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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Um hino pela erradicação da probreza

Alexandre Guerra, 20.10.11

 

 

Por ocasião do Dia Mundial Pela Erradicação da Probreza, celebrado no passado dia 17, a Associação Cais lançou o tema "Grãos de uma Romã", um verdadeiro "hino contra a pobreza". Sendo o autor destas linhas um modesto colaborador da revista CAIS, não poderia deixar de responder, afirmativa e entusiasticamente, ao repto para ajudar na divulgação deste "hino".

 

À conversa com o "Mandela palestiniano"

Alexandre Guerra, 19.10.11

 

 

Corria o Verão de 2001. O Médio Oriente estava a “ferro e fogo”. A intifada de al Aqsa estava prestes a entrar no segundo ano, com terroristas suicidas a fazerem-se explodir quase todas as semanas nas cidades israelitas e os territórios ocupados da Cisjordânia e da Faixa de Gaza em autêntico estado de sítio.

 

Em Ramallah, o autor destas linhas, tinha uma entrevista marcada com aquele que era, talvez, o principal líder da segunda intifida, sobretudo junto da população mais jovem.

 

Marwan Barghouti, destacado dirigente da Fatah (então secretário-geral) e, alegadamente, fundador das milícias Tanzim, uma espécie de braço armado daquele movimento político, era há algum tempo um dos homens mais procurados pelas forças de seguranças israelitas (IDF).

 

No seu escritório em Ramallah, lá estava Barghouti, uma figura de pequena estatura, com ar amistoso e com o seu famoso bigode. Cordial e acessível, embora não exibisse uma simpatia excessiva, o militante da Fatah demonstrou desde logo uma convicção política firme.

 

A entrevista foi partilhada com um jornalista da agência de notícias alemã, e apesar das insistências, Barghouti nunca admitiu que era o líder das milícias Tanzim, responsáveis por vários atentados terroristas contra Israel.

 

Serpenteava-se como um verdadeiro político na forma como respondia às perguntas mais sensíveis que lhe eram colocadas, chegando mesmo a dizer que acreditava que a Palestina ia ser independente “dentro de cinco anos” (Foi este o título da entrevista depois publicada no jornal Público. No entanto, a História viria demonstrar que Barghouti estava errado).

 

Quem não estava errado eram os interlocutores de Barghouti, quando o confrontaram com a sua relação com as Tanzim, já que hoje não parece haver muitas dúvidas quanto a esse facto. Aliás, uma relação que Israel nunca duvidou da sua existência. De tal forma, que dias antes desta entrevista, aquele militante palestiniano tinha escapado a um atentado selectivo das IDF contra o carro onde viajava.

 

Um ano mais tarde, os soldados israelitas acabariam por deter Barghouti, sendo condenado posteriormente a 5 penas perpétuas.

 

Quando, na semana passada, foi tornado público o acordo de troca de prisioneiros que estava a ser forjado entre o Governo israelita e o Hamas, uma centelha de esperança reacendeu-se para milhares de palestinianos, que viram aqui uma oportunidade para fazer regressar a casa o carismático Barghouti. Mas, rapidamente essa esperança se esvaneceu.

 

Sabendo do prestígio e da notoriedade do ex-líder das Tanzim, a quem muitos chamam de o “Mandela palestiniano”, as autoridades israelitas tiveram o cuidado de deixar bem claro desde o início deste processo de troca de prisioneiros, que se prolongará durante os próximos meses, que Barghouti não estava incluído nas listas dos palestinianos a serem libertados.

 

Texto originalmente publicado no Forte Apache.

 

Uma das notícias mais aguardadas da espionagem internacional

Alexandre Guerra, 17.10.11

 

 

Bérénice Marlohe já foi confirmada como a próxima "bond girl", que irá aparecer ao lado do agente 007 no 23º filme da série, que sairá no próximo ano. Praticamente uma desconhecida fora de França, Marlohe é modelo e actriz, desempenhando, sobretudo, papéis em filmes para a televisão francesa.

