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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Washington terá que apoiar líderes corruptos para afastar talibans dos centros de poder

Alexandre Guerra, 30.10.09

 

Milícias tribais em Kanju, 5 de Outubro de 2009/Foto Alex Rodriguez/Los Angeles Times

 

A propósito da onda de ataques terroristas que têm assolado o Paquistão com particular intensidade neste mês de Outubro e face aos desenvolvimentos militares no Afeganistão, Max Hastings, colunista do Financial Times, questionava num artigo de opinião esta Quinta-feira se os interesses estratégicos do Ocidente na região são vitais.

 

Para Hastings, esta é uma pergunta para a qual a Casa Branca anda à procura de resposta, e que à luz das dificuldades crescentes faz cada vez mais sentido reflectir sobre a mesma.

 

Na opinião do famoso jornalista e escritor paquistanês, Ahmed Rashid, os Estados Unidos devem manter o seu empenho e o seu compromisso militar e político na região. Caso contrário, existe um risco real de “talibanização” de toda a região da Ásia Central, alastrando a países remotos como o Tajiquistão, o Turquemenistão, o Uzbequistão ou Quirguistão.

 

Porque apesar das dificuldades que os soldados americanos têm encontrado no terreno afegão e que as forças da CIA têm enfrentado no Paquistão, todo este envolvimento militar e político serve, de certa forma, como “travão” a uma constante pressão de “talibanização” não só no Afeganistão, mas em várias regiões no Paquistão e noutros países da Ásia Central. O Afeganistão, aliás, é um bom exemplo dessa realidade, quando nos anos 90 se tornou um autêntico “playground” de terroristas, a partir do qual saíram os estrategos e os autores dos atentados de 11 de Setembro.

 

Polícia paquistanês observa refugiados do Waziristão em Paharpur, 22 de Outubro de 2009/Foto B.K.Bangash)

 

É reconhecido por todos que o combate ao movimento taliban está cada vez mais difícil no Afeganistão e no Paquistão, sobretudo nalgumas zonas rurais, sendo que um dos grandes objectivos neste momento passa pelo afastamento dos radicais islâmicos dos grandes centros de poder. 

 

É por isso que o pensamento de Rashid assenta numa lógica algo cruel, mas simples e realista: é preferível ter líderes corruptos nos países da Ásia Central do que governantes fundamentalistas islâmicos, cuja sua missão é impor a sharia da forma mais conservadora possível e combater o estilo de vida ímpio de todos aqueles que não seguem a orientação rigorosa e estrita dos preceitos do Corão.

 

Quanto mais fracos e debilitados forem os governos (e refira-se que naquela região são quase todos, incluindo o de Islamabad), mais tentados pela conquista de poder surgem os movimentos associados aos taliban. Perante este cenário, o apoio político por parte dos Estados Unidos e da Europa a esses mesmos governos assume-se como vital para a sua sobrevivência e resistência aos ataques taliban.

 

Peshawar, 28 de Outubro de 2009/Foto Mohammad Sajjad/Associated Press

 

Para já, e a julgar pelos mais recentes sinais enviados pela liderança de Washington, os Estados Unidos parecem continuar empenhados politicamente no Paquistão, tendo a secretário de Estado norte-americana, Hillary Clinton, manifestado apoio ao Paquistão perante o ataque bombista de Peshawar, na Quarta-feira, que fez mais de 100 mortos.

 

Porém, concomitantemente, Clinton encostou o Governo paquistanês à parede, exigindo explicações pelo falhanço na captura de alguns altos membros da al-Qaeda. Clinton admitiu que desde 2002 que o Paquistão é um “paraíso” para aquela rede.

 

AI divulga relatório sobre a problemática do acesso à água potável no Médio Oriente

Alexandre Guerra, 27.10.09

 

A Amnistia Internacional divulgou hoje um importante relatório sobre a problemática do acesso à água potável nos territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Troubled Water - Palestinians Denied Fair Access to Water é um documento de 112 páginas e revela duas realidades distintas entre Israel e os territórios palestinianos no que diz respeito à gestão e utilização dos recursos hídricos da região.

