A aparente tranquilidade que se vive na zona fronteiriça entre o Norte de Israel e o Sul do Líbano poderá esconder uma situação potencialmente explosiva, pelos menos se se tiver em conta alguns indícios que têm surgido nas últimas semanas, perspectivando uma Terceira Guerra Israelo-Libanesa.
Um relatório de Daniel C. Kurtzer do Center for Preventive Action do think tank Council on Foreign Relations, publicado este mês de Julho, alerta para a possibilidade de eclodir nos próximos 12/18 meses um conflito entre Israel e o Hezbollah no Líbano. Se tal acontecer será o terceiro na história do Médio Oriente entra aquelas partes, tendo o último ocorrido no Verão de 2006, provocando a morte de mais de 1000 civis e o desalojamento de cerca de um milhão de pessoas em território libanês, assim como o abandono temporário de milhares de judeus no Norte de
Israel. Na sequência deste conflito o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a Resolução 1701.
Apesar de o relatório de Kurtzer constatar que a situação na fronteira entre Israel e o Líbano vive o período de maior acalmia da última década e que os militantes do Hezbollah têm tido uma atitude bastante passiva em relação a algumas manobras militares das forças de segurança israelitas (IDF), nomeadamente os voos de reconhecimento dos caças israelitas, a verdade é que existem indícios de que um conflito pode estar iminente entre as duas partes.
Kurtze não tem dúvidas ao referir no seu relatório que aquele movimento está mais forte militarmente quando comparado com 2006, violando, assim, a Resolução 1701.
Tal como aconteceu há quatro anos, tudo pode começar com incidentes bélicos de pequena escala, com “objectivos limitados” mas que rapidamente poderão extravasar para um conflito de grande intensidade. Por exemplo, o Hezbollah pode decidir atacar alvos específicos judaicos junto à fronteira, argumentando que está a “responder” aos voos israelitas ou à eventual morte de militantes seus devido a ataques de soldados do Exército hebraico.
Caso o rastilho seja aceso pelo Hezbollah, tal pode ficar a dever-se a duas razões, diz Kurtzer.
A primeira tem a ver com a morte recente do inspirador religioso xiita, Muhammad Hussein Fadl’Allah. O Hezbollah poderá querer dar novamente um ímpeto ao seu movimento, através da união dos xiitas libaneses, sendo que para cumprir tal objectivo nada melhor do que criar um clima de animosidade contra o histórico inimigo: Israel.
Este cenário é possível e, certamente, bem observado, no entanto, o Diplomata considera que dificilmente seja uma estratégia a seguir pelo Hezbollah.
Mais realista e previsível é a segunda razão apontada por Kurtzer. É importante sublinhar que quatro anos depois da Segunda Guerra Israelo-Libanesa, surge um factor novo e que tem sido um dos motivos de maior preocupação para a comunidade internacional e para Israel: o programa nuclear iraniano. Aqui, poderia ser o próprio regime de Teerão a “forçar” um conflito entre o Hezbollah e Israel, como forma de desviar as atenções da questão nuclear.
No entanto, e ironicamente, talvez seja Israel quem mais teria a ganhar com esta situação, já que poderia aproveitar um conflito com o Hezbollah para alargar o campo de batalha ao Irão, com o argumento de que este estaria a apoiar aquele movimento. Com um conflito regional instalado, Israel tinha o caminho aberto para levar a cabo os tão ambicionados ataques às instalações nucleares iranianas. Esta lógica é extensível à Síria.
Ainda sobre os prenúncios da Terceira Guerra Israelo-Libanesa, no início do mês, o secretário-geral Ban Ki-moon alertou para o perigo do “recomeço das hostilidades” entre Israel e o Hezbollah. Este receio surge na sequência do mais recente relatório da força da ONU no terreno, a UNIFIL, que apesar de referir que existem apenas suspeitas de estarem a ser transferidas armas para aquele movimento, verifica-se um aumento da tensão entre as duas partes no Sul do Líbano.
De acordo com alguns testemunhos, neste momento a situação não é crítica, mas sente-se um clima de tensão e de alguma violência de baixa intensidade na região do Sul do Líbano.
Para já, Ban Ki-moon informa que não existem provas concretas de transferência ilegal de armas para aquele movimento xiita, no entanto, em Abril último, já o Presidente israelita Shimon Peres, tinha acusado a Síria de estar a fornecer mísseis Scud ao Hezbollah. O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, disse ainda que militantes do Hezbollah estariam a receber treino na Síria para aprenderem a operar aqueles mísseis.
Washington apoiou estas acusações, embora nenhuma delas tenha sido provada, tendo Damasco rejeitado também qualquer envolvimento nesta questão.
O relatório de Kurtzer fala também na possível aquisição por parte do Hezbollah de mísseis terra-ar S-300, que poderiam colocar em risco a aviação israelita.