 

Atendendo à experiência de campo na diplomacia internacional, o autor destas linhas deixa um conselho ao agente do MI6, para que tenha cuidado, já que uma mulher com um olhar tão sedutor e uma arma na mão é certamente uma ameaça à "segurança nacional" e aos "interesses" de Sua Majestade. 

 

Tal como nos anos 60, também hoje milhões de pessoas tentam "libertar-se" de algo

Alexandre Guerra, 13.10.11

 

A música Hymn to Freedom interpretada pela vibrante Dione Taylor

 

Oscar Peterson, grande pianista de jazz e um dos músicos canadianos mais conhecidos de sempre, ficou conhecido pela sua mestria naquele instrumento, mas também pelas suas muitas composições, algumas delas ao serviço de causas nobres.

 

Desaparecido em 2007, Peterson foi um homem sensível aos movimentos sociais, tendo-se envolvido directamente na luta pela defesa dos direitos civis em comunidades multiculturais, o que lhe veio a valer, em 1972, a mais alta condecoração atribuída pelo Governo canadiano a um civil pelos seus esforços em prol de um mundo melhor.

 

Peterson esteve ainda ao lado de Martin Luther King nos anos 60, altura em que expressou a sua revolta da forma mais sublime através da arte.

 

A música Hymn to Freedom, cujo seu processo criativo se deve muito ao lendário Norman Granz e à letra de Harriette Hamilton, tornou-se num autêntico “hino” de vários movimentos civis na Europa e nos Estados Unidos e que ainda hoje é interpretada em diferentes versões.

 

Nos tempos que se vivem, de muita indignação e de protesto, é interessante ver que, tal como nos anos 60, também agora milhões de pessoas se tentam “libertar” de algo que consideram ser uma sociedade debilitada, um sistema falido e um paradigma nefasto, que está a infligir sofrimento e desespero nos cidadãos.

 

Perante estes novos movimentos que por aí surgem, de “indignados”, “acampados” e outros, por vezes, um pouco desorientados quanto ao rumo que pretendem seguir, nunca é demais relembrar a obra de homens como Peterson que, através das suas virtudes, fizeram perpetuar a sua mensagem ao longo dos tempos.

 

Trocar um soldado por mil prisioneiros é, estranhamente, um bom "negócio" para todos

Alexandre Guerra, 12.10.11

 

O Presidente Shimon Peres com os pais Gilad Shalit/Foto: AFP

 

Israel rejubila com o anunciado regresso a casa de Gilad Shalit, o soldado das forças de segurança israelitas (IDF), em cativeiro desde 2006, depois de ter sido capturado pelo Hamas na Faixa de Gaza. Desde então, Shalit nunca foi esquecido pelas autoridades israelitas, sabendo-se que seria uma questão de tempo até se promover uma negociação de troca de prisioneiros com o inimigo, uma prática implementada por diversas vezes.

 

Era preciso ter paciência e gerir a situação da melhor forma. Nisso os israelitas são exímios (exceptuado alguns disparates feitos nos tempos recentes).

 

Também por isso, o Hamas sabia que o refém que tinha em mãos era bastante valioso e que seria uma moeda de troca excelente no dia em que o Governo hebraico estivesse disponível para negociar.

 

A proposta que Yoram Cohen, chefe do Shin Bet (serviços secretos internos), apresentou ao primeiro-ministro Netanyahu contempla, numa primeira fase, a libertação de cerca de 450 prisioneiros palestinianos, 280 dos quais com penas perpétuas. Num segundo momento, daqui a uns meses, serão libertados à volta de 550 prisioneiros.

 

Não deixa de ser um bom negócio para o Hamas, que consegue 1000 homens em troca de apenas um soldado hebraico, fazendo regressar a casa muitos militantes daquele movimento, mas também da Fatah e de outros partidos.

 

Com esta iniciativa, o Hamas reforça a sua posição junto da opinião pública palestiniana, sobretudo na Cisjordânia, onde está mais fragilizada perante o domínio da Fatah e do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas.

