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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Portugal e as ameaças ao seu espaço marítimo

Alexandre Guerra, 29.10.10

 

A China está neste momento a investir fortemente na expansão da sua frota naval militar, nomeadamente com embarcações dedicadas à vigilância da sua costa e territórios insulares, alguns deles disputados com o Japão. Mais, o regime de Pequim justifica este investimento com a necessidade da defesa dos direitos marítimos chineses. Como tal, acabou de ser lançado à água o primeiro navio de patrulha e de vigilância, estando previstas mais 36 embarcações semelhantes. 

 

Face ao imenso espaço marítimo e à necessidade de exercer soberania nalgumas ilhas reclamadas pelo Japão, Pequim vê o investimento nas forças navais como uma questão de independência e de segurança nacional.

 

De certa maneira, existe um paralelismo com a situação portuguesa, embora o actual Governo e os anteriores nuncam tenham tido a arte de explicar objectivamente as razões estratégicas que sustentaram a aquisição de dois submarinos. Porque, efectivamente, existem razões válidas e importantes à luz dos interesses nacionais que mereciam ser conhecidas pelos portugueses. 

 

É certo que Portugal não tem os problemas da China no que diz respeito à disputa de territórios insulares, sendo que aqui o território está claramente demarcado em relação aos seus vizinhos mais directos, Espanha e Marrocos. No entanto, muitos outros problemas surgem nas águas portuguesas directamente relacionados com questões de soberania e de interesse nacional.

 

Antes de mais, existe o factor da efectivação da soberania em todo o território nacional, nomeadamente na sua imensa Zona Económica Exclusiva, assim como na Plataforma Continental que, caso tudo corra pelo melhor junto das Nações Unidas, deverá aumentar consideravelmente.

 

É certo que em termos geoestratégicos o conceito de soberania hoje vai muito além do território físico do Estado, porém, a sua defesa e o seu controlo efectivo continuam a ser vectores basilares para qualquer Governo responsável. E aqui Portugal tem uma missão hercúlea na defesa do seu espaço marítimo.

 

Uma defesa feita a vários níveis, tais como militar, económico, ambiental e até mesmo social. A vertente militar no sentido mais clássico está hoje mais atenuada, sobretudo depois do fim da Guerra Fria. Em contrapartida, assistiu-se nos últimos anos a uma ameaça crescente aos interesses económicos, ambientais e sociais de Portugal no mar. 

 

A defesa da economia do mar deve merecer a maior atenção por parte das autoridades portuguesas, porque quanto menos controlo do seu território marítimo, maior serão as delapidações dos recursos feitas por terceiros, como acontece com as pescas. Além das imposições de quotas legais de Bruxelas, os portugueses certamente que desconhecem as incursões ilegais feitas por embarcações de pesca espanholas e marroquinas em águas portuguesas. Dizia há uns anos uma fonte militar ao autor destas linhas, que até "histórias de tiro" costumavam haver entre embarcações de patrulha e de vigilância portuguesas e barcos de pesca espanhóis e marroquinos.

 

O controlo e sobretudo a vigilância dos mares assume hoje uma particular importância na defesa do ambiente e neste capítulo Portugal tem uma enorme responsabilidade. O caso da tragédia ambiental de 2002 na Galiza, provocada com o derrame de petróleo do Prestige, é um bom exemplo de como os interesses nacionais foram ameaçados no mar. A determinada altura do processo de gestão de danos, no qual a Espanha estava sem capacidade de resposta, Portugal foi obrigado a intervir com a sua marinha para evitar que os espanhóis "empurrassem" o Prestige para as águas nacionais.

 

A existência de uma capacidade naval forte é totalmente justificada quando se tem uma ZEE que é corredor de passagem para todo o tipo de navios de várias partes do mundo. É, por isso, vital que a Marinha portuguesa esteja atenta contra todo o tipo de ameaça à integridade ambiental do seu território, tais como pequenos derramentes, lavagens de tanques, despejo de detritos no oceano, e por aí fora.

