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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Da história de espiões à teoria da conspiração

Alexandre Guerra, 29.06.10

 

Barack Obama e Dimitri Medvedev há uns dias em Washington/Foto: AP/RIA Novosti

 

Por detrás de uma boa história de espionagem existe sempre uma teoria da conspiração. Apesar do FBI ter informado hoje que a detenção dos 10 alegados agentes russos no Domingo se ficou a dever à suspeita de que estariam para abandonar os Estados Unidos, Moscovo acusa as autoridades americanas de não estarem a fornecer a informação necessária sobre este assunto.

 

O Governo russo recusa qualquer envolvimento neste caso, acusando as autoridades americanas de tecerem acusações infundadas num tom de regresso à Guerra Fria. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, disse que está a aguardar uma explicação de Washington.

 

O primeiro-ministro Vladimir Putin já manifestou a sua preocupação junto do antigo Presidente americano, Bill Clinton, que se encontrava em Moscovo para uma conferência. Putin receia que este caso possa afectar “as coisas positivas alcançadas nos últimos anos”. Uma fonte da administração americana citada pelo New York Times, revelava que o Presidente Barack Obama também estava desconfortável com o “timing” da operação.

 

Os receios de Putin podem ter algum fundamento, uma vez que, segundo a informação disponibilizada nos documentos da acusação levados a tribunal, os alegados espiões terão sido treinados pelo Russian Foreign Intelligence Service (SVR). O FBI informou ainda que aqueles estariam a actuar em solo americano há vários anos.

 

Moscovo tem questionado também o “timing” desta detenção, já que surge poucos dias após uma visita do Presidente russo, Dmitri Medvedev a Washington, que ocorreu num ambiente amistoso, demonstrando um dos melhores momentos nas relações entre os Estados Unidos e a Rússia desde o fim da Guerra Fria. “O momento em que [a detenção] foi feita foi escolhido com um certo requinte”, disse Lavrov, com algum sarcasmo à mistura.

 

O chefe da diplomacia sugere que existe alguém ou algum grupo poderoso e influente na estrutura de poder americana que tem interesse em “minar” as boas relações entre Moscovo e Washington.

 

Também Gennady Gudkov, antigo agente do KGB e actual vice-presidente do Comité de Segurança da Duma, disse ao The Moscow Times que esta operação do FBI pode ter como objectivo descredibilizar a política de Obama face à Rússia.

 

“Agora, milhões de americanos vão pensar que a Rússia queria apenas ser parceira dos Estados Unidos para que pudesse ir atrás de segredos americanos como na Guerra Fria”, disse Gudkov. “Parece o trabalho de alguém muito poderoso e que está na oposição política a Obama, ou um ‘falcão’ militar ou um grupo de ‘intelligence’ que não vejam com bons olhos o restabelecimento das relações com a Rússia”, acrescentou Gudkov.

     

Uma história de espiões à antiga

Alexandre Guerra, 28.06.10

 

Afinal, quase 20 anos depois do fim da Guerra Fria, Moscovo e Washington ainda parecem gostar dos “jogos” de espiões. Em comunicado, o Departamento de Justiça norte-americano anunciou esta Segunda-feira a detenção de alegadamente 10 agentes secretos ao serviço da Rússia.

 

Oito destes indivíduos foram ontem presos pelo FBI, sob a acusação de terem sido incumbidos de missões “deep cover” a longo prazo nos Estados Unidos em nome do Governo russo. Outros dois eventuais agentes foram também detidos, debaixo das mesmas acusações mas em processos diferentes.

 

Os supostos espiões exerciam funções para o Governo russo nos Estados Unidos sem que tivessem efectuado qualquer notificação prévia ao Ministério Público, tal como a lei federal exige. As autoridades americanas acreditam que os indivíduos estariam a actuar sob disfarce em manobras de “intelligence”.

 

Os detidos foram apresentados em tribunal durante o dia de hoje debaixo da acusação de conspiração por actuarem em solo americano como agentes para um Governo estrangeiro sem terem notificado previamente o Procurador-Geral. Nove dos dez supostos espiões foram também acusados de lavagem dinheiro. Existe ainda um alegado 11º primeiro espião que se mantém em fuga.

 

Congresso dá "vitória" a Obama e a política impõe-se à economia e finança

Alexandre Guerra, 25.06.10

 

Senadores Richard Shelby, Christopher Dodd e Jack Reed/Foto: Jonathan Ernst/Reuters

 

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chegou a Toronto para participar nas cimeiras do G8 e do G20 durante este fim-de-semana, após ter obtido uma importante vitória a nível interno, com o acordo no Congresso sobre a reforma do sistema financeiro americano. Obama tem motivos para congratular-se porque esta nova lei materializa a vitória numa “guerra” que desencadeou contra as instituições económicas e financeiras americanas que provocaram uma crise no Outono de 2008 de contornos ímpares nas últimas décadas.

 

Além disso, é a concretização de uma nova visão ideológica que olha com desconfiança e desdém para os mecanismos clássicos e conservadores que têm regido aquilo que sempre foi conhecido como sistema capitalista e, sobre o qual, a América cresceu durante décadas.

 

Com esta nova lei, negociada durante várias horas entre a Câmara dos Representantes e o Senado, Obama demonstrou que a política continua a estar acima da economia e da finança, por mais poderosos que sejam os grupos económicos e financeiros.

