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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Registos

Alexandre Guerra, 29.09.10

 

O New York Times destacava no portal de entrada o formato espectacular da apresentação, em Paris, da colecção de Primavera 2011 de Gareth Pugh.

 

Ao contrário do tradicional desfile, aquele estilista optou por apresentar a sua colecção num filme artístico monocromático de 11 minutos projectado numa tela gigante no estádio Paris-Bercy. O filme foi realizado por Ruth Hogben, responsável pela criação artística de algumas imagens da tour de Lady Gaga.

 

Perante isto, o New York Times perguntava se os desfiles de moda seriam mesmo necessários?

 

Uma pergunta reveladora de mudanças importantes numa indústria de milhões, que acaba por reflectir metamorfoses profundas nas sociedades pós-modernas, seja na moda, na arte, na cultura, na economia, na ciência ou na política.

 

No xadrez da geoestratégia todos os votos contam na Assembleia Geral da ONU

Alexandre Guerra, 28.09.10

 

 

Como é habitual nesta altura do ano por ocasião da sessão de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, viveram-se dias de grande actividade diplomática na sede daquela organização em Nova Iorque. É um acontecimento que reúne líderes de todo o mundo, muitos dos quais aproveitam o momento para realizarem autênticas ofensivas políticas, como foi, mais uma vez, o caso do Presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad.

 

Mas é também o momento em que muitos chefes de Estado aproveitam para fazer “diplomacia de corredor” na defesa dos seus interesses. Aliás, Portugal foi um exemplo, com o primeiro-ministro José Sócrates a ir a Nova Iorque para captar apoios para a candidatura do país ao Conselho de Segurança enquanto um dos dez membros rotativos não permanentes. Além do discurso proferido na Assembleia, Sócrates encetou vários encontros bilaterais com representantes de vários países.

 

Os corredores da ONU nesta altura do ano podem representar oportunidades particularmente importantes para pequenos estados como Portugal.

 

Como alguém dizia há uns anos, apesar de todos os seus males, a Assembleia Geral das Nações Unidas é o único sítio onde todos países podem falar uns com os outros de igual para igual.

 

Efectivamente, a lógica reinante é de um país, um voto, sejam os Estados Unidos ou o Togo. Ao contrário do Conselho de Segurança, onde os cinco membros permanentes têm poder de veto, na Assembleia Geral impera a lógica democrática da igualdade jurídica entre os Estados.

 

É por isso que ao nível das deliberações da Assembleia Geral a posição política veiculada por Estados de quem nunca ninguém ouviu falar pode assumir contornos particularmente importantes na discussão de algumas matérias sensíveis e respectivas votações.

 

Poucas pessoas já deverão ter ouvido falar em países como Nauru ou Tuvalu, já que se tratam de duas das nações mais pequenas do mundo, ilhas situadas no meio do Pacífico, não tendo ambas mais do que 30 mil habitantes.

 

Insignificantes no xadrez da política internacional, assumirá o leitor. Uma assumpção compreensível, mas que não corresponde necessariamente à verdade, pelo menos no que toca ao Nauru e ao Tuvalu.

 

Por mais estranho que pareça, aqueles dois países são suficientemente importantes para despertar a atenção de Washington e Moscovo. Não pela sua posição estratégica, pelas suas riquezas minerais ou por uma eventual parceria de contratos para a venda de material militar, mas sim por causa do seu voto na Assembleia Geral. Um voto que poderá ser muito importante no que toca ao reconhecimento de novas nações independentes ou no apoio de resoluções.

 

Thomas de Waal relembra, num artigo na The National Interest, que o Nauru se tornou em 2009 no quarto país a reconhecer a Abecásia e a Ossétia do Sul como Estados independentes. Aquele autor justifica este estranho apoio por razões meramente financeiras, sugerindo que a bancarrota dos cofres de Nauru levaram o país a transformar o seu assento na Assembleia Geral em dinheiro.

 

Mas isto só é possível aproveitando o jogo geoestratégico entre os Estados Unidos e a Rússia. A independência do Abecásia e da Ossétia do Sul é do interesse de Moscovo no âmbito dos seus objectivos estratégicos na região do Cáucaso, visando o enfraquecimento da Geórgia.

 

Após o reconhecimento de Nauru nas Nações Unidas, Moscovo doou 9 milhões de dólares para a reconstrução do porto daquela ilha.  

