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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Empresas americanas evitam acusar Pequim, mas em "off" falam em espionagem industrial

Alexandre Guerra, 03.02.10

 

 

Na sua habitual coluna no New York Times, Thomas Friedman escreve sobre a mais recente disputa entre a Google e a China, para referir que o problema se encontra a um nível muito mais profundo, do que aquele que poderia ser descrito simplesmente como um conflito comercial entre uma empresa e as autoridades do Estado.

 

Embora esta constatação possa parecer uma evidência à luz de toda a informação vinda a público no âmbito da estratégia adoptada pelas autoridades chinesas no que diz respeito ao controlo de empresas estrangeiras, Friedman acrescenta um olhar interessante sobre esta problemática.

 

Citando um CEO de uma empresa americana de tecnologias a operar na China, fica-se a saber que aquela foi “atacada” por ciberpiratas com o objectivo de roubar códigos de segurança, planos de negócio, e “tudo aquilo a que pudessem deitar a mão”. Espionagem industrial pura e dura que, segundo o mesmo CEO, é “a pior que já viu em 25 anos”. Uma afirmação sustentada por um responsável americano, que revelou a Thomas Friedman que este ataque em particular foi “muito extensivo e problemático”.

 

Apesar de nunca o ter afirmado peremptoriamente, tudo inidicia que o problema da Google vá muito além da mera censura de algumas páginas imposta pelas autoridades chineses. Neste momento, as empresas estrangeiras, nomeadamente americanas, enfrentam objectivamente problemas de espionagem industrial.

 

Friedman diz, e bem, que a China está a “brincar com o fogo”. Porque, conclui o Diplomata, se num primeiro momento, Pequim poderá ter uma certa sensação de de controlo da actividade das empresas estrangeiras e de aquisição de "know how", a curto e a médio prazo poderá instalar-se no mercado internacional a desconfiança relativa a todo o material electrónico e software “Made in China”.

 

Afinal de contas, quem quererá comprar um computador com um processador fabricado algures na China, quando existe a noção de que as autoridades daquele país estão a utilizar ciberpiratas para espionagem industrial?

 

Obama aprova venda de material bélico a Taiwan e envia "recado" para Pequim

Alexandre Guerra, 01.02.10

 

 
Será que os mais de 1000 mísseis chineses apontados para Taiwan representam um verdadeiro perigo para aquele ilha? De acordo com muitos analistas internacionais, a resposta é claramente “sim”.
 
Esta pergunta, que de tempos a tempos é colocada quando a tensão aumenta no estreito de Taiwan, volta agora a fazer sentido, numa altura em que as relações entre Washington e Pequim “aquecem” por causa de um negócio de venda de armamento dos Estados Unidos a Taiwan no valor de 6,4 mil milhões de dólares.
 
Apesar da China ter avisado que este negócio representaria um sério revés nas relações político-diplomáticas entre Pequim e Washington, a administração do Presidente Barack Obama aprovou na passada semana a venda do material bélico para o regime de Taipé e fez questão de frisar que o negócio manter-se-á.
 
Perante este cenário, a resposta de Pequim, de acordo com o China Daily, principal jornal inglês controlado pelo aparelho comunista chinês, está a revelar-se a mais dura em três décadas contra Washington no que diz respeito a um negócio de venda de armamento. Pequim anunciou que irá restringir a sua cooperação militar com os Estados Unidos, impor sanções económicas às empresas americanas, assim como adoptar outras medidas a nível bilateral.
 
Analistas citados por aquele jornal, referem que esta crise não deverá pôr em causa o quadro estratégico de aproximação entre as duas potências, no entanto, é muito possível que afecte as parcerias em domínios específicos, como são os casos do dossier iraniano, da guerra no Afeganistão ou do complexo processo negocial da Coreia do Norte. “Certamente, os Estados Unidos têm que pagar um preço muito pesado pelo negócio”, disse Ye Hailin, professor de relações internacionais na Academia Chinesa de Ciências Sociais, citado pelo China Daily. “Temos mais do que uma carta [para jogar]. Nos problemas relacionados com o Afeganistão, a Coreia do Norte e o Irão, Washington precisa da nossa cooperação.”
 
Efectivamente, é provável que Pequim utilize algum destes dossiers para pressionar o Congresso a ratificar a venda. Uma venda que contempla 60 helicópteros Black Hawk, 114 sistemas anti-míssil Patriot, um sistema integrado de comando e controlo, 12 mísseis Harpoon e mais dois navio detectores de minas.
 
Para o Departamento de Estado norte-americano, este material permitirá aumentar a “segurança e a estabilidade” entre a China e Taiwan. Uma visão que Pequim não partilha, ao acusar Washington de estar a ter uma atitude hipócrita, de “dois pesos e duas medidas” no que se refere aos interesses vitais da China.
 
Os ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros chineses reagiram duramente contra Washington, e além das medidas que já acima foram mencionadas, outros iniciativas poderão ser tomadas. Um registo que se adequa ao editorial do China Daily, que não se coíbe de caracterizar como arrogante a posição de Washington e de lembrar que este assunto está directamente relacionado com os assuntos internos da China.
 
Por outro lado, o New York Times relembra que no último ano Pequim tem assumido uma posição bastante musculada, tendo agora chegado a altura da administração Obama responder. Além disso, algumas fontes citadas pelo jornal nova-iorquino consideram que a administração Obama está a enviar sinais concretos a Pequim, de que não disposta a sacrificar os interesses estratégicos norte-americanos nem a ceder às suas pressões.  
 
Para Steve Clemons, director dos programas de política externa da New América Foundation, Obama terá percebido que de pouco valeu a Washington ter tido uma atitude bastante permissiva no último ano em relação à China, já que os responsáveis chineses revelaram uma abordagem bastante agressiva, nomeadamente na Cimeira do Clima realizada em Dezembro na cidade de Copenhaga.

 

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