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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Tribos sudanesas lutam por região com petróleo provocando 20 mortos em dois dias

Alexandre Guerra, 28.02.11

 

 

Quando no início do ano, os sudaneses do Sul manifestaram em referendo a vontade de se separarem do Norte do país, maioritariamente muçulmano, o Diplomata não partilhou o entusiasmo da população, alertando na altura para a possibilidade de se estar perante uma guerra civil iminente.

 

Apesar de o Presidente Omar al-Bashir ter dito que respeitaria o resultado do referendo, fosse ele qual fosse, a CNN relembrava que na longa tradição africana de conflitos internos, o resultado do referendo ou instituía o mais recente Estado da comunidade internacional ou acabava em guerra civil. Atendendo ao historial do Sudão e ao comportamento da sua cúpula político-militar nos últimos anos, o Diplomata só podia concordar com aquela observação.

 

Além do mais, o passado sangrento e violento de al-Bashir, seja em relação às populações do Sul, maioritariamente cristãs e animistas, ou da região de Darfur, perspectivava tudo menos um desfecho pacífico e tranquilo daquela consulta popular.

 

Outro factor desestabilizador impossível de ignorar prendia-se com as reservas de petróleo que estão no Sul, cerca de 80 por cento do total do Sudão.

 

Ora, nos últimos dois dias já morreram pelo menos 20 pessoas na sequência de confrontos na região fronteiriça de Abyei, entre o Sul e o Norte do país. Abyei é rica em petróleo e não realizou o referendo do passado mês, um acto que será efectivado, mas ainda sem data marcada.

 

Os confrontos opuseram milícias da tribo nómada árabe Misseriya e membros da tribo Dinka Ngok. Os primeiros, identificados com o Norte muçulmano, consideram que Abyei deve ficar naquela parte do país, enquanto os Dinka Ngok acham que aquela região deve integrar a nova nação do Sul.

 

Abyei tem vivido momentos de grande tensão, tendo a missão das Nações Unidas, UNMIS, reforçado o seu contingente naquela região.

 

Relembre-se que a consulta popular realizada no início do ano resulta de um longo processo político e militar, que culminou nos acordos de paz de 2005, colocando o fim a duas décadas de conflito, e definiram várias linhas orientadoras estratégicas sobre o futuro do país, nomeadamente, partilha de governo, distribuição de receitas petrolíferas e o estabelecimento de um referendo sobre a autodeterminação do Sul do Sudão. 

 

É importante sublinhar que o Sudão, o maior país africano, tem profundas divisões entre o Norte, maioritariamente muçulmano e próximo da cúpula política, e o Sul, cristão e animista e rico em petróleo, o terceiro produtor da África subsariana. 

 

Estas clivagens traduziram-se em violência ao longo das últimas duas décadas e discriminação, na maior parte dos casos imposta pelo regime de Cartum, resultando na morte de 1,5 milhão de pessoas, em muitos dos casos devido a fome e a doença.

 

A realidade do Sudão vista pela BBC NEWS

 

Map showing infant Mortality in Sudan, source: Sudan household health survey 2006

The health inequalities in Sudan are illustrated by infant mortality rates. In Southern Sudan, one in 10 children die before their first birthday. Whereas in the more developed northern states, such as Gezira and White Nile, half of those children would be expected to survive.

 

Map showing percentage of households using improved water and sanitation in Sudan, source: Sudan household health survey 2006

The gulf in water resources between north and south is stark. In Khartoum, River Nile, and Gezira states, two-thirds of people have access to piped drinking water and pit latrines. In the south, boreholes and unprotected wells are the main drinking sources. More than 80% of southerners have no toilet facilities whatsoever.

 

Map showing percentage of who complete primary school education in Sudan, source: Sudan household health survey 2006

Throughout Sudan, access to primary school education is strongly linked to household earnings. In the poorest parts of the south, less than 1% of children finish primary school. Whereas in the wealthier north, up to 50% of children complete primary level education.

 

Map showing percentage of households with poor food consumption in Sudan, source: Sudan household health survey 2006

Conflict and poverty are the main causes of food insecurity in Sudan. The residents of war-affected Darfur and Southern Sudan are still greatly dependent on food aid. Far more than in northern states, which tend to be wealthier, more urbanised and less reliant on agriculture.

