Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Histórias reais na música de Michael Nyman e nas letras de David McAlmont

Alexandre Guerra, 30.12.10

 

 

Uma das (boas) descobertas feitas pelo Diplomata em 2010 foi o soberbo álbum The Glare, do prestigiado compositor britânico Michael Nyman e do cantor David McAlmont, umas das vozes mais interessantes dos últimos anos no cenário musical do Reino Unido.

 

Embora tenha sido editado em finais de 2009, passado praticamente despercebido ao grande público, apesar das excelentes críticas internacionais, só em finais de 2010 é que o autor destas linhas teve conhecimento deste trabalho, com músicas de Nyman arranjadas com as letras e voz de McAlmont.

 

Musicalmente, o resultado é sofisticado, mas é sobretudo pelo contributo de McAlmont que o Diplomata traz até aqui este álbum, já que muitas das letras são inspiradas em acontecimentos ou reportagens reais. A história de um casal que fica milionário devido a um erro bancário, o lamento de uma mulher grávida prisioneira no Laos, o relato de um órfão zimbabweano ou a crónica do quotidiano de um estudante palestiniano são apenas alguns exemplos.

 

Uma das músicas refere-se a um líder europeu, com McAlmont a "vestir" a sua pele, utilizando um tom crítico e sarcástico para denunciar uma das figuras mais polémicas da política dos nossos dias. 

 

O Diplomata deixa aqui o desafio ao leitor para ouvir a música e descobrir sobre quem McAlmont canta. Não é difícil...

 

Quase um ano depois, o Haiti recebeu apenas 20 por cento dos apoios prometidos

Alexandre Guerra, 28.12.10

 

No Verão passado, o Diplomata escrevia um texto sobre o "fosso cada vez maior de 'delay' entre o momento formal da declaração de intenções e a concretização efectiva da disponibilização financeira" que os Estados se prontificam a dar a países terceiros para fazer face a catástrofes. Na altura, foram dados os exemplos do terramoto no Haiti e das cheias no Paquistão.

 

Depois das promessas iniciais feitas pelos líderes internacionais quase há um ano, o primeiro-ministro do Haiti, Jean-Max Bellerive, informa agora que o seu país recebeu apenas 20 por cento das ajudas prometidas.

  

2010, o ano em para muitos historiadores alemães acabou a I GM

Alexandre Guerra, 26.12.10

 

 

Para a História, e já num tom de balanço, é muito provável que 2010 seja um dia lembrado como o “ano dos mercados”. O ano em que estes etéreos e omnipresentes “mercados” passaram a ditar as regras do mundo, suplantando a Política, enquanto arte de governação, com base nas dívidas públicas, nos défices, nos PIB’s, na solvabilidade da banca, nas taxas de esforço e por diante.

 

Mas por falar em dívidas públicas e responsabilidades financeiras, 2010 ficará também marcado por um acontecimento que passou quase despercebido, mas simbolicamente muito importante, porque encerra um período da História iniciado com a I Guerra Mundial.

 

No passado mês de Outubro, a Alemanha concluiu o pagamento dos 94 milhões de dólares em dívida pelas reparações financeiras impostas pelo Tratado de Versalhes, em 1919. Poderá parecer um mero pormenor contabilístico, até porque a quantia é irrelevante, mas para muitos historiadores, trata-se de um momento de importante simbolismo, sublinhando que a I GM acabou no passado dia 3 de Outubro.  

 

“É um símbolo. Marca o final da I GM”, disse ao The Christian Science Monitor, Ursula Rombeck-Jaschinski, professora de História Moderna na Universidade de Heinrich-Heine em Duesseldorf. “Prova que a Alemanha está preparada para pagar as suas dívidas 92 anos depois. Mais importante, mostra ainda que a Alemanha de hoje é totalmente diferente da Alemanha dos anos 20 ou 30.”

 

Leituras

Alexandre Guerra, 22.12.10

 

Jonah Goldberg escreve no Los Angeles Times que existem pelo menos 24 possíveis candidatos republicanos para as próximas presidenciais nos Estados Unidos. Mas em The would-be GOP kings explica que apenas cinco daqueles nomes têm reais possibilidades de surgirem como efectivos aspirantes à Casa Branca.

 

Isto é novidade... o NYT fala na Grécia e na Irlanda, mas não "arrasta" Portugal

Alexandre Guerra, 18.12.10

 

O New York Times dava hoje destaque na sua edição on line a um artigo sobre a difícil situação do mercado imobiliário em Espanha, analisando as consequências para o sistema bancário daquele país. Ao ler o referido artigo o Diplomata depara-se a determinada altura com a seguinte frase:"Just how big a loss the banks are facing is unknown, at least publicly, and that has investors worried — the cost of financing Spain’s debt rose 18 percent in the last month alone. But the potential costs of failure go far beyond that. Spain’s economy, the fifth largest in Europe, is much bigger than Ireland’s or Greece’s, and a bailout of its banks could be far more costly, an event that could push the government into default and end up dooming the euro itself."

