado algum. Além do actor principal, na pessoa do Presidente iraniano, existem alguns actores secundários a acompanhar, como os chefes de Estado americano (e já são dois) e francês ou ainda o primeiro-ministro britânico (que já vai no terceiro), sem esquecer os eternos inimigos hebraicos ou os históricos aliados russos e chineses. Há ainda a participação especial dessa entidade chamada Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA).  

 

A mesma AIEA que veio ontem, pela enésima vez, emitir uma resolução em que expressa uma "profunda e crescente preocupação" com o programa nuclear iraniano. Esta iniciativa vem no seguimento de um relatório divulgado há dias pela mesma AIEA em que sublinha, numa lógica algo monótona, que o Irão tem dado passos relevantes no sentido da construção de um engenho nuclear.

 

E perante tudo isto, o regime de Teerão, com toda a naturalidade, limita-se a dizer aquilo que sempre disse: que vai continuar a fazer o que tem feito até aqui. Desta vez foi o  próprio representante iraniano na AIEA, Ali Ashgar Soltanieh, a comunicá-lo aos jornalistas. Utilizando um argumento já requentado, Ali Ashgar Soltanieh reiterou a idea de que o enriquecimento de urânio que o Irão está a fazer tem unicamente o fim pacífico de alimentar as centrais nucleares para produção de energia eléctrica.  

 

A resolução aprovada esta Sexta-feira em Viena chega a ser cómica ao exigir ao Governo do Irão, mais uma vez, que demonstra que o seu programa tem fins pacíficos. E diz ainda que é essencial que o Irão intensifique o diálogo com a AIEA. 

 

Enfim, este é mais um episódio, com alguns momentos cómicos,  mas totalmente inócuo e inconsequente, desta longa novela, chamada "dossier" nuclear iraniano.

É de heróis que a Europa precisa

Alexandre Guerra, 17.11.11

 

 

Os profetas que por aí andam falam na actual "crise europeia" como se fosse a "mãe" de todas as crises. Uma crise de tal maneira avassaladora, dizem eles, que pode ameaçar os alicerces da construção europeia. É um ponto de vista, embora algo distorcido daquilo que se vai aprendendo com a História.

 

Numa das deambulações por coisas que valem mesmo a pena ouvir, o Diplomata recuperava o "Heroes", o segundo trabalho de David Bowie da famosa "Berlin Trilogy", feita em parceria com Brian Eno. Lançado em 1977, este álbum foi gravado em Berlim Ocidental a poucos metros do Muro, no famoso Hansa Tonstudio. Aliás, no próprio álbum lê-se "recorded at Hansa By The Wall".

 

Esta frase não era meramente informativa, tinha também uma conotação simbólica, num álbum que tentou captar o espírito de uma cidade dividida, símbolo de uma Europa permanentemente em tensão, separada por uma "Cortina de Ferro", com forças convencionais espalhadas por vários países prontas a atacar e sob o espectro da ameaça nuclear. Esta sim, no entender do autor destas linhas, era uma Europa que estava verdadeiramente perante um desafio de proporções históricas.

 

Mas, mesmo nesta Europa de incertezas, que nos momentos mais "quentes" da Guerra Fria chegou a temer uma Terceira Guerra Mundial, a música "Heroes" homenageia os heróis e repudia os fatalistas. Heróis personificados em duas pessoas apaixonadas que, contra todas as adversidades (e não se está a falar dos "mercados"), vivem o seu momento de felicidade, por um dia, junto do Muro. Um sinal de esperança mas também de desafio ao que muitos aceitavam ser uma realidade consumada e determinista.

 

Obama vai enviar soldados para a Austrália com a mira apontada para a China

Alexandre Guerra, 16.11.11

 

Charles Dharapak/Associated Press

 

Um importante encontro e, também, muito revelador dos interesses geopolíticos e geoestratégicos de Washington. O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou esta Quarta-feira, durante uma conferência de imprensa com a primeira-ministra da Austrália, Julia Gillard, em Canberra, a mobilização de 2500 soldados americanos para bases australianas.

 

O importante desta medida não se prende tanto com o número de soldados enviados, já que se trata de um contingente relativamente pequeno, mas deve-se sobretudo ao seu significado político, já que é a primeira vez desde a Guerra do Vietname que os Estados Unidos aumentam a sua presença no Pacífico.

 

Obviamente que os sinais que a Casa Branca está a enviar vão directamente para Pequim, o que não é de estranhar já que, como escrevia o New York Times, sempre que os Estados Unidos olham para a Ásia vêem a China em todo o lado.

 

Perante este medida, o Governo da Austrália já foi avisado em editorial por um dos jornais estatais, mas de tom nacionalista e por vezes jucoso, para ter cuidado ao estar a facultar as suas bases para acolher soldados americanos, arriscando-se a ficar no meio do fogo cruzado entre Washington e Pequim.

 

In Flanders Fields

Alexandre Guerra, 09.11.11

 

 

Provavelmente, o leitor já terá reparado que por esta altura do ano muitos britânicos, de políticos a outras personalidades da cultura ao desporto, passando pelos cidadãos comuns, ostentam religiosamente na lapela dos seus casacos uma papoila vermelha.

 

Esta prática não é exclusiva do Reino Unido, estendendo-se a vários países do mundo, com especial incidência aos que pertencem à Commonwealth.

 

É um gesto de homenagem aos soldados caídos durante a I Guerra Mundial e que está associado ao Dia da Lembrança, a 11 de Novembro, numa alusão ao 11 de Novembro de 1918, data em que foi assinado o Armistício que pôs fim às hostilidades.

 

A origem da tradição da papoila surgiu dois dias antes daquela importante data, quando a norte-americana Mona Michael, trabalhadora humanitária, inspirada pelo poema “In Flanders Fields”, da autoria do médico militar canadiano John McCrae, colocou no seu casaco uma papoila vermelha e distribuiu outras tantas por ex-combatentes na sede da YMCA em Nova Iorque, onde então trabalhava, em honra dos soldados mortos durante o conflito.

 

“In Flanders Fields”, considerado um dos poemas mais emblemáticos escritos durante a I GM, descreve a redescoberta da vida nos campos da Flandres com o nascer das papoilas entre as cruzes das campas.

 

Dois anos mais tarde, a papoila foi oficialmente adoptada pela Legião Americana durante uma conferência internacional, em que estava presente Madame E Guerin, que viu aqui uma oportunidade para angariar fundos de apoio aos órfãos e viúvas dos militares com a venda em massa deste símbolo.

 

Em 1921 seria a vez da Legião Britânica adoptar oficialmente a papoila nas suas comemorações de homenagem aos soldados mortos na I GM.

 

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.

  

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