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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Leituras

Alexandre Guerra, 19.05.10

 

O "jogo" nuclear entre o Irão e o resto do mundo parece não ter fim. O regime de Teerão continua empenhado em desafiar o Conselho de Segurança das Nações Unidas, ao mesmo tempo que vai revelando gestos de aparente boa vontade negocial, sempre que perspectiva vir a ser alvo de novas sanções. Em Iran, the Nuclear, the Deal and the Council, o New York Times aborda em editorial de forma objectiva e sucinta a estratégia do Irão em todo este processo.

  

O mito da trilogia de Stieg Larsson numa espécie de JFK à sueca

Alexandre Guerra, 17.05.10

 

Este fim-de-semana, durante uma conversa amena sobre literatura, o Diplomata descobriu mais uma entusiasta leitora de Stieg Larsson, o escritor que morreu misteriosamente em 2004 após ter terminado uma trilogia que, publicada postumamente, se veio a revelar um fenómeno comercial, que até a esta Primavera já tinha vendido 20 milhões de cópias em 41 países.

 

Pela terceira vez, num espaço de pouco tempo, o autor destas linhas ouviu uma pessoa a falar de forma tão apaixonada sobre esta trilogia. Curiosamente, todos os relatos foram de mulheres, que revelaram uma forte atracção pela escrita e pelo enredo de Larsson que, segundo percebeu o Diplomata, envereda num jogo de teorias, cenários e conspirações políticas e policiais que, a determinada altura, vão-se misturando com a realidade, indiciando que estaria a associar alguns acontecimentos a factos até então por desvendar.

 

O assassinato do antigo primeiro-ministro escandinavo, Olof Palme, em 1986, em circunstâncias ainda hoje pouco claras, parece ser um dos temas mais sensíveis desta trilogia, ou não fosse considerado como uma espécie de JFK à sueca.

 

À medida que o processo de investigação oficial foi conduzindo a lado algum e que os curiosos investigadores emergentes iam procurando por pistas, foram vários os livros publicados com teorias da conspiração.

 

Na verdade, o assassinato de Olof Palme alimentou uma tendência de ficção policial na Suécia e que, segundos os amantes das teorias da conspiração, terá extravasado para a realidade com a trilogia de Larsson. Dizem os crentes de Larrson, que estaria perto de desvendar segredos vitais para determinados grupos de interesse.

 

Verdade ou não? Este é pelo menos o “mito” que está associado à trilogia de Larsson. A verdade é que tantos anos passados são ainda várias as teorias que apontam para diferentes autores do crime, desde guerrilhas curdas a agentes secretos sul africanos, passando por revolucionários alemães.

 

Stieg Larsson morreu em 2004 com apenas 50 anos. Escritor e jornalista sueco, Larsson notabilizou-se pelos três romances policiais,”The Millenium Series”, publicados após a sua morte.

 

Activista político e social dedicado a combater o racismo e a extrema-direita, Larsson desenvolveu parte do seu trabalho precisamente a estudar estas temáticas, nomeadamente grupos neo-nazis, levando à criação da Expo-foundation, uma organização com o objectivo de travar o surgimento daquele tipo de grupos extremistas.

 

O seu conhecimento nestas áreas levou-o a dar várias palestras, ficando desde os anos 90 “marcado” pelos grupos de extrema-direita como um pessoa hostil aos princípios defendidos por aqueles.

 

Desde então que Larsson e a sua mulher viviam rodeados de algumas medidas de segurança.

 

O Diplomata e o Papa na Av. da Liberdade

Alexandre Guerra, 12.05.10

 

Acidentalmente, ou não (estas coisas da providência divina têm sempre muito que se lhe diga), o autor destas linhas conseguiu ver ontem (Terça) à noite o Papa Bento XVI, numa passagem literalmente iluminada pelas luzes interiores do Papamóvel, realçando ainda mais o branco angelical das suas vestes e, já agora, do seu Mercedes.

 

Um final de dia de trabalho, perfeitamente normal, acabaria por se tornar para o Diplomata numa experiência de proximidade com uma das pessoas com mais autoridade (capacidade de influenciar sem recurso à força ou ameaça) e influência do planeta.

