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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Em poucos dias Ed fez o seu Governo "sombra", mas onde está o de Passos Coelho?

Alexandre Guerra, 12.10.10

 

Poucos dias após ter sido eleito líder do Labour, e à boa maneira da política britânica, Ed Miliband já tem o seu Governo "sombra". São 25 pessoas devidamente identificadas eleitas pelos deputados trabalhistas na Câmara dos Comuns. Alguns transitam do antigo Executivo de Gordon Brown, outros não.  

 

O mais importante neste processo é que os eleitores podem a partir de agora associar determinada área de actuação a um potencial ministro, escalpelizando, assim, o seu comportamento e percurso político até ao dia das eleições.

 

O Governo "sombra" é uma das virtudes do sistema político britânico, pois permite que se crie uma relação entre os eleitores e políticos, mesmo com estes na oposição, e se evita que todo o processo eleitoral se centre única e exclusivamente na figura do chefe de Governo, tal como acontece em Portugal. 

 

E por falar em Portugal, o actual líder do PSD, Pedro Passos Coelho, tinha prometido durante a disputa eleitoral nas "directas" do passado mês de Março que, se ganhasse, uma das primeiras medidas a adoptar seria precisamente formar um Governo "sombra".

 

Uma medida bem recebida pelo Diplomata e que seria virtuosa para o sistema político português. Mas, vários meses volvidos, constata-se que o PSD continua sem qualquer ministro "sombra", ouvindo-se apenas um ou outro vice-presidente a pronunciar-se sobre algumas matérias sectoriais.

 

Seja como for, e porque nestas coisas mais vale tarde do que nunca, seria interessante que Passos Coelho pensasse seriamente em nomear alguns ministros "sombra", pois iria certamente introduzir uma inovação na forma de se fazer política em Portugal ao mesmo tempo que assumiria junto dos eleitores um compromisso em nome de uma equipa.

 

Mais uma vez o caso britânico é exemplar, com Ed a assumir desde já a liderança de um conjunto de pessoas que vão defender os interesses dos cidadãos numa óptica de oposição ao Governo conservador liderado por David Cameron.

 

Uma tarde em Jericó

Alexandre Guerra, 11.10.10

 

Vista de Jericó em 1890

 

Jericó é uma cidade única no mundo. Com cerca de 10 000 anos de existência, aquela cidade bíblica é uma das mais antigas do mundo, “afundada” no imenso deserto do Vale do Jordão abaixo do nível da água do mar, revela agora ao mundo uma preciosidade artística.

 

Trata-se de um mosaico com cerca de 900 metros quadrados que cobria o chão da principal área de banhos de um palácio islâmico do século VIII.

 

Esta revelação é chamada ao Diplomata não tanto pelo seu valor cultural (que o tem), mas por aquilo que representa na actual conjuntura política-militar que se vive na Cisjordânia.

 

Após anos de clausura imposta pelas Forças de Segurança Israelitas (IDF) por causa da intifada de al-Aqsa, Jericó parece hoje voltar a viver momentos de alguma abertura para o mundo exterior.

 

Quando a intifada de al-Aqsa espoletou em Setembro de 2000 os territórios da Cisjordânia sofreram restrições de movimentos intensas, tendo Jericó sido uma das cidades que mais sofreu com essa política. Aquela cidade ficou literalmente isolada de todo o território, com as patrulhas das IDF a controlarem todas as estradas de acesso.

 

Situada no meio do deserto, os movimentos de pessoas e de veículos de e para aquela cidade passaram a ser controlados. E qualquer residente de uma outra cidade da Cisjordânia ou cidadão estrangeiro precisava de uma autorização especial para entrar em Jericó.

 

Quando no Verão de 2001 (com atentados a ocorrerem nas ruas de Telavive e de Jerusalém quase semanalmente) o autor destas linhas tentou visitar Jericó num espírito mais aventureiro na companhia de alguns estudantes internacionais, de imediato se passou de um estado de euforia à desilusão.

 

Interceptado pelas IDF, o grupo que caminhava a pé depois de ter viajado em autocarro público até às redondezas recebeu de imediato um “bilhete” de regresso à base a bordo de um dos veículos militares sem ter tido sequer oportunidade de chegar às portas de Jericó.

 

Perante este episódio frustrante, e com o “paraíso” ali tão perto, o autor destas linhas voltou dias mais tarde a fazer uma incursão na cidade bíblica. Desta vez com uma entrevista marcada com Saeb Erekat, na altura o chefe negociador palestiniano.

 

Apanhado um táxi em Ramallah, o autor destas linhas conseguiu chegar às fronteiras de Jericó, uma cidade sitiada pelas IDF, onde ninguém entrava nem saía. Debaixo de um sol abrasador, este visitante entregou o passaporte e, após algum tempo de espera, entrou, finalmente, em Jericó.

 

Uma sensação estranha, de um autêntico forasteiro que tem sobre si todos os olhares dos locais que calmamente se encontram na rua. Visitantes eram raros na cidade e qualquer cara estranha era imediatamente detectada. Mas nem por isso se via qualquer reacção mais emotiva. Não se tratava de desprezo, mas apenas de um mero desinteresse.

 

A cidade estava parada no tempo, amorfa, estrangulada pelo cerco militar e sem qualquer perspectiva de “libertação”. Mesmo assim, “sentia-se” o peso da história e a herança bíblica, fazendo daquele um lugar especial.

 

A conversa com Saeb Erekat correu bem e este autor recorda-se dos lamentos de Erekat por causa do cerco israelita, mas também a simpatia com que aquele responsável se referiu aos portugueses. Depois deste encontro, voltou-se às ruas de Jericó, uma cidade que ficaria para trás minutos depois, isolada no deserto e pronta para resistir mais 10 000 anos às vicissitudes dos tempos.

