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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Leituras

Alexandre Guerra, 31.01.10

 

O lendário submarino Barracuda regressou há dias da sua última viagem, terminando assim uma longa vida ao serviço da Armada portuguesa e da NATO. O Nuno Sá Lourenço assina um excelente artigo no Público: "Bravo Zulu Barracuda". 

 

Terão razão aqueles que acusam Obama de ter defraudado as expectativas?

Alexandre Guerra, 23.01.10

 

Foto: Samantha Appleton/White House

 

Ainda há poucos dias, no balanço do primeiro ano do Presidente Barack Obama na Casa Branca, foram muitas as vozes em todo o mundo que manifestaram o seu descontentamento pelo facto daquele líder ter defraudado as suas expectativas. O mesmo registo já se tinha verificado em Novembro, aquando do aniversário sobre a sua eleição. 
 
As sondagens de popularidade de há um ano são hoje apenas uma recordação para Obama, e reflectem um sentimento de desilusão instalado no seu eleitorado e apoiantes.
 
Perante esta flutuação acentuada da opinião pública face a um líder político num curto espaço de tempo, talvez seja um exercício interessante tentar perceber se essa mesma desilusão assenta em critérios racionais e objectivos ou, por outro lado, se é consequência de uma percepção (legítima, é certo) superficial, muito focada na agenda mediática e imediata.
 
Se se tiver em consideração esta última opção, compreende-se a “desilusão” das pessoas, pelo facto de não terem visto Obama a cumprir as suas promessas num espaço de um ano. Embora legítima, esta percepção resulta de um erro de análise sobre as especificidades do sistema político norte-americano e sobre as dinâmicas do sistema internacional.
 
A verdade é que Obama nunca poderia ter cumprido as suas promessas num espaço do ano. Teria sido materialmente impossível, fossem as que estivessem relacionadas com política interna, fossem as de política externa.
 
O que Obama fez nalgumas matérias foi marcar uma tendência ou quebrar com o paradigma reinante até então, invertendo uma dinâmica que não corresponderia aos interesses dos Estados Unidos e do mundo. Isso verificou-se sobretudo nas áreas do ambiente, financeira e da saúde. Nesta última, Obama terá inclusive superado as expectativas em termos processuais, já que poucos acreditariam que conseguisse chegar tão longe com o projecto da reforma da saúde.
 
Dirão muitos que na prática não se vêem resultados. Em parte é verdade, mas não seria intelectual nem politicamente honesto exigir-se ao chefe de Estado americano que num espaço de um ano conseguisse finalizar todo um projecto de reforma que durante décadas ninguém ousou fazer.
 
Também no ambiente, os agora desiludidos com Obama parecem estar já esquecidos do paradigma adoptado pela anterior administração republicana, liderada por George W. Bush. É incontestável que são praticamente inexistentes os resultados práticos, mas é inegável que Obama demonstrou um novo posicionamento dos Estados Unidos em relação à temática ambiental.
 
Mais curioso é que nem mesmo a “cruzada” que Obama tem feito contra o sistema financeiro norte-americano está a produzir frutos nas sondagens. O que é particularmente estranho, já que as mais recentes medidas anunciadas por Barack Obama para aplicar no sistema financeiro é um tipo de discurso que “dá votos”.
 
Por outro lado, e diga-se em abono da verdade, Obama é o único líder das grandes potências que tem estado a envidar esforços efectivos para introduzir medidas que possam, de alguma forma, compensar as perdas massivas de milhares de pessoas provocadas pelos excessos e irregularidades no seio do sistema financeiro e que foram postas a descoberta durante 2008 e 2009.
 
Aliás, neste capítulo, Obama tem sido bastante agressivo nas suas críticas e avisos aos principais actores do sistema financeiro, uma atitude que contrasta com a de quase todos os líderes mundiais, nomeadamente os portugueses, onde, após uma euforia inicial de “revolta” contra os “excessos”, voltaram a “alinhar” no sistema antigo.
 
Contrariando a tendência de opinião reinante nos últimos tempos, o Diplomata considera que ao fim de um ano não existem razões para defraudamentos nem para euforias, porque em Novembro de 2008, quando Obama foi eleito, qualquer interpretação realista do seu programa jamais conduziria a resultados imediatos.
 
Perante isto, ao fim de um ano de mandato Obama está simplesmente a fazer o seu trabalho e, de certa forma, tem sido estranhamente fiel (para um político) ao seu programa eleitoral. Aliás, para os poucos que se lembram, foi precisamente em Janeiro de 2008 que Obama assinou o seu primeiro decreto presidencial com base numa das promessas eleitorais: o levantamento das restrições ao financiamento federal à investigação em células estaminais embrionárias. 

 

Barack Obama com as atenções viradas para as eleições no Massachusetts

Alexandre Guerra, 19.01.10

 

 

Associated Press

 

A eleição que está ainda a decorrer no estado do Massachusetts para o lugar de senador, deixado vago no Congresso em Washington com a morte de Edward M. Kennedy, em Agosto do ano passado, tornou-se numa batalha política muito interessante e emocionante, já que a poucas horas do encerramento das urnas se regista uma disputa renhida entre a democrata Martha M. Coakley e o republicano Scott P. Brown.