 

Obama reage aos "sinais" da opinião pública e declara Gripe A como emergência nacional

Alexandre Guerra, 26.10.09

 

Americanos à espera de serem vacinados contra a Gripe A/Tracy A. Woodward

 

Dois dias antes de Portugal ter começado o programa nacional de vacinação contra o H1N1, o Presidente Barack Obama proclamou a Gripe A como um factor de “emergência nacional”. Uma medida que pouco mais vai fazer do que permitir aos hospitais agilizarem alguns processos internos perante a entrada de novos doentes.

 

Mais do que em critérios de saúde pública, a decisão de Obama assenta em pressupostos políticos e, de certa forma, sociais, já que com esta medida o Presidente dos Estados Unidos pretende transmitir uma mensagem de confiança para os americanos e responder aos seus anseios.

 

A decisão surge poucos dias depois da publicação de uma sondagem do Washington Post/ABC, na qual 52 por cento dos americanos revelam estar preocupados com a possibilidade contraírem, ou alguém da sua família, a Gripe A.

 

Obama percebeu que teria que se manter à altura das expectativas que o eleitorado tem depositado em si, nomeadamente ao nível da sua competência e da esperada capacidade de resposta.

 
O sentimento de insegurança crescente, em parte alimentado pelos meios de comunicação social, e reflectido na evolução das sondagens que em Agosto último davam apenas 39 por cento dos americanos preocupados com o assunto da Gripe A, levou a que Obama agisse.
 
Uma acção que em abono da verdade não implica grandes mudanças no sistema de saúde, mas que em termos políticos poderá ser muito importante, sobretudo quando enquadrada numa opinião pública que ainda tem bem presente na memória o descalabro da resposta do Governo à devastação provocada pelo furacão Katrina em 2005.
 
Embora tivesse sido toda uma estrutura federal a falhar, a verdade é que os americanos não pouparam o então Presidente George W. Bush, depositando neste todas as culpas pela descoordenação completa entre as várias entidades governamentais envolvidas no resgate das vítimas.

 

Ora, esta é precisamente uma imagem que Barack Obama quer evitar a todo o custo, estando para já a ser hábil na leitura dos sinais enviados pelos americanos.

 

Momentos com história

Alexandre Guerra, 25.10.09

 

New York Times/João Silva

 

Pelo menos 132 pessoas morreram e mais de 500 ficaram feridas em atentados bombistas simultâneos este Domingo no centro de Bagdad, junto à Green Zone, mais concretamente aos edifícios do Ministério da Justiça e do Conselho Provincial. Os ataques foram perpetrados através de carros armadilhados com bombas e conduzidos por  terroristas suicidas, que conseguiram passar os vários checkpoints até chegarem a Haifa Street, em plena hora de ponta.

 

É o pior ataque desde Agosto de 2007 e aconteceu três meses após as forças americanas terem transferido o controlo da segurança das cidades iraquianas para os soldados e polícias locais. O primeiro-ministro do Iraque, Nouri Maliki, acusou a al-Qaeda e antigos apoiantes de Saddam Hussein de estarem por detrás dos atentados.

 

Annan entrega prémio Prix Pictet a Nadav Kander por trabalho sobre o rio Yangtze

Alexandre Guerra, 24.10.09

 

Pessoas numa das margens do rio Yangtze/Foto: Nadav Kander

 

O fotógrafo Nadav Kander foi o vencedor da edição deste ano do prestigiado prémio para a sustentabilidade ambiental Prix Pictet, com um trabalho sobre as transformações físicas e sociais impostas pela metamorfose do rio chinês Yangtze.

 

O galardão foi entregue por Kofi Annan, Nobel da Paz e antigo secretário-geral das ONU, reconhecendo-se, assim, o valor da mensagem transmitida pela série de fotografias de Kander com o nome de Yangtze, The Long River Series, 2006-07.

 

O Prix Pictet tem como objectivo seleccionar todos os anos os melhores trabalhos fotográficos e que melhor expressem as problemáticas da sustentabilidade ambiental inseridas num tema abrangente previamente definido. Para este ano, a temática escolhida foi a "Terra".