 

Map showing position of oilfileds in Sudan, source: Drilling info international

Sudan exports billions of dollars of oil per year. Southern states produce more than 80% of it, but receive only 50% of the revenue, exacerbating tensions with the north. The oil-rich border region of Abyei is to hold a separate vote on whether to join the north or the south.

 

Cameron pede desculpa depois de ter falhado retirada dos seus cidadãos da Líbia

Alexandre Guerra, 24.02.11

 

O Governo britânico enfrentou vários problemas na evacuação dos seus cidadãos da Líbia, acabando por atrasar a sua retirada daquele país, o que causou enormes críticas à forma como o processo foi gerido.

 

Ao contrário do que tem sucedido em Portugal, onde os casos de incompetência na gestão da "coisa pública" se vão sucedendo sem uma assumpção de culpa por parte do chefe do Governo, no caso britânico, o primeiro-ministro, David Cameron, "desfez-se" em desculpas sinceras e explicações detalhadas sobre o sucedido. 

 

É verdade que o mal está feito, mas fica sempre bem a um chefe do Governo assumir os seus erros e mostrar-se solidário com os seus cidadãos num momento de crise particularmente difícil.

     

Para compreender o anfitrião muçulmano, é preciso saber interpretar os sinais

Alexandre Guerra, 21.02.11

 

 

Há uns anos, quando este autor andava por paragens pouco recomendadas em tempos turbulentos, recebeu um importante conselho de um dos portugueses que mais percebia (e percebe) de costumes e hábitos árabes e islâmicos. Dizia então essa mesma pessoa amiga que quando um visitante entra na casa de um muçulmano é importante saber ler e interpretar os vários sinais visíveis, para que possa perceber o quão devoto e submisso é o seu anfitrião aos preceitos do Islão.

 

Desses vários sinais, houve um que o Diplomata nunca esqueceu, já que em casa de um qualquer muçulmano é raro não existir um exemplar do Alcorão, tal como muitos católicos terão uma Bíblia guardada algures em casa.

 

A forma como é disposto o Alcorão na casa de um muçulmano pode revelar diferentes formas que aquele tem de conviver com a religião, da mesma maneira que a excessiva exteriorização ou ausência de artefactos e objectos associados ao cristianismo pode revelar bastante sobre a relação de um católico com o seu credo.

 

Quando o Alcorão se encontra lá em cima, no topo de um móvel ou estante, quase perto do tecto, bem acima dos mortais que habitam naquela casa, acima de tudo o que é terreno e mais próximo de Alá, então o visitante poderá assumir que terá no seu anfitrião um interlocutor que fará uma interpretação mais intensa e, eventualmente, mais radical do Alcorão.

 

Conhecer um pouco da história da América sulista a partir de Elizabethtown, Kentucky

Alexandre Guerra, 21.02.11

 

 

Nos últimos anos, poucos filmes terão espelhado de forma tão harmoniosa o espírito da América profunda. Claro está, que esta é apenas a modesta opinião do Diplomata, até porque a crítica não foi particularmente simpática com Elizabethtown, um filme de 2005, que mostra uma América de contradições, mas de muitas emoções, cujas comunidades vivem sob modelos de pensamento que pouco ou nada têm a ver com as correntes formatadas das grandes metrópoles como Nova Iorque, Washington, Chicago ou Los Angeles.

 

É um dos filmes mais interessantes de Cameron Crowe precisamente por aquilo que revela, para além dos dramas, das relações amorosas, das perdas, dos encontros e desencontros.

 

Mostra a ingenuidade e a sinceridade de uma América mais profunda, com os seus sonhos e desilusões, tradições e costumes, que parece viver realidades tão diferentes daquelas que as grandes urbes dos Estados Unidos vivem.

 

Uma América que se revê nos Lynyrd Skynyrd, uma espécie de repositório de valores e ideais dos estados do Sul, no qual músicas como a célebre Free Bird ou a Sweet Home Alabama (sobre esta música, considerada uma das mais “políticas” de sempre, o Diplomata falará em breve), se transformaram em autênticos hinos de uma certa América.  

 

A Elizabethtown do filme situa-se no Kentucky, uma cidade com cerca de 24 mil habitantes, e que é o ponto de partida para a descoberta de um pouco da história da América sulista, através de uma viagem de carro.

