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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Mais um congressista triturado pelo sistema político americano

Alexandre Guerra, 16.06.11

 

Chang W. Lee/The New York Times

 

O sistema político americano foi, outra vez, implacável para mais um dos seus prevaricadores: o congressista Anthony Weiner, uma das promessas democratas para a candidatura a mayor de Nova Iorque, anunciou esta Quinta-feira a sua demissão, depois de se ter envolvido num escândalo de troca de mensagens e fotografias obscenas com várias mulheres através do Twitter.

 

Momentos com história

Alexandre Guerra, 15.06.11

 

D. Dipasupil / Getty Images

 

A política americana tem tanto de fascinante como de promíscua e de "voyeur", na qual tudo é possível, para o melhor e para o pior. E quando se tratam de escândalos sexuais, a cada dia que passa novos episódios vão alimentando jornais e triturando congressistas e senadores.

 

No já muito badalado caso do congressista democrata Anthony Weiner, que, apesar de casado, andou a trocar mensagens e fotografias obscenas (segundo os americanos) no Twitter com várias mulheres, estão lá todos os ingredientes de um folhetim venezuelano.

 

Weiner começou por negar, mas depois, também à boa maneira americana, lá teve que admitir as travessuras que tinha andado a fazer. Agora, imagine-se, entrou em cena Ginger Lee (na foto à esquerda), uma célebre actriz porno, já retirada, mas que muitos, certamente, recordarão as suas prestações cinematográficas com saudade. 

 

Esta Quarta-feira, em Nova Iorque e acompanhada da advogada de celebridades, Gloria Allred, a antiga actriz veio revelar que manteve conversações on line com Weiner desde Março até há duas semanas, embora nunca tenha respondido às mensagens mais lascivas do congressista. Lee informou ainda que depois do escândalo ter rebentado, Weiner a pressionou para não dizer nada.

 

Rever The Killing Fields é relembrar os anos de terror dos khmer vermelhos

Alexandre Guerra, 13.06.11

 

 

Rever The Killing Fields (Terra Sangrenta), o espectacular filme de 1984 baseado numa história verídica, realizado por Roland Joffé e que mereceu três Óscares da Academia, é relembrar um dos conflitos mais sangrentos (e também mais esquecidos) dos últimos quarenta anos.

 

Após anos de guerra civil e com a chegada dos khmers vermelhos à capital Phnom Penh, o Cambodja viveria entre 1975 e 1979 anos de verdadeiro terror e de extermínio em massa.

 

Sob o regime do sanguinário Pol Pot estima-se que possam ter morrido 1,7 milhões de pessoas, fosse por assassinato, à fome ou devido a doença.

 

Todos aqueles que, de uma forma ou de outra, estivessem associados ao antigo regime, fossem intelectuais, artistas, ou cambojanos de etnias estrangeiras, tais como vietnamita ou tailandesa, budistas ou cristãos, foram perseguidos e mortos, naquilo que muitos consideram ser o pior genocídio dos anos da Guerra Fria.

 

Durante pouco mais de três anos, reinou uma lógica comunista de partido e pensamento únicos. Assistiu-se à destruição do modelo social vigente, incluindo o papel da família enquanto factor de agregação da sociedade. O Estado iniciou um programa de formatação intelectual das crianças sob o novo paradigma de pensamento, transformando-as em “soldados” implacáveis ao serviço do regime.

 

Pol Pot quis começar tudo de novo, a partir do “Ano Zero”, eliminando os resquícios do passado. Inspirado pela “Revolução Cultural” de Mao Zedong e empenhado em dar seu “grande salto em frente”, Pol Pot levou o processo de “purificação” cultural, política e social ao extremo. Também a reforma agrária se transformou num processo dramático e doloroso, gerando autênticos campos de trabalhos forçados e de escravatura.

 

Quando em 1979 os vietnamitas invadem o Cambodja, o regime dos khmers desaba e Pol Pot, com todo o seu estado maior, refugia-se na selva, na zona fronteiriça da Tailândia com o Cambodja, onde durante os anos seguintes vai operar contra o novo Governo de Phnom Penh.

