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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Uma breve reflexão filosófica sobre a violência

Alexandre Guerra, 18.04.11

 

Um dos terroristas do Setembro Negro, aquando do ataque à comitiva israelita em Munique durante os Jogos Olímpicos de 1972

 

No pequeno livro sensação de Stéphane Hessel, “Indignai-vos”, que na verdade é mais um manifesto de resistência à apatia e ao pensamento atávico, é apontado o caminho da “não violência” como a “via” preferencial para a conciliação de culturas ou pensamentos diferentes.

 

O autor, com 93 anos, antigo membro da resistência francesa e co-autor da Declaração Universal dos Direitos Humanos, admite, no entanto, que é preciso compreender todos aqueles que optam pela violência como forma de assumirem as suas posições. “Não podemos desculpar terroristas que lançam bombas, podemos compreendê-los”, diz.

 

E cita o filósofo e escritor Jean-Paul Sartre, quando em 1947 escreve o seguinte: “Reconheço que a violência, seja qual a forma com que se manifeste, é um fracasso. Mas é um fracasso inevitável, pois estamos num universo de violência. E ainda que seja verdade que o recurso à violência contra a violência corre o risco de a perpetuar, também é verdade que é a única maneira de acabar com ela.”

 

Hessel, um homem de valores humanistas e universais, partilha desta ideia até certo ponto, ao não ser ingénuo para acreditar um mundo desprovido de violência. Mas, distancia-se de Sartre ao rejeitar a ideia da inevitabilidade da violência como solução última.

 

Escreve então Hessel: “A isto [à frase de Sartre] eu acrescentaria que a não violência é um meio mais seguro de acabar com ela [violência]. Não podemos apoiar os terroristas como Sartre o fez em nome deste princípio, durante a guerra da Argélia, ou aquando do atentado cometido contra atletas israelitas nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. Não é eficaz, e o próprio Sartre, no fim da vida, acabaria por se interrogar sobre o sentido do terrorismo e por duvidar da sua razão de ser.”

 

Sartre, já muito perto da sua morte, acabaria por constatar que apesar do “mundo actual” ser “horrível”, o “desenvolvimento histórico ou, se o leitor preferir, a dinâmica da História teve sempre a esperança como uma das suas forças motrizes, mesmo quando alimentou revoluções ou insurreições.

 

E acrescenta Hessel, a esperança é por definição não violenta, já que a única esperança violenta que conhece é na poesia de Guillaume Apollinaire.

 

Ao telefone de Cabul para dizer que a estrada que liga a Jalalabad é "qualquer coisa"

Alexandre Guerra, 16.04.11

 

Vídeo: A Estrada de Cabul a Jalalabad/NYT

 

Em conversa ao telefone há umas horas, uma amiga do autor destas linhas, que anda por terras afegãs, dizia que a estrada que liga Cabul e Jalalabad é "qualquer coisa"... pela sua imponência e beleza. Ao ver esta reportagem (original) do New York Times percebe-se porquê.  

 

A Newsweek fotografa o pensamento de Francis Fukuyama

Alexandre Guerra, 14.04.11

 

Manuel Falcão, no Lugares Comuns, chama a atenção para o trabalho fotográfico da renascida Newsweek sobre Francis Fukuyama, o filósofo político que ficou famoso internacionalmente pelo célebre livro O Fim da História e o Último Homem, e que agora acaba de publicar o The Origins of Political Order. Mas, a obra que verdadeiramente inspirou o autor destas linhas foi o seu livro O Nosso Futuro Pós-Humano, centrado na problemática das novas biotecnologias.

 

Francis Fukuyama vai estar presente nas Conferências do Estoril e o Diplomata não vai faltar.

 

Não é só em Lisboa...em Washington também andam a brincar à política, diz Kristof

Alexandre Guerra, 13.04.11

 

O republicano Paul Ryan, presidente da Comissão do Orçamento do Congresso, tem estado em grande actividade nos últimos dias/Foto:AP

 

"Não se percebe bem por onde andam os adultos, mas em Washington não devem andar. Além da ameaça maliciosa de fechar a administração federal, evitada apenas ao último minuto de Sexta-feira à noite, é doloroso ver a que ponto o discurso político é imbecil e incompetente e os nossos políticos são cobardes. [...] Que significa tudo isto? Que estamos a ser governados por crianças egocêntricas e imprudentes. [...] Um amigo chinês, perplexo com as últimas notícias, perguntava-me como é possível que a maior democracia do mundo seja tão mal administrada que se ponha sequer a hipótese de fechar portas. A guerra orçamental reflecte uma falta de inteligência, uma incompetência e uma cobardia de facto difíceis de explicar."

