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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Leni Riefenstahl, a genialidade da propaganda política

Alexandre Guerra, 31.01.11

 

 

Poucos, como a cineasta alemã Leni Riefenstahl (Berlim, 1902-2003), terão utilizado de forma tão genial a sua arte ao serviço de um regime político. Riefenstahl veio encorpar o conceito de propaganda política para uma dimensão artística quase transcendente, tornando-a uma das maiores realizadoras femininas do século XX, embora as suas orientações políticas a tenham condenado a uma ostracização aos olhos da sociedade alemã.

 

Amiga pessoal de Adolf Hitler e figura proeminente no Terceiro Reich, Leni Riefenstahl enquadrou toda a sua obra durante este período na doutrina dominante do regime. E mesmo muitos anos mais tarde, o Diplomata recorda-se de ver um documentário, no qual Leni tinha alguma dificuldade na análise objectiva do que se tinha passado durante o regime Nazi na Alemanha. Chegou a confessar que se sentia fascinada pelo nacional socialismo, mas que desconhecia a política de extermínio dos judeus em curso, assim como a existência de campos de concentração.

 

A sua proximidade ao regime e, que este autor tenha conhecimento, a ausência de remorsos e de desculpas, fizeram dela uma personagem pouco “simpática”, apesar de muita da imprensa internacional lhe reconhecer o pioneirismo e a inovação das suas técnicas cinematográficas. Mesmo na Alemanha esse reconhecimento existiu.

 

Considerada a sua obra prima, Triumph des Willens (diz a Wikipédia que o nome foi atribuído por Hitler) projectou na tela a ideologia Nazi e, sobretudo, a visão que o Fueher tinha da sociedade.

 

Filmado durante um comício do Partido Nazi em Nuremberga, em Setembro de 1934, aquele filme, lançado um ano depois, ganhou vários prémios internacionais

 

Riefenstahl estudou pintura e iniciou-se na dança, tendo sofrido uma lesão no joelho que pôs fim, diz a sua biografia no site oficial, a uma carreira brilhante. Mas é a partir daí que encontra o seu caminho de sucesso enquanto actriz, realizadora e produtora.

 

Começa a trabalhar nos anos 30, granjeando prestígio e fama, que culmina com o Triumph des Willens.

 

Em 1938 surge Olympia, mais um instrumento grandioso de propaganda do regime Nazi. Um documentário sobre os célebres Jogos Olímpicos de Berlim de 1936, que se tornou numa referência na cobertura fotográfica e cinematográfica desportiva. Por exemplo, foi a primeira realizadora a utilizar carris para colocar as câmaras de modo a que pudessem acompanhar os atletas. Entre os atletas filmados, estava um chamado Jesse Owens, que viria a protagonizar um dos momentos mais importantes em termos políticos e sociais no desporto do século XX.      

 

A genialidade de Riefenstahl acabou também por ser a sua condenação pública após o fim da II GM, jamais libertando-se da imagem de propagandista oficial do regime Nazi.

 

Seja como for, e depois de ter estado presa, Leni Riefenstahl conseguiu prosseguir a sua carreira com bastante sucesso, não só como cineasta, mas também como fotógrafa, acolhida na elite mundial com reportagens e trabalhos de grande valor artístico e técnico.   

 

Leni Riefenstahl manteve-se profissional e socialmente muito activa quase até ao fim da sua vida. A 8 de Setembro de 2003 morre com 101 anos, e deixou para a história um dos trabalhos artísticos mais geniais de propaganda política.

 

*Mais um texto do Diplomata no âmbito desta rubrica.

 

Um conto americano sobre a dívida pública

Alexandre Guerra, 28.01.11

  

 

Talvez nunca, como hoje, se tenha falado tanto de “dívida pública”. Das chancelarias aos cafés, da banca às empresas, dos parlamentos às universidades, das agências de notação financeira aos quiosques dos jornais, “dívida pública” é o conceito de que todos falam.

 

Poucos Estados no mundo estarão na categoria de não devedores, mas nem assim se livram daquela “praga”, porque lá vão sendo impingidos para comprar a dívida bem volumosa de outros.

