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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O "reencontro" com Phillip Gordon

Alexandre Guerra, 15.07.09

 

Phillip Gordon, Secretário de Estado Adjunto para a Europa/AFP

 

Já lá vão alguns anos, mas terá sido em 2001 ou 2002 que este autor entrevistou Phillip Gordon na Fundação Calouste Gulbenkian, à margem de uma conferência em que aquele participava.  

 

Na altura, Gordon, um especialista em assuntos internacionais, era um dos mais conceituados colunistas do New York Times. Este autor era um seguidor entusiasta dos seus textos, tendo-o citado por inúmeras vezes. Porém, por nenhuma razão em especial, o Diplomata deixou de seguir os seus escritos e já há bastante tempo que não sabia por onde parava... Até ao início desta semana.

 

Numa entrevista dada ao El País, Phillip Gordon fala na qualidade de Secretário de Estado Adjunto para a Europa, tendo sido um agradável "reencontro" para o autor destas linhas.

 

Esta nomeação representa o reconhecimento do mérito de Gordon pelo Presidente Barack Obama e pela Secretária de Estado Hillary Clinton.

 

A nova composição do Parlamento Europeu

Alexandre Guerra, 14.07.09

 

 

EPP - European People's Party (Christian Democrats)
PASDE - Progressive Alliance of Socialists and Democrats in Europe (centre-left)
ALDE - Alliance of Liberals and Democrats for Europe (liberal)
GUE/NGL - European United Left-Nordic Green Left (left-wing)
Greens/EFA - Greens/European Free Alliance (Greens and regionalists/nationalists)
ECR - European Conservatives and Reformists Group (right-wing)
EFD - Europe of Freedom and Democracy (Eurosceptic)
NI - Non-attached (MEPs not part of any group)
 
Obs: Estes grupos podem vir a ser alterados em função de eventuais alianças que possam vir a ser estabelecidas. Caso o Tratado de Lisboa entre em vigor, o Parlamento Europeu passará a contar com 754 assentos, um acréscimeno face aos actuais 736.

 

Fonte: BBC World

 

Será desta que o Nabucco vai arrancar?

Alexandre Guerra, 13.07.09

 

PROJECTED ROUTES OF NORD STREAM, NABUCCO AND SOUTH STREAM PIPELINES

 

 

O Nabucco parece ter finalmente condições políticas para avançar, depois de cinco países europeus terem assinado esta Segunda-feira na Turquia um acordo para a construção daquele gasoduto, que pretende transportar gás natural do Mar Cáspio e do Médio Oriente até à Europa, contornando território russo e ucraniano.
 
Já por várias vezes, o Diplomata falou sobre este projecto, que se discute há alguns anos e que tem como principais intervenientes a Turquia, a Roménia, a Bulgária, a Hungria e a Áustria.
 
Apesar do apoio da Comissão Europeia ao Nabucco, a verdade é que o mesmo ainda não passou do papel, tendo sido sucessivamente adiado, sendo que Ancara já fez saber que serão precisos pelo menos mais 6 meses para que o acordo final fique concluído.
 
Além disso, e não obstante a vontade dos países signatários, existem muitas incertezas quanto à origem do fornecimento de gás natural. Países como o Irão, Cazaquistão, Iraque, Turquemenistão e o Egipto podem ser potenciais fornecedores, mas está-se ainda longe de ter garantido qualquer tipo de modelo de negócio.
 
Ao mesmo tempo, Moscovo vai tentando garantir o máximo de fornecedores possíveis na região do Cáspio, uma vez que está igualmente a desenvolver, em parceria com a Alemanha, o gasoduto Nord Stream, que vai ligar directamente o território russo ao alemão. Refira-se que este projecto já está numa fase de implementação, ou seja, bastante mais avançado que o Nabucco.  

 

A União Europeia mantém o Nabucco como projecto prioritário (23 de Março de 2009) ; A guerra dos gasodutos na cimeira da Primavera (20 de Março de 2009); A Bulgária na rota da energia (17 de Março de 2007)

 

Barroso não pode contar com o entusiasmo europeu dos líderes, tal como Delors contou

Alexandre Guerra, 08.07.09

 

 
Jacques Delors é, e será sempre, uma figura de referência na construção europeia, mas tal evidência não deve distorcer a análise comparativa entre os seus dois mandatos e os que se lhes seguiram. 
 
