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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Descobertas de importância diferente, mas ambas extraordinárias

Alexandre Guerra, 20.11.07

Ao mundo foram hoje anunciadas duas descobertas, ambas vindas de comunidades científicas, mas de carácter completamente distinto. A que mais destaque teve, e por razões óbvias, foi a descoberta feita por duas equipas de investigadores (uma japonesa outra americana) da possibilidade de se criaram células com as mesmas características das células estaminais embrionárias sem ter de se recorrer a embriões.



Esta notícia fez manchete nos principais jornais mundiais e é, de facto, de uma grande importância, porque, caso se venha a confirmar estes resultados (visto já não ser a primeira vez que tal é anunciado), está definitivameto aberto o caminho para a liberalização da pesquisa em células estaminais embrionárias. Este será um tema ao qual o Diplomata voltará várias vezes, tendo em conta a dimensão que este assunto vai adquirir nos próximos anos nas sociedades pós-modernas.



Quanto à segunda descoberta, pouco ou nada tem a ver com o futuro e remete para o campo da mitologia, mas nem por isso deixa de ser importante e interessante.



O ministro italiano da Cultura, Francesco Ruttelli, anunciou a descoberta feita por arqueólogos do local onde Rómulo e Remo terão sido amamentados pela Loba no século VIII a.C.  As fotografias divulgadas no sítio do Ministério mostram uma gruta a 16 metros de profundidade perto das ruínas do Palácio do Imperador Augustus. O Ministério da Cultura classificou a descoberta como "extraordinária". AG

Leituras

Alexandre Guerra, 19.11.07


Quando há alguns anos o autor destas linhas cursava na licenciatura de Relações Internacionais, muitas foram as horas dedicadas à leitura de textos de análise e de opinião bastante interessantes e profícuos sobre as crises balcânicas dos anos 90.

 

Entre os autores portugueses que se dedicaram com alguma insistência ao assunto, encontrava-se João Marques de Almeida, também ele um "homem" das relações internacionais, que hoje no Diário Económico voltou a abordar o assunto a propósito do Kosovo. "Regresso ao passado?", que pode ser lido no sítio do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), merece toda a atenção.


30 years since Sadat's visit to Israel*

Alexandre Guerra, 19.11.07
Thirty years ago, on Saturday night the 19th of November 1977, the plane of Egyptian President Anwar Sadat landed at Ben-Gurion Airport near Tel Aviv. This courageous, historic first visit by an Arab leader to Israel, and the speech he gave at the Knesset in Jerusalem, is to this day credited with changing the geopolitics of the entire Middle East, opening the path for peace between Israel and the Arab world, and shaping a new agenda of political relations in the region.


Two years after Sadat’s visit, at the end of 1979, Israel and Egypt signed a comprehensive peace agreement. Today, as we mark Sadat’s historic visit, our nations have known more years of peace than of confrontation and conflict, years in which open dialogue and cooperative ventures have been possible.

In the present reality, and in the spirit of President Sadat’s vision, the two states enjoy cooperation which is reflected in periodic meetings and various joint committees:


1.
A joint military committee, which convenes twice yearly on a regular basis, in addition to ongoing communication between the armies to coordinate military-security issues;


2. A joint economic committee to promote economic-trade cooperation between the two countries;


3. A joint agricultural committee, convening twice a year and conducting an ongoing dialogue. This is the most veteran of the three committees and the most active. Since being founded in 1981, it has helped launch hundreds of agricultural projects aimed at improving both countries’ agricultural expertise and capabilities. To date this cooperation has resulted in the establishment of dozens of joint agricultural farms and joint professional training courses; thousands of Egyptians have participated in various agricultural courses in Israel , 150 of them just in the past year.


The QIZ (Qualified Industrial Zones) agreement occupies a central place in the relations between Israel and Egypt . Signed in 2004, this agreement makes it possible for Egyptian companies that use Israeli components to export their wares to the United States , duty free. This successful model of international cooperation could be emulated by other states. And it has indeed been successful – in 2006 reciprocal trade between Israel and Egypt totaled some $200 billion, compared to only $59 million in 2004, signifying a more than threefold increase over the period prior to the agreement.


Another important element in the economic relations between the two counties is the natural gas agreement, in which a huge deal was signed in 2005 between an Egyptian company and an Israeli company. The deal covers the purchase of Egyptian gas by the Israeli company for the sum of $2.5 billion over the next five years.


