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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O primeiro juiz "hispânico" do Supremo Tribunal dos EUA afinal seria português

Alexandre Guerra, 30.05.09

 

A propósito da nomeação de Sonia Sotomayor para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos gerou-se um debate secundário, mas muito interessante, sobre o facto se aquela juíza é efectivamente a primeira hispânica a marcar presença na mais alta instância judicial dos Estados Unidos.

 

E tais dúvidas ficam-se a dever ao antigo juiz do Supremo nos anos 30, chamado de Benjamin Cardozo, cuja origem será portuguesa de uma família judia. A questão é que para os americanos este facto é suficiente para considerá-lo hispânico, já que a Hispania será algo que corresponderá mais ou menos à Península Ibérica.

 

Jeffrey Rosen chega mesmo a escrever o seguinte: "She [Sotomayor] would be the first Hispanic Supreme Court justice, if you don't count Benjamin Cardozo." Ora, mesmo perante a possibilidade de Cardozo ter origem portuguesa, isso não é suficiente para encerrar um debate que é à partida inócuo para quem tenha a mínima noção de geografia e de conhecimento dos povos.

 

É extraordinário que perante estes factos ainda existam pessoas nos Estados Unidos que considerem que o Supremo já teve o seu primeiro membro hispânico. Ao New York Times, o Professor Andrew Kaufman, da Harvard Law School, classifiou o debate como "esotérico" e "complexo", não conseguindo avançar com uma resposta clara e objectiva. 

 

O que não deixa de ser surpreendente, já que Kaufman chega a admitir que a família de Cardozo chegou à América no século XVIII vinda de Portugal.

 

Perante a ausência de uma posição clara de Kaufman, é o próprio New York Times que divaga:  "Professor Kaufman said that although there is no documentation, Cardozo’s family, which came to America in the 18th century, always believed that its forebears had come from Portugal, not Spain. And that raises an even more recondite question: are Portuguese people Hispanic?"

 

E é então que se introduz uma nova informação que, embora surpreendente, poderá ajudar a compreender melhor todo este debate. "Most Hispanic organizations and the United States Census Bureau do not regard Portuguese as Hispanic." Até aqui nada de novo...

 

"But Tony Coelho, a Portuguese-American congressman from California, was a member of the Congressional Hispanic Caucus when he was in the House, and Representative Dennis Cardoza, Democrat of California, whose ancestors came from the Azores, a Portuguese archipelago, is still a member."

 

Perante esta transfiguração hispânica, Arturo Vargas, director da National Association of Latino Elected and Appointed Officials, coloca algum senso em toda este devaneio ao explicar que a concepção contemporânea de hispânico nos Estados Unidos não inclui certamente Benjamon Cardozo.

 

Para Vargas, ser-se hispânico nos Estados Unidos corresponde apenas àqueles que são descendentes dos países das Américas de língua espanhola, não estando sequer contemplados os originários de Espanha.

 

Uma nomeação que não deverá alterar a balança ideológica no Supremo Tribunal

Alexandre Guerra, 26.05.09

 

Barack Obama e a juíza Sonia Sotomayor/Chip Somodevilla/Getty Images 

 

Em Abril de 2007, o Diplomata escrevia aqui que ao contrário do que se poderia julgar, a marca mais significativa que George W. Bush deixaria na política americana após a sua saída da Casa Branca não seria tanto no âmbito da "guerra ao terrorismo" (porque essa depressa se esvaneceria a partir do momento em que os democratas assumissem os desígnios da administração), mas sim no campo ideológico. 

 

E isso só seria possível porque o Presidente Bush aproveitara uma oportunidade rara, que poucos dos seus antecessores tiveram, para alterar a composição e a tendência ideológica do Supremo Tribunal.   


Devido à conjugação de uma série de circunstâncias que ocorreram naquele órgão durante os mandatos de Bush, o então Presidente pôde imprimir um carácter mais conservador, ao nomear dois novos juízes, Samuel Alito e John Robert, que viria assumir o cargo de presidente, de acordo com a sua visão ideológica.

 

Assim, actualmente, dos 9 juízes a maioria é assumidamente conservadora no que concerne aos temas contemporâneos fracturantes. Tratando-se de cargos vitalícios, poucos Presidentes tiveram tal oportunidade para moldar à sua imagem uma instituição que rege a sociedade americana no âmbito político e social.

 

Mas, o Presidente Barack Obama viu-se perante a possibilidade de escolher um dos elementos do Supremo Tribunal, após o juiz David H. Souter ter anunciado recentemente que se ia retirar daquele órgão após lá ter estado durante 19 anos.

 

Tal como Bush, também Obama aproveitou de imediato a oportunidade para nomear uma pessoa que se enquadrasse no seu perfil ideológico. Sonia Sotomayor foi o nome anunciado esta Terça-feira pela Casa Branca, tornando-se na primeira pessoa de origem hispânica a ocupar aquele cargo, e estando claramente identificada com o campo democrata.

 

De tal forma que a sua nomeação terá a oposição dos senadores republicanos, algo que, no entanto, não deverá inviabilizar a aprovação por parte daquela câmara, visto que os democratas deverão conseguir o número de votos necessários para contornar aquele obstáculo.

 

Apesar do pendor democrata de Sotomayor, a sua nomeação não deverá implicar uma grande alteração na balança de poder no Supremo Tribunal, já que Souter, não obstante ter sido nomeado por George Bush (pai), foi-se tornando uma figura mais moderada e liberal. 

