Quando rebentou a crise do Cáucaso, muitas foram as chancelarias, incluindo as europeias, que se indignaram com o comportamento da Rússia, praticamente condenando-a a um estatuto de pária do sistema internacional. Mas, bastaram apenas algumas semanas e uma crise financeira pelo meio para que Moscovo voltasse a ser visto com um interlocutor válido à luz de interesses estratégicos. Nada que surpreenda, se se tiver em conta que, apesar de tudo, o realismo continua a ser o paradigma reinante nas relações internacionais.
A chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente russo, Dimitri Medvedev, deixaram isso bem claro num encontro que tiveram na passada Quinta-feira em São Petersburgo. Após o "choque" que os Estados europeus manifestaram perante a atitude da Rússia na Ossétia do Sul, está-se agora na altura de voltar a falar de negócios. Assim o fez Merkel, que conseguiu assegurar para a Alemanha uma importante participação (25 por cento) na exploração do campo de gás natural de Yuzhno-Russkoye na Sibéria.
Em troca, o Estado alemão abdicará de metadade dos 6,5 por cento que detém na Gazprom, a empresa russa de gás natural.
Com este negócio, a Eon, empresa alemã de energia, terá acesso a um vasto campo de gás natural e a Gazprom abdica das suas pretensões de adquirir uma parte do capital daquela companhia. Como contrapartidas, a Gazprom enfraquece a presença alemã no capital da empresa e obtém por parte daquele país um impulso para a construção do projecto Nord Stream, que irá ligar a Rússia e a Alemanha através de um pipeline construído no Mar Báltico. Alexandre Guerra