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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Depois do concerto celebrativo da Queda do Muro, Waters vai recriar o histórico The Wall

Alexandre Guerra, 13.06.10

 

Há 20 anos, mais concretamente a 21 de Julho de 1990, a cidade de Berlim assistia a um dos mais míticos e cénicos concertos rock para celebrar a Queda do Muro, que ocorrera a 9 de Novembro de 1989. Na altura, Roger Waters, já há muito afastado dos Pink Floyd, reunira-se então aos restantes membros da sua antiga banda para recriar o concerto The Wall, que tinha sido tocado ao vivo apenas algumas vezes no início dos anos 80, dada a complexidade e os custos elevados de produção de um espectáculo daquele tipo.

 

Lançado em 1979, algumas das músicas do The Wall acabaram por se tornar num símbolo para várias causas, nomeadamente, políticas e sociais. Das muitas imagens históricas associadas à Queda do Muro de Berlim e aos acontecimentos seguintes que culminaram com a reunificação da Alemanha a 3 de Outubro de 1990, o concerto The Wall, ao qual assistiram no local mais 300 mil pessoas e com transmissão em directo para mais de 50 países, faz sem dúvida parte desse registo.

 

O concerto de Berlim transformou-se num acontecimento de contornos históricos, realizado numa atmosfera política e social ímpar resultante de um dos períodos mais marcantes do século XX, compreendido entre 1989 – com os primeiros movimentos de massas de contestação ao regime soviético e “brechas” na Cortina – e finais de 1991 – com a desintegração da União Soviética.

 

Um período conturbado, mas social e politicamente fértil, e que representou uma ruptura sistémica, que viria a mudar drasticamente o paradigma das Relações Internacionais.

 

Duas décadas depois, Roger Waters anunciou que pretende recriar novamente o The Wall durante o próximo ano em 25 cidades europeias, sendo que Lisboa deverá ser uma delas.

 

Certamente que hoje não se respira a atmosfera política de há duas décadas, esvaziando, de certa forma, o significado político e social dos concertos que se perspectivam, mas, seja como for, Roger Waters não deixará certamente de fazer referência aos muitos “muros” que ainda são necessários derrubar nalgumas partes do mundo.

 

Estados Unidos e México envolvidos numa "guerra" sem fim à vista

Alexandre Guerra, 11.06.10

 

Agentes da Border Patrol examinam uma carga de marijuana na fronteira com o México/AFP

 

Vinte e duas mil pessoas perderam a vida no México desde 2006, a maioria devido a actividades relacionadas com a produção e tráfico de droga. Números impressionantes e que o Diplomata desconhecia, apesar de ter uma ideia da violência que assola aquele país no âmbito da problemática do narcotráfico.

 

Este assunto e a imigração ilegal são as duas grandes preocupações transfronteiriças entre o México e os Estados Unidos. E naturalmente são também os dois grandes eixos de cooperação entre as autoridades mexicanas e norte-americanas. E exemplo disso foi o Project Deliverance, uma gigantesca operação conjunta levada a cabo nos últimos 22 meses e que culminou esta Quarta-feira com a detenção de mais de 400 pessoas em 16 estados americanos e a apreensão de 150 milhões de dólares, 2,2 toneladas de cocaína, 62 toneladas de marijuana e 500 armas. Durante estes quase dois anos foram detidas ao todo mais de 2 200 pessoas.

 

O Procurador-Geral americano, Eric Holder, classificou com sucesso a operação e adiantou que foi um duro golpe para os cartéis no México, no entanto, alertou para o facto de tratar-se apenas de uma batalha ganha numa longa guerra que ainda está para durar. Uma das preocupações neste momento da DEA (Drug Enforcement Administration) é desmantelar todos os canais de distribuição nos Estados Unidos. O Project Deliverance foi implementado de acordo com esses objectivos.

 

Apesar dos esforços em curso, a situação no México, sobretudo nalguns estados mexicanos, parece estar a deteriorar-se, tendo o Presidente Felipe Calderón admitido recentemente junto do seu homólogo norte-americano, Barack Obama, necessitar da ajuda dos Estados Unidos para combater o flagelo do narcotráfico e do crime organizado. Os cerca de 50 mil soldados mexicanos mobilizados para este “combate” não estão a ter os resultados esperados.

 

A declaração de Calderon está em consonância com aquilo que pensam alguns responsáveis mexicanos, que acusam Washington de não estar a envidar os esforços necessários. Até ao momento, os Estados Unidos contribuíram com 1,3 mil milhões de dólares ao abrigo do pacote Merida Initiative.

