Leni Riefenstahl, a genialidade da propaganda política
Poucos, como a cineasta alemã Leni Riefenstahl (Berlim, 1902-2003), terão utilizado de forma tão genial a sua arte ao serviço de um regime político. Riefenstahl veio encorpar o conceito de propaganda política para uma dimensão artística quase transcendente, tornando-a uma das maiores realizadoras femininas do século XX, embora as suas orientações políticas a tenham condenado a uma ostracização aos olhos da sociedade alemã.
Amiga pessoal de Adolf Hitler e figura proeminente no Terceiro Reich, Leni Riefenstahl enquadrou toda a sua obra durante este período na doutrina dominante do regime. E mesmo muitos anos mais tarde, o Diplomata recorda-se de ver um documentário, no qual Leni tinha alguma dificuldade na análise objectiva do que se tinha passado durante o regime Nazi na Alemanha. Chegou a confessar que se sentia fascinada pelo nacional socialismo, mas que desconhecia a política de extermínio dos judeus em curso, assim como a existência de campos de concentração.
A sua proximidade ao regime e, que este autor tenha conhecimento, a ausência de remorsos e de desculpas, fizeram dela uma personagem pouco “simpática”, apesar de muita da imprensa internacional lhe reconhecer o pioneirismo e a inovação das suas técnicas cinematográficas. Mesmo na Alemanha esse reconhecimento existiu.
Considerada a sua obra prima, Triumph des Willens (diz a Wikipédia que o nome foi atribuído por Hitler) projectou na tela a ideologia Nazi e, sobretudo, a visão que o Fueher tinha da sociedade.
Filmado durante um comício do Partido Nazi em Nuremberga, em Setembro de 1934, aquele filme, lançado um ano depois, ganhou vários prémios internacionais
Riefenstahl estudou pintura e iniciou-se na dança, tendo sofrido uma lesão no joelho que pôs fim, diz a sua biografia no site oficial, a uma carreira brilhante. Mas é a partir daí que encontra o seu caminho de sucesso enquanto actriz, realizadora e produtora.
Começa a trabalhar nos anos 30, granjeando prestígio e fama, que culmina com o Triumph des Willens.
Em 1938 surge Olympia, mais um instrumento grandioso de propaganda do regime Nazi. Um documentário sobre os célebres Jogos Olímpicos de Berlim de 1936, que se tornou numa referência na cobertura fotográfica e cinematográfica desportiva. Por exemplo, foi a primeira realizadora a utilizar carris para colocar as câmaras de modo a que pudessem acompanhar os atletas. Entre os atletas filmados, estava um chamado Jesse Owens, que viria a protagonizar um dos momentos mais importantes em termos políticos e sociais no desporto do século XX.
A genialidade de Riefenstahl acabou também por ser a sua condenação pública após o fim da II GM, jamais libertando-se da imagem de propagandista oficial do regime Nazi.
Seja como for, e depois de ter estado presa, Leni Riefenstahl conseguiu prosseguir a sua carreira com bastante sucesso, não só como cineasta, mas também como fotógrafa, acolhida na elite mundial com reportagens e trabalhos de grande valor artístico e técnico.
Leni Riefenstahl manteve-se profissional e socialmente muito activa quase até ao fim da sua vida. A 8 de Setembro de 2003 morre com 101 anos, e deixou para a história um dos trabalhos artísticos mais geniais de propaganda política.
*Mais um texto do Diplomata no âmbito desta rubrica.