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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Ségolène vai defrontar o seu "ex" nas primárias do PS para a presidência em 2012

Alexandre Guerra, 31.03.11

 

Hollande e Royal, ainda casados, durante um acto eleitoral em 2007/AFP

 

Não é apenas nos Estados Unidos que se assistem a movimentações nos bastidores políticos com vista às eleições presidenciais de 2012. Também em França, já há algum tempo que começaram as manobras nos corredores dos principais partidos.

 

Tanto à direita como à esquerda, as incertezas são muitas, embora já seja certo o regresso de Ségolène Royal ao combate político e que contará, para já, com a oposição do seu correligionário de partido e ex-marido François Hollande. A luta interna no Partido Socialista francês promete ser intensa, até porque se perfila um terceiro candidato à esquerda, Dominique Strauss Kahn, director do Fundo Monetário Internacional (FMI).

 

Também a líder do PS, Martine Aubry, poderá avançar, apesar de ainda não ter confirmado essa intenção. 

 

As primárias dos PS realizar-se-ão em Outubro.

 

John Bolton poderá juntar-se às primárias do GOP para as presidenciais de 2012

Alexandre Guerra, 29.03.11

 

John Bolton/Foto:AP

 

John Bolton, antigo embaixador americano nas Nações Unidas e actual comentador da Fox News, tem estado bastante activo nos últimos dias, nomeadamente para criticar a política da Casa Branca seguida na Líbia e o próprio Presidente Barack Obama. Bolton já admitiu que está a ponderar avançar para as primárias do Partido Republicano que irão escolher o candidato presidencial nas eleições de 2012.

 

Bolton poderá assim juntar-se a outros correligionários republicanos, tais como o antigo governador do Massachusettes, Mitt Romney, o ex-"speaker" da Câmara dos Representantes do Congresso,  Newt Gingrich, o governador do Mississippi, Haley Barbour, a antiga governadora do Alasca e ex-candidata presidencial, Sarah Palin, de quem se continua a falar muito, e até mesmo Marco Rubio, senador pela Florida, apesar de ter dito hoje que não está nos seus planos.

 

Mas, a julgar pelas movimentações no seio do GOP, é de esperar que surjam mais nomes nos próximos tempos.

 

Qual o diplomata que não gostaria de ser espiado por Anna Chapman?

Alexandre Guerra, 29.03.11

 

 

 

Como se lia há uns meses no Russia Now, um suplemento digital publicado no Daily Telegraph, a "espiã" Anna Chapman é a mulher que todos os homens querem. Talvez não todos, diz o Diplomata, mas certamente quase todos, ou pelo menos aqueles que teriam a ousadia de desafiar uma ex-agente ao serviço do Kremlin.

 

Diplomata já aqui tinha feito referência à "rising star" da espionagem interncional, quando no ano passado foi descoberta, naquilo que se tornou num dos jogos de espiões mais mediáticos desde o fim da Guerra Fria. 

 

Agora, Anna Chapman dá finalmente uma entrevista à BBC News, na qual revela aquilo que pretende fazer depois de ter sido obrigada a abandonar a actividade por razões razões óbvias. Mas, a julgar pelo impacto mediático e pelas solicitações que tem tido, tudo leva a crer que tenha mais sucesso na sua nova carreira profissional, seja ela qual for.

 

Portugal contraria Washington no fornecimento de armas aos rebeldes líbios

Alexandre Guerra, 28.03.11

 

Nos últimos dias muito se tem falado na possibilidade dos países aliados fornecerem armas aos rebeldes líbios, para que possam fazer frente ao poder de fogo das forças governamentais ao serviço do líder líbio, Muammar Khadafi.

 

Esta possibilidade não é consensual entre as chancelarias, porque é uma decisão política que pressupõe a intervenção directa num conflito interno e a tomada de partido por um dos lados. Além disso, coloca em causa o embargo imposto a 26 de Fevereiro à Líbia, pela Resolução 1970 do Conselho de Segurança.

 

Este Domingo, o secretário de Defesa britânico, Liam Fox, disse que Londres não vai aprovar qualquer estratégia de fornecimento de armas aos rebeldes, alegando precisamente com o facto de haver um embargo que é preciso respeitar.

 

No entanto, Washington e Paris não parecem estar tão certos desta limitação, alegando que a Resolução 1973 aprovada a 17 de Março e que impôs a "No-fly zone" permite excepções ao embargo, desde que sejam aprovadas pelo Comité de Sanções do Conselho de Segurança que, por acaso, e para desconhecimento de muitos, é presidido por Portugal, na pessoa do embaixador português nas Nações Unidas, José Filipe Moraes Cabral.

 

Face ao interesse de Washington em fornecer armas aos rebeldes, o embaixador português foi veemente na passada Sexta-feira, ao considerar que no actual enquadramento legal do conflito na Líbia não via grandes hipóteses de tal acontecer. José Filipe Moraes Cabral admite que o texto da resolução 1973, nomeadamente o artigo 4º, possa dar espaço a várias interpretações, mas a sua não ia nesse sentido.