Cooperation between Egypt and Israel also takes place in areas such as tourism, transportation, communications and health.


On the diplomatic plane, the peace treaty has made a great contribution on both the bilateral and the regional level. In the face of difficult events such as the Lebanon War, the Israeli-Palestinian conflict, the intifada, and the war in Iraq, the peace between Israel and Egypt has proven to be stable and solid, showing that the desire for peace is a priority for both peoples, and demonstrating its strategic value over other approaches. Today these relations form a basic premise for every regional diplomatic development and provide support for the continuation of the peace process in general and with the Palestinians in particular.


As part of the diplomatic relations between Israel and Egypt , an ongoing dialogue takes place between the countries on various subjects, including sensitive and problematic issues. The frequency of meetings between the state leaders reflects the strength of the relations. Prime Minister Olmert has met three times with President Mubarak over the past two years for talks on relations between the two states and on promoting the peace process. Many meetings also take place on the ministerial level in both countries. For instance, the Israeli Foreign Minister has visited Cairo three times this year, with one of the trips devoted to meeting with representatives of the Arab League; and her Egyptian counterpart came twice to Israel in the past year. Official visits were also paid by the Minister of Defense, the Minister of Education, the Minister of Science, Culture and Sport, the Minister of Industry, Trade and Labor, the Minister of Communication, and others, who met with their counterparts in Egypt.


Despite the progress, much still remains to be done apropos the peace between the two countries, such as bringing the populations themselves closer together, encouraging a broader cultural dialogue, increasing tourism, and getting better acquainted. Israel aspires to have the peace with Egypt , which is already considered to have borne real fruits in the intergovernmental dialogue, turn into a lively, productive peace on the level of the two peoples and two cultures as well. The two nations must dedicate the coming years to this objective. That was how President Sadat saw our shared reality in his vision of peace, and that is how, 30 years later, it should be.


*Documento informativo divulgado pelo Embaixada de Israel em Lisboa para assinalar o 30º aniversário da visita do Presidente Anwar Sadat a Israel.
  

 

Mais um passo para um erro histórico

Alexandre Guerra, 17.11.07


Mulher consolada em funeral, no Kosovo                      Dayna Smith/Washington Post 

As eleições legislativas que hoje se realizam no Kosovo "seriam" um passo importante na normalização política e social de uma região que viveu nos últimos anos períodos conturbados. Se as circunstâncias fossem outras, os kosovares, a comunidade internacional e em particular a Europa teriam motivos para regozijo, por estarem perante a consolidação do processo de estabilização dos Balcãs.

Mas, a conjuntura é outra e os resultados das eleições de hoje auguram incertezas quanto ao futuro daquela província, sobretudo porque o actual processo eleitoral foi alimentado por um discurso nacionalista, inflamado e com um pendor independentista face à Sérvia.

A impetuosidade de Pristina foi acompanhada pela irresponsabilidade de Washington, com algumas vozes europeias à mistura. Esta corrente parece ter ganho ascendência sobre o realismo que, normalmente, é exigido nestas coisas das relações internacionais.   

De facto, um dos principais problemas que se tem verificado ao longo da gestão do dossier Kosovo nos últimos tempos, tem sido a ausência de realismo e pragmatismo por parte dos actores que têm conduzido o processo. 

A liderança política tem cometido vários erros e neste ponto a União Europeia tem tido bastante responsabilidade, por não ter conseguido ainda adoptar uma posição comum veemente sobre um problema que, mais do que a Washington, lhe interessa. Refira-se que aqui, a Presidência portuguesa poderia ter sido mais arrojada, mas, em vez disso, remeteu-se ao silêncio, que pouco ou nada tem de estratégico.

Os actuais líderes políticos, sobretudo americanos e europeus, têm demonstrado uma profunda incompetência e leviandade na forma como têm abordado a questão do Kosovo. A longa e complexa História das Nações na Europa já demonstrou que não se "brinca" com questões de fronteiras.  

Mas, é isso que os principais responsáveis políticos por este processo têm feito. Preparam-se, agora, para cometer mais um erro histórico. E não é por falta de informação nem de avisos, basta para isso estar-se atento ao que tem sido escrito sobre este assunto por analistas, académicos, investigadores, diplomatas. Todos parecem estar de acordo: o caminho a seguir não deve ser a declaração unilateral da independência do Kosovo com o apoio de Washington. 