 

Neste capítulo, o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, tem sido um autêntico “comercial”, daqueles que redobram o ânimo na perspectiva de receberem maior comissão. E, segundo dizem, até tem feito um trabalho interessante na venda de parte da dívida pública portuguesa. A China, o Brasil e alguns emirados parecem já ter ido na “conversa”.

 

Seja como for, e tom ligeiro à parte, a questão da “dívida pública” é hoje um tema da ordem do dia e que de certa maneira assume contornos inéditos.

 

É verdade que o endividamento foi sempre uma problemática natural e necessária ao longo da História das nações. Até aqui nada de novo. No entanto, quando, num momento único dessa mesma História, marcado pelo paradigma da globalização e assente na interdependência complexa, o sobrendividamento externo se torna prática comum numa vasta maioria de Estados do sistema internacional, incluindo algumas das principais economias, então existem razões para se pensar estar perante algo de inédito.

 

E talvez não exista melhor exemplo que os Estados Unidos, com uma dívida pública sem precedentes na sua história e que cresceu, sobretudo, nos últimos anos. Exceptuando o período imediatamente a seguir à II GM, os Estados Unidos nunca estiveram tão endividados desde os primeiros registos de dívida pública, em 1792.

 

A manter-se a actual tendência, o Congressional Budget Office estima que dentro de dez anos, a dívida federal americana atinja os 90 por cento do PIB, número considerado por muitos como optimista. Por exemplo, o FMI prevê que em 2015 a dívida dos Estados Unidas corresponda à totalidade do PIB.

 

Ao comparar-se os valores actuais com os verificados há pouco mais de uma década, constata-se um aumento galopante da dívida federal. Em 2000, a dívida era de cerca de 35 por cento do PIB, em consonância com a média histórica a longo prazo. E atendendo ao bom comportamento da economia americana na altura, a Reserva Federal chegou mesmo a discutir a possibilidade de se pagar toda a dívida.

 

Até então, os Estados Unidos não tinham histórico de endividamento, tirando o curto período da II GM, no qual foram executados planos de financiamento para suportar o esforço de guerra americano. Mas, rapidamente os valores da dívida foram corrigidos, o que aconteceu ainda nos anos 40.

 

Já quanto à primeira década do século XXI, assistiu-se a um crescimento vertiginoso da dívida pública.

 

Para Richard Haas, presidente do Council on Foreign Relations, e Roger C. Altman, antigo vice-Secretário de Tesouro, esta situação explica-se devido a três factores: mudança da política fiscal protagonizada pelo então Presidente George W. Bush, nomeadamente, com os cortes nos impostos entre 2001 e 2003, diminuindo as receitas federais nos dez anos seguintes em 2 biliões ("trillion" nos EUA ou triliões no Brasil) de dólares; apoios na prescrição de medicamentos no âmbito do programa Medicare; guerras nos Afeganistão e no Iraque.

 

Haas e Altman, num artigo conjunto publicado na edição de Novembro/Dezembro da Foreign Affairs, enquadram politicamente aqueles factores, sublinhando que durante os mandatos de Bush, o sistema político americano polarizou-se. Os democratas moveram-se mais para a esquerda e os republicanos para a direita. Ou seja, de um lado havia a visão de maiores apoios sociais e mais gastos em programas federais e do outro havia uma perspectiva de incentivo aos cortes fiscais.

 

A radicalização destas abordagens políticas abriu portas para um aumento da despesa de ambos lados e contribuiu para que deixasse de haver uma espécie de tecto de endividamento.

 

O gastos ao nível federal aumentaram a uma taxa superior ao dobro quando comparada com a dos anos 90. De uma situação de superavit de 1 por cento, em 1998, passou-se para um défice de 3,2 por cento, em 2008. A dívida pública per capita aumentou 50 por cento durante este período, de 13 mil dólares para mais de 19 mil.

 

Perante estes indicadores, Haas e Altman escrevem que “os oito anos de administração Bush viram a maior erosão fiscal da história americana”.

Mais recentemente, o défice no ano fiscal de 2009 atingiu quase 12 por cento do PIB enquanto que em 2010 ficou-se pelos 9 por cento. Já a dívida pública representava 62 por cento do PIB no ano passado, cerca de 9 biliões. Em 2000, estava nos 3,5 biliões, ou seja, 35 por cento do PIB.

