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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Mais um sonho que se desvanece

Alexandre Guerra, 06.10.07

                                                                                                  Shannon Stapleton/Reuters 

Para quem nutre paixão pelo desporto, como é o caso do autor destas linhas, os últimos tempos foram férteis em desilusões, com o surgimento de inúmeras notícias relacionadas com casos de doping e de violação das regras internacionais que existem para garantir um espirito de igualdade de oportunidades para todos os atletas que alinhem à partida em qualquer prova ou competição.

O ciclismo tem sido sem dúvida a modalidade mais fustigada e a última edição da volta à França veio apenas confirmar uma tendência há muito evidente. Houve de tudo um pouco, desde casos de doping à violação dos estatutos impostos pela UCI.

De tudo isto resulta a seguinte permissa: os heróis de hoje são potenciais batoteiros de amanhã. Esta é uma ideia que se instalou no ciclismo, onde já ninguém parece confiar no princípio da "verdade desportiva". 

É verdade que há muito tempo que a alta competição deixou de assentar única e exclusivamente no "treino", no entanto, isto não significa necessariamente que se passe determinadas linhas vermelhas impostas pelos organismos internacionais que regem as diferentes modalidades e pelo Comité Olímpico Internacional. O recurso ao doping, a violação das regras ou a compra de árbitros são apenas alguns exemplos que pervertem por completo o espírito desportivo.  

Ontem, e sem grande surpresa, caiu mais um herói, ou melhor dizendo, uma heroína. A velocista Marion Jones admitiu à saída do tribunal ter ingerido substâncias ilegais antes dos Jogos Olímpicos de 2000. Para quem se lembra de a ver correr em Sydney, onde ganhou cinco medalhas, três de ouro, a desilusão é avassaladora.  

O estilo, a elegância e a perfomance faziam de Marion Jones uma atleta de sonho, um sonho que agora se desvanece de forma inglória. Resta-lhe a forma honrosa como pediu desculpa aos seus fãs. AG  

Liberdade de imprensa na Eslovénia

Alexandre Guerra, 04.10.07

Por via de um jornalista esloveno amigo do autor destas linhas, o Diplomata ficou a saber que está neste momento a decorrer na Eslovénia uma campanha de "silenciamento" de alguns media daquele país. De acordo com o relato apresentado, desde Outubro de 2004 que o Governo de Lubliana adoptou medidas bastante rigorosas e restritivas relativamente à liberdade de imprensa.


Ao nível dos órgãos de comunicação social do Estado, as chefias e editores parecem estar a "alinhar" com as orientações do Executivo, tendo já alguns jornalistas sido despedidos e outros proibidos de escreverem determinados artigos ou então verem ser censurados os mesmos. 


Nos media privados, a pressão tem sido feita de forma indirecta, através da publicidade, com o Governo a tomar medidas hostis contra empresas que coloquem anúncios em jornais ou televisões que sejam contrárias aos interesses do Executivo.


Como consequência deste processo, está a circular uma petição na Eslovénia contra a política do Governo e que já foi assinada por 450 jornalistas eslovenos, cerca de um quarto do total daquela classe no país. A Federação Europeia de Jornalistas já manifestou o seu apoio aos profissionais eslovenos, e jornais como o Der Spiegel ou o International Herald Tribune já deram conta desta situação. 


Foi com bastante surpresa que o Diplomata recebeu a notícia destes acontecimentos, bastante graves para um país que integra a União Europeia. Mas, pior ainda, daqui a sensivelmente três meses a Eslovénia assumirá a presidência do Conselho Europeu da UE e, por isso, este será um assunto a acompanhar e ao qual o Diplomata voltará. AG 

Pontos de interesse

Alexandre Guerra, 02.10.07

"REN sem emenda", Rui Costa Pinto em Mais Actual.  


"Meteorologia política", Tomas Vasques em Hoje há onquilhas, amanhã não sabemos


"A imagem conta [mesmo na liga dos últimos]", Alaíde Costa em blogue Atlântico


"2007 - annus horribilis para a pitonisa do regime", Carlos Abreu Amorim em Blasfémias.


"O modelo húngaro?", José Medeiros Ferreira em Bicho Carpinteiro.


"Grandes lojas", JCS em Lobi.

Os "cobardes"* do PSD

Alexandre Guerra, 01.10.07

Sendo este também um espaço dedicado à ciência política, o Diplomata não podia deixar de analisar uma realidade que há muito considera estar instalada no PSD, sobretudo na sua cúpula. 


Por definição, um partido tem como objectivo "conquistar, exercer e manter" o poder político. Dos militantes aos líderes, todos trabalham para o mesmo objectivo, embora podendo ser a níveis diferentes (autarquias, Governo, presidência).  


Das bases para a cúpula, o "sistema" (cientificamente, este é um termo mais adequado do que o de "aparelho") vai adaptando as pessoas aos cargos em disputa, sendo por isso lógico que os mais altos postos da nação apelem aos militantes do topo da hierarquia. É também razoável pensar-se que ao líder do partido está potencialmente reservado o cargo de primeiro-ministro.