  

Hamid Karzai aceita derradeira ronda eleitoral com "fair play"

Alexandre Guerra, 20.10.09

 

 

A 31 de Agosto e perante a euforia desenfreada pós-eleitoral manifestada por várias chancelarias com o suposto sucesso das presidenciais afegãs, o Diplomata abordou neste espaço a estranheza por aquelas manifestações de entusiasmo.

 

Quase dois meses depois, a equipa de observadores das Nações Unidas exigiu que fosse realizada uma segunda volta a 7 de Novembro entre o Presidente Hamid Karzai e o seu principal oponente, Abdullah Abdullah.

 

Afinal, chegou-se à conclusão que houve irregularidades em 210 locais de voto, obrigando à invalidação dos actos eleitorais ali praticados.

 

Perante este cenário, os observadores das Nações Unidas consideraram que ao contrário dos 55 por cento de votos, que deram a vitória a Karzai sem necessitar de uma segunda volta, a recontagem coloca-o um pouco acima dos 48 por cento. E assim, a lei eleitoral exige a realização da derradeira ronda.

 

De acordo com alguns analistas, pode ser possível que Karzai e Abdullah possam chegar a um acordo de entendimento para a formação de um Governo de unidade nacional. Os próximos dias serão cruciais para se perceber a tendência política dos dois candidatos.

 

No meio deste processo, o Diplomata gostaria apenas de deixar uma nota de "fair play" ao Presidente Hamid Karzai que aceitou tranquilamente o processo de recontagem dos votos, uma atitude que obviamente se espera de um chefe de Estado responsável, mas que nem sempre se verifica em processos deste género. 

 

O terror semeado em terras africanas pelos bárbaros do Lord's Resistence Army

Alexandre Guerra, 16.10.09

 

Uma criança a observar pessoas num campo algures no Norte da RDC

 

Por vezes, e sobretudo no mundo ocidental, é importante relembrar que existem zonas na Terra onde reina um "homem " no seu estádio mais primitivo e bárbaro, desprovido de qualquer sensibilidade para com o semelhante, para o qual actos como matar, violar e espancar fazem parte do seu quotidiano.

 

O grau de desumanização daqueles actos é tão brutal que é legítimo perguntar-se que tipo de "criaturas" circulam por locais tão distantes e recônditos da Terra. 

 

Mas, perante o distanciamento geográfico do mundo ocidental daquelas zonas e tendo em conta o pouco impacto daqueles micro-conflitos nas relações internacionais, a opinião pública mundial vai dando pouca atenção a estas tristes realidades.

 

Pierrete, uma jovem congolesa que não sabe ao certo a sua idade, é uma "esposa forçada"

 

Os Médicos Sem Fronteiras tentaram esta semana colocar na agenda mediática uma das maiores atrocidades que se têm cometido em África, mais concretamente no Norte da República Democrática do Congo (RDC). Aquela ONG alertou para o facto de milhares de pessoas estarem novamente em fuga das perseguições do Lord's Resistence Army (LRA).

 

O líder do LRA, Joseph Kony, que tem um mandado de captura internacional emitido em seu nome, está claramente a alargar o território de actuação, visto que há algum tempo que deixou a sua "base" no Uganda para estar presente na República Centro Africana (RCA) e para fazer incursões na RDC. E ainda segundo algumas informações, é muito provável que Kony esteja a dirigir-se para Darfur, de modo a aliar-se às milícias Janjweed.

 

Michel, 30 anos, foi obrigado pelo LRA a cortar um homem com um machado

 

Com esta estratégia, o LRA poderá vir a obter apoio militar por parte do regime de Cartum, como aliás já aconteceu no passado. O ainda frágil Governo autónomo do Sul do Sudão acusa o Executivo do país de querer desestabilizar aquela região. 

 

Perante isto, não é de estranhar que o LRA esteja a ser combatido pelas forças da RDC, do Uganda e também do Sul do Sudão. 

 

Os homens de Kony vão, entretanto, semeando o terror nas populações indefesas, matando, violando, mutilando, queimando casas e escravizando. Uma realidade que se prolonga há duas décadas. 

