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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Momentos com história

Alexandre Guerra, 31.03.10

 

Luke Sharret/The New York Times

 

Sendo um entusiasta das energias alternativas, talvez o primeiro-ministro português José Sócrates gostasse, numa das suas muitas conferências e apresentações sobre o tema, de ter um cenário semelhante ao da fotografia, mas com um F-16 da Base Aérea de Monte Real, para anunciar o uso de biocombustível naqueles aparelhos. Porém, para já é apenas o Presidente Barack Obama a revelar que os F-18 "Green Hornet" vão utilizar biofuel.

 

Esta cerimónia na Base Aérea de Andrews teve, no entanto, outro objectivo algo supreendente, já que serviu para Obama informar que vai ser possível explorar gás natural e petróleo offshore na zona costeira do Altântico. Curiosamente, esta decisão vem pôr fim a uma moratório que impedia a exploração das zonas marítimas da costa leste dos Estados Unidos.

 

O Presidente sustenta a medida com a necessidade de se produzir mais energia doméstica e ao mesmo tempo proteger os recursos naturais. Argumentos que parecem não estar a convencer, uma vez que as críticas já se fazem ouvir de vários quadrantes.

 

Depois da reforma da saúde, Obama mostra que está empenhado na política externa

Alexandre Guerra, 28.03.10

 

 

Obama cumprimenta o Major Sargento Eric Johnson este Domingo, na base aérea de Bagram/Stephen Crowley/NYT

 

De surpresa e em tempo relâmpago, foi desta forma que o Presidente Barack Obama se deslocou este Domingo ao Afeganistão, pela primeira vez, desde que assumiu o seu cargo há pouco mais de um ano.

 

Embora os contornos desta visita sejam similares aos das deslocações de outros líderes ao Afeganistão e ao Iraque, em termos políticos, o mais importante da viagem de Obama é a mensagem que pretende passar para a comunidade internacional.

 

Depois de longos e duros meses focado na política interna e descurando a cena internacional, chegando mesmo a ser acusado de ter relegado para segundo plano cenários de conflito como o Médio Oriente e o Iraque, Obama vem agora demonstrar que está comprometido com os assuntos internacionais e, em particular, nos palcos onde os Estados Unidos estão directamente envolvidos.

 

Não é por isso de estranhar as palavras que Obama proferiu na base aérea de Bargam, para uma plateia de militares e civis, ao afirmar que “não houve uma outra visita tão importante como esta” que fez ao Afeganistão.

 

Além do mais, nos últimos dias, o Presidente Obama tem estado empenhado em demonstrar todas as suas capacidades políticas, ao ter conseguido aprovar a tão difícil reforma da saúde, ao ter acordado um novo acordo de redução de armas nucleares estratégicas com Moscovo e, agora, ao ter-se deslocado a território afegão.

 

Uma ideia corroborada por Steve Kingstone, o correspondente da BBC News, em Washington, que escreve que a Casa Branca está claramente interessada em provar que o Presidente consegue lidar com mais de um assunto importante ao mesmo tempo.

  

Uma caminhada de catorze meses para uma reforma histórica nos EUA (2)

Alexandre Guerra, 25.03.10

 

 

 

O Presidente Barack Obama não perdeu tempo e antecipando praticamente uma semana assinou na Terça-feira o tão esperado decreto presidencial que “veste” de lei a “bill” que tinha acabado de sair do Congresso sobre a reforma do sistema de saúde nos Estados Unidos.

 

Além da importância histórica e social da reforma em si, existem considerações ideológicas e doutrinárias inerentes a todo este processo e que merecem um olhar atento.

 

Como já aqui foi escrito, o debate em torno da reforma da saúde acabou por ser uma confrontação de visões sobre os paradigmas que sustentam o edifício socio-económico americano. Mais do que leis ou enquadramentos constitucionais, estiveram em discussão convicções ideológicas profundas sobre o relacionamento do Estado com os seus cidadãos.

 

Assim, algumas das medidas que vão ser adoptadas no âmbito da reforma da saúde evidenciam precisamente fracturas doutrinárias entre diferentes campos de uma mesma realidade.

 

Ao perceber-se um dos mecanismos de financiamento da reforma, que custará aos cofres do estado 940 mil milhões de dólares durante os próximos dez anos, constatam-se sinais de ruptura com um modelo de pensamento vigente nas últimas décadas, sobretudo bastante evidente nas administrações republicanas.

 

Veja-se, por exemplo, o facto da reforma de Obama ser financiada, entre outros mecanismos, através “de taxas aplicadas à indústria de saúde (seguradoras, farmacêuticas e fabricantes de equipamentos médicos) e de novas receitas fiscais - um imposto de 3,8 por cento a cobrar sobre os dividendos, juros e outros rendimentos não relativos ao trabalho dos contribuintes com rendimentos superiores a 250 mil dólares anuais”.

