Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

A relutância de Moscovo em responsabilizar os rebeldes do Cáucaso pelo atentado

Alexandre Guerra, 30.11.09

 

 

Kirill Kudryavtsev/AFP/Getty Images

 

As autoridades russas revelam que estão a investigar várias pistas que possam identificar de forma peremptória o autor ou os autores do atentado ao Expresso Nevsky, na Sexta-feira, que seguia na linha de ligação entre Moscovo a São Petersburgo, e que provocou 25 mortos e sensivelmente 100 feridos.

 

Até ao momento, Moscovo tem estado com alguma relutância em atribuir responsabilidades aos rebeldes chechenos, adoptando, pelo contrário, uma posição bastante prudente,  tendo o ministro do Interior russo, Rashid Nurgaliev, feito questão de informar os jornalistas de que estão a ser analisadas várias informações. 

 

Uma posição interesssante e de certa forma inédita se se atender que este não tem sido o "modus operandi" de Moscovo neste tipo de situações nos últimos anos. Perante ataques similares,o Kremlin nunca hesitou, desde o primeiro momento, em responsabilizar separatistas islâmicos do Cáucaso do Norte, independentemente das provas conseguidas ou dos factos apurados.

 

Desta vez, até o FSB, que entretanto encontrou vestígios de um engenho explosivo entre os destroços, recusa-se a alimentar as suspeições lançadas pela imprensa de que seriam rebeldes chechenos os responsáveis por este atentado.

 

Por outro lado, a informação avançada por uma cadeia de televisão russa conduz directamente a um antigo soldado e operacional do defundo líder rebelde checheno, Shamil Basayev. O seu nome é Pavel Kosolapov e, segundo o ministério público russo, já terá sido acusado em 2007 por um ataque em circunstâncias semelhantes ao mesmo Expresso Nevsky. 

 

Ora, ao contrário de situações anteriores, desta vez Moscovo até parece ter indícios suficientes para ser um pouco mais ousado nas suas declarações públicas. Ao invés, está remetido a um estranho tom de precaução.

 

Para Alexei Malashenko, um especialista em assuntos do Cáucaso do Norte do Carnegie Centre, citado pelo The Guardian, o atentado terá sido provocado por rebeldes chechenos, que "querem a vingança" e criar um "espaço islâmico". Malashenko relembra ainda que nos últimos dois anos a conjuntura no Cáucaso do Norte deteriorou-se consideravelmente, levando mesmo a que nalgumas regiões se esteja perante um estado de guerra civil iminente.

 

A este propósito, em Agosto último, o Diplomata recomendava a leitura de um artigo do New York Times, no qual se podia constatar o reacendimento da violência nas repúblicas do Daguestão, da Inguchétia e da Chechénia.

 

Nos últimos meses, os rebeldes islâmicos daquelas repúblicas e também de Kabardino-Balkaria têm perpetrado vários ataques e atentados suícidas no território russo.  

 

Apesar destas evidências, desta vez as autoridades russas não parecem estar com pressa para estabelecer uma relação directa entre o atentado do Expresso Nevsky e os movimentos rebeldes do Cáucaso do Norte.

 

É muito provável que Moscovo não queira reconhecer publicamente a responsabilidade dos rebeldes chechenos neste atentado, porque tal acto poderia ser percepcionado como uma admissão do reavivamento de um conflito, que se iniciou nos anos 90 e que o Kremlin há algum tempo teria dado como extinto a seu favor.   

 

Leituras

Alexandre Guerra, 29.11.09

 

Tony Blair, antigo primeiro-ministro britânico, e um dos responsáveis pela invasão do Iraque, dá uma grande entrevista à edição de Domingo do El País, na qual reitera que "voltaria a fazer tudo o que seria possível para expulsar Saddam Hussein".

 

Também na mesma edição do jornal espanhol, pode ler-se uma reportagem sobre Lisboa. "Del fado a lo 'fashion'" é um relato das 24 horas passadas na capital portuguesa por um visitante do país vizinho.

 

Ray Hanania, candidato às presidenciais palestinianas...

Alexandre Guerra, 26.11.09

 

 

Ray Hanania com Jason Alexander ("George Costanza")

 

Ray Hanania, um nome que o Diplomata desconhecia até ler a última crónica de Bradley Burston no Haaretz, na sua habitual rubrica A Special Place in Hell. Hanania foi o primeiro palestiniano-americano a casar com uma mulher judia e o primeiro comediante palestiniano de standup a surgir lado a lado com um colega judeu.