De certa maneira, no final dos anos 80 e no início dos anos 90 viveu-se uma euforia europeia, com os vários líderes, com destaque para Helmut Kohl e Francois Miterrand, a “acelerarem” o projecto europeu para um nível de integração absolutamente inédito. Maastricht é precisamente o resultado, mas também o símbolo, dessa vontade política.
 
Mas, hoje, a euforia deu lugar ao descontentamento e cepticismo no seio dos Vinte e Sete. Os europeus não parecem ver na Europa um projecto aliciante, mas sim uma entidade burocrática, dominada por tecnocratas que se limita a emitir directivas. A juntar-se a esta ideia, muitos dos intervenientes políticos nos vários Estados-membros tecem duras críticas ao projecto europeu.
 
 
Por esta razão, Charles Grant, do think tank Centre for European Reform, é claro ao afirmar que o período que Durão Barroso vive é bastante mais conturbado do que aquele que Delors atravessou. Não apenas por causa da conjuntura actual de crise económica/financeira do sistema internacional, mas sobretudo, porque Barroso não tem aliados políticos como aqueles que Delors teve.
 
Ou seja, chefes de Estado e de Governo fortemente comprometidos com a construção do projecto europeu. O antigo chanceler Helmut Kohl e o já falecido Presidente Francois Miterrand são exemplos dessa diferença de tempos.
 
A observação de Grant é, por isso, muito importante, no sentido enquadrar os mandatos de Delors num determinado contexto histórico favorável à construção europeia, e com isto desmistificar uma certa ideia quase mitológica criada à volta daquele presidente de Comissão.
 

O adeus à política ou o início de uma corrida à Casa Branca?

Alexandre Guerra, 04.07.09

 

Robert DeBerry/The Mat-Su Valley Frontiersman/AP 

 

Como em quase todos os processos eleitorais cujos resultados implicam rupturas no sistema político, mais concretamente ao nível da governação, uma das primeiras consequências para os derrotados é renovar quadros e procurar novos intervenientes que possam apresentar-se ao eleitorado nos anos seguintes.

 

De certa forma, é isto que tem acontecido no seio do Partido Republicano nos Estados Unidos, após a derrota nas presidenciais de Novembro e a perda de peso político no Congresso, terminando assim um ciclo de oito anos de poder em Washington. 

 

Nos últimos meses, vários nomes têm sido referidos como potenciais candidatos do GOP à presidência dos Estados Unidos em 2012. O problema é que as supostas estrelas republicanas em ascensão têm caído rapidamente, muitas delas, curiosamente, por causa de escândalos sexuais.

 

De entre os nomes surgidos, há pelo menos um que se tem mantido na corrida, e que agora parece estar a ganhar mais fôlego. Sarah Palin, ex-candidata à vice-presidência dos Estados Unidos nas últimas eleições, anunciou esta Sexta-feira a sua demissão do cargo de governadora do Alaska, apesar do seu mandato só terminar em 2010.

 

Esta manobra lançou de imediato a especulação entre os meios políticos, quanto à possibilidade de Palin estar a preparar-se para iniciar um trajecto que terá a Casa Branca como destino.

 

Efectivamente, tal ideia não será para já de descartar, visto que Palin não revelou planos quanto ao seu futuro, deixando tudo em aberto, tendo apenas informado que deixará o cargo de governadora no final do mês. Além disso, ao citar o Major General Oliver Prince Smith (embora tenha dito que a frase era do General Douglas MacArthur), Palin disse o seguinte: "We are not retreating. We are advancing  in another direction."

 

O site Politico referia que esta surpreendente decisão libertava Palin de todas as obrigações e constrangimentos que o cargo de governador obriga, ficando assim totalmente à vontade para fazer contactos e preparar terreno por todo o país. Relembre-se que Palin tem sido acusada de descurar as suas obrigações no Alaska por estar constantemente em viagens noutros estados.

 

Por outro lado, a sua demissão pode simplesmente estar relacionado com o facto de Palin querer afastar-se das luzes da ribalta, uma vez que desde a campanha eleitoral a agora ex-governadora do Alaska não tem tido tréguas por parte da imprensa.

 

E a verdade é que Palin acabou de assinar um contrato bastante lucrativo para escrever um livro. Ao New York Times, o neo-conservadora William Kristol, editor da Weekly Standard, referiu que Palin estava permanentemente a ser acusada de descurar nas suas funções enquanto governadora do Alaska. Com esta decisão, refere Kristol, Palin vai ter a possibilidade de se dedicar a outras actividades, sem prejudicar o estado do Alaska. 