Até mesmo quem esteve envolvido directamente no processo, como é o caso de Martti Ahtisaari, enviado especial da ONU à região, não cede às pretensões kosovares. O plano elaborado por Ahtisaari é bem mais moderado do que as vozes independentistas que se fazem ouvir em Pristina, em Washington e nalgumas capitais europeias.  

Também ainda hoje no Público, Antonio Cassese, primeiro presidente do Tribunal Penal Internacional para a Ex-Jugoslávia (ICTY), rejeita por completo as ideias de Pristina e propõe uma solução moderada e realista e, diga-se, bastante interessante (vale a pena ler o artigo).  

E quanto aos autores desta praça, basta ler os escritos de pessoas como José Cutileiro, Adriano Moreira ou o diplomata João Pereira Bastos, cronista do Semanário e com larga experiência em assuntos internacionais, sobretudo na zona dos Balcãs.
 
Sem realismo e pragmatisno no processo negocial do Kosovo, caminha-se para um erro histórico mesmo às portas da Europa, mas tal tem acontecido não por falta de informação e sérios avisos. Alexandre Guerra 

O que se vai escrevendo...

Alexandre Guerra, 15.11.07


"Ao contrário das crises recentes da Birmânia, da Geórgia e da Venezuela, o Paquistão assenta sobre a fallha tectónica da crise internacional à escala mundial."



Ahmed Rashid in El Mundo, "Estado de excepción en Pakistan" (15/11/2007)


Números astronómicos

Alexandre Guerra, 14.11.07


É um documento que não será totalmente imparcial, vindo sobretudo da bancada democrata do Congresso norte-americano, mas é demonstrativo do absurdo financeiro em que se tornou as campanhas militares levadas a cabo no Afeganistão e no Iraque.



De acordo com os números agora divulgados num relatório elaborado por democratas do Joint Economic Committee (JEC) do Congresso, os custos das guerras no Iraque e no Afeganistão já ascendem 1,5 triliões de dólares. Entre 2002 e 2008, o documento estima que aqueles conflitos vão custar em média 20 900 dólares a cada família americana de quatro pessoas.



Os valores revelados pelo relatório do JEC, presidido pelo senador Charles E. Schumer, representam quase o dobro dos números até então conhecidos, que colocam as despesas nos 804 mil milhões de dólares. Este aumento deve-se ao facto de, segundo o relatório, terem sido contabilizados custos que estavam "escondidos".



A Casa Branca, através de sua assessora de imprensa Dana Perino, disse que o relatóro tem motivações políticos e tentou descredibilizar o JEC ao referir que aquele organismo é conhecido por ser partidário. Um dos argumentos dados por Perino é de que o relatório foi elaborado sem a colaboração dos congressistas republicanos que também integram o JEC. AG
 

Brown defende a criação de um "global fuel bank" e reforça as aspirações de Moscovo

Alexandre Guerra, 13.11.07


O primeiro-ministro britânico proferiu na última noite o seu primeiro discurso sobre política externa desde que tomou posse. Entre as várias orientações estratégicas definidas por Gordon Brown na Mansion House, em Londres, foram apresentadas algumas questões de ordem táctica e de aplicabilidade mais imediata.



Uma dessas propostas despertou a atenção do Diplomata, tendo em conta a sua aparente capacidade de gerar unanimidade entre países como o Reino Unido, os Estados Unidos, a França, a Alemanha, a China ou a Rússia, num assunto tão sensível como é o combate à proliferação nuclear. Gordon Brown propôs a criação de um depósito de combustível nuclear, para evitar que os Estados que queiram recorrer à tecnologia atómica para produzir energia não tenham que desenvolver actividades de enriquecimento de urânio.



Apesar de Gordon Brown ter referido (e bem) esta iniciativa, a ideia não é sua e nem sequer é nova. Já em 2004 e 2005, Mohamed ElBaradei, director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), tinha proposto a criação de um depósito internacional de combustível nuclear. Em Julho de 2005, no mesmo mês em que Moscovo acolheu uma conferência internacional precisamente sobre este tema, a Agência Federal Russa para a Energia Atómica (ROSATOM) manifestou o seu apoio à ideia de ElBaradei e predispõe-se a trabalhar nesse sentido. 



