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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Morreu o artista de Easy Rider, o filme icónico de uma América conturbada

Alexandre Guerra, 29.05.10

 

Dennis Hopper (1936-2010)/Foto:Francine Orr/Los Angeles Times

 

O actor Dennis Hopper morreu este Sábado de manhã, aos 74 anos, na sua casa em Venice, na Califórnia, vítima de um cancro da próstata. Sendo este um espaço de análise aos temas contemporâneos de índole político, social e cultural, o Diplomata não poderia deixar de referir o desaparecimento de Hopper, o principal responsável por um dos poucos filmes saídos da indústria de Hollywood que melhor conseguiu trazer para a tela uma visão poética e ingénua, mas ao mesmo tempo crua e caótica de um determinado período da América.

 

Easy Rider, filme que Hopper realizou e no qual contracenou com Peter Fonda, é o “road movie” por excelência, assumindo um estatuto icónico, e que reflecte de forma muito artística as clivagens entre as diferentes correntes de pensamento e modelos de vivência social em conflito na conturbada América dos anos 60.

 

Easy Rider tornou-se num filme de culto, mas também uma espécie de radiografia cinematográfica à conjuntura social, política e cultural da sociedade americana durante os “Sixties”.

 

Mais um ataque de muçulmanos contra muçulmanos no Paquistão

Alexandre Guerra, 28.05.10

 

 

Comandos paquistaneses tentam controlar uma das duas mesquistas atacadas hoje em Lahore/Arif Ali/Agence France-Press/Getty Images

 

Ataques simultâneos em duas mesquistas na cidade paquistanesa de Lahore provocaram hoje mais de 80 mortos. Aproveitando o dia de descanço muçulmano, vários homens armados lançaram granadas e dispararam tiros sobre as pessoas que se encontravam naqueles recintos para as suas orações.

 

As vítimas destes ataques pertenciam a uma seita minoritária islâmica, os Ahmadis, e terão sido alvo, segundo algumas informações, de uma acção terrorista levada a cabo pelos taliban paquistaneses, também eles muçulmanos.

 

Tal como o Diplomataaqui abordou várias vezes, este ataque é revelador da explosiva situação que se vive no Paquistão. Ali Dayan Hassan, da Human Rights Watch, disse à BBC News que estas pessoas eram "alvos fáceis" para os sunitas radicais taliban, que consideram os Ahmadis uns infiéis.

 

A violência sectária no Paquistão tem sido uma constante nos últimos tempos, sobretudo a partir do momento em que os taliban paquistaneses começaram a ganhar preponderância e autonomia nalgumas regiões tribais e fronteiriças com o Afeganistão. Mas, o problema coloca-se também ao nível do Estado central paquistanês, já que o Exército e outras forças de segurança têm, por vezes, uma posição dúbia em relação aos taliban paquistaneses.

 

Estes ataques já foram condenados pelas autoridades regionais e nacionais, no entanto, desde há muito que Islamabad tem sido acusado por Washington, muitas vezes de forma informal, de não ter uma política coerente no combate ao radicalismo islâmico no país.

  

Think tank apela a "contrato social" para o desenvolvimento de Portugal

Alexandre Guerra, 27.05.10

 

 

Comissão Executiva do Projecto Farol reunida com o Presidente Cavaco Silva/Foto: Presidência da República

 

Cidadania, Economia Empresarial e relação entre Estado e Cidadão são os três pilares definidos pelo Projecto Farol, um think tank criado sob a iniciativa da consultora Deloitte, e sobre os quais deve assentar um guia de desenvolvimento para Portugal até 2020.

 

Numa altura em que Portugal atravessa um dos momentos mais complexos desde o 25 de Abril, a sociedade civil deve e tem que assumir um papel mais activo nos desígnios do país. Iniciativas como o Projecto Farol podem concretizar essa necessidade, ao reunir nomes proeminentes, pensantes e mobilizadores como Daniel Proença de Carvalho, Belmiro de Azevedo, José Maria Brandão de Brito, Jorge Marrão e António Pinho Cardão.

 

Os think tanks têm uma forte tradição na cultura anglo-saxónica, sendo fóruns de excelência onde se discutem ideias e fomentam projectos de vanguarda, mas têm também capacidade de influência junto dos decisores e de contribuir para a elaboração de políticas.

