Depois da euforia pós-eleitoral, a confrontação com a realidade afegã
Uma escola na aldeia de Pul-i-Charkhi, que acolheu as urnas de voto/Tyler Hicks/NYT
A euforia pós-eleitoral manifestada por alguns responsáveis internacionais sobre o processo de voto nas presidenciais do Afeganistão do passado dia 20 de Agosto contrariava todos os pressupostos racionais e lógicos que durante meses vinham a ser comprovados diariamente no terreno.
Embora não fossem as primeiras eleições no país, a verdade é que o Afeganistão continuava sem reunir as condições básicas para proporcionar aos seus eleitores um processo eleitoral justo e digno.
No entanto, a julgar pelas primeiras análises ao acto eleitoral, dir-se-ia que o Afeganistão teria vivido uma aceleração repentina na sua caminhada para a "democracia" de um dia para o outro.
Alguns jornais, veiculando diversas fontes, chegaram mesmo a escrever que as eleições tinham sido um sucesso, informando que não se tinham verificado actos de violência significativos, tendo o processo decorrido com relativa tranquilidade.
De certa maneira, isto foi verdade, no entanto, a "segurança" não era o único factor em jogo. Embora fosse talvez o mais importante para o processo eleitoral, houve outros factores, como a cultura democrática e cívica, que foram esquecidos na análise pós-eleitoral.
Deste modo, foram tiradas conclusões demasiado cedo e de forma precipitada, sem se ter em consideração todos os factores.
Assim, numa perspectiva de segurança é verdade que o processo decorreu de forma relativamente pacífica, mas com o passar dos dias foi-se percebendo que aconteceram outros fenómenos igualmente perturbadores na ordem eleitoral.
Diariamente vai aumentando a lista de casos de fraude e de corrupção eleitoral. Ainda ontem, as entidades responsáveis afegãs pelos resultados eleitorais informaram que o número de irregularidades graves duplicou, registando-se neste momento cerca de 550 casos, num total de mais de 2000 queixas.
Este cenário poderá provocar o adiamento da divulgação oficial dos resultados para depois de Setembro, já que por lei as autoridades são obrigadas a investigar todos os casos suspeitos de irregularidades graves.
Para Martine van Bijlert, analista no The Afghanistan Anlysts Network, estas alegações estão a ser levadas a sério pelas autoridades, parecendo ser cada vez mais evidente que o processo eleitoral do passado dia 20 ficou marcado por fraudes sistemáticas.
Caso se confirme esta possibilidade, ficarão em causa os resultados eleitorais, complicando ainda mais a disputa que já se verifica entre o actual Presidente Hamid Karzai, e o seu principal rival, Abdullah Abdullah, na qual ambos clamam vitória.