 

Diz Burston, que Hanania,  que além de comediante, também é jornalista aclamado, autor, consultor e apresentador de rádio, é uma pessoa fascinante e com compaixão. E é por estas e por outras razões que, segundo o colunista do Haaretz, Hanania é um excelente candidato à presidência palestiniana. 

 

Efectivamente, Ray Hanania é candidato às próximas eleições presidenciais para a Autoridade Palestiniana, tendo mesmo já avançado com um programa eleitoral que o próprio próprio Burston reproduziu na sua crónica.

 

Hanania, ciente das suas parcas possibilidades para vencer as eleições nos territórios da Palestina, admite que o seu principal objectivo é contribuir para o recomeço do processo negocial israelo-palestiniano. E para isso, Hanania elaborou uma plataforma programática com 16 pontos, sobre a qual palestininanos e israelitas podem procurar inspiração para reencontrarem o caminho das negociações.

 

Compromisso de Obama para Copenhaga de pouco serve sem o apoio do Congresso

Alexandre Guerra, 24.11.09

 

 

O Presidente Barack Obama volta a assumir a liderança da agenda política interna do Congresso americano ao revelar compromissos importantes, mesmo sabendo que para cumpri-los é necessário um longo e, por vezes, tortuoso caminho na Câmara dos Representantes e no Congresso.

 

Seja como for,este facto não tem inibido Obama de anunciar importantes medidas, que de certa forma acabam por pressionar o Congresso a legislar sobre as mesmas.

 

Aconteceu com a reforma do sistema de saúde e com as questões ambientais. Obama tem assumido vários objectivos ambiciosos, apesar da maior parte deles ainda nem sequer se ter concretizado em toda a sua plenitude no Congresso, incluindo a tão polémica reforma do sistema de saúde.

 

De acordo com algumas informações que estão a ser veiculadas, a Casa Branca irá anunciar uma meta clara para a redução de emissões de gases com efeito de estufa até à próxima cimeira de Copenhaga. Redução em 17 a 20 por cento até 2020 em relação aos níveis de 2005. Valores que embora estejam contemplados em propostas de lei que circulam pelo Senado, estão longe de ser aceites por todos os senadores ou congressistas.

 

Este compromisso fica politicamente bem a Obama em termos internacionais e surge numa altura particularmente sensível, já que sem uma posição de Washington sobre as emissões de gases de efeito de estufa, dificilmente se conseguiria obter uma declaração minimamente consistente em Copenhaga, que pudesse servir de documento base ao sucessor do protocolo de Quioto.

 

Mas o problema é que este e outros compromissos assumidos por Obama podem ser importantes politicamente, mas carecem de toda a base legal e jurídica para torná-los vinculativos e consequentes. Porque, de outro modo, tratam-se de meras declarações de intenções. 

 

Leituras

Alexandre Guerra, 22.11.09

 

Nos vigilan é uma excelente reportagem publicada na edição semanal do El País, da autoria de Stephen Baker, um especialista nos "numerati", engenheiros, matemáticos e informáticos que, ao serviço de universidades e empresas privadas, rastreiam e analisam os padrões de comportamento dos utilizadores da Internet.

 

De "click" em "click", os navedadores da Internet são seguidos atentamente pelos "numerati" que, com base em estatísticas, definem probabilidades de comportamentos.

 

Figuras de segunda linha geram consenso pouco habitual entre os Vinte e Sete

Alexandre Guerra, 19.11.09

 

 

A escolha dos nomes para os dois cargos da União Europeia criados com o Tratado de Lisboa foi célere, tendo bastado apenas algumas horas de conferência informal em Bruxelas para que os líderes dos Vinte e Sete nomeassem o primeiro-ministro belga, Herman van Rompuy, para se tornar no primeiro presidente permanente do Conselho da União Europeia, e Catherina Ashton, actual comissária do Comércio, para o cargo de Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança. 

 

De forma estranhamente pacífica e consensual, os líderes europeus nomearam Rompuy e Ashton, após terem passado várias semanas num tom crispado a trocarem diferentes nomes, entre os quais de homens tão influentes ou conhecidos na cena política europeia como Tony Blair, Jean-Claude Junker ou Jan Peter Balkenende.