 

Segundo o Congressional Budget Office, as perspectivas a médio prazo não são animadoras, quer em termos de défice, quer em termos de dívida pública. Embora o défice possa descer nos próximos anos, a tendência é que se mantenha com valores, apesar de tudo, elevados. Quando à dívida pública estima-se que em 2020 chegue aos 90 por cento do PIB.

 

O impacto desta tendência é brutal, já que, prevê o Congressional Budget Office, os Estados Unidos terão que contrair anualmente empréstimos de 5 biliões para fazer face ao défice e ao refinanciamento da dívida.

 

Mas o pior é que os tais 9 biliões de dívida em 2010 avançados pelo Departamento de Tesouro não contemplam os 8 biliões de empréstimos governamentais para fazer face ao resgate de uma série de instituições, agências financeiras e empresas, tais como a Fannie Mae e o Freddie Mac.

 

A situação dos Estados Unidos não é animadora, com Haas e Altman a descreverem um cenário preocupante para daqui a 10 anos, devido ao envelhecimento da população. Consequentemente, mais gastos em saúde e apoios sociais e menos receitas para o Estado. Além disso, os custos do refinanciamento da dívida tendem a aumentar por causa das taxas de juro.

 

Tudo isto resulta no facto dos Estados Unidos serem hoje o país que mais procura financiamento no mercado externo, tendo 50 por cento da dívida do Tesouro no estrangeiro, 22 por cento da qual nas mãos de chineses.

 

Como escrevem Haas e Altman, “os Estados Unidos aproximam-se rapidamente de um ponto de viragem histórico: ou agem de modo a meter a sua casa fiscal em ordem […] ou sofrerão as consequências domésticas e internacionais”.

 

*Texto publicado originalmente no Albergue Espanhol 

 

Um sinal dos tempos

Alexandre Guerra, 25.01.11

 

Pela primeira vez, em 102 anos de história, a renascida General Motors vendeu mais automóveis na China do que nos Estados Unidos. Em termos práticos, isto significa que o “gigante” de Detroit vendeu 2,35 milhões de veículos na China em 2010, mais 136 mil do que no mercado americano.

 

É um sinal dos tempos, tempos esses em que se assiste a uma transferência de protagonismo do Ocidente para Oriente e para Sul. Esta dinâmica não significa necessariamente o declínio da América e da Europa, e basta para isso ver que países como os Estados Unidos ou a Alemanha, apesar de tudo, continuam a crescer.

 

O que se assiste é antes à ascensão de países que até há uns anos estavam remetidos para a periferia política e económica das relações internacionais.

 

Hoje, os BRIC e outros Estados emergentes estão na “moda” e são o palco de todas as “apostas”. Por exemplo, no ano passado, as vendas da GM na China aumentaram 30 por cento, 12,4 por cento na Rússia e 10,4 por cento no Brasil.

 

Desta vez o Kremlin é obrigado a admitir que ainda tem um conflito por resolver

Alexandre Guerra, 24.01.11

    

The following video was taken by an unidentified eyewitness. (Warning: it contains disturbing content.)

 

Em finais de Novembro de 2009, na ressaca do atentado do dia 27 desse mês ao Expresso Nevsky, que seguia na linha de ligação entre Moscovo a São Petersburgo, e que provocou 28 mortos e sensivelmente 100 feridos, o autor destas linhas recorda-se de ter citado Alexei Malashenko, um especialista em assuntos do Cáucaso do Norte do Carnegie Centre, que ao The Guardian tinha dito que o atentado teria sido provocado por rebeldes chechenos, que "querem a vingança" e criar um "espaço islâmico".

 

Apesar desta realidade, na altura do atentado ao Expresso Nevsky foi notório que Moscovo teve alguma relutância em atribuir responsabilidades aos rebeldes chechenos, adoptando, pelo contrário, uma posição bastante prudente.