Cada partido tem um processo electivo próprio que vai seleccionado as principais figuras do partido ou, como também são conhecidas, os "históricos", os "barões", as "elites" ou os "notáveis". Porém, não há qualquer problema em admitir "que a ambição de cupar o Poder é uma característica essencial do político" (definição de Adriano Moreira). E é bom que assim o seja, desde que se respeitem determinadas regras sistémicas e alguns princípios políticos. Quando as coisas acontecem dessa forma, então a política pode ser uma actividade nobre que suscite paixão no eleitorado e intimamente ligada a uma das artes mais antigas das sociedades humanas, a governação.   


O PSD há muitos anos que deixou de ser um partido nobre, no sentido de prestar um serviço à governação. As figuras de proa de outrora ou se "acobardaram" ou cederam o lugar a "cobardes". Os jogos de bastidores tornaram-se mesquinhos e dissimulados e as pessoas que foram avançando, muitas vezes por sua conta e risco e sem quaisquer apoios de "peso", foram sendo "trituradas" pelo próprio sistema partidário.


Concomitantemente, os "salvadores" do partido resguardam-se, remetendo-se a um silêncio tumular para não se comprometerem nem indiciarem o apoio a correligionários, mas sempre alimentando a ideia de uma futura candidatura. 


Manuela Ferreira Leite tornou-se no paradigma de uma nova forma de estar na vida partidária, a do político que não fala, que não intervém, que não apresenta nem discute ideias, que não apoia... Na verdade, é um político que não exerce a sua militância. Este modelo ganhou muitos adeptos nos últimos anos.  


Para o Diplomata, a questão coloca-se de forma simplesquem não quer fazer política afasta-se, porque a sua presença na cúpula é um factor desestabilizador para os que estão empenhados na causa pública. Se a maioria das principais figuras do partido não se pronuncia perante umas directas, então quando será que intervirá? 


Independentemente das competências de Marques Mendes ou de Filipe Menezes, os dois "atiraram-se" para a arena política, mesmo sabendo que a conjuntura lhes era desfavorável, dado que o PS tem hipóteses de se manter no poder por mais alguns anos. Na realidade, poucos acreditam que Menezes venha a disputar eleições com José Sócrates nas quais tenha efectivas condições de vencer.  


Mesmo assim, houve figuras do PSD que não se esquivaram ao combate político e desceram do "olimpo" para manifestaram a sua posição. Correndo riscos, é certo, pessoas como Pacheco Pereira ou Ângelo Correia veicularam de forma inequívoca as suas ideias e pensamentos, e em política este é um princípio basilar. Alexandre Guerra 


*Não querendo ofender qualquer leitor, o Diplomata deixa aqui o significado da palavra "cobarde" à luz da Porto Editora: "que ou a pessoa que não tem coragem; medroso; poltrão;" ou  "que ou pessoa que age de forma desleal ou traiçoeira;" 

Vladimir Putin vai revelando as suas verdadeiras intenções

Alexandre Guerra, 01.10.07

Quando o Presidente Vladimir Putin anunciou a sua "retirada" do Kremlin (relembre-se, obrigado por motivos constitucionais) surgiram de imediato vários nomes que podiam ser potenciais sucessores. Muitos analistas e jornalistas passaram a falar de uma Rússia pós-Putin, revelando uma falha grave na leitura de toda a situação. 


No entanto, e como há muito tem sido referido pelo Diplomata, Vladimir Putin nunca teve verdadeiras intenções de abandonar o poder. Conhecendo-se um pouco da história política russa e da sua liderança, facilmente se chegaria à conclusão de que Putin estava apenas a ganhar tempo para encontrar uma solução que lhe permitisse manter o controlo do poder.


A forma é apenas um pormenor porque o que está em causa é a substância da decisão. Ouvido pela rádio Ekho Moskvy, o analista russo Gleb Pavlovsky vai directo à questão central: "We can forget our favourite cliche that the president is tsar in Russia." E neste caso o Czar é Vladimir Putin que tanto o poderá ser na presidência, na chefia do Governo ou noutro cargo qualquer, desde que faça as devidas alterações constitucionais e que continue acompanhado dos seus "siloviki". Pavlovsky acrescenta ainda que o sucessor de Putin "não será um Czar" e "que surgirá um novo centro de influência fora do Kremlin".     


Nos últimos meses, o Presidente russo tem insistido nessa ideia, tendo hoje afirmado que a sua eventual candidatura nas eleições legislativas de Dezembro para o cargo de primeiro-ministro é uma opção "inteiramente realista". O anúncio foi feito durante um congresso da Rússia Unida que, segundo o correspondente da BBC Mike Sanders, caiu que nem uma bomba. Mas, talvez para os mais desatentos...


A verdade é que ainda recentemente Putin já tinha ensaiado um possível modelo para manter o controlo do poder, ao sugerir a criação de um cargo influente no qual assumiria a liderança, ao mesmo tempo que colocaria na Presidência um "fantoche" ao seu serviço. Aliás, este trabalho já começou com a nomeação de Viktor Zubkov para o cargo de primeiro-ministro, uma figura praticamente desconhecida mas totalmente leal a Putin. AG    

Leituras

Alexandre Guerra, 01.10.07

Se alguém tivesse que identificar um local na Terra que se assemelhasse ao Inferno, Grozny seria certamente uma cidade a ter em consideração. É por esta razão que a reportagem publicada este domingo no New York Times é tão surpreendente. Under Iron Hand of Russia's Proxy, a Chechen Revival mostra uma capital da Chechénia bastante diferente daquela que viveu duas sangrentas guerras civis desde o fim da Guerra Fria. 

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