 

Pol Pot, que acabou por perder o controlo dos khmers vermelhos no final da década de 90, morre em Abril de 1998, depois de ter sido detido por facções concorrentes. A causa de morte terá sido ataque cardíaco, embora existam suspeitas de que possa ter sido envenenado.

 

Apesar da brutalidade do regime, aos olhos da lei internacional não tem havido consenso quanto à utilização do conceito de genocídio. Seja como for, o Governo do Cambodja e as Nações Unidas criaram um tribunal híbrido, sedeado em Phnom Penh, com o objectivo de julgar antigos responsáveis dos khmers vermelhos, e que teve a sua primeira sessão em 2007, aplicando as leis internacionais e cambojanas.

 

O primeiro julgamento começou em 2009, sentando no banco dos réus, o antigo director do tristemente célebre complexo S-21, Kaing Guek Eav. Um ano mais tarde foi considerado culpado por crimes contra a humanidade, sentenciado a 35 anos de prisão. Espera-se agora que este ano sejam julgados mais quatro líderes khmers.

 

Hoje, muitos dos campos da morte, onde foram depositados milhares de corpos, estão espalhados pelo país, assinalados como locais de reflexão e de homenagem.

 

O termo “killing fields” foi utilizado pela primeira vez pelo jornalista cambojano Dith Pran, para descrever o que tinha visto quando conseguiu escapar ao regime de Pol Pot.

 

O filme The Killing Fields conta a história verdadeira de Pran e da sua relação de amizade e de confiança com o jornalista do New York Times, Sydney Schanberg, que em 1976 viria a ganhar o prémio Pulitzer precisamente pela sua cobertura da guerra do Cambodja.

 

A antiga colónia francesa, que se tornou independente em 1953, é hoje um dos países mais pobres do mundo, com 15 milhões de habitantes, que procura estabilidade, sobretudo através do crescimento económico, onde regista uma das mais altas taxas da Ásia. O vestuário e o turismo são as áreas que mais receitas geram para o Estado em termos de exportação.

 

As "primaveras" árabes (3)

Alexandre Guerra, 10.06.11

 

Campo de refugiados sírio em Yayladag, Turquia/Foto: Daniel Etter/The New York Times

 

A “Primavera” árabe em curso nalguns países do Médio Oriente suscitou, há dias, uma interessante e acesa conversa entre o autor destas linhas e uma jornalista, com experiência recente no terreno num daqueles cenários de revolta.

 

Basicamente estavam em confronto (pacífico) duas perspectivas sobre a tão proclamada e aclamada “Primavera” árabe. Não eram necessariamente inconciliáveis, mas pressuponham diferentes enquadramentos doutrinários em relação à forma de se ler as revoluções de rua que eclodiram ao longo dos últimos meses na Tunísia, no Egipto, na Líbia, no Iémen, no Bahrein e na Síria.

 

A interlocutora do Diplomata, entusiasta destes movimentos de insurreição, vê neles uma expressão legítima e sincera de emancipação popular, de libertação dos povos oprimidos face aos seus regimes despóticos.

 

Uma perspectiva válida de quem em plena praça Tahrir “sentiu” e “auscultou” as emoções, os dramas, a resistência pacífica das gentes, os cordões humanos de solidariedade e de protecção dos camaradas de luta. É por isso que, conta quem viu, foi algo especial.

 

Esta foi aliás uma ideia em que a imprensa internacional e a opinião pública embarcaram, a de uma “Primavera” revolucionária pacífica e ordeira, fruto da vontade comum e do interesse geral, que se fez sentir na Tunísia e no Egipto. Ora, na opinião do Diplomata esta é uma leitura enublada da realidade.

 

Veja-se o seguinte: Parece que aos olhos do mundo, nas revoluções destes dois países só há a lamentar a violação da repórter norte-americana da CBS, Lara Logan (uma lamentável situação que, na verdade, resulta da lógica de multidão em fúria que poderia acontecer em qualquer parte do mundo). Não fosse este episódio de drama, a Tunísia e o Egipto teriam vivido revoluções “limpas”, “arrumadinhas”, como a opinião pública internacional gosta hoje de olhar para este tipo de movimentos, esquecendo-se que, normalmente, estes fenómenos contam sempre com dinâmicas reaccionárias.

