Indianos a circular nas ruas de Bangalore
Do muito que se tem escrito sobre a actual crise internacional e das suas repercussões nos vários países, este autor leu recentemente uma análise bastante interessante na Newsweek a propósito do papel da Índia na actual conjuntura.
O texto é assinado por Arvind Subramanian, senior fellow do Peterson Institute for International Economics, e começa por fazer um enquadramento político na Índia, salientando a recente vitória do histórico Partido do Congresso nas eleições legislativas de Maio.
Subramanian observa que a Índia tem resistido à turbulência financeira e económica melhor do que outros países, nomeadamente do bloco BRIC, em particular a China. Tal deve-se ao facto da Índia nunca ter-se deslumbrado pelos mecanismos e modelos económicos e financeiros que tanto atraíram investidores em países como os Estados Unidos, a Inglaterra, a Alemanha, o Japão ou a China.
Não obstante, a Índia cresceu nos últimos cincos anos quase a uma média de 9 por cento ao ano, mas, segundo aquele investigador, sem correr os riscos que os Estados Unidos correram na área do “finance”, com a exposição aos produtos de alto risco, ou a sujeitar-se às fragilidades do mercado internacional como a China o fez no sector do “trade”, nomeadamente através da forte dependência nas exportações. Como refere Subramanian, a actual crise poderia ter acabado com o sonho indiano, mas não acabou.
A Índia evitou enquadrar o seu modelo de crescimento exclusivamente em estratégias extremas, fosse através de mecanismos financeiros complexos e altamente dependentes dos canais internacionais, fosse através de políticas económicas unicamente assentes nas exportações.
Segundo Subramanian, o segredo para a relativa estabilidade da Índia nos dias que correm deve-se em grande parte ao desempenho do primeiro-ministro, Manmohan Singh, nos últimos cinco anos, e agora reeleito.
Da religião sikh e nascido na zona ocidental do Punjab, Singh foi funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI) e governador do Banco Central da Índia. A sua formação académica é de Oxford e de Cambridge. Com este passado percebe-se facilmente que Singh, além de dominar a teoria da economia internacional e dos mercados financeiros, tem igualmente uma experiência que certamente lhe está a ajudar na condução dos desígnios da maior democracia do mundo.
A verdade é que Índia vive hoje uma situação que lhe permite ter alguma folga nos cofres do Estado, assim como na capacidade de financiamento empresarial, tendo conseguido manter elevadas reservas em dólares.
Mesmo ao nível das exportações, a Índia não está a ser tão afectada como, por exemplo, os Estados Unidos ou a China. As exportações na Índia nunca contaram mais de 20 por cento da sua economia, contrastando com os 45 por cento da China. É certo que em tempos de bonança, este país acaba por beneficiar bastante mais que a Índia, mas no actual cenário de contracção, a vantagem está do lado da nação indiana.
Subramanian acredita que esta situação resulta de uma estratégia consciente de Singh. A quase maioria absoluta do Partido do Congresso obtida nas eleições legislativas de Maio pode ser o reconhecimento, por parte do povo, dessa mesma estratégia, ou seja: “(…) India never enjoyed the kind of benefits – such as greater efficiency and productivity leading to even higher growth – that big-bang reforms can deliver. But it did have the huge advantage of ensuring stability when conditions got rough."
Em jeito de metáfora, Subramanian acaba o seu texto a comparar a Índia ao “revolucionário” Nano, um automóvel de 2000 dólares, modesto e longe de ser “fancy”, mas um caso de sucesso.