 

É esta a função e a missão dos thinks tanks, no entanto, em Portugal ainda não existe essa cultura. Os últimos anos têm sido pródigos em projectos cheios de boas intenções, mas que acabam em nada. O Compromisso Portugal será, talvez, o melhor exemplo de uma iniciativa inócua que pouco mais fez do que alimentar o ego de alguns altos gestores nacionais.

 

Espera-se que o Projecto Farol possa ir um pouco mais além das boas intenções, tendo para já apresentado 12 propostas preliminares para serem debatidas.

 

Um dos aspectos curiosos deste think tank, e que chamou a atenção do Diplomata, é que remete para um “contrato social”, entre o “cidadão” e o “governante”. Este “contrato” tem a virtude de responsabilizar todas as partes, numa lógica filosófica dos autores “contratualistas”.

 

Apelar a este “contrato social” poderá nos dias hoje voltar a fazer sentido, sobretudo em sociedades com uma fraca noção de cidadania. Portugal é um desses casos, em que existe um divórcio entre o cidadão e o governante, e ambos se desresponsabilizam tacitamente em relação ao outro.

 

É por isso que a visão para Portugal 2020 proposta por este think thank não se destaca tanto pelas medidas apresentadas e que não representam qualquer novidade, tais como “um reforço da iniciativa privada”, a “capacidade de empreendedora à escala Global”, “um aumento do papel das estratégias privadas e da concorrência”, a “construção de um território policêntrico como forma de compatibilizar crescimento e coesão” e a “consolidação de um Estado inteligente, exemplo de eficácia e serviço.

 

O grande ensinamento a retirar até ao momento deste think tank é o factor da premência da educação (a que este autor juntaria a palavra sensibilização) para uma noção e percepção de globalização, na qual todos devem ser responsabilizados. E será a partir daqui que se desenvolverá uma ideia motriz que motivará cidadãos e governantes a implementarem medidas e políticas que permitam “guiar” o desenvolvimento de Portugal até 2010.

 

As relações entre as duas Coreias voltam ao "congelador"

Alexandre Guerra, 25.05.10

 

Soldados sul coreanos prestam homenagem aos marinheiros mortos no navio Cheonan/Ahn Young-joon/Associated Press

 

Se a Índia e o Paquistão parecem estar a caminhar para uma reaproximação negocial, o mesmo não se pode dizer das relações entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, que atingiram hoje um dos momentos mais tensos dos últimos anos.

 

Esta mais recente crise foi espoletada há uns dias com a publicação de um relatório internacional, que implicou directamente Pyongyang no afundamento de um navio de guerra sul coreano no passado dia 26 de Março, e no qual morreram 46 marinheiros. De acordo com as investigações, o acidente deveu-se a um torpedo norte coreano.

 

Como seria de esperar, Pyongyang rejeitou de imediato as conclusões deste relatório, e classificou-o como uma afronta à Coreia do Norte. Além disso, o regime norte coreano acusa a Marinha da Coreia do Sul de ter violado recentemente as águas territoriais do seu país.

 

A península da Coreia é o melhor exemplo daquilo é conhecido como um “conflito congelado”, herdado do sistema da Guerra Fria e que subsiste pelo facto das duas Coreias continuarem tecnicamente em guerra, visto nunca terem assinado qualquer armistício em 1953, após um conflito de três anos.

 

Deste então, que os dois países mantêm um “status quo” tenso, materializado no Paralelo 38, uma Zona Desmilitarizada que serve de tampão aos dois países e que concentra um elevado número de soldados em ambos os lados da fronteira. De referir que esta deverá ser a zona mais minada do planeta.

 

As esperanças vividas há uns anos de reaproximação entre as duas Coreias começaram a deteriorar-se com o “dossier” nuclear norte-coreano, continuando sem fim à vista. No entanto, nos últimos dias Pyongyang e Seul envolveram-se numa escalada diplomática acentuada, culminando hoje com a agência de notícias norte coreana KCNA a anunciar que aquele país cortava todas as relações com a Coreia do Sul, incluindo as comunicações. Pyongyang expulsou ainda responsáveis oficias da Coreia do Sul de um projecto conjunto e interditou todo o seu espaço marítimo e aéreo.

 

Horas antes tinha sido Seul a reclassificar a Coreia do Norte como o seu “arqui-inimigo” (uma designação que tinha caído em 2004 durante o período de “detente”), depois de no Domingo ter cortado relações comerciais com o vizinho do Norte.

