Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

A contagem de mortos no Iraque mantém-se a ritmo elevado

Alexandre Guerra, 30.03.08



Desde Terça-feira passada que os confrontos entre as milícias xiitas do clérigo Moqtada al Sadr e as forças de segurança iraquianas fizeram mais de 240 mortos. Um número bem revelador da conjuntura que teima em resistir no Iraque e que, certamente, dará um tom mais realista a todos aqueles que acreditam que o país vive melhores dias.

Nos últimos dias, Bassorá tem sido o palco preferencial da violência, no entanto, esta vai flutuando de região em região, de cidade em cidade, provocando em cinco anos de guerra milhares de mortos.

Nesta matéria, os números não são consensuais, mas mesmo assumindo os dados mais tímidos, conclui-se que desde 2003 cerca de 80 mil pessoas civis perderam a vida. Estes valores são adiantados pelo Iraq Body Count, uma das organizações que, juntamente com o Iraqi Health Ministry e a revista Lancet, tem acompanhado estas trágicas estatísticas.
 
No entanto, os números avançados pelas três variam. De acordo com o Iraqi Health Ministry já terão morrido pelo menos 100 mil pessoas, 140 mil no máximo, enquanto que a Lancet fala em 650 mil mortos.

Em termos militares, sabe-se que morreram sensivelmente 4300 soldados das forças da coligação, 4000 dos quais americanos. Quanto às forças de segurança iraquianas não existem dados que permitam fazer uma estimativa. AG
    

Sintomas de uma tendência pré-eleitoral

Alexandre Guerra, 26.03.08


Por motivos de ordem profissional, o Diplomata esteve esta Quarta-feira à noite ao Palácio de Queluz, onde o primeiro-ministro José Sócrates, na companhia dos ministros da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, e das Obras Públicas e Transportes, Mário Lino, presidiu à assinatura de uma série de protocolos e acordos entre o Governo português e o MIT.



O momento de comunicação foi devidamente escolhido e preparado, sendo cada vez mais evidente estar já em curso uma estratégia de comunicação visando a criação de uma dinâmica positiva, com o objectivo das eleições legislativas do próximo ano.



Também há sensivelmente duas semanas, o Diplomata já tinha estado com Sócrates, mas desta vez este fazia-se acompanhar pelo ministro da Economia, Manuel Pinho, para o lançamento de um novo investimento do Grupo La Seda em Sines, através de uma mediática cerimónia de "primeira-pedra". Dias antes Sócrates tinha estado na apresentação do projecto da Abertis e no anúncio do investimento da GALP Energia.



Desde então, que os momentos positivos de comunicação se têm precipitado de forma organizada, tendo ontem sido um bom exemplo dessa dinâmica, com um anúncio de baixa de impostos à tarde e de investimento na área do conhecimentos à noite.



Independentemente da validade, ou não, dos projectos, o que é interessante sublinhar são os sintomas que já se fazem sentir de uma tendência pré-eleitoral, que deverá ter apenas uma pequena interrupção daqui a uns meses, durante o Verão, para recomeçar em Setembro e só terminar nas legislativas de 2009. Alexandre Guerra


Leituras

Alexandre Guerra, 25.03.08


A poucos dias de se realizar a cimeira dos líderes da NATO, em Bucareste, o recém-eleito Presidente da Rússia, Dimitry Medvedev, pressionou hoje a Aliança para não conceder a adesão à Ucrânia e à Geórgia. A ler a notícia da Reuters, Russia Warns NATO on Expansion.

 

Percorrer a Via Dolorosa nos tempos da intifada de al Aqsa

Alexandre Guerra, 23.03.08



O percurso começa no local onde Pilatos terá "lavado as mãos" e desresponsabilizado-se do destino de Jesus Cristo. A partir daí a Via Dolorosa vai atravessando toda a cidade velha de Jerusalém, prolongando-se até ao Monte das Oliveiras. É sem dúvida uma experiência única e de um interesse admirável.