 

Ora, o interessante desta frase, e contrariando uma tendência dos últimos tempos, é que pela primeira vez, em muitas semanas, o Diplomata lê um artigo sobre "crise financeira" na Europa, no qual Portugal  não é "arrastado" atrás da Irlanda e da Grécia. Neste caso, o NYT parece ter feito uma distinção entre a conjuntura portuguesa e a dos outros países europeus mais afectados pelo turbilhão financeiro.

 

Perante isto, é caso para o autor destas linhas se interrogar se este não será o resultado da ofensiva de Public Relations que o Governo português tem encetado junto da comunidade internacional e dos mercados, para passar uma mensagem de diferenciação relativamente à conjuntura da Grécia e da Irlanda. Ou se, por outro lado, é apenas uma mera opção jornalística com base na análise de critérios financeiros entre os três países.   

 

Seja como for, não deixa de ser curioso que há poucos dias, o mesmo NYT lá metia Portugal no mesmo "pacote" da Grécia e da Irlanda: "Debt from Greece, Ireland and Portugal is considered risky, raising the possibility that the central bank could suffer losses that exceeded the amount of its capital. Any losses would be in the future, though, because the bank policy of holding on to debt until it matures."

 

O ciberespaço é o novo domínio da doutrina militar dos Estados Unidos (2)

Alexandre Guerra, 16.12.10

 

Administrador de rede da US Air Force no aeroporto de Kandahar Foto/Staff Sgt. James L. Harper Jr./DoD

 

Poucos saberão, mas em 2008 o Departamento de Estado norte-americano foi alvo do mais grave ataque cibernético da sua história. Não se tratou de um processo de “fuga” interna de informação, como é o caso do Wikileaks já aqui analisado, mas, efectivamente, de uma tentativa deliberada e maliciosa de infligir danos na rede informática militar daquele país.

 

O “ataque” foi espoletado com a introdução de uma “flash drive” com vírus num dos “laptops” do Exército americano ligado em rede numa das bases do Médio Oriente. Através desta ligação foi possível aceder ao Comando Central americano, cujo programa infectado foi correndo no sistema, sem ser detectado, recolhendo informação desclassificada e classificada. Ou seja, este programa hostil tinha como objectivo abrir uma “brecha” no sistema nervoso das forças armadas americanas.

 

De acordo com a informação disponível, esta operação terá sido desencadeada por um serviço de “intelligence” estrangeiro, embora Washington não tenha revelado qual.

 

“Este incidente, que se encontrava classificado, foi a mais significativa brecha de sempre na rede de computadores militares americanos e serviu como uma importante ‘wake up call’. A operação Buckshot Yankee desenvolvida pelo Pentágono para conter o ataque marcou um ponto de viragem na estratégia cibernética dos Estados Unidos”. Quem disse estas palavras foi o próprio vice-secretário de Defesa, William J. Lynn III, num artigo assinado por si na edição de Setembro/Outubro da revista Foreign Affairs e já replicado por alguns meios especializados dada a sua importância.

 

Aquele responsável americano informou ainda que a frequência e o nível de sofisticação das incursões hostis nas redes militares dos Estados Unidos cresceu exponencialmente nos últimos 10 anos. E revela também que a operação de 2008 não foi a única “penetração” inimiga bem sucedida.

 

Como surpreendentemente admite William J. Lynn III, milhares de ficheiros foram roubados das redes militares americanas e dos aliados, assim como de parceiros industriais, desde planos operacionais, informação de “intelligence” ou outros documentos estratégicos.

 

Perante estes ataques internos, os exemplos externos da Estónia em 2007 e da Geórgia em 2008, e a emergência das novas realidades cibernéticas, os Estados Unidos assumiram a ciberguerra como uma ameaça à segurança nacional, tendo o secretário de Defesa, Robert Gates, criado formalmente em Junho de 2009 o US Cyber Command, com o objectivo de integrar as operações de ciberdefesa na estrutura militar.

 

Este comando, que começou a operar em Maio de 2010, representa uma nova filosofia no paradigma da segurança e militar americano. O US Cyber Command irá actuar dentro dos domínios cibernéticos e tecnológicos, englobando 15 mil redes e sete milhões de terminais computacionais espalhados por centenas de instalações em dezenas de países.

 

Dada a complexidade deste novo comando, apenas agora em Novembro ficou totalmente operacional, com o seu responsável máximo, o general Keith Alexander, a sublinhar que o “ciberespaço é essencial para o estilo de vida americano e que o US Cyber Command sincronizará os esforços na defesa das redes do Pentágono”.