 

Tbilisi não se ficou. Thomas de Waal relata que o Governo daquele país utilizou Tuvalu para contra atacar Moscovo. No passado dia 11 de Setembro foi noticiado que a Geórgia iria providenciar apoio financeiro à missão de Tuvalu nas Nações Unidas. Foi ainda revelado que Tbilisi tinha pago um carregamento de medicamentos com destino à população de Tuvalu no valor de 12 mil dólares.

 

Como resultado, aquele país do Pacífico foi um dos 50 países que apoiou uma resolução apresentada pela Geórgia na defesa do direito de retornos de todos os refugiados precisamente para a Abecásia e Ossétia do Sul. Nauru, por seu lado, foi naturalmente um dos 17 países que votou contra.

 

Washington também não está de fora desta estratégia. Por exemplo, numa resolução do ano passado que exortava à resolução pacífica do problema dos colonatos na Palestina, 164 países votaram favoravelmente. Os Estados Unidos votaram contra, integrando um grupo restrito de sete países, entre os quais se encontrava estranhamente (ou talvez não) o Nauru.

 

Do glamour de Top Gun ao poder aéreo táctico na versão “low cost”

Alexandre Guerra, 24.09.10

 

Piloto aos comandos de um F-16 Falcon

 

Na Era dos conflitos assimétricos, materializados no terrorismo, na pirataria, nos movimentos separatistas, nas acções criminosas de grupos organizados, nas guerras cibernéticas, entre outros, as formas convencionais de combate entre inimigos parecem estar cada vez mais desajustadas à realidade. Os portentosos embates de infantaria, as espectaculares batalhas marítimas, os glamorosos combates aéreos, fazem, de uma forma genérica, parte do passado.

 

Como dizia recentemente a The Economist, os caças supersónicos podiam ser “sexy” no tempo em que Tom Cruise estava aos seus comandos no filme Top Gun, mas nos dias que correm aparelhos como os ágeis F-14 Tomcat (Grunman Aerospace Corporation), os lindíssimos F-16 Falcon (General Dynamics/Lockeed Martin) ou os ameaçadores Mig 21 (Mikoyan) deixaram de ser tão procurados e venerados.

 

O que está na moda neste momento é o poder aéreo numa versão “low cost”, numa lógica de regresso à velha tecnologia das avionetas de hélice com propulsão de turbina a gás.

 

Aparelhos que possam custar apenas 2 milhões de dólares, ao invés dos 40 milhões de um F-16; Aparelhos que numa hora custem apenas 500 dólares de combustível, contrastando com os cerca de 10 mil de um caça; Aparelhos que possam aterrar em qualquer sítio e não estejam dependentes de bases aéreas ou de porta-aviões; Aparelhos que não exijam conhecimento mecânico particularmente especializado em termos de manutenção.  

 

A aeronave Super Tucano construída pela Embraer

 

Além disso, estes aviões de guerra “low cost” já podem suportar muita da alta tecnologia de navegação e de detecção que os caças têm, e são ideais para operações de vigilância e de transporte de bombas. São mais difíceis de abater, devido à sua simples composição em termos de tubagens e de circuitos electrónicos, que os torna menos vulneráveis a rajadas de metralhadora.

 

Alguns países com orçamentos mais reduzidos na área da Defesa estão a investir nesta solução, e até mesmo os Estados Unidos reconhecem o valor deste tipo de aparelho e abordagem, estando a Força Aérea norte-americana a ponderar a aquisição de 100 avionetas e a Marinha a compra do avião Super Tocano à empresa brasileira Embraer.

 

Citado pela The Economist, Robyn Read, especialista do Air Force Research Institute, que pilotou este tipo de aviões no Cambodja nos anos 70, lembra que estes aparelhos podem também ter altifalantes, essenciais para se comunicar com eventuais alvos antes da decisão de atacá-los. Porque, como Winston Churchill dizia, “já que se tem que matar um homem, não custa nada ser-se educado”.

 

Seja como for, e apesar de uma desvalorização do poder aéreo táctico, os governos não deixaram de investir nos caças supersónicos, incluindo Portugal, dotado de uma esquadra de F-16 estacionada na Base Aérea de Monte Real.

 

Mig-21 da Força Aérea indiana

 

Nas últimas duas décadas, os Estados Unidos envolveram-se num projecto para construir aquele que seria o mais extraordinário caça até à data.

O F-22 Raptor, introduzido em 2005, foi desenvolvido pela Lockeed Martin e pela Boeing, e acabou por revelar-se um sorvedouro de dinheiro, gerando muitas críticas, tendo sido decidido pela administração americana que a sua produção iria terminar no final de 2011, com 187 caças.