 

Uma caminhada de catorze meses à beira de uma reforma histórica nos EUA (1)

Alexandre Guerra, 22.03.10

 

 

Os congressistas Steny Hoyer, John LeNancy, Nancy Pelosu (speaker) e Jim Clayburn/Lauren Vitctoria Burke/AP

 

Em catorze meses o Presidente Barack Obama fez aquilo que muitos dos seus antecessores democratas nunca conseguiram em vários anos: a reforma do sistema nacional de saúde dos Estados Unidos. Ainda falta finalizar alguns processos no Congresso, nomeadamente no Senado, até que Obama tenha todas as condições para assinar o tão ambicionado decreto presidencial para tornar a “bill” em lei federal, no entanto, o Presidente americano não só obteve ontem uma importante vitória, como devolveu novamente a esperança aos americanos que tinham votado em si.

 

Com a aprovação da “bill” na Câmara dos Representantes, Obama deu um passo gigantesco para poder cumprir talvez a sua principal promessa eleitoral e aquela que terá consequências mais directas na vida de milhões de americanos.

 

Quantos líderes podem ao fim de pouco mais de um ano de mandato anunciar aos seus concidadãos o cumprimento de uma das suas primeiras promessas eleitorais? Muito poucos.

 

Mas, o caminho de Obama não tem sido fácil e da sua parte assistiu-se a um envolvimento político pouco habitual quando comparado com os seus antecessores, já que o Presidente praticamente desceu à arena do Congresso para se colocar o lado dos democratas e impor uma derrota ao campo republicano.

 

O empenho de Obama acentuou-se nos últimos tempos, com a consciência de que este era o momento do “tudo ou nada”, pois caso esta “bill” não passasse no Congresso dificilmente este assunto voltaria àquela casa durante o actual mandato. Tanto o Presidente como os republicanos tinham consciência desse facto e daí a reforma da saúde ter assumido contornos épicos na sua discussão, levando mesmo à realização de uma maratona televisiva de debates entre vários políticos, incluindo Barack Obama.

 

Tal entusiasmo não é de surpreender, dada a importância do que tem estado em causa, porque de forma muito simples o projecto de reforma da saúde opõem duas concepções diferentes do “american way of life”: A dos republicanos defende a manutenção de uma espécie de “status quo” que durante décadas tem estado na base de toda a estrutura social americana, assente numa classe média forte, mas com graves debilidades ao nível das camadas mais baixas; a concepção dos democratas tem uma componente mais de justiça social, talvez mais inspirada em ideais defendidos por Presidentes democratas de outrora, porém, sacrificando os cofres do Estado e uma certa tranquilidade fiscal das classes mais elevadas.

 

Mais uma história africana

Alexandre Guerra, 18.03.10

 

 

A 9 de Fevereiro, Goodluck Jonathan, ao bom e velho estilo africano, assumiu sem qualquer constrangimento a liderança da Nigéria, embora num processo relativamente tranquilo e devidamente validado pela Assembleia Nacional.

 
Desta vez, o derramamento de sangue foi contornado pelo facto de Jonathan estar supostamente a servir os mais altos interesses de nação ao substituir o então chefe de Estado em funções, Umaru Yar’Adua, a braços com problemas de saúde que o têm afastado da presidência do país.
 
Mas, rapidamente se percebeu que as intenções de Jonathan eram mais ambiciosas, não se ficando apenas pela substituição temporária do actual Presidente até novas eleições. O novo líder está empenhado em vincar a sua autoridade e a tomar todas as medidas necessárias para afirmar o seu poder.
 
Esta Quarta-feira, foi anunciada a dissolução do Governo, no qual muitos ministros tinham sido nomeados por Yar’Adua. Não foi avançada qualquer razão para esta medida, no entanto, os vários correspondentes estrangeiros no país referem que Jonathan teve como objectivo afastar possíveis aliados de Yar’Adua.
 
Os novos nomes do Governo serão apresentados em breve à Assembleia Nacional, mas nem por isso alguns críticos acusam Jonathan de ter violado as normas constitucionais.  
 
Perante este cenário, não é exagero afirmar que Jonathan terá promovido uma espécie de golpe palaciano, ao afastar pessoas associadas a Umaru Yar’Adua e, provavelmente, a colocar no seu lugar homens da sua confiança.
 
Desde Novembro que Yar'Adua se encontra na Arábia Saudita, tendo regressado recentemente à Nigéria, numa viagem algo misteriosa, não tendo sequer sido visto em público, o que certamente não seria do interesse de Jonathan.
 
