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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O discurso de Barroso na abertura da III Cimeira UE-África

Alexandre Guerra, 29.11.10

 

No seu discurso de abertura da III Cimeira UE-África, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, relembra o importante encontro de há três anos realizado em Lisboa para reiterar a necessidade de se aprofundar o projecto de parceria entre a Europa e as nações africanas na defesa de valores comuns e na busca de interesses partilhados.

 

Na antecipação da III Cimeira UE-África

Alexandre Guerra, 28.11.10

 

Na antecipação da III Cimeira União Europeia-África, a realizar na Líbia entre amanhã e Terça-feira, o gabinete de imprensa do comissário para o Desenvolvimento, Andris Piebalgs, fez chegar ao Diplomata alguns documentos com informação de enquadramento bastante pertinente e importante:

 

a) De acordo com um estudo especial do Eurobarómetro, 38 por cento dos europeus considera que o principal o principal desafio nas relações entre a União Europeia e África é o combate à probreza;

 

b) Ainda segundo o mesmo estudo, os europeus identificam a pobreza e a fome como os principais problemas que deverão estar no centro da parceria entre a União Europeia e África;  

 

c) Além do programa dos dois dias de cimeira, fica aqui também a declaração do Presidente do Conselho da UE, Herman Von Rompuy, do presidente da Comissão, José Manuel Durão Barroso, e do comissário Adndris Peibalgs, exortando a mais investimento, crescimento económico e criação de emprego.

 

Registos

Alexandre Guerra, 25.11.10

 

"Europe so far has survived the bailout of Greece. The financial rescue of Ireland also is manageable. Even if Portugal becomes the third country to succumb and seek aid, as many people widely predict, it is unlikely to push Europe to the financial brink.

 

But any bailout of Spain — with an economy twice the size of the other three combined — could severely stress the ability of Europe’s stronger countries to help the financially weaker ones, and spell deep trouble for the euro, Europe’s common currency." New York Times, 24 de Novembro de 2010

 

Não foi um "novo começo", mas a cimeira de Lisboa ficará na história da NATO

Alexandre Guerra, 23.11.10

 

Foto NATO

 

Na ressaca da cimeira da NATO, e depois de aprovado o terceiro Conceito Estratégico desde o fim da Guerra Fria (o primeiro em 1991 e o segundo em 1999), talvez ainda seja oportuno deixar aqui (mais) um contributo para o enquadramento do tema.

 

É inegável o sucesso, a vários níveis, da cimeira de Lisboa. Todo o “guião” foi cumprido, os tratados foram assinados, a liturgia diplomática funcionou e os líderes regressaram aos seus países com “boas novas” para anunciar.

 

Até mesmo o Presidente americano Barack Obama talvez tenha conseguido convencer os senadores republicanos a ratificarem o Novo Start, depois do seu discurso na conferência de imprensa de encerramento, no qual evocou uma das referências-mor do conservadorismo americano, o falecido Presidente Ronald Reagan, e apelou à responsabilidade dos Estados Unidos face aos compromissos assumidos com a Rússia, nomeadamente com o chefe de Estado, Dimitri Medvedev.

 

Não obstante ter sido uma cimeira muito importante, e apesar das declarações de entusiasmo e de enfatização do momento, nada disto deve retirar a capacidade crítica na análise ao seu enquadramento histórico.

 

Os acontecimentos de Lisboa não devem ser vistos como um “novo começo” ou uma revolução nos princípios da Aliança, e muito menos como um ponto de viragem na arquitectura do sistema internacional.

 

O que aconteceu em Lisboa foi o corolário previsível de um percurso doutrinário que começou com a alteração sistémica das relações internacionais imposta com o final da Guerra Fria e que, para muitos analistas, continua por definir (É preciso lembrar que noutros momentos de ruptura sistémica ao longo da História foram precisos longos anos até que se consolidasse o novo paradigma nas relações internacionais).

 

Foi o próprio secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, que na conferência de imprensa de encerramento falou em “reforço” da Aliança para torná-la mais eficaz e comprometida, num registo de continuidade. O “novo começo” de que falou Rasmussen foi em relação à Rússia e teve um carácter mais político, do que propriamente prático ou operacional.