 

O seu elevado custo de venda, na ordem dos 160 milhões de dólares por unidade, a proibição de exportação daquele avião por uma questão de segurança nacional e a ausência de missões reais de combate ar-ar, fizeram do F-22 um luxo insustentável para o Departamento de Defesa americano.

 

Eurofighter Typhoon a manobrar em "afterburner"

 

Também a Europa se aventurou nos últimos anos num grandioso projecto, com a produção do Eurofighter Typhoon, um caça de sonho, considerado único na sua classe.

 

Construído pelo consórcio Eurofighter GmbH (Alenia Aeronautica, BAE Systems e EADS), o caça europeu é um programa ambicioso, que dá emprego directa e indirectamente a 100 mil pessoas, no entanto, teve contornos mais moderados e realistas, com cada unidade a custar cerca de 60 milhões de euros e com a sustentabilidade comercial do projecto assegurada.

 

O Eurofighter está operacional desde 2003, com cerca de 200 unidades, estando em carteira mais de 400 encomendas, embora algumas destas estejam a ser revistas por causa das fortes restrições financeiras com que alguns governos se confrontam.

 

Regime norte-coreano convoca conferência para abrir caminho à sucessão de Kim Jong-il

Alexandre Guerra, 21.09.10

 

No início do mês, o Diplomata avançava com a informação de que algo de importante estava para acontecer em Pyongyang relativamente à sucessão do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-il. Hoje, a KCNA, a agência de notícias do regime norte-coreano, anunciou a convocação de uma conferência do Partido dos Trabalhadores para 28 de Setembro com o objectivo de eleger o dirigente máximo desta estrutura.

 

Tal como há muito se perspectiva, esta conferência, a primeira em muitos anos, deverá ser o momento para Kim Jong-un, o filho mais novo do "Querido Líder", ascender à posição de topo do partido. Um passo fundamental para Kim Jon-un suceder ao seu pai.

 

Um escritor que resistiu ao extremismo depois do Hezbollah ter morto o seu filho

Alexandre Guerra, 21.09.10

 

David Grossman

 

A revista New Yorker publicou esta semana um perfil de David Grossman, a propósito do seu mais recente livro, “To the End of the Land”. Judeu e um dos escritores israelitas mais consagrados da actualidade, Grossman enquadra-se ideologicamente num espectro que pode ser visto como uma espécie de esquerda intelectual, onde se pode encontrar nomes como Amos Oz ou A. B. Yehoshua, activistas e membros do Peace Movement.

 

Há uns anos, o autor destas linhas teve o privilégio de entrevistar Grossman no hotel Sheraton em Lisboa, e pôde conhecer um escritor com uma forte sensibilidade política, imposta pelas circunstâncias da sua própria vivência.

 

Talvez, por isso, ao longo de toda a conversa Grossman nunca tenha abdicado totalmente da visão securitária de Israel, uma necessidade intrínseca a qualquer cidadão israelita que sente a sua nação ameaçada.

 

Por outro lado, Grossman tinha plena consciência das dificuldades e das injustiças que se abatiam sobre o povo palestiniano, e apelava a uma solução pacífica e douradora. Hoje, esse sentimento parece ser ainda mais evidente, havendo uma consciência clara de que a manutenção da actual conjuntura condenará ao desastre toda a região.

 

David Grossman nunca acreditou na solução militar para resolução do conflito do Médio Oriente, embora tenha inicialmente defendido a intervenção israelita no Líbano em 2006 numa lógica de auto-defesa. No entanto, com o desenrolar dos acontecimentos no terreno, Grossman foi-se tornando um acérrimo crítico da campanha no Líbano.

 

A 10 de Agosto de 2006, David Grossman, acompanhado de Oz e de Yehohsua, realizam uma célebre conferência de imprensa para exortar o Governo israelita, liderado por Ehud Olmert, a implementar um cessar-fogo imediato e a iniciar negociações sob a égide das Nações Unidas, o que viria acontecer pouco tempo depois.

 

Ironicamente, e com o cessar-fogo a poucas horas de ser implementado, Grossman recebe a trágica notícia de que o seu filho, em serviço militar numa aldeia do Líbano, tinha morrido na sequência de um ataque do Hezbollah.