 

Socialmente, a defesa do mar é também um pilar basilar dos interesses nacionais. O combate à imigração ilegal, ao tráfico humano ou ao contrabando de armas e de droga tem de ser uma obrigação do Estado português. Trágicas realidades para a qual a Marinha portuguesa tem de estar preparada para as enfrentar. 

 

Um Estado responsável e desenvolvido deve ter em consideração todos estes factores. Mesmo no que diz respeito aos compromissos militares propriamente ditos, Portugal deve estar dotado de capacidade naval para dar resposta aos compromissos internacionais. Ainda recentemente, uma fragata portuguesa liderou uma missão da NATO nas águas da Somália no combate à pirataria.

 

Os submarinos não devem ser vistos como realidades isoladas, mas sim como parte de um modelo naval ajustado aos desafios do século XXI, no qual todos os tipos de navios, embarcações e sistemas de vigilância costeiros se complementam. 

  

Influência

Alexandre Guerra, 27.10.10

 

Ainda ontem à noite o Presidente Cavaco Silva, durante o seu discurso de recandidatura no CCB, falava de influência no âmbito da sua magistratura. Para o Diplomata, não há política sem influência, tal como não há influência sem autoridade ou poder. Ou seja, aquele que tem autoridade ou tem poder, tem influência.

 

A grande diferença prende-se com o seguinte: aquele que tiver autoridade influencia com base na vontade, enquanto que aquele que deter o poder influencia através da persuasão. Seja como for, a autoridade espiritual do Papa ou o poder militar de Napoleão resultam na mesma coisa, em influência.

  

A influência na política pode materializar-se em resultados manifestamente positivos para quem a exerce, no entanto, existe sempre o risco da mesma ser percepcionada de forma negativa pelo público em geral, ao associar-lhe "interesses" obscuros e conspirativos.

 

Como dizia uma das personagens de Oscar Wilde na obra o "Retrato de Dorian Gray", "there is no such thing as a good influence".

 

New York Times sensibilizado com os graves ferimentos de João Silva

Alexandre Guerra, 25.10.10

 

João Silva em Bagdad, 2008/Michael Kamber/NYT

 

Além das encorajadoras e elogiosas palavras dirigidas ao fotojornalista João Silva, por parte de Bill Keller, editor executivo do New York Times, o Diplomata recomenda a galeria de fotografias no blogue Lens daquele jornal, dedicada a um dos poucos repórteres de guerra portugueses dignos desse nome. Também o prestigiado jornalista e colunista Nicolas D. Kristof lhe reconhece a coragem e o talento profissional. Entretanto, nunca é demais recordar o trabalho que João Silva tem feito ao longo destes últimos anos em várias zonas de conflito do mundo.

 

Jimmy Carter, o Presidente que a História conotou como um pacifista ingénuo

Alexandre Guerra, 24.10.10

 

  

Jimmy Carter, o 39º Presidente dos Estados Unidos, entre 1977 e 1981, continua a ser visto por muitos americanos como um dos homens menos relevantes e entusiasmantes que passaram pela Casa Branca. Não entusiasmou sequer os democratas, apesar de algumas da suas posições serem inovadoras em relação a temas como a dependência energética, o ambiente, a educação, os direitos humanos ou o conflito israelo-palestiniano.

 

Não será arriscado afirmar-se que a História tem sido um pouco injusta na apreciação que faz ao mandato de Carter, já que este foi premonitório nalguns princípios que defendia e conseguiu feitos interessantes, nomeadamente ao nível da política internacional, promovendo a assinatura dos Acordos de Camp David, em 1978, que permitiram normalizar as relações diplomáticas entre Israel e o Egipto.

 

A verdade é que Carter não conseguiu ser eleito para um segundo mandato, e ficou conotado como uma imagem de pacifista ingénuo, numa altura em que o mundo ocidental exigia uma liderança realista na cruzada contra o “império do mal”.

 

Exemplo disso foi o papel “fantoche” desempenhado por Carter na “Operação Livro Aberto”, como mais tarde o seu conselheiro de Segurança Nacional, Zhigniew Brzezinski, viria a constatar nas suas memórias.