 

O Diplomata, mais perverso na sua análise, lembra que as revoluções implicam quase sempre rupturas, choques, e com isso a violência, o derrame de sangue e os mortos. O que se passou na Tunísia e no Egipto não fugiu a esta lógica, apesar do deslumbramento primaveril com que líderes políticos e comunidade internacional olharam para aquelas revoluções.

 

De acordo com um relatório das Nações Unidas, a revolução da Tunísia provocou 219 mortos e 510 feridos. Números pouco lembrados pela imprensa internacional e praticamente desconhecidos pela opinião pública. Também no Egipto, poucos citaram o relatório divulgado em Abril por uma comissão daquele país, no qual se falam em quase 900 mortos e cerca de 6500 feridos durante a “Primavera” egípcia.

 

O entusiasmo da opinião pública internacional e a ingenuidade dos líderes políticos ao acolherem imprudentemente as revoluções na Tunísia e no Egipto, sem pensarem realisticamente nas suas consequências internas e no sistema internacional, passou rapidamente ao embaraço quando as coisas começaram a correr mal na Líbia, no Iémen e na Síria.

 

As "primaveras" árabes (1)

 

As "primaveras" árabes (2)

 

Momentos com história

Alexandre Guerra, 08.06.11

 

Paolo Nespoli/NASA

 

Simplesmente, espectacular. Pela primeira vez, um "space shuttle" norte-americano foi fotografado enquanto estava acoplado na Estação Espacial Internacional (ISS). Neste caso foi o Endeavour, na sua viagem de despedida e anunciando para breve o fim daquele histórico programa espacial dos Estados Unidos.

 

Esta e outras fotos, reveladas ontem pela NASA, foram tiradas pelo astronauta italiano, Paolo Nespoli, no passado dia 23 de Maio, a bordo da cápsula russa Soyuz, quando estava de regresso à Terra.

 

Por questões de segurança, normalmente a nave russa nunca se encontrava em trânsito quando um "space shuttle" estava acoplado na ISS, no entanto, desta vez houve uma excepção.

 

Pensar a lusofonia como elemento de concertação de interesses no âmbito da CPLP

Alexandre Guerra, 07.06.11

 

O Paulo Gorjão, Director do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS), é dos poucos que tem abordado o tema da lusofonia na imprensa nacional enquanto factor estratégico na diplomacia dos Estados de língua portuguesa. Esta Terça-feira, na sua habitual crónica no jornal i, volta a falar neste tema, sobretudo na importância da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) ter uma estratégia lusófona concertada nos grandes palcos internacionais. 

 

Já há umas semanas, no âmbito dos programas eleitorais dos dois principais partidos em Portugal, o Diplomata alertava para ausência de uma lógica consistente na forma de se pensar a lusofonia enquanto factor de poder.

 

As "primaveras" árabes (2)

Alexandre Guerra, 06.06.11

 

Rebeldes líbios na cidade de Yafran/Foto: Youssef Boudlal/Reuters

 

Quando a Europa revolucionária fervilhava em 1848, também o Médio Oriente era assolado por uma vaga de revoltas, provocando autênticos terramotos políticos, relembra na última edição da Foreign Affairs, Jack A. Goldstone, professor na George Mason University’s School of Public Policy.

 

As razões por detrás destas revoluções não eram exactamente as mesmas das europeias, sendo que em países como Marrocos e Oman, o elevado preço dos alimentos ou as altas taxas de desemprego levaram as pessoas para a rua. Na Europa, as motivações foram sobretudo políticas e ideológicas.

 

Seja como for, é interessante constatar que existe algum paralelismo entre as revoltas que nos últimos meses se abateram sobre alguns Estados do Médio Oriente (e que muitos analistas e jornalistas insistem em classificar de inéditas) e aquilo que aconteceu em 1848 na mesma região.

 

No entanto, Jack Goldstone identifica uma diferença importante. Diferença que não tem a ver com os factores que espoletaram as revoluções, mas antes com os alvos a quem se dirigiam.