 

Como referiu Jonathan Marcus, correspondente diplomático da BBC News, as relações entre as duas Coreias voltaram ao “congelador”. Efectivamente, depois dos tempos de esperança da “Sunshine Policy”, a tensão e a desconfiança regressaram à Península da Coreia, sendo o programa nuclear norte-coreano a principal fonte.

 

Numa altura em que a situação poderá ficar fora de controlo, certamente que Pyongyang e Seul já foram avisados por Pequim e Washington para refrearem os ânimos.

 

A Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, tem-se multiplicado em contactos e iniciativas diplomáticas, no sentido de garantir que Washington controla todo o processo em Seul. Pretende também transmitir uma mensagem de apoio incondicional à Coreia do Sul, tendo sido anunciados exercícios conjuntos entre os dois países.

 

Por outro lado, a China já apelou a todas as partes para terem calma e, através do seu vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Cui Tiankai, mostrou total disponibilidade para trabalhar com os Estados Unidos na resolução deste problema.

 

Esta é a abordagem que mais interessa a Pequim, visto querer evitar que o assunto vá ao Conselho de Segurança, vendo-se aí obrigada a tomar uma posição, algo que neste momento não deseja.

 

É por isso que analistas citados pela BBC News referem que a China é crucial neste problema, porque se o assunto for discutido no Conselho de Segurança das Nações Unidas o seu voto será preponderante.  

 

Para já, Pequim mostra prudência, deixando Washington assumir o seu papel de “aliado” tradicional junto da Coreia do Sul. Uma abordagem realista e inteligente, já que tanto Seul como Pyongyang, e apesar de toda a retórica e medidas anunciadas, têm mostrado bastante relutância em avançar para qualquer movimentação militar.

 

Enquanto isso não acontecer, Pequim limita-se a acompanhar, prudentemente, esta situação, evitando interferir ao máximo. A China sabe perfeitamente que, em caso de conflito, terá sempre de recorrer ao seu Exército para equilibrar o potencial militar da Coreia do Norte face à Coreia do Sul.

 

Sabe-se que o Presidente norte-coreano, Kim Jong Il, terá dito aos seus oficiais para estarem preparados, mas é referido igualmente que não será a Coreia do Norte a dar o primeiro tiro. Embora tenha uma das maiores infantarias do mundo, as forças militares norte-coreanos estão mal preparadas, pobremente equipadas e com o moral em baixo. Dizem alguns desertores norte-coreanos que os soldados daquele país optam por tirara sestas em vez de treinarem, porque têm tão poucos alimentos para comer, que preferem poupar energia.

 

Verdade ou mentira, certo é que a Coreia do Norte está longe ter as condições para confrontar militarmente o seu vizinho do Sul. Mesmo em relação à sua capacidade nuclear, para já é apenas uma intenção, não tendo ogivas disponíveis e vectores de lançamento ainda pouco fiáveis.

 

Índia e Paquistão, uma questão de confiança

Alexandre Guerra, 24.05.10

 

Tal como acontece entre pessoas, também no relacionamento entre Estados a confiança é fundamental para uma política de boa vizinhança. A ausência daquele factor potencia situações de tensão ou de crise, como se constata, por exemplo, entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, entre a China e Taiwan, entre Israel e o Irão, entre os Estados Unidos e a Venezuela, entre a Rússia e a Ucrânia ou entre o Paquistão e a Índia.

 

Foi aliás a propósito das débeis relações político-diplomáticas entre estes dois países que o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, disse que a falta de confiança era o principal obstáculo para uma aproximação entre Nova Deli e Islamabad.

 

A Índia e o Paquistão têm revelado uma inimizade histórica, chegando inclusive a um estado de conflito por três vezes (1947-48, 1965 e 1999). A disputada região de Caxemira tem sido o principal foco de instabilidade, prolongando-se há mais de 60 anos uma lógica de discussão de soberania sobre aquela território.

 

Quando se deram as independências da Índia e do Paquistão, em 1947, o marajá de Caxemira optou pela soberania indiana. No entanto, Islamabad sempre viu aquele território como uma extensão natural do Paquistão, já que maior parte da população é islâmica. Não é por isso de estranhar que Islamabad defenda a realização de um referendo em Caxemira para se decidir o futuro daquele enclave, algo que Nova Deli nem quer ouvir falar.