 

Como se pode ser no livro a "A Santa Aliança" de Eric Fratitini, quando em 1980 os Estados Unidos e o Vaticano aprofundaram relações ao mais alto nível, no âmbito do apoio ao movimento Solidariedade na Polónia, João Paulo II assumiu a liderança da estratégia anti-comunista a ser implementada do outro lado da Cortina de Ferro.

 

A “Operação Livro Aberto” tinha como objectivo colocar naqueles países milhares de livros e propaganda anticomunista, seria coordenada pela CIA e pela Santa Aliança (serviços secretos do Vaticano) e implementado no terreno por padres que estariam nessas zonas.

 

Em todo o processo negocial e de preparação entre Washington e o Vaticano, João Paulo II demonstrou muito mais empenho e entusiasmo do que Carter, que levantava algumas objecções à “Operação Livro Aberto”. Brzezinski chegou mesmo a escrever nas suas memórias que “era claro que João Paulo II é que devia ter sido eleito Presidente do Estados Unidos e Jimmy Carter escolhido como Sumo Pontífice”.

 

Ciclo de cinema israelita em Lisboa

Alexandre Guerra, 22.10.10

 

Para os amantes da Sétima Arte, e em particular do cinema israelita, o Diplomata chama a atenção para a realização do 5º Ciclo de Cinema Israelita, entre 28 de Outubro e 3 de Novembro no Cinema City Classic Alvalade. Organizado pela Embaixada de Israel em parceria com a New Line Cinemas de Portugal, este ciclo constuma ser marcado pela elevada qualidade dos filmes apresentados.

 

Este ano foram seleccionadas seis películas para serem projectadas na grande tela, abarcando diferentes estilos, inclusive a comédia, com o filme This Is Sodom. Trata-se do primeiro grande investimento naquele género dos últimos anos, tendo como cenário a degenerada e promíscua cidade bíblica de Sodoma na sua última semana de existência.

 

A primeira telenovela afegã é um palco para as mulheres desafiarem os costumes do País

Alexandre Guerra, 22.10.10

 

Arzoo a representar um dos papéis principais da telenovela/Lynsey Addario/VII Network/NYT

 

“The Secrets of This House” é a primeira telenovela afegã, produzida pela Tolo TV. Mas é mais do que isso, é aquilo a que o New York Times chama de “female empowerment”. Um palco de afirmação para as mulheres com coragem de representar e desafiar os preconceitos instituídos numa sociedade ultra conservadora.

 

Abada, actriz há três anos, desempenha um pequeno papel nesta telenovela, de uma mulher que regressa dos Estados Unidos e tem que se adaptar à nova vida em Cabul. Por cada episódio ganha 100 dólares, uma boa fonte de rendimento, mas que pode ser efémera, como a própria reconhece ao continuar a dar aulas, atendendo à incerteza do mundo televisivo no Afeganistão.

 

Abada, de 30 anos, teve uma vida sofrida, depois de ter estado 14 anos casada com um homem com o dobro da sua idade, viciado em ópio, que lhe batia constantemente, subjugando-a nos seus direitos, na sua dignidade e na sua intelectualidade. Mãe de sete filhos, aproximou-se perigosamente do precipício, determinada a acabar com a sua própria vida, como contou numa excelente e extensa reportagem publicada na “Magazine” do New York Times.

 

E foi aí que, numa espécie de apelo divino ou de consciência, Abada decidiu dar uma volta na sua vida. A descoberta da representação foi um passo importante para se libertar de um modelo de sociedade altamente castrador, sobretudo para as mulheres.

 

Mas é uma libertação parcial, já que a sociedade acaba por impor à força os preconceitos vigentes, não sendo por isso de estranhar que a ideia do suicídio é algo que vem recorrentemente à mente de Abada. Uma angústia apenas afastada quando pensa nos seus filhos.

 

Seja como for, Abada tem a perfeita noção da ruptura que o seu comportamento representa nos costumes afegãos, e admite que se os talibãs voltassem ao poder a sua cabeça rolaria no dia a seguir.

 

Porém, independentemente do espectro dos talibãs, é inegável que o conservadorismo social mantém-se nas lideranças políticas (nacional, regional e local) do Afeganistão.