 

O próprio Eric Holder admitiu que o Governo americano poderia estar a fazer mais, estando por isso a aguardar que o Congresso aprove uma ajuda extra de 500 milhões de dólares. O Presidente Obama está a ponderar ainda mobilizar 1200 efectivos da Guarda Nacional para a zona fronteiriça, com o objectivo de reforçar a vigilância e o controlo efectuado pela Border Patrol.

 

Efectivamente, é do interesse de Washington envolver-se ainda mais no combate ao narcotráfico no México já que, de acordo com um relatório recente do Departamento de Justiça do Estados Unidos, os grupos de crime organizado mexicanos estão a expandir a sua actividade para solo norte-americano. Além disso, a produção de heroína duplicou desde 2008, assim como o aumento de outras substâncias.

 

Kevin L. Perkins, director assistente da Divisão de Investigação Criminal do FBI, disse que o narcotráfico ao longo da fronteira com o México tem contribuído para o agravamento do consumo de droga nos grandes centros urbanos e para o aumento de violência nas zonas transfronteiriças, de raptos, de extorsão e de tráfico humano.

 

Estes factores têm provocado tensão entre os Estados Unidos e o México, sendo a recente lei aprovada no Arizona um bom exemplo. Através do novo mecanismo legal, as forças policiais daquele estado vão ter que obrigatoriamente confirmar o estatuto de imigração de qualquer pessoa suspeita de estar ilegal no país. Esta lei está a provocar uma forte reacção negativa por parte do México, compreensível uma vez que estima-se que ¾ dos 12 milhões de imigrantes ilegais nos Estados Unidos sejam mexicanos.

 

Também na Segunda-feira passada, o México indignou-se com a morte de um jovem mexicano, atingido mortalmente pela Border Patrol, na fronteira em El Paso, sendo o segundo incidente fatal do género em duas semanas. Holder informou de que está um inquérito em curso.

 

A Taxa Tobin começa a ter alguns apoios políticos de peso

Alexandre Guerra, 09.06.10

 

Aquilo que era visto há uns anos como um devaneio de algumas correntes mais esquerdistas e liberais, algumas delas inspiradas na Nova Esquerda, tendo o Presidente brasileiro Lula da Silva como referência, e associadas ao Fórum de Porto Alegre, começa a assumir uma forma mais sustentada.

 

O Diplomata está a referir-se à famosa e polémica Taxa Tobin, que prevê uma taxação sobre as transacções financeiras internacionais. Desde há alguns anos que se discute este assunto, no entanto, o debate não tem passado do nível académico e poucos foram os líderes políticos de Governo que quiserem realmente discutir de forma séria esta questão.

 

É verdade que, por exemplo no caso português, partidos como o Bloco de Esquerda têm insistido na aplicação da Taxa Tobin, porém, o seu distanciamento do poder aliado a um discurso, por vezes extremado, tem relegado para a irrelevância a sua posição nesta matéria.

 

O mesmo já não se pode dizer de outras figuras políticas que ao pronunciarem-se sobre a eventual aplicação da Taxa Tobin deram um novo ímpeto ao assunto.

 

Atravessando-se uma das piores crises económicas dos últimos 100 anos, motivada, em parte, por excessos e ausência de controlo do sistema financeiro, líderes como o Presidente francês, Nicolas Sarkozy, já vieram dizer há uns meses que talvez fosse interessante ponderar a aplicação daquela taxa.

 

Ontem, foi a vez do comissário europeu, Michel Barnier, responsável pelo Mercado Interno e Serviços, em entrevista, defender pessoalmente a aplicação da Taxa Tobin. Uma taxa que deve o seu nome ao economista americano, James Tobin, que nos anos 70 foi o primeiro a sugerir um mecanismo financeiro sobre as transacções internacionais.

 

Com estas vozes a fazerem-se ouvir, e tendo em conta o seu peso político e institucional, e numa altura em que vários países adoptam medidas de austeridade, a Taxa Tobin começa a deixar de ser vista como um “devaneio”, para ser encarada com uma política racional em tempo de crise.

  

Mais informação sobre a sucessão de Kim Jong Il...