Em Janeiro de 2006 foi a vez do Presidente Vladimir Putin apoiar a criação de uma rede internacional de centros de produção de combustível nuclear.  



Efectivamente, a Rússia tem sido a maior impulsionadora para a criação de um "global fuel bank", pretendendo criar um verdadeiro mercado de combustível nuclear. Neste sentido, tem adoptado várias medidas internas que permitirão uma maior abertura do mercado aos investidores privados, tendo mesmo sido aprovada uma lei, em Fevereiro deste ano, que permite a entidades não estatais deter instalações e materiais nucleares e a empresas estrangeiras importarem para o país produtos nucleares.  



Moscovo vê nesta iniciativa uma forma de se assumir como o principal "player" mundial ao nível de enriquecimento de urânio e da produção de combustível nuclear. Por outro lado, existe também uma perspectiva estratégica, na qual este projecto pode ser interpretado como um instrumento de controlo para a emergência de programas secretos com fins obscuros. 



Recorde-se que, quase desde o início da "era atómica", um dos principais desafios das potências nucleares tem sido o controlo do enriquecimento de urânio. Já em 1953, o Presidente americano, Dwight D. Eisenhower, no seu discurso "Atoms for Peace", propôs um "depósito de material físsil", que pudesse servir os interesses da humanidade. 



No caso russo, além de servir os interesses da Humanidade, Moscovo também defende os seus interesses comerciais ao pretender tornar-se a principal potência económica na área do nuclear. 



O centro internacional de enriquecimento de urânio (IUEC) que Moscovo quer implementar obedecerá a mecanismos de controlo rigorosos impostos pela Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) e servirá apenas para fins pacíficos. Embora este projecto esteja apenas numa fase muito embrionária, a verdade é que Moscovo tem vindo a empenhar-se nele, tendo inclusive já assinado em Maio de 2007 um acordo com o Qasaquistão, de modo a fornecer a este último combustível nuclear produzido nas instalações de Angarsk, uma localidade recôndita na parte leste da Sibéria. 



Angarsk é um dos principais centros russos de enriquecimento de urânio e deverá ser o local escolhido para a Rússia instalar um potencial depósito de combustível nuclear. Depois do acordo assinado com o Qasaquistão, a Ucrânia deverá ser o próximo país a recorrer aos serviços russos. Porém, Moscovo quer atrair muitos mais clientes, tais como a Arménia, a Bielorrússia, a China ou a África do Sul, sendo que em nenhum destes casos haverá concorrência de outros fornecedores, visto que potências nucleares como os Estados Unidos, a França ou Reino Unido não estão interessadas em desenvolver um depósito de combustível nos seus territórios.



Assim, não é de estranhar o apoio dado à ideia russa por aqueles países. Além do mais, este pode ser um pequeno mas importante passo para se criar um novo regime de combate à proliferação nuclear. Alexandre Guerra
 

Leituras

Alexandre Guerra, 11.11.07


O mais espectacular e dispendioso falhanço em 50 anos de história de projecos espaciais de satélites de espionagem. É desta forma que o New York Times, através de um extenso artigo de investigação publicado na sua edição de Domingo, classifica um projecto que começou a correr mal desde o primeiro dia.



Em In Death of Spy Satellite Program, Lofty Plans and Unrealistic Bids fica-se a saber que foram desperdiçados 4 mil milhões de dólares para o Future Imagery Architecture, um programa audaz que visava a construção de uma nova geração de satélites de espionagem tecnologicamente avançados ao nível da recolha de imagens.

   

As sequelas raramente correspondem às expectativas criadas depois do filme de estreia

Alexandre Guerra, 10.11.07



Nos últimos dias, "opinion makers" e analistas parecem ter "descoberto" a face espectáulo de Santana Lopes e, admirados pela pobreza do debate sobre o Orçamento de Estado e pela fraca prestação do líder da bancada parlamentar do PSD, debitaram as suas ideias, assinando, mais uma vez, o óbito do "enfant terrible" da política portuguesa. Afinal, o grande confronto anunciado entre Santana e o primeiro-ministro José Sócrates fora um "flop". 