 

E sobre esta questão é preciso ter em consideração dois factores: o início do processo de aproximação da Rússia à NATO tem quase 20 anos; não confundir o relacionamento da Rússia e da Aliança com o da Rússia e de Washington.

 

Em alguns momentos de crise não esteve tanto em causa o relacionamento da Rússia com a NATO em termos práticos, mas sim o diálogo político-diplomático entre Moscovo e Washington.

 

É importante relembrar que o Conselho NATO-Rússia foi estabelecido em 2002, tendo como base um acordo firmado em 1997, fruto de um processo iniciado com o fim da Guerra Fria.

 

É certo que as crises nos Balcãs nos anos 90 ou o conflito na Geórgia, em 2008, prejudicaram algumas áreas de cooperação entre a NATO e a Rússia, mas nunca colocaram em causa o eixo principal da parceria. Ou seja, o registo de conflito nunca foi tão “quente” entre a Aliança e Moscovo como aquele que se verificou ao nível bilateral entre Washington e Moscovo em diversas ocasiões.

 

Este “começar de novo” de que Rasmussen fala é na verdade mais dirigido à relação dos Estados Unidos com a Rússia do que propriamente deste país com a NATO.

 

A parceria entre a Rússia e a NATO, assim com outras áreas inerentes ao funcionamento e missão da Organização, têm tido um enquadramento doutrinário evolutivo, que tem evitado rupturas e momentos de indecisão.

 

Esta, aliás, tem sido uma das principais virtudes de NATO desde o fim da Guerra Fria. Uma dinâmica que não se tem verificado noutras organizações internacionais, nomeadamente a ONU.

 

Para quem conheça minimamente a Aliança, sabe que nos seus corredores, seja no NATO Headquarter, em Bruxelas, no SHAPE, em Mons, ou no Joint Headquarter em Oeiras, tem-se discutido e debatido ao longo dos anos possíveis abordagens e paradigmas para a Aliança responder às ameaças difusas e assimétricas, com o contributo de inúmeros militares e civis de diferentes países.

 

Embora seja no SACT, em Norfolk, que resida a função de elaborar a doutrina da NATO, algo que aliás ficou bem definido no Conceito Estratégico de 1999, a Aliança tem revelado bastante vivacidade em toda a sua estrutura, no que diz respeito à capacidade de produzir ideias e conceitos que possam responder aos desafios emergentes. Uma resposta que já vem de trás e reforçada agora em Lisboa.

 

Por exemplo, poucas pessoas saberão ou estarão recordadas que a primeira vez que a Força de Resposta Rápida da NATO (NRF) interveio de forma significativa, já num contexto de novos desafios e realidades, foi em Outubro de 2005 no apoio às vítimas do terramoto no Paquistão. E dois meses antes, através de aviões da NRF, foram distribuídos mantimentos doados por Estados-membros e parceiros para as vítimas do furacão Katrina no sul dos Estados Unidos.

 

E em 2004, elementos da NRF tinham ajudado a proteger os Jogos Olímpicos de Atenas e prestado apoio nas eleições no Afeganistão em Setembro desse ano.

 

Dotada de interoperacionalidade entre as várias forças militares, com capacidade de mobilização em poucos dias para qualquer cenário em diferentes partes do mundo, a NRF foi uma resposta às novas tipologias de conflitos e de crises.  

 

Algo que a União Europeia tentou implementar através da criação da Força Reacção Rápida (RRF), decidida em Dezembro de 1999, prevendo ter 60 mil homens, 400 navios, e 100 aviões, mas que só em 2007 se tornou formalmente operacional, embora longe de corresponder no terreno ao que foi inicialmente traçado.

 

Post publicado originalmente no Albergue Espanhol

 

Karl Rove recupera conceito de "compassionate conservativism"

Alexandre Guerra, 19.11.10

 

 

Há dias, numa das conversas entre quem tem particular interesse por estas coisas da comunicação política, falava-se sobre o conceito de “compassionate conservatism”, desenvolvido por George W. Bush há uns anos ainda durante a sua campanha presidencial e aplicado nos primeiros tempos de mandato.

 

Na altura surgiu como uma abordagem doutrinária interessante no campo ideológico republicano, mas os atentados do 11 de Setembro de 2001 acabaram por marcar e condicionar politicamente os dois mandatos de Bush, deixando pouco espaço para a “compaixão”, ficando apenas o conservadorismo.