 

Momentos com história

Alexandre Guerra, 10.10.10

 

Foto Dan Chung/The Guardian

 

Num gesto raro, Pyongyang convidou jornalistas internacionais a estarem presentes na parada militar realizada este Domingo, e uma das maiores já vistas, que assinalou o 65º aniversário do regime da Coreia do Norte, na qual foi possível ver o líder norte-coreano, Kim Jong-il, acompanhado do seu filho e sucessor, Kim Jong-un. A reportagem fotográfica de Dan Chung para o The Guardian revela a grandeza e a disciplina coreográfica deste momento político.

 

A ficção e a realidade encontram-se no District 9

Alexandre Guerra, 04.10.10

 

O District 9, um filme estreado no ano passado mas que só agora o Diplomata teve oportunidade de ver, correspondeu às expectativas criadas na altura do seu lançamento. De baixo orçamento e aclamado pela crítica, District 9 é muito mais do que um filme de alienígenas.

 

O recurso ao seres extraterrestres e a uma nave mãe a pairar sobre Joanesburgo durante toda a acção do filme foi apenas a forma encontrada para se abordar as temáticas contemporâneas da discriminação, da segregação, da xenofobia, da separação entre povos das intervenções humanitárias da comunidade internacional.     

 

Contrariando os clichés cinematográficos, os extraterrestres de District 9 foram encontrados pelas autoridades sul-africanas no interior da sua nave depois desta ter parado misteriosamente nos céus de Joanesburgo. Famintos, sem liderança, sujos e com medo, os extraterrestres tornaram-se um embaraço para o Governo de Pretória, que os acomodou num campo de acolhimento nos arredores de Joanesburgo.

 

Aquilo que começou por ser um espaço circunscrito com arames farpados e algumas tendas, com o passar dos anos foi-se transformando num campo de refugiados de dimensões gigantescas, com 1,8 milhões de residentes. Uma situação que encontra paralelismo em muitos casos reais nas últimas décadas, tendo vindo à memória do Diplomata, por exemplo, o campo de refugiados palestiniano de Dheisheh, em Belém, criado em 1949, e que com os anos se tornou numa autêntica cidade.

 

Vinte anos depois da chegada dos extraterrestres, o District 9 era um local sem lei nem ordem, sem condições sanitárias e alimentares e um espaço de crime, onde facções de criminosos nigerianos aproveitaram para viver do comércio ilegal de armas (extraterrestres) e da exploração dos alienígenas.

 

O District 9 era assim um foco de violência, que muitas das vezes se repercutia nas ruas de Joanesburgo, fazendo relembrar algumas das incursões reais dos criminosos das favelas do Rio de Janeiro nas ruas desta cidade.

 

District 9 relata uma tensão crescente em Joanesburgo, que ao fim de 20 anos de convivência violenta, desaguou num ódio racial dos sul-africanos contra os extraterrestres, alcunhados de “gafanhotos”, trazendo à memória cenas do apartheid.  

 

Um dos aspectos mais interessantes deste filme e que reflecte, mais uma vez, a realidade débil da arquitectura internacional no que diz respeito à gestão de crise com refugiados, deslocados ou minorias, é constatar-se que nunca houve uma verdadeira tentativa de inclusão dos extraterrestres na comunidade, fosse pelas autoridades sul-africanos, fosse pela Multi National Unit (MNU), uma espécie de Nações Unidas criada exclusivamente para lidar com esta problemática.

 

Aliás, uma das questões centrais dos extraterrestres quando chegaram a Joanesburgo foi precisamente o seu estatuto em termos de enquadramento jurídico na sociedade. O Diplomata recorre outra vez ao exemplo dos refugiados palestinianos, visto que apenas os de 1945 são considerados formalmente como tal aos olhos das Nações Unidas. Todos os “refugiados” resultantes das guerras de 1967 e 1973 não o são efectivamente em termos jurídicos.

 

Perante a pressão interna e internacional, o Governo sul-africano decide actuar através da MNU, em algo que se aproxima de uma “solução final”. Sob o argumento humanitário, é instituído um plano de realojamento massivo, com o objectivo de colocar os extraterrestres um novo campo a 200 quilómetros de Joanesburgo.

 

Com ordens de despejo obrigatórias, a MNU acenou aos extraterrestres com melhores casas e condições, mas nada disso era verdade, já que o objectivo era afastar os extraterrestres para um gueto mais longe de Joanesburgo. De certa maneira, uma solução com alguns contornos semelhantes àquela que o regime Nazi implementou para milhares de judeus, e reforçada com as palavras do coordenador do programa de realojamento do District 9, que admitiu numa conversa com um dos extraterrestres que o novo complexo não era mais do que um “campo de concentração”.  

 

Apenas mais uma curiosidade. Toda a operação de realojamento desenvolvida pela MNU estava destinada também a ser uma manobra de relações públicas, muito ao estilo da operação “Restoring Hope” levada a cabo pelos marines americanos em Dezembro de 1992 na Somália.

 

Momentos com história

Alexandre Guerra, 02.10.10

 

Mauricio Lima/Agence France Press/Getty Images

 

Dilma Roussef, candidata do Partido dos Trabalhadores às presidenciais brasileiras, está prestes, segundo as últimas sondagens, de se tornar a primeira mulher como Presidente do Brasil e sem precisar de uma segunda volta.

 

Com 62 anos, Roussef surge aos olhos dos brasileiros como a sucessora do carismático Lula da Silva, tendo-se comprometido com o eleitorado a continuar as políticas iniciadas pelo ainda Presidente do país. 

 

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