 

Acompanhado de uma banda sonora excepcional, que reflecte uma parte da sociedade dos Estados Unidos, dominada pelo folk, country e rock, o personagem principal, com as cinzas do seu pai ao lado, vai visitando locais que simbolizam costumes, tradições e momentos históricos que são os pilares desta América profunda.

 

*Mais um texto do Diplomata no âmbito desta rubrica.

 

Israel vs Israel

Alexandre Guerra, 19.02.11

 

 

A SIC N passava há momentos Israel vs Israel, um documentário de grande qualidade e lançado há poucos meses, que aborda a relação contraditória que a sociedade israelita tem com a questão palestiniana. O Diplomata aproveita para relembrar um outro documentário do mesmo realizador Terje Carlsson, lançado em Novembro de 2007, chamado Welcome to Hebron (episódios 1, 2 3), sobre aquela cidade turbulenta, como o autor destas linhas escreveu em Setembro do ano passado.

 

Saeb Erekat demite-se e o Diplomata relembra uma entrevista feita em Jericó

Alexandre Guerra, 13.02.11

 

 

Saeb Erekat, um dos principais rostos palestinianos na diplomacia internacional, apresentou a sua demissão do cargo de negociador chefe da Autoridade Palestiniana. Uma notícia que não é propriamente uma surpresa, depois do mesmo ter ameaçado fazê-lo há umas semanas, quando foram tornados públicos documentos relativos ao processo negocial israelo-palestiniano, que o colocaram uma situação bastante fragilizada.  

 

Porém, esta situação terá apenas precipitado o seu afastamento, porque a verdade é que Erekat há muito tempo que tinha perdido protagonismo e fulgor no processo negocial israelo-palestiniano. O que não é de estranhar, depois de ter servido a Autoridade Palestiniana durante duas décadas, na maior parte do tempo em condições de enorme dificuldade e tensão, com duas guerras (sul do Líbano e Faixa de Gaza) e duas intifadas pelo meio.

 

Com um perfil moderado e calmo, Erekat tornou-se um dos responsáveis palestinianos mais respeitados pela comunidade internacional. Internamente, o seu estatuto é também inquestionável.

 

O autor destas linhas recorda-se claramente do dia em que entrevistou Erekat, no seu escritório em Jericó.

 

Estava-se no infernal Verão de 2001, com os territórios da Cisjordânia a ferro e fogo e os atentados suicidas a sucederem-se semanalmente nas principais cidades israelitas. Era o segundo ano da Intifada de al Aqsa e israelitas e palestinianos viviam um dos piores momentos das últimas décadas.

 

Jericó, uma das cidades mais antigas da Humanidade e situada no meio do deserto, estava isolada pelas forças de segurança israelitas (IDF) e só se entrava com autorização especial.

 

A conversa com Erekat foi bastante agradável, mostrando-se uma pessoa pouco efusiva, mas simpática. O assunto da entrevista andou à volta da violência que se fazia sentir na altura e das condições impostas por Israel na Cisjordânia e Faixa de Gaza. Por outro lado, Erekat mostrou-se sempre muito crítico aos atentados terroristas palestinianos em território hebraico.

 

Esta sua visão equilibrada da uma realidade complexa ajudou-o a manter-se durante estes anos todos como chefe negociador palestiniano, mesmo após a morte do histórico líder, Yasser Arafat, em 2004.

 

Apesar do papel diplomático que desempenhou, sobretudo na década de 90 e nos primeiros anos do século XXI, a saída de Erekat não deverá ter grandes reflexos no actual estado do processo negocial, praticamente paralisado.

 

Na verdade, desde a morte de Arafat que os líderes palestinianos e israelitas quase não têm conseguido encontrar plataformas sólidas para qualquer espécie de acordo.

 

As marcas da violência na Faixa Gaza através das fotografias de Kai Wiedenhofer

Alexandre Guerra, 09.02.11

 

Kai Wiedenhofer, prestigiado fotógrafo alemão que há mais de duas décadas acompanha o conflito israelo-palestiniano, apresenta agora uma exposição em Londres com o seu mais recente trabalho, The Book of Destruction, revelando as marcas da violência na Faixa de Gaza.

 

Uma exposição polémica que quando esteve em Paris foi perturbada por dois homens com máscaras, que tentaram destruir as fotografias.

  

 

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