 

Obama adoptou desde o início um tom bastante agressivo contra alguns dos agentes económico-financeiros, nomeadamente a banca, fundos de investimento e corretoras, arriscando, de certa forma, capital político. No entanto, o Presidente revelou destreza e perseverança na forma como conduziu o processo, mantendo uma pressão constante sobre os principais responsáveis da hecatombe, tendo, nas suas palavras, conseguido que o Congresso chegasse a um consenso sobre uma lei que consigna 90 por cento das medidas que pretendia.

 

Assim, quase dois anos após o colapso do sistema financeiro, o modelo de regulação nos Estados Unidos sofre uma autêntica revolução, algo impensável na União Europeia, onde os actores financeiros e económicos poderão continuar a aplicar os modelos vigentes falidos e perniciosos perante a passividade dos governantes e das entidades reguladoras.

 

Com a nova lei americana, que deverá ser votada no Congresso na próxima semana, Obama pretende erradicar o paradigma antigo e evitar que os americanos voltem a sofrer com os excessos e especulações de um grupo restrito de actores financeiros. Este foi aliás um dos factores mais importantes para a “vitória” de Obama, já que desde o início da sua jornada o Presidente envolveu a opinião pública, tornando-a parte interessada no processo legislativo.

 

O próprio Secretário do Tesouro, Timothy F. Geithner, colocou as coisas da seguinte forma: “Todos os americanos têm uma palavra a dizer sobre esta lei. Vai oferecer às famílias a protecção que merecem, ajudar a salvaguardar a sua segurança financeira e a proporcionar aos empreendedores da América o acesso ao crédito que precisam para se expandir e inovar.”

 

Embora nobres e comunicacionalmente eficazes, as palavras de Geithner são exageradas, sendo certo que a nova lei não será a resposta para todos os males, mas é sem dúvida uma resposta importante aos acontecimentos que se verificaram nos últimos dois anos e que tornaram urgente a mudança de paradigma e a adopção de novos modelos reguladores.

 

Momentos com história

Alexandre Guerra, 23.06.10

 

Doug Mills/New York Times

 

O Presidente Barack Obama fez-se hoje acompanhar na Casa Branca pelo seu vice, Joseph Biden, pelo comandante do CENTCOM, o general David H. Patreaus, e pelo Secretário de Defesa, Robert Gates, para anunciar a demissão do general Stanley A. McChrystal, até então comandante das forças americanas no Afeganistão.

 

Desde ontem que se esperava esta medida, depois do próprio McChrystal, numa tentativa de antecipação aos "estragos", ter tornado públicas declarações suas que vêm no próximo número da Rolling Stone, e que são muito críticas com Obama e outras altas figuras da administração pela forma como estão a gerir a campanha no Afeganistão. De pouco valeram os pedidos de desculpa do general.

 

David Cameron pede desculpa para sarar as "feridas" do "Bloody Sunday"

Alexandre Guerra, 15.06.10

 

 

Familiares das vítimas do "Bloody Sunday" congratulam-se com o Saville Report/Guardian

 

Quase 40 anos depois, o chefe do Governo britânico, David Cameron, “lamentou profundamente” a morte “injustificada” de 14 pessoas a 30 de Janeiro de 1972, na localidade de Londonderry, quando tropas do Regimento de Paraquedistas britânico abriram fogo sobre um grupo de manifestantes pela defesa dos direitos civis na Irlanda do Norte.

 

O trágico acontecimento ficou conhecido como “Domingo Sangrento” e foi sempre uma “ferida” aberta na sociedade britânica e um espinho nas relações políticas e sociais entre unionistas e republicanos na região do Ulster.

 

As declarações de David Cameron surgem na sequência da apresentação do Saville Report, resultante do processo de inquérito aos acontecimentos do Domingo Sangrento, e que se prolongou durante 12 anos. Com 5000 páginas, mais de 2500 testemunhos escritos e 922 orais, o Saville Report concluiu que as forças militares britânicas agiram precipitadamente ao terem disparado sem qualquer tipo de aviso sobre as pessoas que não representavam qualquer ameaça.

 

Cameron considerou que o Exército britânico agiu de forma errada na altura, uma opinião partilhada pelo actual chefe do Estado Maior, General Mike Jackson, que corroborou as palavras do primeiro-ministro proferidas hoje na Câmara dos Comuns.

 

No entanto, e tendo em conta a sensibilidade deste tema, nem todos concordam com estas conclusões, nomeadamente os sectores unionistas mais radicais. Por outro lado, é preciso saber se o ministério público da Irlanda do Norte vai proceder a alguma acusação criminal a soldados envolvidos nos acontecimentos de Londonberry.

 

É muito provável que tal não aconteça, de modo a evitar-se o reavivar de situações tensas e de conflito, numa altura em que se conclui o processo de devolução de poderes para Stormont.

 

A importância deste relatório reveste-se sobretudo de consequências políticas, com o reconhecimento formal por parte de Londres do seu erro e da sua responsabilidade nas mortes de 1972. Como diz Mark Davenport, editor de política da BBC News, as conclusões do Saville Report representam acima de tudo um momento de “júbilo e de “justiça” para os familiares das vítimas.

 

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