 

Depois de alguns anos adormecido, aquele conceito parece querer reaparecer, sobretudo numa altura em que os republicanos ganharam fôlego com as eleições intercalares e alimentam esperanças de fazer cair o Presidente Barack Obama já no primeiro mandato.

 

É muito interessante constatar o facto de ser o “falcão” Karl Rove, o antigo estratego de George W. Bush, vir agora defender a necessidade de se voltar a acrescentar a “compaixão” ao conservadorismo.

 

Aceitando o desafio do site FiveBooks para escolher cinco livros relacionados com o conceito de “compassionate conservativism”, Rove sugeriu os seus preferidos. Todos eles clássicos e de leitura obrigatória.

 

Lições de história que Obama e Cameron devem ter bem presentes

Alexandre Guerra, 15.11.10

 

 

Estava-se no dia 13 de Novembro de 1986 quando o então Presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev, traçou um cenário pessimista relativo à intervenção militar do seu país no Afeganistão. “Estamos a lutar há anos e se não mudarmos de estratégia estaremos aqui mais 20 ou 30”, disse o líder durante uma reunião do Politburo.

 

Corria então o sétimo ano de guerra e os 110 mil soldados soviéticos continuavam sem conseguir derrotar os mujahedin. Oito mil homens do Exército Vermelho já tinham morrido e 50 mil ficado feridos. Do lado afegão os mortos contavam-se às centenas de milhar.

 

Perante este cenário, Gorbachev acrescentou ainda: “Nós não estamos a conseguir aprender a forma de travar a guerra. Nós tínhamos definido um objectivo: promover um regime amistoso no Afeganistão. Mas, agora, temos que acabar com este processo o mais rápido que conseguirmos.”

 

Palavras que, de certa forma, se assemelham àquilo que o Presidente americano Barack Obama e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, disseram recentemente sobre o actual conflito no Afeganistão.

 

O Diplomata não gosta de comparações entre diferentes realidades históricas, no entanto, já ilações devem ser tiradas do envolvimento soviético no Afeganistão durante os anos 80.

 

O historiador Victor Sebestyen aconselha mesmo, num artigo de opinião na edição de Novembro da revista Prospect, que os actuais líderes americano e britânico analisem com atenção os mais recentes documentos disponibilizados por Moscovo a investigadores russos e americanos sobre os últimos anos da era soviética e o seu envolvimento no Afeganistão.

 

É certo que os contornos são diferentes e qualquer comparação arrisca-se a ser um exercício desvirtuado. Porém, há algo em comum entre estes dois conflitos no que respeita às motivações e dilemas das lideranças políticas.

 

Então, tal como hoje, Gorbachev era um líder recém-chegado ao poder e herdava nas mãos um conflito prolongado, oneroso e sem fim à vista, tal como aconteceu com Obama e Cameron.

 

Quando em Março de 1985 ocupou o Kremlin, Gorbachev disse de forma convicta que a retirada do Afeganistão seria a sua prioridade. Uma declaração feita numa perspectiva política e dirigida à opinião pública, mas desligada da verdadeira realidade do conflito. Gorbachev rapidamente percebeu que a tarefa a que se propôs era praticamente impossível de concretizar sem que com isso a União Soviética “perdesse a face”.

 

Um dilema com o qual Obama e Cameron se viram confrontados mal chegaram aos seus gabinetes, obrigando-os a refrear os ímpetos de debandada do Afeganistão.

 

A retirada soviética do Afeganistão sem qualquer ganho no terreno teria sempre consequências desastrosas para o império. Quando em Fevereiro de 1989 os últimos soldados soviéticos abandonam o Afeganistão deixavam para trás 15 mil camaradas mortos.

 

Política ou estrategicamente a União Soviética nada ganhara com a intervenção no Afeganistão, tendo pelo contrário, sido humilhada e ferida de morte na projecção da sua imagem enquanto super potência militar.

 

Dois anos depois e algumas revoluções pelo meio dava-se a implosão do império soviético e o desmembramento da URSS. O desastre no Afeganistão não foi a única causa do fim da Guerra Fria, mas foi certamente o catalisador que precipitou a derrocada do Pacto de Varsóvia e da URSS.

   

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