 

Quando o ayatollah Montazeri recebeu uma jornalista portuguesa em sua casa...

Alexandre Guerra, 01.07.09

 

 

 

Por Margarida Mota*

 

Talvez sejam dos cinco mil quilómetros de distância, mas em Portugal – como, na verdade, em grande parte do mundo – tendemos a pensar no Irão como um regime homogéneo, sem espaço para a discordância. De tempos a tempos, os iranianos vão a votos e abrimos, então, uma excepção nessa visão estereotipada, concedendo que, afinal, há candidatos conservadores mas também reformistas. Mas raramente temos consciência que, nos bastidores da Revolução, há cisões nos patamares mais altos da hierarquia religiosa.

 

Apercebi-me disso pela primeira vez, fora dos livros de História, quando me desloquei ao Irão, em meados de 2006, em trabalho para o “Expresso”. Certo dia, quando visitava a cidade santa de Qom, manifestei o desejo de entrevistar o “ayatollah” Montazeri, sem grande esperança, na verdade, que tal fosse possível. Hossein Ali Montazeri é membro do clube exclusivo dos “Grandes ayatollahs” e foi, durante anos, o sucessor designado pelo “imam” Khomeini para ser o Líder Supremo do Irão. Khomeini chegou mesmo a dizer ser Montazeri o “fruto da minha vida”.

 

Montazeri caiu em desgraça quando, ainda com Khomeini vivo, começou a criticar o rumo que a Revolução levava, sobretudo ao nível das restrições políticas e culturais e do tratamento dos prisioneiros políticos e dos opositores ao regime. Em 1997, depois de ter criticado as credenciais teológicas do Líder Supremo Ali Khamenei, foi colocado em prisão domiciliária, até 2003.

 

Com tudo isto em mente, foi grande a minha surpresa quando fui informada que Montazeri tinha-se predisposto a receber-me e ao António Pedro Ferreira, o repórter fotográfico que me acompanhava. Ultrapassados alguns procedimentos de segurança, já no espaço interior da sua casa, acedemos, então, à sala, simples e despojada de decorações e novas tecnologias, onde Montazeri já nos aguardava.

 

Há pormenores desse encontro que nunca esquecerei: “Estamos no Irão pela primeira vez. Tínhamos de o vir visitar”, foram as minhas primeiras palavras. Sem nunca me fixar nos olhos, Montazeri foi passando a sua mensagem: “Com a graça de Deus, espero que vocês, enquanto jornalistas, descrevam as coisas que vêem neste país de forma independente. E não tenham medo se alguém vos questionar sobre aquilo que escreverem. Sejam vós próprios”.

 

Ao fundo da sala, sentado numa cadeira, um jovem guarda assistia, em silêncio, a tudo o que se passava. Ele era os olhos e os ouvidos do regime junto do principal dissidente da Revolução Islâmica. Desde que saíra de prisão domiciliária que Montazeri tinha com o regime uma espécie de acordo de cavalheiros: ele doseava as palavras e as autoridades permitiam-lhe uma vida aparentemente normal.

 

Durante a crise política saída das eleições presidenciais de 12 de Junho, a voz de Montazeri tem-se feito ouvir por diversas vezes. Às primeiras horas da contestação, ele difundiu um comunicado com um alerta: “Se os iranianos não podem falar dos seus direitos legítimos em manifestações pacíficas e são, em vez disso, reprimidos, as frustrações crescerão, o que pode erradicar os alicerces do governo, por muito poderoso que seja”.

 

Há 20 anos, por ocasião do 10º aniversário da Revolução, e numa altura em que a vida de Khomeini se aproximava do fim, Montazeri evidenciara preocupações semelhantes. Mostrara-se crítico em relação ao governo liderado por… Mousavi , advogando uma maior liberdade política, o fim da censura nos meios de comunicação e um sistema de economia liberal com poucas intervenções do Estado. “Devemos arrepender-nos dos erros cometidos no passado”, afirmou então Montazeri. Uma reflexão que, hoje, aos 85 anos, aquele que foi um dos maiores arquitectos da República Islâmica do Irão continua a reafirmar.

 

*Jornalista do Expresso

 

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