 

Uma posição interessante e de certa forma inédita se se atender que aquele não tinha sido o "modus operandi" de Moscovo neste tipo de situações nos últimos anos. Perante ataques similares, o Kremlin nunca hesitou, desde o primeiro momento, em responsabilizar separatistas islâmicos do Cáucaso do Norte, independentemente das provas conseguidas ou dos factos apurados

 

No entanto, é importante relembrar que a Rússia tinha sofrido o seu último atentado a 31 de Agosto de 2007, na cidade de Togliatti que fez oito mortos e 50 feridos. Um outro a 21 de Agosto de 2006, no qual morreram 10 pessoas num mercado nos arredores de Moscovo. Depois é preciso recuar aos primeiros dias de Setembro de 2004 para os dramáticos acontecimentos na escola de Beslan, que acabou num banho de sangue, morrendo 331 reféns, metade dos quais crianças.

 

A verdade é que depois da tragédia de Beslan, Moscovo foi alimentando a ideia de que tinha a situação controlada no Cáucaso do Norte, e apesar dos atentados de 2006 e 2007, o Kremlin quase que assumiu uma espécie de vitória sobre os insurgentes islâmicos das repúblicas daquela região.

 

É por isso muito provável que perante o atentado ao Expresso Nevsky, Moscovo não tivesse querido reconhecer publicamente a responsabilidade dos rebeldes chechenos neste atentado, porque tal acto poderia ser percepcionado como uma admissão do reavivamento de um conflito, que se iniciou nos anos 90 e que o Kremlin há algum tempo teria dado como extinto a seu favor.

 

Porém, Alexei Malashenko relembrava que durante 2007 e 2008 a conjuntura no Cáucaso do Norte deteriora-se consideravelmente, levando mesmo a que nalgumas regiões se estivesse perante um estado de guerra civil iminente.

 

Já em Agosto de 2009, o New York Times publicara uma excelente reportagem na qual se podia constatar o reacendimento da violência nas repúblicas do Daguestão, da Inguchétia e da Chechénia. Nos últimos meses desse ano assistira-se também ao ressurgimento de vários ataques e atentados em território russo perpetrados por rebeldes provenientes de Kabardino-Balkaria.

 

A verdade é que depois dos acontecimentos de 27 de Novembro de 2009, a Rússia viria a sofrer um outro atentado a 29 de Março de 2010 no metro de Moscovo, provocando 40 mortos e ferindo 75. Terminava assim uma década marcada pela violência terrorista em território russo, precedida pelos não menos sangrentos anos 90.

 

Hoje, a Rússia voltou a ser alvo de um atentado terrorista, desta vez no aeroporto internacional de Moscovo, Domodevo, que matou pelo menos 35 pessoas e feriu 100. O atentado terá sido provocado por um terrorista suicida ligado os movimentos terroristas do Cáucaso do Norte.

 

Perante isto, o Presidente Dimitri Medvedev já veio admitir que a pobreza, a corrupção e o conflito no Cáucaso do Norte são o principal problema interno da Rússia.

 

Este atentado, e tendo em conta o seu impacto psicológico, já que os terroristas conseguiram infligir um ataque numa estrutura tão importante como um aeroporto, veio demonstrar que os líderes do Kremlin não têm conseguido encontrar uma solução definitiva para a violência emanada do Cáucaso do Norte. Concomitantemente, os rebeldes islâmicos têm tentado demonstrar que os responsáveis russos não conseguem garantir a segurança dos seus cidadãos.

 

Como resposta imediata a este atentado, a Rússia está em alerta máximo, no entanto, a grande dúvida é saber que medidas serão tomadas pelo Kremlin em relação à conjuntura do Cáucaso, não sendo de descartar operações militares naquelas repúblicas.

 

*Texto publicado originalmente no Albergue Espanhol

 

Ronald Reagan também teve o seu episódio na saga "Star Wars"

Alexandre Guerra, 23.01.11

 

 

Strategic Defense Initiative (SDI). Dito assim, poucos se lembrarão o que esta sigla quererá dizer, apesar de ter sido uma das iniciativas políticas mais importantes e polémicas na década de 80. Agora, se se falar em “Star Wars”, então, provavelmente, muitos se lembrarão do famoso e polémico projecto anunciado pelo Presidente Ronald Reagan, numa comunicação ao País através da Casa Branca, a 23 de Março de 1983.