O autor destas linhas já o fez por várias vezes, motivado por razões académicas e profissionais e sempre em momentos conturbados, marcados pela violência da intifada de al Aqsa, que desde que eclodira afastara por completo os turistas da Cidade Santa. Se é verdade que esse facto provocou um enorme rombo no comércio local, por outro lado, proporcionou uma experiência rara, ao permitir a um estrangeiro como o Diplomata andar pelas muralhas da cidade de Jerusalém apenas em convívio exclusivo com os autóctones.

Efectivamente, andar horas pelas ruelas e vielas dentro das muralhas sem encontrar um único estrangeiro era algo impossível nos anos 90, quando se assistiu a uma revitalização do turismo em Jerusalém, fruto de um clima de desanuviamento entre palestinianos e israelitas.

Mas, tudo mudou com o início da intifada de al Aqsa. E, foram várias as vezes em que o autor destas linhas andou por locais como a Igreja do Santo Sepulcro ou como o Muro das Lamentações sem um único estrangeiro e turista à vista. Esta situação prolongou-se por vários anos, e só até há bem pouco tempo os visitantes começaram a regressar ao Médio Oriente. Convém referir que este fenómeno verificou-se também em Belém.

Regressando a Jerusalém e aos tempos da intifada, a Via Dolorosa tranformou-se num local de mera passagem para os habitantes da região, sem que lhes despertasse um interesse especial, como aliás é normal em situações deste género. Interesse que, pelo contrário, o autor destas linhas tinha. 

Foi particularmente emocionante percorrer a via sacra e ir tentando encontrar as placas com as etapas da passagem de Jesus Cristo até à Golgota. Sem turistas e guias, o autor destas linhas foi descobrindo os vários pontos nas inúmeras vezes que caminhou pelas ruas da Via Dolorosa.

A violência da intifada de al Aqsa teve consequências trágicas para israelitas e palestinianos, mas, ironicamente, foi essa mesma violência que acabou por criar um ambiente totalmente hostil ao turismo de massa, e que acabou por revelar aquilo que faz de Jerusalém um local especial na história da Humanidade. Para o Diplomata, foi um privilégio visitar Jerusalém nesses tempos. Alexandre Guerra

As "heranças" da Guerra Fria que Putin e Bush não souberam resolver (2)

Alexandre Guerra, 22.03.08



O Presidente George W. Bush e o quase ex-Presidente Vladimir Putin poucas oportunidades terão para relançar uma discussão relevante e sólida relativamente à problemática do controlo de armamentos. As negociações "2+2" são uma iniciativa positiva e retomam uma tradição antiga de contactos de alto nível entre Washington e Moscovo, no entanto, não será em poucas semanas que as duas partes conseguirão alcançar resultados significativos sobre os temas sensíveis que estão em cima da mesa. 

Durante os últimos anos, as duas partes não se empenharam em criar medidas de confiança, revelando um claro desinteresse num modelo negocial sobre estas matérias. Apesar das intenções politicamente correctas, Bush e Putin nunca implementaram uma visão comum da problemática do controlo de armamentos. Como refere a Bulletin of the Atomic Scientists, "para as relações entre os Estados Unidos e a Rússia melhorarem os líderes dos dois lados têm de reconhecer que têm uma agenda partilhada e as oportunidades que se lhes apresentam resultantes da colaboração entre os dois países". 

O processo negocial "2+2" poderá ser o primeiro passo nesse sentido, sobretudo, no que diz respeito à criação de medidas de confiança e à abertura de canais de comunicação ao mais alto nível. E, efectivamente, na passada Quinta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, disse em entrevista ao Izvestia que a proposta apresentada por Washington atenuava algumas preocupações do Kremlin sobre o projecto do sistema antimíssil.“The American side is prepared to offer us a whole series of confidence-building measures so we can be convinced that the system does not work against us”, disse Lavrov. “The idea of these measures boils down to the following: we will have an opportunity to watch what the radar is doing and what the real condition is of the base for interceptor missiles, using both human and technical means”, acrescentou.  