 

Nicholas Kristof em artigo de opinião no New York Times publicado esta Quarta-feira no jornal i.

 

Momentos com história

Alexandre Guerra, 12.04.11

 

 

Durante o dia de hoje a Rússia celebra o 50º aniversário do voo espacial de Yury Gagarin, que se tornara no primeiro homem a viajar no Espaço. Em plena Guerra Fria, a Unão Soviética dava um passo gigantesco na corrida espacial com os Estados Unidos e Gagarin ascendia a herói nacional para nunca mais deixar de o ser.

 

Morreu jovem, aos 34 anos, num voo de treino, tendo deixado duas filhas e uma viúva.

  

A Finlândia de Sibelius contra o império russo

Alexandre Guerra, 10.04.11

 

O famoso quadro de Edvard Isto que simboliza a resistência finlandesa no final século XIX, princípio do século XX, face à tentativa do império russo pôr fim à autonomia do Grande Ducado da Finlândia. A águia de duas cabeças é o símbolo da casa imperial russa, que a todo o custo tenta usurpar o livro da lei finlandesa./Museu Nacional da Finlândia

 

Ao longo da História das nações e dos povos têm sido vários os artistas que se entregam às causas nacionalistas. Uns mais do que outros, seja através da literatura, da música, da pintura, do cinema ou de qualquer outra forma de expressão artística.

 

O século XIX, que assistiu à efervescência dos nacionalismos, foi particularmente pródigo em colocar a arte, mais concretamente a música, ao serviço das causas patrióticas. Assim de repente, vem à memória do Diplomata nomes como Richard Wagner, Richard Strauss, Antonin Dvorak ou Isaac Albéniz.

 

Mas, este texto é para falar de um outro homem, Jean Sibelius (1865-1957). Compositor finlandês de música erudita que exortou o seu espírito nacionalista contra o poder do império czar russo nos finais do século XIX e princípios do século XX.

 

Sibelius enalteceu na sua obra as raízes e os valores nacionalistas da Finlândia, como forma de afirmação do país perante as tentativas de influência e de opressão estrangeira. Uma das suas fontes de inspiração foi o famoso poema épico Kalevala, uma obra que reúne várias cantigas populares antigas finlandesas, que foram passando de geração em geração e que contam os feitos ancestrais de heróis míticos daquele povo.

 

Uma espécie de Lusíadas, embora a autora do Kalevala, Elias Lönrot (1802-1884), tenha tido um trabalho sobretudo de compilação das cantigas populares e de criação de uma narrativa coerente e consistente, o que veio a conseguir.

 

 

Sibelius compôs vários poemas sinfónicos de pendor nacionalista inspirados no Kalevala, no entanto, foi a sua obra Finlândia que se viria a tornar no grande símbolo do nacionalismo finlandês.

 

A Finlândia é um poema sinfónico que foi escrito em 1899 para acompanhar as celebrações do Dia da Imprensa, um evento que tinha como objectivo criticar a influência crescente do império russo nos assuntos internos do então autónomo Grande Ducado da Finlândia.

 

Esta obra tornou-se um hino não oficial da Finlândia e um exemplo de patriotismo, tendo Sibelius ascendido à condição de herói. Quem tiver a oportunidade de ir a Helsínquia, pode apreciar um belo monumento de homenagem a Sibelius.

 

Historicamente, desde o século XII, a Finlândia sempre fez parte do grande reino da Suécia, tendo conseguido a sua autonomia enquanto Grande Ducado a partir de 1809, embora dentro do império russo, que se impôs pela força das armas do czar Alexandre I. Só em 1917 viria a obter total independência da Rússia, mas nem por isso deixaria de continuar a sofrer a tentativa de influência de Moscovo, nomeadamente durante a Guerra Fria.