 

Projectado para a construção de um escudo antimíssil balístico contra a ameaça nuclear soviética, o SDI seria composto por uma série de sistemas terrestres e espaciais, que cobriria os Estados Unidos com uma espécie de escudo.

 

Perante a grandeza e a espectacularidade do SDI, rapidamente o projecto adoptou o nome “Star Wars”, numa alusão à célebre saga de George Lucas, cujo primeiro (na realidade o episódio IV) filme tinha sido lançado a 25 de Março de 1977, e contribuído para a "febre" e “descoberta” do Espaço como a nova fronteira da Humanidade.

 

O SDI mereceu as críticas de quase toda a comunidade científica, por considerar o projecto irrealista e tecnicamente impossível de concretizar, além de ter custos astronómicos, pertencendo ao mundo da fantasia e do imaginário, tal como a “Star Wars” de Lucas. Mas, para outros, a referência à saga “Star Wars” era uma forma de perspectivar um futuro real, mas que implicava um investimento prévio.

 

 

Ao contrário da saga de Lucas, a “Star Wars” de Reagan nunca viu a luz do dia, embora tenha permanecido na agenda política norte-americana desde então, com diferentes denominações e mudanças de conceito, estando nos dias hoje em discussão um novo sistema de defesa antimíssil, em parceria com a Rússia.

 

Reagan pretendia que o projecto “Star Wars” viesse assumir-se como uma nova doutrina militar de defesa estratégica, que substituísse a MAD (Mutual Assured Destruction), para se defender do Império do Mal, expressão que usara a 8 de Março de 1983 para caracterizar a União Soviética.

 

Houve também quem dissesse que com este projecto dispendioso Reagan quisesse sobrecarregar os cofres de Moscovo, obrigando o Kremlin a acompanhar o esforço militar, tecnológico e científico americano, à semelhança do que tinha acontecido durante a Guerra Fria, numa lógica de procura constante pela paridade entre as duas Super Potências.

 

*Depois do texto publicado na semana passada, o Diplomata continua a nova rubrica anunciada neste espaço.

 

Leituras

Alexandre Guerra, 23.01.11

 

Esta semana, mais concretamente na Quinta-feira, o Público trazia um excelente artigo, assinado pela correspondente em Washington, Kathleen Gomes, para assinalar os 50 anos volvidos sobre a tomada de posse do Presidente John F. Kennedy, a 20 de Janeiro de 1961.

 

Kennedy Popular, apesar de tudo revela que JFK continua a ser o residente mais popular da Casa Branca do último meio século, apesar de cada vez mais os historiadores terem vindo a desconstruir alguns mitos em relação à sua pessoa e presidência.

 

Robert Dallek, biógrafo de JFK, dá um contribuito precioso no artigo para se perceber melhor quem foi Presidente.

 

O irresistível poder de atracção da política italiana

Alexandre Guerra, 19.01.11

  

Nicole Minetti, conselheira regional da Lombardia, 18 de Janeiro/Reuters

 

É impossível não gostar da política italiana. Ao contrário de quase todos os outros sistemas políticos do mundo, em Itália a arte de governar é colorida e bela.

 

Justiça seja feita ao actual primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, por ter devolvido à política o brilho e as suas formas artísticas, tendo para isso desenvolvido um processo de "envangelização" junto de jovens à procura do sonho de servir o País, tais como a marroquina Karima El Mahroug, agora maior de idade, mas na altura em que privou com o chefe de Governo era apenas uma menina de 17 Primaveras.

 

Dizem as más línguas que Berlusconi terá pago à jovem qualquer coisa como cinco milhões de euros para entregar-se aos devaneios sexuais do "Il Cavalieri". Ruby, como era conhecida a dançarina de clube, diz que nunca teve sexo com aquele líder de 74 anos.

 

A jovem "Ruby" com quem Silvio Berlusconi "confraternizou"

 

Seja como for, o processo está agora nas mãos dos procuradores de Milão, que já tinham compilado um relatório de 384 páginas sobre os devaneios do chefe de Governo e que foi há uns dias entregue ao parlamento. Muita da informação publicada pela imprensa italiana são transcrições de gravações contidas nesse dossier.