Embora o conteúdo do documento não tenha sido revelado, percebe-se que o mesmo contribuiu para o tom mais conciliatório adoptado por Moscovo. Também a secretária de Estado, Condoleeza Rice, e o secretário de Defesa, Robert Gates, disseram que as negociações tinham sido "boas e construtivas". Sendo certo que se está longe de alcançar um consenso sobre o sistema antimíssil ou sobre outros temas da agenda internacional, como a renovação do START ou a questão do desmantelamento das ogivas nucleares, são iniciativas como a reunião "2+2" que possibilitam acordos que visam a estabilidade do sistema internacional. Alexandre Guerra
 

As "heranças" da Guerra Fria que Putin e Bush não souberam resolver (1)

Alexandre Guerra, 19.03.08



Numa altura em que o mundo (pelo menos o financeiro) anda em sobressalto com as flutuações em Wall Street e noutras bolsas internacionais, os Estados Unidos e a Rússia continuam sem chegar a acordo quanto ao projecto do escudo antimíssil, que Washington pretende implementar em dois países que outrora pertenceram ao bloco soviético, Polónia e República Checa.

Do encontro "2+2" (ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros russos e americanos) que se realizou em Moscovo não resultaram grandes novidades. Sabe-se apenas que o Presidente Vladimir Putin, ainda em exercício de funções, terá comunicado à secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, e ao secretário de Defesa, Robert Gates, que Geoge W. Bush lhe teria enviado uma carta, propondo uma discussão mais alargada, que definisse linhas estratégicas a médio e a longo prazo em várias áreas, nomeadamente ao nível do controlo de armamentos.

Efectivamente, o escudo antimíssil é apenas mais uma questão a juntar-se a tantas outras herdadas da Guerra Fria que ainda estão por resolver. É, por isso, que um acordo neste ponto em concreto poderia relançar a cooperação entre Moscovo e Washington para um cenário mais alargado na problemática do controlo de armamentos. Ainda ontem, o The Moscow Times escrevia em editorial que "os dois lados têm de tentar percorrer o último quilómetro para alcançarem um compromisso neste assunto [escudo antimíssil], porque a ausência de um acordo irá provocar um sério rombo no já frágil regime internacional de controlo de armamentos". 

Relembre-se que ainda recentemente, Washington renunciou ao Tratado Antimíssil (ABM) e Moscovo rejeitou a moratória do Tratado de Armas Convencionais na Europa (CFE). E o único tratado que ainda se mantém incólume, o Tratado para a Redução de Armas Estratégicas (START), expira no próximo ano.

De facto, a problemática do controlo de armamentos é o principal tema pendente dos tempos da Guerra Fria, visto que questões técnicas como o desmantelamento de ogivas nucleares, a ratificação de tratados internacionais, a renovação de acordos, a implementação de medidas de vistoria e de salvaguarda estão há muito congeladas. 

Durante o período de euforia resultante da implosão da União Soviética e do consequente desmembramento do regime bipolar, inciaram-se uma série de contactos e iniciativas ao mais alto nível entre a Casa Branca e o Kremlin. Na verdade, já nos últimos anos de Guerra Fria se assistira a uma tentativa genuína de se regular a questão dos armamentos nucleares e convencionais. Porém, os anos passaram e rapidamente se foram perdendo os canais de comunicação entre Washington e Moscovo.

Firmado o START e o Programa de Cooperação para a Redução de Ameaça de 1992, a problemática do controlo de armamentos foi perdendo lugares nas agendas dos dois governos. Na última década, a cooperação entre a Rússia e os Estados Unidos deteriorou-se de forma acentuada em todos os campos. Convém referir que mesmo durante a Guerra Fria enquanto "inimigos", Moscovo e Washington promoviam encontros regulares de alto nível, através de vários fóruns, de forma a estabelecer uma plataforma comum de entendimento e de negociação. 

A Comissão Gore-Chernomyrdin, criada em 1993, foi o principal mecanismo para manter esses canais de comunicação operacionais, mas a verdade é que o diálogo foi-se extinguindo. O retirado general Eugene Habiger, antigo comandante do Comando Estratégico dos Estados Unidos, manteve durante anos contactos com parceiros no Kremlin. Com a implosão da União Soviética, os canais fecharam-se, uma situação que Eugene Habiger lamenta. Como refere a Bulletin of the Atomic Scientists, na edição de Março/Abril 2008, "o espírito de compromisso e de colaboração desvaneceu-se". Alexandre Guerra
     

Pág. 1/3