 

Também o líder político do Hamas, Khaled Meshaal, está a surgir como um negociador influente, tendo chegado esta Quarta-feira à noite ao Cairo para coordenar no terreno o processo da troca de prisioneiros, que deverá acontecer dentro de uma semana.

 

Do lado israelita, Netanyahu já está a capitalizar dividendos com esta operação, nem que seja pelas manobras de relações públicas. Os pais do soldado têm manifestado publicamente o agradecimento ao chefe do Governo, que, de quase todos os quadrantes, tem recebido elogios pela medida.

 

A este propósito Yossi Verter escrevia no Haaretz que nos próximos dias o povo de Israel vai estar a partilhar a alegria dos pais de Shalit, graças a uma decisão de Netanyahu, que terá sido a mais difícil do seu mandato. Mas como diz Verter, Netanyahu será sempre lembrado para a História como o homem que trouxe para casa um soldado israelita em cativeiro há mais de cinco anos.

 

Além disso, tinha sido o próprio Shin Bet a assumir que a libertação de Shalit através de uma operação militar seria praticamente impossível. Por isso, Netanyahu teve o apoio de todas as chefias militares. Também ao nível do Governo, 26 ministros aprovaram o plano da troca de prisioneiros. No entanto, três votaram contra, entre os quais o dos Negócios Estrangeiros, o ortodoxo Avigdor Lierberman.

 

Conta o jornal Haaretz que a reunião foi muito intensa e dramática, tendo mesmo Uzi Landau, ministro das Infraestruturas Nacionais, e um dos que se opôs ao plano, afirmado que se está perante uma “grande vitória do terrorismo”. Demonstrou ainda a sua ira contra Cohen, por este estar a recomendar um plano deste género.

 

Curiosamente, também em 1997, quando assumia pela primeira vez a chefia do Governo hebraico, Netanyahu promoveu uma troca de prisioneiros, embora na altura com contornos muito diferentes. Sem qualquer escolha, Israel teve que libertar o xeque Ahmed Yassin (seria morto mais tarde) em troca de dois agentes da Mossad, que tinham estado envolvidos numa tentativa de assassinato a Meshaal na Jordânia.

 

Agora, Netanyahu volta a promover uma troca de prisioneiros, mas desta vez massiva, devolvendo a liberdade a alguns terroristas de primeira linha. Um preço elevado, mas que a sociedade israelita parece estar disposta a pagar para ver o seu soldado regressar a casa.

 

Apesar da lista dos libertados incluir importantes terroristas, Cohen já garantiu que nomes como Abdullah Barghouti, Ibrahim Hamed, Abbas Sayed, Ahmed Saadat e, especialmente, Marwan Barghouti não estão contemplados neste negócio.

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.

 

O memorando secreto de Obama com "licença para matar"

Alexandre Guerra, 09.10.11

 

 

“Licença para matar” terroristas é o que parece estar implícito num memorando secreto de 50 páginas, assinado pelo Presidente Barack Obama no ano passado, e agora revelada a sua existência, que enquadrou legalmente o assassinato de Anwar al Awlaki, um clérigo radical americano escondido no Iémen, morto no passado dia 30 de Setembro por um drone não tripulado.

 

À luz daquele documento, extrapola-se que qualquer assassinato selectivo que conduza à morte de um terrorista, caso falhem todas as tentativas para o capturar vivo, não será considerado ilegal, apesar de contrariar toda a legislação existente interna e internacional.

 

Embora a prática dos assassinatos selectivos não seja uma novidade no âmbito da “guerra ao terrorismo”, sobretudo em países como o Iémen ou o Paquistão, a verdade é que todo o seu enquadramento tem estado numa nebulosa densa e sido alvo de uma acesa polémica.

 

A revelação pública deste memorando coloca Obama numa situação desconfortável, sobretudo porque esta administração, tal como a anterior, diga-se, tem negado a existência de uma política secreta de assassinatos selectivos.