 

Saad Mohseni, fundador há três anos da Tolo TV e, por vezes, chamado de “Murdoch de Kabul”, tem sido um dos grandes defensores da introdução de conteúdos e de formatos televisivos mais arrojados no país, tais como as telenovelas indianas.

 

Apesar da sua proximidade ao Presidente Hamid Karzai e dos seus argumentos em defesa da mudança cultural, o Ministério da Cultura e o Conselho Afegão dos Doutos Islâmicos querem banir as telenovelas indianas, por considerarem que existe uma demasiada exposição do corpo das mulheres e uma predominância de ídolos hindus.

 

Perante estes problemas, Mohseni acabou por ter a ideia de produzir uma telenovela afegã, que pudesse contar a história política, económica, cultural e social do Afeganistão através de várias gerações de uma mesma família.

 

“The Secrets of This House” consubstancia esse conceito, sendo a “House” uma metáfora para o próprio Afeganistão. Obviamente que esta telenovela aborda todas as problemáticas actuais, desde a corrupção, o crime, passando pelas condições das mulheres e jovens, até às relações pessoais e amorosas.

 

Um projecto inédito naquele país, ao qual se associaram com grande sacrifício mulheres como Abada, revelando uma mudança de costumes e de mentalidades naquele país, no entanto, são ainda poucos os que vêem em todo este processo uma caminhada sólida e segura.

 

Post publicado originalmente no Albergue Espanhol 

 

Pentágono investe 9 milhões para desenvolver Humvee voador

Alexandre Guerra, 20.10.10

 

 

Nem mesmo a actual conjuntura de dificuldades económicas parece impedir o Pentágono de apostar em projectos militares inovadores e arrojados. A Agência de Defesa para o Desenvolvimento de Projectos Avançados (DARPA) lançou um concurso de 9 milhões de dólares para o desenvolvimento de um Humvee voador.

 

Parece brincadeira, mas não é. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos pretende construir um veículo que responda às necessidades de transporte em cenários de conflito assimétrico, através da combinação das vantagens das viaturas terrestres e da mobilidade dos helicópteros.

 

O DARPA seleccionou 6 consórcios para desenvolveram os seus projectos durante 12 meses, devendo a primeira reunião entre as várias entidades acontecer já esta Quinta-feira.

   

Do criacionismo à masturbação, passando pela feitiçaria, O'Donnell é má demais

Alexandre Guerra, 14.10.10

 

Christine O'Donnell no primeiro debate com o seu rival, Chris Coons/Jacquelyn Martin/AP

 

Christine O'Donnell, que saltou para a ribalta depois de ter vencido surpreendentemente as primárias do Partido Republicano no Delaware para a corrida ao lugar do Senado em disputa para aquele estado nas eleições de Novembro, participou ontem no primeiro debate televisivo com o seu rival democrata, Chris Coons.

 

O resultado não podia ter sido mais desastroso para O'Donnell, uma das "estrelas" em ascensão do Tea Party, uma corrente ultraconservadora dentro do Grand Old Party. Ramón Lobo, no seu blogue Aguas Internacionales do El País, e com a ajuda do The Daily Beast, faz uma síntese da prestação de O'Donnell que, nalguns momentos, chega a ser embaraçosa e angustiante, devido à ignorância e falta de preparação da candidata. Ramón Lobo recupera ainda algumas "pérolas" antigas de O'Donnell.

 

O péssimo desempenho de O'Donnell, na forma e na substância, vem assim dar razão aos analistas que aquando da sua vitória nas primárias consideraram que teria poucas possibilidades de conquistar o assento no Senado.

 

Também no seio do GOP se ouviram algumas vozes críticas, tendo a de Karl Rove, estratego do ex-Presidente George W. Bush, sido a mais audível, acusando O'Donnell de não ter qualificações para assumir um eventual lugar de senadora.

 

Registos

Alexandre Guerra, 13.10.10

 

David Brooks e Gail Collins trocam impressões no New York Times sobre algumas das orientações políticas assumidas recentemente pelo Presidente Barack Obama. Um diálogo muito interessante entre aqueles dois democratas, que não deixam de fazer uma leitura crítica às opções feitas pelo chefe da Casa Branca no tratamento de algumas matérias.

 

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