 

Morreu a última descendente de Lenin

Alexandre Guerra, 26.03.11

 

Olga Ulyanov numa conferência em 1999/Foto: Mikhail Metzel/AP

 

A notícia passou praticamente despercebida na imprensa internacional, mas nem por isso deixa de ser interessante para os estudiosos do regime soviético e mais interessados na história do comunismo. Morreu ontem em Moscovo, Olga Ulyanov, sobrinha e a última descendente viva de Lenin.

 

Olga, que tinha 89 anos, era a última descendente directa da família Ulyanov, o verdadeiro sobrenome de Lenin.

 

Nascida em 1922, dois anos antes da morte de Lenin, Olga era filha de Dimitri, irmão do famoso revolucionário e médico conceituado que ocupou altos cargos no Ministério da Saúde desde 1917 até à sua morte em 1943.

 

A notícia da morte de Olga foi avançada em comunicado pelo governador de Ulyanovsk, região que viu nascer Lenin e que se repabtizou em homenagem ao líder bolchevique, cujo verdadeiro nome era Vladimir Ulyanov.

 

Olga estudou Química na universidade estatal de Moscovo e sempre foi uma pessoa bastante interventiva na sociedade russa. Membro da união dos jornalistas russos, tinha vários livros publicados e escrito mais de 150 artigos sobre Lenin e a sua família.

 

Uma das causas defendidas por Olga era a manutenção do corpo embalsamado de Lenin no Mausoléu na Praça Vermelha. Ainda em Janeiro escrevia um artigo no jornal Pravda a reiterar a sua vontade.

 

Nos últimos anos, este tem sido um tema amplamente debatido, com uma parte da população russa a exigir a sua remoção, apesar do Governo continuar a defender a presença do corpo de Lenin na Praça de Vermelha.  

 

Momentos com história

Alexandre Guerra, 25.03.11

 

Medvedev, ao centro, cumprimenta o baixista Roger Glover, com o sorridente Ian Paice a observar/Foto:AFP

 

O Presidente da Rússia, Dimitri Medvedev, concretizou um sonho de jovem. Fã confesso de rock, o líder do Kremlin esteve reunido esta semana com os Deep Purple, mais concretamente na Terça-feira à noite, para um chá com os membros daquela banda inglesa, na sua residência de campo em Gorky, nos arredores de Moscovo.

 

Durante o encontro, o Presidente russo, de 45 anos, revelou que quando era mais jovem costumava actuar como Dj em festas rock. No entanto, e como os tempos ainda eram do regime soviético, as músicas que ele escolhia para as festas da escola tinham que ser aprovadas pelo Komsomol, a juventude do Partido Comunista soviético.

 

Medvedev mostrou a Ian Gillan a sua colecção de instrumentos musicais e de discos, incluindo a discografia completa dos Deep Purple. Já o baterista Ian Paice ofereceu ao Presidente russo um par de baquetas. Quem sabe, poderão dar jeito a Medvedev para impor um ritmo mais controlado ao seu primeiro-ministro, Vladimir Putin.    

 

The Wall

Alexandre Guerra, 22.03.11

 

 

Poucos meses depois da queda do Muro de Berlim, com o ano de 1990 já a decorrer, mais concretamente a 21 de Julho, aquela cidade acolhia um dos mais memoráveis e históricos concertos. Entre as Portas de Brandenburgo e a Praça de Potsdam, Roger Waters recriava o famoso The Wall, álbum conceptual dos Pink Floyd lançado em finais de 1979, perante uma assistência no local de mais de 350 mil pessoas e uma audiência televisiva de muitos milhões em 52 países. O The Wall não podia ser mais actual naquela conjuntura.

 

O Diplomataaqui tinha escrito e ontem à noite, no Pavilhão Atlântico, Waters voltou a erguer o “muro” para, de forma apoteótica e sublime, voltar a derrubá-lo, mas desta vez reconciliado com o público e consigo próprio. Mais comunicativo e divertido, Waters tem esgotado todos os concertos desta tournée mundial, iniciando agora em Portugal a etapa europeia. 

 

O concerto, que hoje se repete, consubstancia a perfeição técnica e o esplendor da arte. Musicalmente, o The Wall é magistral, com um argumento denso, mas hipnotizante. Sem dúvida, o The Wall é daqueles concertos raros, que se torna um privilégio para quem assiste, porque, mais do que a música e os efeitos, as pessoas sentem que se tornam parte da história.

 

Aquele espectáculo tinha sido montado apenas 31 vezes entre 1980 e 1981, o número de concertos repartidos por quatro cidades. A tournée acabou por revelar-se um projecto demasiado ambicioso e grandioso, dando prejuízo. No entanto, o The Wall já estava gravado na história.