 

Contra todas as expectativas, os líderes dos Vinte e Sete acabaram por optar por figuras "low profile" na vida política europeia, e terá sido precisamente esse o segredo para o clima de relativa tranquilidade em que decorreu o encontro informal dos chefes de Estado e de Governo. 

 

É preciso também referir que a Suécia, que ocupa actualmente a presidência rotativa da UE, geriu de forma bastante inteligente todo o processo, percebendo que não se chegaria a bom porto se se mantivesse o leque de nomes que foram sendo avançados nas últimas semanas, nomeadamente o de Tony Blair para o cargo de Presidente da UE.

 

Perante este cenário, a Suécia optou pela estratégia inversa e apostou em políticos pouco conhecidos que, de certa forma, têm estado distanciados dos alinhamentos ideológicos e das questões fracturantes que a UE têm vivido nos últimos tempos. 

 

Além disso, a presidência sueca foi sensível aos interesses de Londres, porque não obstante Blair ter perdido a corrida para a presidência da UE, os britânicos acabaram por ser compensados com a pasta dos negócios estrangeiros e da segurança que, segundo alguns analistas, terá mais poder que o próprio cargo de presidente do Conselho.

 

Friedman, um "falcão" da energia limpa

Alexandre Guerra, 18.11.09

 

Thomas Friedman, na sua habitual coluna no News York Times, assume-se como um autêntico "falcão" da energia limpa, defensor das propostas de lei que circulam nos corredores do Congresso americano lançadas pela Casa Branca, e critica aqueles que se opõem à implementação de legislação que possa introduzir a tecnologia de captura de carbono e um modelo de taxação sobre as emissões daquele gás.

 

Friedman revela não compreender as razões que sustentam a posição de tais opositores, já que para ele é uma evidência de que o clima está a mudar. E muito por causa da intervenção humana. 

 

Mas além das implicações ambientais óbvias, Friedman constata também existir uma problemática política que os Estados Unidos terão de enfrentar. Perante a necessidade inevitável de se encontrarem respostas, os países vão procurar soluções na tecnologia. E quanto mais avançados e céleres forem nessa demanda, mais cedo colherão benefícios e, de certa forma, reforçarão a sua influência e notoriedade no sistema internacional.

 

É por isso que Friedman considera que os Estados Unidos deverão estar na vanguarda desse processo. Até porque, de acordo com estudo das Nações Unidas de 2006, a população mundial vai crescer 2,5 mil millhões até 2050, o equivalente à população terrestre em 1950. A maior parte desse crescimento vai verificar-se em países menos avançados, já fortemente fustigados com graves debilidades estruturais. 

 

Ora, considera Friedman, se aos problemas de energia, de clima, de escassez de água e de poluição que existem actualmente, se acrescentar mais 2,5 mil milhões de pessoas para alimentar, vestir, transportar ou acomodar, o resultado será assustador. Face a este cenário, Friedman não tem dúvidas quanto ao lado a que pertence no debate sobre a problemática das novas políticas ambientais: o dos "falcões".  

 

Netanyahu diz "não" a Washington e fragiliza Obama no processo israelo-palestiniano

Alexandre Guerra, 18.11.09

 

 

A Casa Branca, através do seu porta-voz Robert Gibbs, manifestou um profundo desagrado pela decisão do Governo israelita de autorizar a construção de mais 900 habitações no colonato de Gilo, contíguo à parte oriental da cidade de Jerusalém.

 

Washington admite claramente que a decisão do Jerusalem Planning Committe, a entidade directamente responsável pelo licenciamento das novas casas, torna "mais difícil" o reatamento das conversações israelo-palestinianas.

 

Esta decisão foi também ratificada pelo Ministério do Interior isrealita, que é o mesmo que dizer com o apoio do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, desde há muito um defensor acérrimo da expansão dos colonatos hebraicos nos territórios da Cisjordânia.

 

De acordo com o correspondente da BBC em Washington, Paul Adams, corre nos "corredores" daquela cidade a ideia de que Netanyahu está a conseguir inutilizar os parcos esforços do Presidente Barack Obama no processo de paz do Médio Oriente. Porém, existem algumas vozes que dizem ser ainda demasiado cedo para se tirar uma conclusão sobre a estratégia que Obama esteja, eventualmente, a seguir nesta matéria.