 

A violenta realidade do conflito do Médio Oriente abateu-se sobre Grossman, ao ceifar a vida do seu filho Uri, a duas semanas de completar 21 anos. Mas, nem perante esta tragédia pessoal Grossman deixou toldar as suas convicções pelo radicalismo, evitando a tentação de cair em extremismos. O seu novo livro é mais um sinal de clarividência de um homem marcado por um conflito sem fim à vista.

 

Registos

Alexandre Guerra, 20.09.10

 

Através de uma observação de Luís Paixão Martins na sua página de Facebook, o Diplomata ficou a saber que o Paulo Gorjão retomou a actividade do seu Bloguítica. Um regresso importante para o debate e análise na blogosfera.

 

A contribuição da União Europeia para os Objectivos do Milénio das Nações Unidas

Alexandre Guerra, 17.09.10

 

 

A poucos dias da importante cimeira das Nações Unidas que irá avaliar a evolução dos Objectivos do Milénio (ODM), traçados em 2000, a Comissão Europeia faz o seu próprio balanço relativo à contribuição dos Vinte e Sete para este esforço global.

 

Nos últimos 5 anos, por exemplo, a União Europeia garantiu segurança alimentar a 24 milhões de pessoas, providenciou educação primária a 9 milhões de crianças, garantiu acesso a água potável a 31 milhões de residências e assegurou a construção e manutenção de 36 mil quilómetros de estradas, entre outras iniciativas.

 

A cimeira da ONU, que se realizará em Nova Iorque na próxima semana, irá fazer uma avaliação do estado de evolução dos 8 ODM, estabelecidos na Cimeira do Milénio há dez anos, e que definiram 2015 como meta para: (1) reduzir significativamente a pobreza extrema no mundo; (2) alcançar a universalidade da educação primária; (3) promover a igualdade de género; (4) diminuir a mortalidade infantil; (5) melhorar os cuidados de maternidade; (6) combater a HIV/SIDA, a malária e outras doenças; (7) assegurar um desenvolvimento sustentável e (8) desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento.  

 

Restando apenas cinco anos para se cumprir com o que foi traçado em 2000, a União Europeia renovou este ano o seu compromisso e empenhamento com os ODM, sendo neste momento o principal doador mundial em termos de ajuda internacional ao desenvolvimento, tendo disponibilizado 49 mil milhões em 2009. Nesta perspectiva, a Comissão Europeia adoptou em Abril um ambicioso plano de acção de 12 pontos precisamente como forma de ajudar a alcançar os ODM em 2015.

 

Sarkozy discutiu com Barroso ao almoço, mas terá Barroso discutido com Sarkozy?

Alexandre Guerra, 16.09.10

 

Durão Barroso e Nicolas Sarkozy, hoje, na foto de família do Conselho Europeu/Reuters/Francois Lenoir

 

Durante o almoço de hoje no Conselho Europeu o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e o chefe de Estado francês, Nicolas Sarkozy, ter-se-ão envolvido numa “discussão violenta” a propósito da problemática dos ciganos que estão a ser expulsos de França com destino ao seu país de origem, a Roménia.

 

Esta informação foi avançada pelo primeiro-ministro búlgaro, Boyko Borissov, a um grupo de jornalistas, no entanto, até ao momento não são conhecidos mais pormenores sobre esta troca de palavras.

 

Borissov terá dito que foi o próprio Sarkozy a colocar o assunto na ementa, depois do tema ter sido abordado na reunião da manhã. Ao almoço Sarkozy voltou a insurgir-se contra as declarações da comissária da Justiça, Viviane Reding, que tinha comparado as acções do Executivo gaulês às perseguições nazis dos judeus durante a ocupação francesa.

 

Embora se desconheça o conteúdo e os contornos da conversa ao almoço, é de presumir que Sarkozy tenha adoptado um tom bastante agressivo na defesa da imagem da França e nas críticas à Comissão Europeia.

 

Conhecendo-se minimamente o perfil do Presidente francês não é difícil imaginar a rispidez das suas palavras e a vê-lo a contribuir para a tal “discussão violenta”. Menos provável (e o Diplomata coloca aqui muitas reticências ao relato de Borissov) é que Barroso tenha alinhado neste registo crispado, já que o seu estilo político, claramente marcado por uma paciência maoista e por um calculismo realista, não se enquadra nesta lógica.

 

Porém, e admitindo que o Presidente da Comissão Europeia ao almoço tenha dado uma réplica a Sarkozy no mesmo tom e registo, então Barroso, enquanto animal político, revela um lado desconhecido.

 

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