 

Em 1848, os povos de alguns países do Médio Oriente insurgiram-se contra as monarquias tradicionais, porque era essa a natureza dos seus regimes.

 

Ora, em 2011 os alvos da contestação são sobretudo “’sultanistic’ dictatorships”, regimes que assentam na figura de uma só pessoa, empenhada na concentração de poderes e de riqueza, na criação de uma rede dependente de interesses, na despolitização e empobrecimento da sociedade e na sua perpetuação na liderança.

 

Como já aqui ficou demonstrado, as revoltas de rua do Médio Oriente dos últimos meses não são uma realidade inédita. Porém, é inegável que pela primeira vez o povo ousou desafiar o poder do regime dos “sultões”, nalguns casos encontrando pouca resistência, como aconteceu na Tunísia ou no Egipto, noutros, deparando-se com movimentos reaccionários violentos, como se está a verificar na Líbia e na Síria.

 

As "primaveras árabes" (1)

 

Violência regressou à fronteira israelo-síria nos Montes Golã

Alexandre Guerra, 05.06.11

 

Rina Castelnuovo/The New York Times

 

Há umas semanas, o Diplomata chamava a atenção para os acontecimentos inéditos que se verificaram nos Montes Golã, na fronteira entre a Síria e Israel. Durante este Domingo registaram-se novos desenvolvimentos naquela zona, fazendo aumentar a tensão entre as forças de segurança israelitas (IDF) e os palestinianos sírios.

 

As "primaveras" árabes (1)

Alexandre Guerra, 02.06.11

 

 

Corria o ano de 1919, depois da Grande Guerra, e os povos agarravam com entusiasmo o pacifismo de Woodrow Wilson, materializado nos seus Catorze Pontos.

 

Obviamente que o contágio dessa corrente pacifista não contou com o "empurrão" da televisão e muito menos das redes sociais, mas com a ajuda do telégrafo, a retórica daquele Presidente americano propagou-se a várias regiões do Mundo, nomeadamente, ao Médio Oriente e ajudou a inflamar os ânimos, imagine-se, nas ruas do Egipto, da Tunísia e da Líbia.

 

Na altura, tal como agora, os povos vieram para rua em diferentes circunstâncias e contextos. Como observa Lisa Anderson, presidente da Universidade Americana no Cairo, as motivações na Tunísia, no Egipto e na Líbia eram diversas, consequência, dos diferentes estádios de desenvolvimento de cada um desses mesmos Estados.

 

É por isso que quem olhar para a actual “Primavera” como uma onda de revolta inédita nas ruas árabes, é o mesmo que estar a ignorar a História e todos os movimentos de desobediência civil alimentandos pelas redes nacionalistas nos anos a seguir ao fim da I GM.

 

Na última edição da Foreign Affairs, Anderson chama a atenção para este facto e considera que as revoltas dos últimos meses na Tunísia, no Egipto e na Líbia, além de não serem novidade, não são necessariamente resultado da globalização ou dos fenómenos das redes sociais.

 

Como foi logo referido no início deste texto, há sensivelmente 90 anos os povos daqueles Estados vieram para as ruas para se manifestarem sobre problemáticas igualmente importantes para o futuro das suas sociedades. Por exemplo, os tunisinos manifestavam-se pela restauração da constituição, entretanto suspensa.

 

Já os egípcios revoltaram-se para exigirem a queda do Governo e a libertação nacionalista face ao império britânico. E na Líbia, os vários líderes tribais e provinciais batiam-se contra a presença italiana naquele país.

 

Tudo isto foi feito sem Internet ou redes sociais, embora (e ninguém seja ingénuo) estes movimentos não tenham nascido por combustão espontânea.

 

As “networks” nacionalistas árabes, com uma base doutrinária sólida e bem organizadas nas estruturas, desempenharam um papel preponderante. Apesar disso, na altura, tal como agora, não se podia falar numa vaga homogénea árabe.

 

Aliás, a tentação de se falar em “Primavera” árabe como se o Sol brilhasse da mesma maneira para todos não corresponde à realidade e acaba por toldar toda a análise dos fenómenos sociais e políticos que se verificam no terreno.