 

Mais uma incursão nocturna sobre Xangai

Alexandre Guerra, 15.12.10

 

 

Na sequência da sua deslocação recente a terras do Oriente, o Diplomata já tinha escrito aqui e aqui sobre a efervescência de Xangai. Ontem, a TV Globo emitiu uma reportagem sobre como Xangai se está a tranformar numa metrópole global e vibrante, onde nem sequer faltou uma incursão nocturna ao Bar Rouge, o clube da moda e com vários motivos de atracção, como aliás o autor destas linhas pôde comprovar in loco.

 

Leituras

Alexandre Guerra, 14.12.10

 

A diplomacia americana perdeu um dos seus mais experientes e activos actores. Richard Holbrooke morreu ontem à noite aos 69 anos, não resistindo a uma segunda operação para reparar a veia aorta, depois de ter desmaiado durante um encontro com a secretária de Estado, Hillary Clinton, na passada Sexta-feira.

 

Em Strong American Voice in Diplomacy and Crisis, o New York Times relembra o percurso do homem que, entre outras coisas, foi responsável pelos Acordos de Dayton.

 

Livro distinguido pela UE relembra a pesada herança da ocupação soviética dos bálticos

Alexandre Guerra, 12.12.10

 

Museu da Ocupação, Talin, Estónia

 

O Prémio Livro Europeu do Ano, uma iniciativa da União Europeia, foi anunciado há dias, distinguindo o italiano Roberto Saviano, na categoria de não ficção, com “A Beleza e o Inferno”, e a escritora finlandesa Sofi Oksanen na ficção, com o romance “Purge”.

 

A referência a este prémio pelo Diplomata não vem tanto a propósito de Roberto Saviano, merecidamente reconhecido e de quem muito se tem falado nos últimos tempos, mas do livro de Oksanen, que foi originalmente publicado no seu país em 2008, tendo vencido os três prémios literários mais importantes da Finlândia.

 

A escritora finlandesa, que tem apenas 32 anos, é filha de mãe estónia, o que terá sido determinante na escolha da temática do livro, um relato da violência a que foram sujeitas as mulheres da Estónia durante a ocupação soviética.

 

Como a própria escritora referiu, este seu livro assume particular importância no contexto histórico da Estónia porque, “durante muito tempo, tudo isso permaneceu no domínio da tradição oral. Depois de 1991, novas palavras apareceram em estónio, como ocupação, resistência”.

 

Esta realidade trouxe à memória do Diplomata uma viagem que fez aos países bálticos há pouco mais de dois anos, na qual se apercebeu da relação histórica que os estónios tiveram com os dois regimes totalitários que ocuparam aquele território, o nazi e o soviético.

 

Como já aqui o Diplomata tinha escrito, “no Verão de 1991 os países bálticos (Letónia, Estónia e Lituânia) obtiveram a sua independência, após a terem perdido durante a II Guerra Mundial, resultado da assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop, que abriu caminho ao regime nazi para invadir a Polónia e à União Soviética e impor um modelo de ‘esferas de influência’ na Letónia, Estónia e Lituânia".

 

Como também aqui referido, “este acabou por ser o momento mais dramático na história destes países nas últimas sete décadas, e que marcou indelevelmente a sua evolução enquanto nação e actor nas relações internacionais. Assim, não se estranha que a adesão à NATO, em Março de 2004, tenha sido vista como a verdadeira ‘libertação’ e europeização, e não tanto a entrada na União Europeia em Maio do mesmo ano”.

 

Entrando um pouco mais no tema directamente relacionado com o romance de Oksanen, é importante relembrar que “apesar dos três países bálticos terem também sido invadidos pelos alemães em 1941, tendo estes aliás aparecido em determinados círculos como ‘libertadores’ dos opressores soviéticos, é a herança do regime estalinista que hoje em dia é mais presente naqueles Estados, seja através de alguns comportamentos do quotidiano, seja na abordagem que museus (os da Ocupação em Riga e Talin) e livros de história têm aos acontecimentos.

 

A presença dos soldados soviéticos durante a II Guerra Mundial nos territórios bálticos e a posterior influência de Moscovo através das estruturas do Partido Comunista deixou uma marca sangrenta e dramática na história social daqueles povos, tornando a invasão nazi  (igualmente brutal) uma ‘nota de rodapé’”.

 

Depois de ter visitado vários locais nos bálticos, incluindo alguns muses dedicados à ocupação, e lido alguma bibliografia, o Diplomata pode tentar enquadrar esta questão com dois factores: “O primeiro está relacionado com o facto dos três países bálticos terem, de modo mais ou menos formal, alinhado com os soldados alemães em 1941 nos combates contra a União Soviética e isso ter originado um processo de esbatimento histórico sobre a questão; o segundo factor está obviamente associado à influência que Moscovo teve, já que se prolongou durante décadas, o que não aconteceu com o regime nazi.”

 

Pág. 1/2