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O percurso começa no local onde Pilatos terá "lavado as mãos" e desresponsabilizado-se do destino de Jesus Cristo. A partir daí a Via Dolorosa vai atravessando toda a cidade velha de Jerusalém, prolongando-se até ao Monte das Oliveiras. É sem dúvida uma experiência única e de um interesse admirável.
O autor destas linhas já o fez por várias vezes, motivado por razões académicas e profissionais e sempre em momentos conturbados, marcados pela violência da intifada de al Aqsa, que desde que eclodira afastara por completo os turistas da Cidade Santa. Se é verdade que esse facto provocou um enorme rombo no comércio local, por outro lado, proporcionou uma experiência rara, ao permitir a um estrangeiro como o Diplomata andar pelas muralhas da cidade de Jerusalém apenas em convívio exclusivo com os autóctones.
Efectivamente, andar horas pelas ruelas e vielas dentro das muralhas sem encontrar um único estrangeiro era algo impossível nos anos 90, quando se assistiu a uma revitalização do turismo em Jerusalém, fruto de um clima de desanuviamento entre palestinianos e israelitas.
Mas, tudo mudou com o início da intifada de al Aqsa. E, foram várias as vezes em que o autor destas linhas andou por locais como a Igreja do Santo Sepulcro ou como o Muro das Lamentações sem um único estrangeiro e turista à vista. Esta situação prolongou-se por vários anos, e só até há bem pouco tempo os visitantes começaram a regressar ao Médio Oriente. Convém referir que este fenómeno verificou-se também em Belém.
Regressando a Jerusalém e aos tempos da intifada, a Via Dolorosa tranformou-se num local de mera passagem para os habitantes da região, sem que lhes despertasse um interesse especial, como aliás é normal em situações deste género. Interesse que, pelo contrário, o autor destas linhas tinha.
Foi particularmente emocionante percorrer a via sacra e ir tentando encontrar as placas com as etapas da passagem de Jesus Cristo até à Golgota. Sem turistas e guias, o autor destas linhas foi descobrindo os vários pontos nas inúmeras vezes que caminhou pelas ruas da Via Dolorosa.
A violência da intifada de al Aqsa teve consequências trágicas para israelitas e palestinianos, mas, ironicamente, foi essa mesma violência que acabou por criar um ambiente totalmente hostil ao turismo de massa, e que acabou por revelar aquilo que faz de Jerusalém um local especial na história da Humanidade. Para o Diplomata, foi um privilégio visitar Jerusalém nesses tempos. Alexandre Guerra