 

Quando o autor destas linhas percorria a calçada da Avenida Liberdade já o dia estava adormecido, com o trânsito ainda cortado e algumas pessoas (poucas) por ali, eis que começam a surgir os primeiros batedores, anunciado que Bento XVI estaria de regresso da missa dada no Terreiro do Paço.

 

Como se uma força magnética puxasse o autor destas linhas, a inevitabilidade do encontro com o portador do Anel do Pescador estava traçada. Junto às grades de protecção, este “seguidor” viu-se estranhamento a olhar para Bento XVI, que com sorriso ameno mas sincero, emanava toda a sua autoridade e influência, ostentando uma imagem transcendente.  

 

De imediato saltou à memória do Diplomata um texto escrito aqui há uns meses em que se abordou a problemática do poder do Vaticano: a sua conquista, a sua manutenção e a sua projecção.

 

O poder do Vaticano no sistema internacional foi sempre de forma evidente que mesmo sem um único batalhão, o Papa mereceu o respeito de todos os chefes de Estado como se tivesse a apoiá-lo vários exércitos. Esta afirmação de poder esteve sempre presente no Vaticano, o qual fez de todos os seus actos manifestações de grandeza.

 

O Papa, enquanto objecto de estudo, é um caso particularmente interessante e diferenciado dos demais líderes do sistema internacional, uma vez que o exercício e a projecção do seu poder adquirem contornos específicos.

 

Na verdade, dificilmente outro líder teria o mesmo poder de atracção irracional sobre o autor destas linhas.

 

Uma questão religiosa? Perguntará o leitor.

 

O Diplomata diria antes que é uma questão de autoridade e de influência. E para isso não são precisos Exércitos.

 

À semelhança de Bush, também Obama já vai na segunda nomeação para o Supremo

Alexandre Guerra, 10.05.10

 

Quando o ex-Presidente George W. Bush teve a rara oportunidade de nomear dois juízes para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos, John Roberts, em 2005, e Samuel Alito, um ano depois, conseguiu impor um registo mais conservador naquele órgão, cujos seus membros são vitalícios.

 

Estas nomeações foram vistas como um dos principais legados da administração republicana de Bush para a posteridade, já que a sorte das circunstâncias permitiu-lhe perspectivar marcar ideologicamente futuras decisões sobre as questões mais fracturantes da sociedade americana.

 

Não se esperava que tão cedo um outro Presidente tivesse a oportunidade de voltar a ter uma interferência tão influente na composição do Supremo. Mas, depois do Presidente Barack Obama ter tido a oportunidade de nomear Sonia Sotomayor logo no seu primeiro ano de mandato, esta Segunda-feira é tornada pública a escolha de outra mulher, Elena Kagan, para o Supremo. Tal só foi possível com o afastamento por vontade própria do juiz John Paul Stevens.

 

Kagan, próxima de Obama e considerada liberal em várias matérias, torna-se assim a 112ª nomeada para o Supremo e a segunda mulher escolhida por Obama.

  

Declarações preocupantes, mas não surpreendentes

Alexandre Guerra, 09.05.10

 

Declarações preocupantes, mas não surpreendentes. É pelo menos esta a leitura que o Diplomata faz das revelações do Procurador-Geral dos Estados Unidos, Eric Holder, ao confirmar que as autoridades têm provas de que por detrás do atentado falhado na Times Square no passado dia 1 estiveram talibans paquistaneses.

 

Holder informou que militantes terão participado activamente na preparação do atentado, assim como no financiamento à operação. As autoridades americanas já detiveram um cidadão paquistanês nascido nos Estados Unidos, que terá colaborado e conduzido à informação agora revelada pelo Procurador-Geral.

 

Faisal Shazhad, de 30 anos, terá revelado aos investigadores que foi apoiado no Paquistão, mais concretamente na região do Waziristão Norte, um forte bastião dos talibans paquistaneses.

 

Esta revelação é muito importante, já que é a primeira vez, pelo menos que haja conhecimento, que os talibans paquistaneses prepararam uma operação terrorista nos Estados Unidos e, aparentemente, autónoma da hierarquia dos talibans afegãos.

 

O anúncio de Holder é também uma forma da administração do Presidente Barack Obama pressionar o regime de Islamabad para actuar com mais agressividade nas zonas tribais do Paquistão. Washington está cada vez mais preocupado com a situação vivida naquele país.