 

Leituras

Alexandre Guerra, 25.05.09

 

A política da nova administração norte-americana face ao Irão é analisada em Have We Already Lost Iran?, no New York Times, por Flynt Leverett, director da New America Foundation e professor na Penn State's School of International Afffairs, e por Hillary Mann Leverett, presidente de uma consultora de risco político. Ambos já foram membros do National Security Council.

 

Mais um Domingo visto pelas câmaras de fotojornalistas em todo o mundo

Alexandre Guerra, 24.05.09

 

London: A woman carries sunflowers at the Columbia Road flower market/Photograph: Leon Neal/AFP/Getty Images

 

Daytona Beach, US: Christine Banuelas and Chris Hicks use an air mattress to move a friend's belongings from her flooded apartment/Photograph: Joe Raedle/Getty Images

 

 

Rangoon, Burma: A Buddhist monk takes a photo of the Shwedagon pagoda/Photograph: Nyein Chan Naing/EPA

 

Peshawar, Pakistan: Displaced men wait in a queue for the distribution of rugs and buckets at the Jalozai refugee camp/Photograph: Emilio Morenatti/AP

 

Port-au-Prince, Haiti: A riot police officer gestures during a protest over curriculum changes at a Haitian medical school/Photograph: Ramon Espinosa/AP

 

Manila, Philippines: A boy blows flour from a plastic cup as he competes for prizes during the feast of Saint Rita of Cascia/Photograph: John Javellana/Reuters

 

Gaza City, West Bank: A Palestinian worker walks on top of a building hit by an Israeli strike/Photograph: Mohammed Saber/EPA

 

Pula, Croatia: Members of the Hungarian Collegium Gladiatorium fighting club perform in a Roman amphitheatre during the traditional Antiquity festival/Photograph: Nikola Solic/Reuters

 

Charlotte, US: A hawk crashes into the Duke Energy Centre tower after swooping in towards its own reflection. Despite the impact, the hawk regained composure and flew away/Photograph: Todd Sumlin/AP

 

Emmenbrucke, Switzerland: A swimmer jumps into a pool at the Mooshuesli public lido/Photograph: Michael Buholzer/Reuters

 

Istanbul, Turkey: A Kurdish woman chants at a Democratic Society party political meeting/Photograph: Mustafa Ozer/AFP/Getty Images

 

(Fotos retiradas do The Guardian)

 

Percepções de quem não acredita na criação de um Estado nos próximos cinco anos

Alexandre Guerra, 22.05.09

 

 

Mahmud Hams/Agence France-Presse/Getty Images

 

Khalil Shikaki, director do Palestinian Center for Policy and Survey Research, escreveu, em artigo de opinião no New York Times, que o apoio popular na Palestina a ataques armados contra judeus civis em território  israelita tem vindo a aumentar consideravelmente. De tal forma, que os índices de hoje são mais elevados do que em 2005, o que não deixa de ser algo surpreendente, tendo em conta que naquele ano ainda estava a decorrer a intifada de al-Aqsa. 

 

O Diplomata desconhecia estes dados mais recentes, mas tendo em conta o prestígio de Shikaki, talvez o especialista mais credível palestiniano em termos de estudos de opinião e de sondagens, não existem razões para duvidar da informação que agora divulga.

 

Perante aquilo que Shikaki escreveu nas páginas do NYT, o Diplomata foi à descoberta do estudo para tentar compreender as razões que sustentam a opinião dos palestinianos. Uma das explicações poderá estar no facto do inquérito ter sido realizado entre 5 e 7 de Março na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, poucas semanas após o fim dos ataques israelitas naquele enclave.

 

É bastante provável que o conflito de 22 dias na Faixa de Gaza tenha alimentado o sentimento anti-israelita para níveis muito altos. Mas, o estudo de opinião apresenta outras conclusões igualmente bastante preocupantes quanto à percepção da opinião pública palestiniana.

 

O Hamas e o seu líder em Gaza, Ismail Haniyeh, parecem estar a fortalecer a sua popularidade junto dos palestinianos, ao mesmo tempo que a Fatah e o Presidente Mahmoud Abbas estão a perder influência. Também o moderado primeiro-ministro Salam Fayyad, que o Diplomata conheceu e entrevistou há uns anos em Gaza, vê a sua legitimidade a decrescer.

 

Apesar desta tendência na opinião pública, a Fatah continua a verificar valores de popularidade mais elevados que o Hamas, sobretudo devido à forte implantação da primeira na Cisjordânia. Porém, se fossem realizadas neste momento eleições presidenciais, Haniyeh ganharia com 47 por cento dos votos contra os 45 por cento de Mahmoud Abbas.  

 

Curiosamente, Haniyeh, embora sendo do Hamas, é mais popular na Cisjordânia do que Abbas. Este, por sua vez, receberia mais votos na Faixa de Gaza do que o primeiro. Aqui, a explicação poder-se-á encontrar na predisposição mais primária dos eleitores em criticarem os seus líderes mais directos: Abbas na Cisjordânia e Haniyeh na Faixa de Gaza.

 

Sobre o processo de paz as conclusões são igualmente pessimistas. 73 por cento dos palestinianos têm poucas expectativas sobre a possibilidade de nos próximos cinco anos ser criado  um Estado palestiniano independente.

 

Quando se associa a política israelita ao processo de paz, 70 por cento dos palestinianos não vislumbra diferenças entre os partidos da direita, do centro ou da esquerda.

 

O Diplomata vai voltar a este estudo para falar sobre uma outra personagem palestiniana, sem dúvida a mais popular desde que Yasser Arafat morreu, e que entretanto está cumprir pena perpétua numa cadeia israelita: Marwan Barghouti

  

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