 

O álbum tinha sido lançado em finais de 1979, para se tornar uma das referências dos Pink Floyd. Foi sobretudo um projecto pessoal de Roger Waters, seu criador, reflectindo o seu distanciamento com o público, os seus medos e angustias perante a indiferença da sociedade e a opressão do poder instituído. Um espelho da sua própria vida, muito marcada pelo papel austero da mãe e pela morte do pai na II GM.

 

O The Wall viria em 1982 ser adaptado para cinema pela mão de Alan Parker que, numa entrevista publicada ontem no jornal i, confessou a dificuldade de trabalhar com Waters. Seja como for, o filme viria a tornar-se uma referência cinematográfica, ficando na memória os brilhantes e provocatórios desenhos animados de Gerald Scarfe, conceituado cartoonista político britânico, e recuperados nos concertos da actual tournée.

 

O The Wall é um autêntico canal de comunicação para fortes mensagens políticas e sociais, que se mantém actual nos dias de hoje, de tal forma que foram feitas algumas alterações nas imagens projectadas durante o concerto e que têm provocado bastante polémica. Além dos políticos e governos, outro dos alvos tem sido as empresas, com a Shell e a Mercedes a serem fortemente visadas. Instituições financeiras e  companhias de área da área do grande consumo são igualmente bafejadas com a ironia e a sátira de Waters.

 

Como ainda ontem se lia no Público, Waters disse em comunicado que os seus medos pessoais de há 30 anos resultaram numa obra que funciona como "alegoria" para conceitos como o "nacionalismo, racismo, sexismo, religião". Waters dedica os concertos "a todos os inocentes mortos nos anos que se passaram".  

 

*Texto publicado originalmente no PiaR.

 

O mundo tem os olhos na Líbia, mas não deve esquecer o Iémen

Alexandre Guerra, 21.03.11

 

Manifestantes na passada Sexta-feira em Sanaa, Iémen, depois dos disparos das forças governamentais/Foto:AP

 

Enquanto a comunidade internacional está focada na Líbia, o Presidente do Iémen, Ali Abdullah Saleh, celebra esta Segunda-feira o seu 69º aniversário num ambiente de pré-guerra civil, como alguns dos mais respeitados militares daquele país sustentam.

 

No poder desde 1978, Saleh enfrenta o seu derradeiro momento político à frente dos desígnios iemenitas, com a população em fúria nas ruas, inspirada nas revoltas da Tunísia e do Egipto, à procura da sua “mudança de regime”.

 

Num país dominado pela pobreza, com um terço de desempregados, uma taxa de iliteracia acima dos 50 por cento e onde a população tem uma média de idade de 18 anos, estão criadas as condições para um conflito sangrento.

 

Manifestantes contra o Governo carregam os feridos/Foto:AP

 

Ainda na Sexta-feira passada, mais de 40 pessoas foram mortas quando participavam numa manifestação contra o Governo. Vários homens vestidos à civil, ao serviço do Governo, dispararam sobre os manifestantes, naquilo que a oposição classificou de massacre.

 

Na sequência destes acontecimentos, milhares de pessoas fizeram questão de estarem presentes nos funerais das vítimas, num claro sinal de protesto contra Saleh. Vários membros do Governo pediram a sua demissão.

 

Em termos políticos, Saleh viu ainda o General Ali Mohsen al-Ahmar, figura proeminente no Iémen e até agora próxima do Presidente, a dar o seu apoio público aos movimentos revoltosos. "The crisis is getting more complicated and it's pushing the country towards violence and civil war", disse aquele general em comunicado divulgado pela televisão al-Jazeera. "According to what I'm feeling, and according to the feelings of my partner commanders and soldiers... I announce our support and our peaceful backing to the youth revolution. We are going to fulfil our duties in preserving security and stability."

 

Uma criança dá apoio aos feridos após os disparos sobre a manifestação/Foto:AP 

 

A “deserção” al-Ahmar foi um rude gole na estrutura de poder de Saleh que, como dizia o correspondente da BBC em assuntos de Defesa, Frank Gardner, está cada vez mais frágil. Outras figuras do Estado, como governadores e embaixadores no estrangeiro, também estão a pedir as suas demissões depois dos acontecimentos de Sexta-feira.

 

Entretanto, o Presidente Saleh continua a desafiar o movimento revolucionário, impondo o “estado de emergência” e afirmando que travará qualquer tentativa de “golpe” em nome da estabilidade e segurança.    

 

Uma estabilidade e segurança cada vez mais difíceis de manter num país que há vários anos enfrenta diversos problemas, com tribos xiitas a Norte em guerra permanente com o Governo central em Sanaa e com o vespeiro dos militantes da al-Qaeda a Sul, os quais têm sido combatidos por Washington através de um massivo apoio militar ao regime de Saleh.

 

No entanto, os recentes acontecimentos estão a provocar alterações de alinhamentos entre Washington e Sana e é muito provável que os Estados Unidos comecem a distanciar-se de Saleh, reforçando uma aproximação ao general al-Ahmar.

 

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