A Turquia fala em punição de Israel. Mas como e por quem?
Primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan/Umit Bektas/Reuters
O assalto das comandos da Marinha israelita à frota turca composta por seis embarcações com fins humanitários em águas internacionais na madrugada de Segunda-feira, e que fez pelos menos 10 mortos e cerca de 30 feridos, é, infelizmente, apenas mais um trágico episódio no âmbito do conflito israelo-palestiniano, a juntar a tantos outros que se perpetuam ao longo dos anos, muitos dos quais em clara violação do Direito Internacional mas que ficaram sem explicações ou qualquer tipo de punição.
O Diplomata quase dá como certo que o mesmo vai acontecer neste caso, apesar das manifestações de repúdio por parte da comunidade internacional, com o Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, à cabeça, e das ameaças por parte das autoridades de Ancara. O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse mesmo que a acção militar dos comandos israelitas à frota turca foi um “ataque sangrento” e que Israel devia ser punido.
A grande questão é saber quem vai assumir esse acto punitivo. Erdogan diz que Israel não deve testar a paciência turca e, efectivamente, foi bastante duro nas palavras. Mas, apenas com palavras de ameaça e com deliberações inócuas do Conselho de Segurança, Israel tem poucos motivos para se preocupar.
Uma atitude bem evidente no comportamento do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que se limitou a pedir desculpas pela morte de alguns inocentes, mas defendendo a acção dos comandos da Marinha hebraica e argumentado que actuaram em auto-defesa.
Se é verdade que a Turquia tem ao seu dispor alguns meios de pressão sobre Israel, nomeadamente ao nível de parcerias militares, resta saber até onde é que Ancara está disposta a ir.
Por outro lado, já se percebeu que Washington pouco ou nada deverá fazer. Aliás, o silêncio do Presidente Barack Obama sobre esta matéria começa a ser constrangedor. Washington limitou-se a juntar a outras nações no pedido de uma investigação "transparente".
Quanto à União Europeia nem vale a pena falar, e o mesmo se aplica ao Quarteto, liderado por Tony Blair.
Um papel mais interessante poderá ter a NATO a desempenhar a médio prazo, já que a Turquia é membro da Aliança e um dos principais aliados dos Estados Unidos. O próprio Secretário Geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, já interveio e exortou Israel a libertar os navios e activistas.
Perante a escalada de críticas, a situação na Faixa de Gaza poderá tornar-se insustentável para Israel, podendo haver aqui uma janela de oportunidade para a NATO assumir um papel de vigilância naquelas zonas do Mediterrâneo, onde aliás tem uma vasta experiência.
Seria uma medida interessante para a comunidade internacional e que poderia igualmente proporcionar uma saída airosa para Ancara que, assim, evitava uma escalada político-diplomática com Telavive e, ao mesmo tempo, contribuía para a resolução de um problema que aflige constantemente Gaza: o direito de navegação nas suas águas e o acesso ao seu porto. Claro está que esta medida seria sempre bem vista pelos palestinianos, mas rejeitada à partida por Israel.