 

O que parecia ser uma vitória garantida há umas semanas da candidata democrata, mantendo-se assim a maioria de 60 lugares no Senado, que evitaria qualquer tentativa de bloqueio legislativo por parte dos republicanos, transformou-se numa autêntica ameaça para a Casa Branca.

 

Se daqui a poucas horas se confirmar a vitória de Scott P. Brown, o Presidente Barack Obama terá razões para ficar bastante preocupado, visto que todo o processo moroso e complexo que levou à aprovação, por parte das duas câmaras do Congresso, da reforma de saúde, poderá ter sido em vão.

 

Caso Brown venha a ocupar o lugar de Edward M. Kennedy, os republicanos poderão tentar impor no Senado o bloqueio do processo legislativo sobre a reforma de saúde, obrigando os democratas a fazerem ainda mais concessões caso queiram ver a "bill" aprovada.

 

A eleição no Massachusetts transformou-se num evento nacional, com Barack Obama certamente a desviar, por umas horas, as atenções do Haiti para o processo que está decorrer naquele estado federado norte-americano.

 

Uma coisa é certa, os eleitores do Massachusetts parecem ter percebido a importância do acto, uma vez que a participação está a ser massiva. 

 

Neste momento, ao Diplomata resta apenas aguardar mais umas horas até ao encerramento das urnas para poder analisar as consequências do acto eleitoral.

  

Registos de uma autêntica operação militar dos EUA no Haiti

Alexandre Guerra, 15.01.10

 

"Adm. Mike Mullen, the chairman of the Joint Chiefs of Staff, said that 9,000 to 10,000 Americans forces were expected onshore and off in Haiti by Monday, and that the Pentagon was poised to send more. Speaking at a Pentagon news conference, Admiral Mullen said that about 5,000 would be ground forces and the rest would be on ships." New York Times

 

"The U.S. Southern Command, meanwhile, announced that Joint Task Force Haiti, its unit in the battered Caribbean nation, has received formal approval from the Haitian government to oversee the airport." Washington Post

 

"Hundreds of U.S. troops were on the ground this morning, the leading edge of a military contingent that is now expected to number as many as 10,000 by the weekend. Defense Secretary Robert M. Gates said that he anticipated that U.S. ground forces, including soldiers from the 82nd Airborne Division and the Marine Corps, would take a key role in helping distribute relief supplies quickly." Miami Herald

 

Perante a ausência de Estado, primeiro os militares e depois as ONG's

Alexandre Guerra, 15.01.10

 

Miami Herald

 

O antigo secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, enaltecia ontem à noite, no Situation Room da CNN, a intervenção do Presidente Barack Obama na resposta imediata à gestão da catástrofe que se abateu sobre o Haiti.

 

Powell disse claramente que os Estados Unidos teriam que assumir a liderança do esforço humanitário e do controlo da segurança em território haitiano. Efectivamente, também o Diplomata concorda com esta visão, já que mais nenhum país tem as condições e a capacidade para proceder a tal missão.

 

O primeiro passo já foi dado, e terá sido feito de forma ponderada, uma vez que a administração americana, certamente bem informada pela conselheiros militares e pelos homens da CIA, conhecedores profundos da realidade haitiana, considerou que qualquer esforço humanitário teria que, necessariamente, ser precedido por uma "operação militar".

 

Damon Winter/The New York Times

 

Uma análise à partida cruel, mas muito realista. Aliás, durante o dia de hoje já ficou evidente de que como esta abordagem está correcta. À medida que o desespero aumenta vão-se revelando comportamentos violentos, tendo inclusive já resultado na pilhagem de lojas, de mantimentos e de equipamento de organizações não governamentais.

 

Esta precipitação de violência não é algo que deva estranhar os mais atentos e conhecedores da  história haitiana. Na verdade, o Haiti tem vivido durante décadas num estado hobesiano, numa lógica de "todos contra todos", sem lei nem ordem, onde até há bem pouco tempo se matava o próximo à catanada nas ruas de Port-au-Prince. 

 

Eduardo Munoz/Reuters/The Guardian 

 

O Haiti mesmo quando comparado com países igualmente sub-desenvolvidos, por exemplo em África, destaca-se pela barbárie reinante entre os seus e por uma ausência total de Estado. Que este autor se recorde, de todas as imagens televisivas que viu após o sismo (em vários canais nacionais e internacionais), nem uma ambulância, carro de bombeiros ou de polícia se conseguiu vislumbrar entre o caos.

 

A ausência de sirenes pode parecer um pormenor, mas é um sinal revelador do vazio de Estado que é o Haiti. Perante uma realidade destas (que talvez encontre paralelo em países como a Somália e pouco mais), torna-se particularmente difícil articular uma resposta humanitária, visto que não existe qualquer capacidade interna que consigo fazer o mínimo. Tal como reabrir o porto ou colocar o sistema de radares do aeroporto a funcionar (neste último caso os militares americanos assumiram o controlo do espaço aéreo haitiano).  

 

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