 

De acordo com os documentos reunidos pelos procuradores de Milão, Berlusconi terá estado envolvido em actos de prostituição com mulheres recrutadas, imagine-se, pela antiga dentista do primeiro-ministro, Nicole Minneti.

 

Morena, linda e fatal, com estas característias e na era Berlusconi, Nicole Minneti só podia ir parar à política, sendo actualmente conselheira regional da Lombardia.

 

Minneti também está sob investigação, embora negue todas as acusações.

 

Quando os americanos fizeram da música de Hendrix o hino da guerra do Vietname

Alexandre Guerra, 17.01.11

 

 

Escrita por Bob Dylan e lançada originalmente em 1967, a música “All Along the Watchtower” nunca teve na sua génese qualquer ideal bélico ou de intervenção política.

 

Bastaram, no entanto, alguns meses para Jimi Hendix transformar aquela música num autêntico hino da guerra do Vietname. Mais “rasgada” e “eléctrica”, Hendrix edita a sua versão de “All Along the Watchtower” logo em 1968, celebrizando-se imediatamente, nomeadamente junto dos milhares de soldados americanos estacionados no Vietname. O que não é de estranhar, atendendo à naturalidade com que os primeiros refrões da música se adaptavam ao estado de espírito daqueles homens atolados no cenário de guerra vietnamita e sem fim à vista: “There must be some kind of way out of here, Said the joker to the thief, There’s too much confusion, I can’t get no relief.”

 

1968 foi dos anos mais difíceis da guerra do Vietname, marcado sobretudo pela Ofensiva Tet, a 30 de Janeiro, com homens do Exército do Vietname do Norte, apoiados pelos vietcongs (vietnamitas comunistas), a lançarem incursões nas cidades e províncias do Sul do país.

 

Embora em termos militares, as forças americanas com o apoio dos soldados sul-vietnamitas tenham conseguido, de certa forma, ripostar com alguma eficácia, a verdade é que a Ofensiva Tet teve um grande impacto psicológico nos Estados Unidos.

 

Apesar dos vietcongs sofrerem aproximadamente 30 mil baixas e das forças sul-vietnamitas terem ganho ânimo, esta Ofensiva representou um desgaste muito grande na liderança americana e representou um ponto de viragem na guerra do Vietname, obrigando na altura o Presidente Lyndon Johnson a anunciar que não se recandidataria.

 

Desde finais de 1967 que a situação começava a ser insustentável no seio da opinião pública americana. As baixas contavam-se às centenas todas as semanas e o custo anual da guerra era de 30 mil milhões. Nos Estados Unidos, os protestos anti-guerra aumentam e ficam cada vez mais violentos, com o ambiente político a tornar-se explosivo, depois dos assassinatos do histórico líder dos direitos civis, Martin Luther King, a 4 de Abril de 1968, e de Robert F. Kennedy, na altura candidato presidencial pelo Partido Democrata, a 5 de Junho desse mesmo ano.

 

Foi nesta conjuntura que os acordes da Fender Strato de Hendrix se passaram a ouvir nos muitos rádios espalhados pelo Sul do Vietname. “All Along the Watchtower” rapidamente passou a fazer parte do quotidiano da guerra, mas também da política americana.

 

Já com Richard Nixon na presidência dos Estados Unidos (eleito em Novembro de 1968), a 25 de Janeiro de 1969 iniciam-se negociações em Paris para o estabelecimento de tréguas, sendo que a 8 de Julho começa a retirada das forças americanas.

 

O conflito mantém-se no terreno, havendo mesmo uma intensificação de bombardeamentos americanos em 1972 contra o Vietname do Norte, permitindo que no Verão desse mesmo ano a situação estabilizasse para que as últimas tropas terrestres americanas abandonem o terreno. A 27 de Janeiro de 1973 assina-se o acordo de paz entre os Estados Unidos e o Vietname do Norte.

 

Ao recordar esta parte da História é impossível fazê-lo sem ser ao som de “All Along the Watchtower”, o single do Electric Ladyland, o terceiro e último álbum de Jimi Hendrix a ser produzido e lançado enquanto ainda era vivo.

 

*Com um dia de atraso, este é o primeiro texto de uma rubrica anunciada neste espaço na semana passado.

 

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