 

Seja como for, certo é o facto dos apelos do Presidente americano não estarem a ser tidos em conta por Netanyahu, como admitiu o próprio George Mitchell, enviado dos Estados Unidos ao Médio Oriente. Segundo o jornal israelita Yedioth Aharanot e a Israel Army Radio, Mitchell terá interpelado directamente Netanyahu na Segunda-feira em Londres, pedindo-lhe que congelasse a expansão dos colonatos, já que Washington se opunha veementemente a esta estratégia.

 

 A resposta de Netanyahu foi negativa, justificando com o facto da expansão do colonato de Gilo não ser da competência do Executivo, mas sim, única e exclusivamente do município de Jerusalém. Relembre-se que apesar de Gilo está para lá da Green Line, Israel defende que aquele colonato é parte integrante de Jerusalém, cidade que na sua totalidade é considerada pelos governantes hebraicos como parte do Estado judaico.

 

A ser verdade a conversa entre Mitchell e Netanyahu (e a julgar pela reacção da Casa Branca tudo leva a crer que sim), as relações entre Telavive e Washington entram numa nova fase, visto ser caso raro na história daqueles dois países, governantes israelitas desafiarem de forma tão frontal um pedido feito pela Casa Branca. 

 

Netanyahu parece tê-lo feito, gerando o desagrado de Obama, bem evidente nas palavras de Gibs, e colocando o Presidente  americano numa situação delicada. 

 

Com esta iniciativa, o primeiro-ministro israelita consegue claramente uma posição de força no que diz respeito à política da expansão dos colonatos, um dos temas mais quentes do dossier israelo-palestiniano. Por outro lado, esta medida frustra qualquer tentativa negocial por parte de Washington, algo que também poderá ser do agrado de Netanyahu, tido como um "falcão" que nunca aceitará ceder em matérias como os colonatos, o estatuto de Jerusalém ou o direito de retorno dos refugiados palestinianos.

 

Por outro lado, o jogo que Netanyahu está a fazer poderá ser bastante arriscado, já que Washington foi sempre um aliado fiel de Israel, país que durante a sua história divergiu dos Estados Unidos em vários momentos, mas cujos seus governantes nunca ousaram desafiar Washington de forma tão frontal e directa, como parece que Netanyahu está agora a fazer.

 

Israel aproveita irrelevância política de Mahmoud Abbas e aprova mais colonatos

Alexandre Guerra, 17.11.09

 

O anúncio recente feito pelo Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, dando conta de que não se iria recandidatar nas eleições previstas para Janeiro, foi interpretado por alguns analistas como uma forma de pressão sobre Israel e sobre Washington, para que desbloqueassem o processo negocial, entretanto caído em mais um impasse.

 
Efectivamente, em política, nomeadamente naquela que lida com as grandes questões internacionais, esta é uma leitura que poderia ser feita, no entanto, Abbas nunca foi um homem de grandes manobras de bastidores. Ao contrário do seu antecessor, Abbas tem revelado uma certa sinceridade e, até mesmo, ingenuidade na forma como tem lidado com Israel.
 
Ora, este tipo de comportamento numa conjuntura como aquela que se vive há décadas no Médio Oriente não parece colher grandes frutos na hora de se exercer poder e influência na mesa das negociações. Aliás, a atitude de Abbas, que humanamente pode ser muito louvável, em termos políticos é desastrosa, fragilizando-o, ao ponto de Telavive ter assumido a sua agenda estratégica nos últimos anos sem ponderar qualquer tipo de contacto com Abbas. De tal forma, que Israel suspendeu unilateralmente o processo negocial e seguiu tranquilamente com a sua agenda de expansão de colonatos.
 
Mahmoud Abbas tornou-se, assim, uma figura meramente decorativa para Israel e, de certa forma, também para uma parte considerável dos territórios ocupados, nomeadamente na Faixa de Gaza. Até mesmo Washington, Moscovo ou Bruxelas parecem olhar para Abbas sem qualquer confiança quanto à sua autoridade e influência negocial. O Presidente da Autoridade Palestiniana terá percebido isso há algum tempo e, claramente, chegou o momento em que optou por sair de cena.
 
A sua irrelevância política face a Israel tem sido comprovada reiteradamente, tendo o Ministério do Interior israelita acabado de aprovar o licenciamento para a construção de mais 900 unidades habitacionais num dos colonatos hebraicos a leste de Jerusalém. Perante isto, Abbas limitou-se a comunicar, através do seu porta-voz, que “Israel deu mais um passo no sentido de demonstrar que não está pronto para a paz”.
 

Pág. 1/2