"Sensivelmente um ano depois de apresentada a candidatura portuguesa, o Canadá formaliza a intenção de se candidatar à segunda vaga para o grupo WEOG no Conselho de Segurança no biénio 2011-2012. Assim, nove anos antes da eleição atingia-se o cenário de clean slate – quando há um mesmo número de candidatos para as vagas existentes. Esta situação, embora desejável, nem sempre é respeitada pelos grupos dando azo a verdadeiros jogos negociais no xadrez político-diplomático e levando muitas vezes a situações embaraçosas. É o caso da eleição do membro do grupo regional GRULAC [Latin America and the Caribbean] na 61ª Assembleia Geral, em 2006. Para uma vaga em concurso, apresentaram-se como candidatos a Venezuela, de Hugo Chávez, com o apoio quase maioritário da região, e a Guatemala, de Óscar Perdomo, com o apoio dos Estados Unidos da América. Ao longo de uma semana efectuaram-se 47 (!) rondas de votação com nenhum dos países a alcançar os dois terços de votos necessários à eleição. Ao sétimo dia, e perante o impasse total, ambos os países concordam em desistir das respectivas candidaturas e dão o seu endorsement ao Panamá, eleito à 48º ronda de votação com 164 votos dos 192 possíveis.
Entre 2001 a 2006 o cenário de clean slate deixava adivinhar uma eleição sem estes sobressaltos. Nas Necessidades a candidatura portuguesa ao Conselho de Segurança convivia com outras candidaturas portuguesas a organismos internacionais. A qualidade intrínseca dos candidatos, o empenho político e o esforço diplomático conseguiram neste período colocar António Guterres no UNHCR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Regina Tavares da Silva na CEDAW – Convenção das Nações Unidas para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação da Mulher ou Paula Escarameia na CDI – Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas, entre outros exemplos de altos funcionários e posições intermédias em organismos da UE, na UNESCO, na OSCE, FMI ou Banco Mundial.
Em 2006, alteram-se as circunstâncias quando a Alemanha, que havia cumprido mandato em 2003-2004 pela oitava vez na sua história, formaliza a sua candidatura ao Conselho de Segurança… para o mesmo biénio que Portugal. Tínhamos assim, tal como hoje em dia, três (fortíssimos) candidatos para duas vagas no mais emblemático dos organismos internacionais do universo onusiano. Agora, o argumentário da candidatura, apesar de importante e sempre presente, é relativizado pelo poder e trabalho da máquina diplomática, bem como pelo empenho político dos países e seus governos. A última experiência induz um certo optimismo, mas que circunstâncias serão hoje estrutural e conjunturalmente diferentes?" L.E