 

No início de Abril, o Diplomata escrevia aqui que o Paquistão vivia uma autêntica insurreição islâmica, mas que poucos queriam admitir. No entanto, a ligação entre a tentativa de atentado na Times Square e as estruturas terroristas no Paquistão começam a deixar pouca margem ao regime paquistanês para continuar com uma atitude dúbia em relação à postura do seu Exército face aos talibans.

  

Goodluck formaliza presidência da Nigéria e potencia tensão entre muçulmanos e cristãos

Alexandre Guerra, 06.05.10

 

O Diplomata dava conta neste espaço em Março de um golpe palaciano que estava a decorrer na Nigéria, embora num registo bastante tranquilo e devidamente validado pela Assembleia Nacional. Aproveitando a ausência do então Presidente de jure Umaru Yar'Adua, devido a doença, Goodluck Jonathan tinha assumido a presidência de facto do país a 9 de Fevereiro, tendo um mês depois dissolvido o Governo, para colocar homens da sua confiança nas posições ministeriais.

 

Hoje, Goodluck foi empossado formalmente Presidente da Nigéria depois da morte de Umaru Yar’Adua ontem à noite, garantindo que se manterá em funções até às eleições presidenciais do próximo ano. Entretanto, as suas principais mensagens foram de comprometimento numa reforma eleitoral e no combate à corrupção.  

 

Apesar das suas intenções aparentemente saudadas pela população, os analistas acreditam que Goodluck Jonathan irá criar todas as condições para que possa ser eleito Presidente nas eleições de 2011.

 

No entanto, caso isto venha a acontecer, pressupõe uma alteração nos estatutos do Partido Popular Democrático, ao qual Goodluck pertence assim como os últimos presidentes da Nigéria. A tradição do partido impõe que se vá alternando a religião de cada candidato presidencial, por modo a criar um equilíbrio entre as várias sensibilidades religiosas da Nigéria.

 

Aliás, o afastamento em Março dos ministros de Umaru Yar'Adua e a forma como Goodluck se impôs no poder está a gerar muita tensão entre os apoioantes do Presidente falecido, muçulmanos do Norte, e os seguidores do novo chefe de Estado, cristãos do Sul.

 

De acordo com a lógica do Partido, o próximo candidato deverá ser muçulmano, o que teoricamente afasta qualquer hipótese de Goodluck, mas certamente que este não irá aceitar passivamente este princípio. 

 

Uma selecção que continua à procura de um Estado

Alexandre Guerra, 04.05.10

 

Jogadores de Itália e da Palestina no Gazan Football “World Cup”

 

“Uma selecção em busca de um Estado”. Foi o título de um artigo que o autor destas linhas fez para o jornal A Bola em 2001, aquando de uma das suas passagens pelo Médio Oriente. Na altura, os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza viviam momentos de grande violência e de tensão, com a intifada de al-Aqsa a fervilhar pelas ruas de cidades como Ramalhah e Hebron (Cisjordânia), ou Gaza e Rafah (Faixa de Gaza). Também em Israel não havia semana em que não se registasse um atentado em Jerusalém ou Telavive.

 

Entre as muitas histórias, houve uma que captou a atenção do Diplomata e que tinha a ver com a selecção nacional palestiniana de futebol. Ora, na verdade, a notícia era o simples facto de existir uma selecção nacional palestiniana.

 

Em princípio uma selecção nacional pressupõe a existência de um país. Um país sem uma selecção para o representar poderá ser raro, mas natural nalgumas circunstâncias. Agora, já mais estranho é haver uma selecção sem um Estado para representar.

 

E foi precisamente este prisma que atraiu o autor destas linhas para se debruçar sobre as motivações que levaram jogadores e técnicos a mobilizarem-se numa equipa “nacional”. A demanda por um Estado foi a principal razão, aliada a uma paixão pelo jogo.

 

Um esforço que continua bem vivo, com a selecção da Palestina a participar no Gazan Football “World Cup”, um torneio que começou ontem naquele enclave com 16 países, e que durante duas semanas vai permitir aos palestinianos verem a sua selecção a participar no seu “Campeonato do Mundo”.

 

Durante anos, a situação política no Médio Oriente não permitiu condições para a existência de uma selecção nacional palestiniana, tendo apenas se estreado nas fases de qualificação para o Mundial de 2002.

 

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