O que é interessante nesta história é constatar-se que "opinion makers" e analistas não anteciparam os seus escritos ao debate parlamentar, apesar de agora todos afirmarem que já se antevia e era previsível o desfecho daquele confronto. Esperaram por uma situação mais "confortável" e toca a debitar o óbvio.   

A nossa praça está cheia de "doutos" analistas e "opinion makers" que "sabem tudo" à posteriori do acontecimento, seja ele qual for, mas curiosamente nunca escrevem à priori. O factor risco é praticamente inexistente ao contrário do que acontece na tradição anglo-saxónica que, por vezes, acaba mesmo por exagerar na forma leviana como prevê acontecimentos ou analisa cenários.  

Seja como for, só no Público de hoje, são três os "opinion makers" e analistas que, apesar de "saberem tudo" o que se ia passar no debate, só escreveram depois do acontecimento: José Manuel Fernandes, São José Almeida e Eduardo Cintra Torres. 

É inegável que se torna mais fácil escrever textos "intelectuais" e "sabedores" depois dos factos estarem consumados e serem de interpretação óbvia até para o mais comum cidadão.    

Ora, uma das funções dos analistas, mas também dos "opinion makers", é que se antecipem aos acontecimentos e que "preparem" os leitores/cidadãos para os fenómenos políticos ou de outra natureza. Isto não invalida que depois do acontecimento se proceda a um exercício de reflexão e se compare o que foi escrito antes e depois. Este é um método seguido por analistas e "opinion makers" dignos desse nome.

Voltando a Santana Lopes e ao debate sobre o Orçamento de Estado, a verdade é que é o trabalho estava facilitado para os analistas e "opinion makers", mesmo para os menos virtuosos. Mas mesmo assim ninguém escreveu qualquer texto antes de terça-feira a demonstrar por "a+b" que Santana se ia "espalhar ao comprido" na Assembleia.

E que "a+b" seria esse?

Santana Lopes deu sempre uma dimensão dramática ao seu discurso, na medida em que para ele a política é um espectáculo e não uma arte de governar. Espectáculo que dura há já quase 30 anos, com todos os ingredientes pelo meio, onde nem a comédia faltou durante os meses que liderou os desígnios de Portugal.

Com altos e baixos, a verdade é que Santana Lopes se tem mantido em cena durante todo este período, sendo inclusive um dos políticos mais activos das últimas três décadas. Mas, para o espectáculo ter corrido tão bem, Santana Lopes foi sempre utilizando diferentes "cenários" (lides partidárias, secretarias de Estado, Câmaras, Governo, deputado), novos "guiões" e diversos "realizadores" (Sá Carneiro, Cavaco Silva, Durão Barroso).

Ao longo dos anos, Santana Lopes tem tido ao seu dispor uma máquina gigantesca para montar um espectáculo convicente junto dos eleitores e das bases do seu partido, o que lhe tem permitido manter-se em cena.

E, apesar das várias retiradas e dos constantes regressos ao "palco", Santana evitou sempre voltar ao mesmo espectáculo. Das duas vezes em que isso aconteceu, Santana deu-se mal: quando reassumiu a presidência da Câmara de Lisboa, em 2005, e agora quando pretendeu reeditar um duelo com José Sócrates.

Como indiciam os resultados daquele que será talvez o melhor modelo de análise do mundo em termos de espectáculo, havia uma elevada possibilidade de fracasso do espectáculo de Santana Lopes na Assembleia, porque, como Hollywood tem ensinado, as sequelas raramente correspondem às expectativas criadas depois do filme de estreia. Alexandre Guerra

Leituras

Alexandre Guerra, 08.11.07


As sociedades pós-modernas querem melhor ambiente, mas concomitantemente consomem mais energia. É uma equação de difícil resolução e muito se tem escrito e falado sobre este tema nos últimos tempos.



Apesar de todo o esforço intelectual e académico, não foi ainda encontrado um modelo consensual que responda cabalmente aos desafios resultantes da ameaça ambiental com a necessidade energética. 



Perante este cenário, é obrigatória a leitura de Getting Power to the People. Na opinião do Diplomata, é um dos melhores artigos sobre a problemática relação do consumo energética com as preocupações ambientais. Extenso e muito técnico, o texto foi publicado na edição de Setembro/Outubro da revista The Bulletin of The Atomic Scientists e o seu autor é Mattthew L. Wald, jornalista do New York Times desde 1979, especialista em assuntos de energia. AG