Entretanto, têm-se registado violentos confrontos entre muçulmanos e cristãos perto da cidade de Jos, supostamente por causa de direitos petrolíferos no Delta do Níger. No entanto, também é possível que esta onda de violência esteja a ser alimentada com a chegada de Jonathan ao poder, já que este é um cristão e Umaru Yar’Adu um muçulmano.
 
Segundo a tradição do Partido Popular Democrático, ao qual ambos pertencem, têm sido apresentados candidatos de diferentes religiões. Yar’Adua tinha sido eleito em 2007, enquanto que o seu antecessor foi o cristão Olusegun Obasanjo, que esteve no cargo oito anos. O propório partido já anunciou que o candidato presidencial do próximo ano terá que ser um muçulmano, excluindo automaticamente Jonathan.
 
Perante isto surgem duas grandes questões: qual será a reacção que o novo homem forte da Nigéria terá em relação a estes conflitos religiosos? E como irá Jonathan acatar a decisão do seu partido em propor um outro candidato para a presidência do país?
 

Leituras

Alexandre Guerra, 16.03.10

 

Roger Cohen escreve no New York Times uma excelente opinião sobre a actual crise diplomática entre os Estados Unidos e Israel. Em The Bidden Effect são suscitadas questões muito pertinentes quanto à posição de Washington face ao comportamento irresponsável do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

 

Algum dia "Bibi" tinha de criar uma crise séria com Washington

Alexandre Guerra, 15.03.10

 

 

 
Algum dia o chefe do Governo hebraico, Benjamin Netanyahu, haveria de cometer um acto de tal maneira despeitado face a Washington que as relações entre Israel e os Estados Unidos sofreriam graves consequências. Ora, esse dia parece ter chegado, ou melhor, já chegou há uma semana, aquando da visita do vice-Presidente americano, Joe Biden, a Jerusalém. Nesse mesmo dia, "Bibi" anunciava a construção de 1600 novas casas num colonato em Jerusalém Oriental.
 
Esta posição além de ser uma clara afronta aos palestinianos e desferir um rude golpe nas intenções de Biden em retomar o processo negocial, assumiu-se sobretudo como um desafio sem precedentes a Washington.
 
Embora tal nunca tenha sido assumido, Netanyahu teve claramente o objectivo de enviar uma mensagem para a administração do Presidente Barack Obama, a qual vê com grande desconfiança. Uma ideia corroborada pelo principal conselheiro de Obama, David Axelrod, que não hesite em dizer que a iniciativa de Telavive foi calculada e que além de ser “destrutiva” é um “insulto” aos Estados Unidos.
 
Ao anunciar a construção das novas casas no mesmo dia em que Biden está no território, Netanyahu tem um gesto ousado e talvez irresponsável, que poderá ter consequências muito danosas nas relações israelo-americanas. Paul Adams, correspondente da BBC em Washington descrevia a situação da seguinte forma: “O vice-Presidente Joe Biden foi a Israel para oferecer amor mas em vez disso foi esbofeteado.”
 
De tal forma, que o embaixador Israel nos Estados Unidos, Michael Oren, já admitiu que se está a viver o pior período das relações diplomáticas entre os dois países em 35 anos. Entretanto, a secretário de Estado Hillary Clinton já exigiu a Netanyahu uma resposta “formal” às preocupações manifestadas por Washington.
 
A administração de Barack Obama está neste momento a exercer uma grande pressão sobre Israel e é muito provável que aproveite a actual “crise” para dar uma sério aviso a Netanyahu. No entanto, este continua num registo algo provocatório ao ter participado esta Segunda-feira numa cerimónia de inauguração de uma sinagoga restaurada no bairro judeu da cidade velha de Jerusalém, num evento que a polícia tinha identificado como foco de violência.
 
Sinagoga de Hurva esta Segunda-feira/AP
 
Talvez por estar consciente da situação explosiva por si criada, Netanyahu durante a cerimónia tentou aliviar a tensão ao exortar a importância da liberdade de outras religiões. Também o mayor da cidade de Jerusalém apelou aos palestinianos para terem calma.
 
Seja como for, neste momento estão reunidas as condições para gerar um foco de violência entre palestinianos e judeus na cidade Jerusalém, bastando apenas que um dos muitos rastilhos soltos seja incendiado.
 
Obama terá a perfeita noção de que por bem menos já eclodiram momentos de extrema violência ente palestinianos e judeus. Por isso, as próximas horas vão ser muito críticas, com Washington certamente a desenvolver uma série de contactos por detrás da cortina, com vista a atenuar um problema criado por Netanyahu. Ao mesmo, Obama não deveria deixar de aproveitar esta oportunidade para dar um sério aviso ao primeiro-ministro israelita, para que não volte a repetir este tipo de afronta.
 

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