 

Primeiro-ministro checo lamenta exigência do seu Presidente e tenta tranquilizar Barroso

Alexandre Guerra, 13.10.09

 

Jan Fischer e Durão Barroso esta Terça-feira na Comissão/Thierry Rouge/Reuters

 

O Diplomata escreveu neste espaço há poucos dias que depois do passado Sábado, dia em que o Presidente polaco, Lech Kaczynski, ratificou o Tratado de Lisboa, a pressão iria aumentar sobre o chefe de Estado da República Checa, Vaclav Klaus. 

 

Com a ratificação de Kaczynski, um eurocéptico que acabou por cumprir aquilo que já tinha sido acordado e assinado em Lisboa em 2007, durante a presidência portuguesa da União Europeia (UE), Klaus tornou-se no último dirigente dos Vinte e Sete a dar "luz verde" ao documento.

 

Por isso, e tendo em conta os argumentos e obstáculos que agora está a impor, a sua posição começa a tornar-se insustentável, ao ponto de provocar um endurecimento no discurso do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que esta Terça-feira considerou inaceitável a posição de Klaus.

 

O próprio primeiro-ministro checo, Jan Fischer, mostrou-se compreensivo perante as preocupações manifestadas por Barroso, e informou que o assunto será abordado na cimeira europeia de 29 e 30 de Outubro.

 

Por esaa altura, o Tribunal Constitucional checo já deverá ter-se pronunciado sobre uma queixa interposta por senadores eurocépticos sobre a compatibilidade do Tratado de Lisboa na ordem interna da República Checa.

 

As informações que têm surgido na imprensa são de que o Tribunal Constitucional poderá não dar razão aos senadores e considerar que o Tratado não viola a lei fundamental checa, no entanto, esta posição não será suficiente para que Klaus ratifique o documento.

 

Além da decisão favorável do Tribunal, Klaus pretende ver cumprida uma outra exigência feita aos parceiros europeus, de que o Tratado de Lisboa inclua uma nota de rodapé que permita à República Checa ausentar-se da jurisdição da Carta dos Direitos Fundamentais.

 

Esta exigência deve-se ao facto da Carta poder vir a permitir teoricamente que os três milhões de alemães expulsos da então Checoslováquia no final da II GM possam vir a reclamar as suas propriedades entao confiscadas por Praga.

 

Fischer, no encontro que teve hoje com Barroso, critica o timing de Klaus para esta exigência e lamenta que a mesma não tenha feito sido feita no tempo próprio, aquando da negociação do Tratado de Lisboa.

 

De acordo com o que tem circulado nas capitais europeias, parece estar fora de questão quaisquer alterações materiais ao Tratado, já que isso poderia obrigar a um novo processo de ratificação por parte dos Vinte e Sete. Perante este cenário, poderá haver uma outra solução que passará pela aprovação de uma declaração política na próxima cimeira europeia, que estabeleça uma espécie protocolo adicional que acautele os interesses checos.

 

O problema é que nem mesmo esta solução poderá satisfazer Klaus, já que este parece intransigente na inclusão da nota de rodapé no Tratado.

 

Fisher teve a preocupação de informar os parceiros europeus de que o Governo checo tem a melhor das vontades em concluir o processo de ratificação, porém, segundo o EuObserver, o próprio primeiro-minisro checo terá demonstrado alguma insegurança e desconhecimento quanto ao comportamento de Klaus sobre esta matéria.  

 

Momentos com história

Alexandre Guerra, 10.10.09

 

                                                                                            Reuters

 

O Presidente da Polónia, Lech Kaczynsky, ratificou hoje o Tratado de Lisboa, para grande satisfação de Durão Barroso, recentemente reconduzido à frente dos desígnios da Comissão Europeia. Depois de mais de um ano de resistência criada em parte pelo próprio Kaczynsky, um eurocéptico assumido, o chefe de Estado polaco acabou por ceder aos apelos e pressões externas e concluiu este Sábado um longo e conturbado processo de ratificação.

 

Assim, a República Checa torna-se no único país dos Vinte e Sete que ainda não ratificou o Tratado de Lisboa, estando isolada na sua oposição àquele documento.

 

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