 

A Índia tem recorrido aos acordos de 1947, feitos com o Marajá, e de 1972, com o Paquistão, para evitar colocar o assunto sob referendo. Nova Deli tem defendido sempre uma via bilateral para a resolução do problema. Por outro lado, ao Paquistão interessa que o tema assuma contornos internacionais e multilaterais.  

 

Depois de alguns anos de melhoria, em Novembro de 2008 as relações entre os dois países voltaram a deteriorar-se após um ataque feito através de mar por terroristas paquistaneses à cidade indiana de Mombai, matando mais de 174 pessoas.

 

Este ataque veio minar algumas medidas de confiança que tinham sido implementadas desde 2005, tais como o recomeço de um serviço de autocarro entre os dois lados de fronteira de Caxemira, a reabertura de uma estrada 60 anos depois e a reintrodução de um comboio entre a Caxemira indiana e a paquistanesa.

 

As declarações agora proferidas pelo primeiro-ministro Singh surgem a sensivelmente dois meses do início de uma nova ronda de negociações ao nível dos ministros dos Negócios Estrangeiros do Paquistão e da Índia, numa tentativa clara de incutir confiança entre os dois países. Porque sem que tal exista, de pouco serve os responsáveis políticos sentarem-se à mesma mesa.

 

O poder absoluto das agências de Rating começa a ser colocado em causa

Alexandre Guerra, 23.05.10

 

 

Uma das consequências positivas que se retira do turbilhão financeiro que assolou algumas das maiores entidades bancárias dos Estados Unidos e que se alastrou a outras partes do mundo foi, pela primeira vez, questionar-se de forma efectiva o papel das agências de Rating no sistema. Um papel que durante décadas foi incontestado, provocando uma dependência do sistema financeiro de tal grandeza naquelas agências que passaram a ser estas a ter o poder de garantir ou não a viabilidade de empresas, bancos ou Estados.

 

Nesta lógica de reacção ao poder absoluto das agências, o Diplomata descobriu que em 2009 já três “gigantes” do Rating tinham sido processados por uma pessoa que tinha perdido 40 mil dólares no Lehman Brothers e decidira ir atrás dos "verdadeiros" responsáveis pela situação a que chegara aquele banco.

 

Numa espécie de combate entre David e Golias, Ron Grass, especialista reformado em direito da família da Califórnia, processou a Standard&Poor’s, a Moody’s e a Fitch. Os resultados não têm sido animadores, assim como de outros processos em curso contra agências. Cerca de 30 diz o New York Times.

 

Até ao momento, os gigantescos departamentos legais daquelas agências têm conseguido levar a melhor nos tribunais, no entanto, os ventos de mudança estão a fazer sentir-se e o seu poder começa a ser ameaçado, quer nos tribunais, quer na arena política, nomeadamente com a passagem da recente “bill” de supervisão financeira no Senado na passada Quinta-feira, contemplando algumas medidas interessantes no controlo da acção dos "homens" do Rating.

 

Perante estes novos desenvolvimentos, existem dois cenários possíveis que podem vir a alterar o papel das agências de Rating no sistema financeiro e económico: uma decisão importante de um tribunal contra uma agência; a imposição de medidas restritivas por parte do poder político.

 

Qualquer dos cenários é inédito, mas a verdade é que existe neste momento a intenção, por parte dos legisladores, de esvaziar a importância das agências. Aliás, uma das medidas da “bill” pressupõe que as pessoas interessadas em comprar activos financeiros procurem garantir noutras fontes, que não apenas nos ratings, a sustentabilidade daqueles produtos. Outra medida pretende acabar com a dependência financeira que existe entre agências de Rating e empresas emissoras de produtos financeiros, para se evitar conflito de interesses e relações menos claras.

 

Também no campo da justiça tudo pode ser uma questão de tempo até um tribunal impor uma derrota pesada a uma agência de Rating e, com isso, abrir um precedente. Aliás, a Securities and Exchange Commission (SEC), segundo uma fonte da Moody’s, citada pelo New York Times, terá dito que pondera processar aquela agência.

 

Caso isto aconteça, convém relembrar que a SEC tem um poder que Ron Grass e outros particulares estão longe de ter. Neste momento, a grande dúvida é saber se a SEC está verdadeiramente empenhada em iniciar um combate legal com as agências de Rating ou se, por outro lado, está apenas a fazer “bluff”.

  

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