Alexandre Guerra, 07.06.10

 

Reuters

 

O El País publicou hoje um artigo bastante interessante sobre o possível cenário de sucessão do líder norte-coreano, Kim Jong Il. Como informação de enquadramento, o Diplomata sugere ainda a leitura dos textos de sua autoria: A aparição de Kim Jong Il, Estará Kim Jong Il a preparar a sucessão ou apenas a consolidar poder na base de apoio? e Sobre a sucessão de Kim Jong Il...

 

A "utopia negativa" de João Aguiar sobre uma Europa dominada por grupos económicos

Alexandre Guerra, 05.06.10

 

João Aguiar, falecido na passada Quinta-feira, é um dos escritores portugueses mais apreciados pelo autor destas linhas, não apenas devido à sua perspectiva histórica materializada nalgumas das suas obras, mas pela criatividade e sensibilidade com que enquadrou muitas das narrativas em temáticas muito actuais.

 

Embora não necessitasse de qualquer pretexto para chamá-lo a este espaço, no momento em que foi comunicada a morte de João Aguiar, houve de imediato uma obra que veio à memória do Diplomata e que se adequa perfeitamente neste blogue.

 

Não é propriamente dos seus romances mais conhecidos e não será um dos mais brilhantes em termos literários, mas é sem dúvida revelador da sua capacidade de análise e da sua sensibilidade para as problemáticas contemporâneas.

 

“O Jardim das Delícias” (2005) é um romance que assume alguns contornos de filosofia política, com traços de “utopia negativa” em relação a uma Europa, neste caso uma “grande Federação Europeia”, dominada por uma cúpula de ideologia única face impondo-se a uma massa acrítica e desinformada.

 

A Federação Europeia de que Aguiar fala é uma entidade que evoluiu a partir da União Europeia e é liderada por um directório de países que, por seu lado, estão condicionados pelos grandes grupos económicos. As políticas vão sendo implementadas na defesa dos interesses de uma elite, à medida que é assegurada uma certa ordem entre as massas, sem que estas tenham capacidade de se questionarem ou confrontarem o poder governante.

 

De certa forma, é crítico em relação ao estado amorfo que as massas evidenciam perante os grandes desafios que se lhes deparam na Europa, mas o livro de Aguiar podem também pode ser visto com um ensaio premonitório da crise financeira e especulativa espoletada nos últimos tempos, provocada em parte pela irresponsabilidade de gigantescas entidades financeiras, muitas das quais condicionando a acção dos Estados.

 

“O Jardim das Delícias” é sem dúvida uma leitura recomendada e muito pertinente nos dias que correm.

 

Se o Diplomata tivesse que eleger o local mais anárquico da Terra... Simples, Mogadishu

Alexandre Guerra, 04.06.10

 

 

A esquecida e infernal cidade de Mogadishu vive mais um dia "normal" de combates ferozes nas suas ruas, fazendo desta vez 28 mortos e cerca de 60 feridos. Dificilmente haverá na terra local mais anárquico que Mogadishu, onde diariamente se digladiam diferentes facções.

 

Desta vez, e seguindo a lógica dos últimos tempos, os confrontos foram entre as forças governamentais e o movimento islâmico al-Shabab, uma espécie de “franchisado” da al-Qaeda na Somália, que tem vindo a ganhar influência naquela região.

 

As fontes são pouco claras quanto à origem destes mais recentes confrontos, mas, basicamente, a fonte do problema reside no facto da Somália ser o melhor exemplo de um “Estado falhado”, um país que parece uma manta de retalhos, sem Governo central efectivo desde 1991, e com várias parcelas do seu território a serem controladas por diferentes “senhores da guerra”.

 

O movimento al-Shabab tem vindo a ganhar o controlo de muitas zonas da Somália, sobretudo a Sul, impondo a “sharia” e, certamente, preocupando Washington pelas possíveis implicações terroristas que podem advir desta situação. A Somália tem todas as condições para se tornar um vespeiro de terroristas, tendo as forças de segurança norte-americanas começado a prestar mais atenção a esta região depois do 11 de Setembro.

 

Não é por isso de estranhar que os Estados Unidos, juntamente com os Estados vizinhos da Etiópia e do Uganda, estejam empenhados em providenciar ao Governo do Presidente Sheikh Sharif Ahmed o apoio necessário para garantir o mínimo de estabilidade, para que o Executivo se possa instalar em segurança na capital somali. No entanto, e tendo em conta a trágica experiência americana naquela região, são os soldados etíopes e ugandeses que mais se fazem sentir no território, criando um factor acrescido de conflito com os militantes islâmicos, que vêem naqueles soldados forças invasoras.