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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

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A segunda vaga dos "neocons"?

Alexandre Guerra, 31.10.07

Norman Podhoretz

O Presidente George W. Bush termina o seu segundo mandato daqui a sensivelmente um ano e esperam muitos que os seus "amigos" neoconservadores o acompanhem na saída. É inegável que isto pode vir a acontecer, tendo em conta a "debandada", sobretudo neste segundo mandato, de alguns membros influentes "neocons" da administração republicana.

No entanto, isto não significa necessariamente que a América sob uma nova governação, especialmente republicana, esteja "livre" da influência daquela corrente política, que tantos adeptos (e críticos) ganhou nos últimos anos. 

Na verdade, e ao contrário do que alguns analistas e comentadores vaticinam, o movimento neoconservador parece continuar bastante firme na elite republicana nos tempos que correm.
A grande diferença é que poderá estar a surgir uma nova vaga de figuras neoconservadoras que até aqui não foram tão mediatizados nem tiveram um papel tão activo no campo político.

Porém, devido a dois factores, essas mesmas figuras têm espaço para emergir na cena política: 1. A campanha eleitoral para as presidenciais americanas; 2. O afastamento de alguns neoconservadores mais conhecidos.

Estes dois factores combinados permitem que surjam outros nomes “neocons”, sobretudo ligados a alguns candidatos republicanos. Num artigo de opinião no New York Times, Pauk Krugman abordava precisamente esse ponto.

O ex-mayor de Nova Iorque, Rudy Giuliani, é um dos candidatos republicanos mais bem posicionados para disputar as primárias do GOP, e não tendo ele um pensamento neoconservador no sentido doutrinário da palavra, encontra no seu assessor para a política externa essa inspiração ideológica.

Norman Podhoretz (que, curiosamente, nos anos 60 pertenceu ao célebre movimento da “new left”) é um veterano do pensamento “neocon” e um dos que contribuiu para a mediatização daquele conceito, tal como hoje é entendido, e que agora aparece na linha da frente. Caso Giuliani vença as primárias e, eventualmente, as presidenciais, Podhoretz será, certamente, uma voz de peso na Casa Branca.

E se muitos viam o “pure evil” no pensamento de homens como Douglas Feith, Paul Wolfowitz ou Richer Perle, só para citar alguns que estiveram com George W. Bush, Podhoretz não fica atrás. Na verdade, ele e Irving Kristol são considerados os autênticos “gurus” do neoconservadorismo.

O percurso e actividade de Norman Podhoretz, cientista política e colunista, comprovam essa ideia. Filho de judeus, obteve uma licenciatura em literatura hebraica , tendo sido co-fundador com Kristol da revista Encounter e mais tarde editor-chefe da publicação Commentary até 1995, à qual se mantém ligado como colunista. Convém relembrar que esta revista é um dos bastiões do pensamento neoconservador.

Entre outras coisas, Norman Podhoretz é membro do Council on Foreign Relations e “fellow” do Hudson Institute, tendo recebido das mãos do Presidente Bush, em 2004, a Medalha da Liberdade, a mais alta condecoração que pode ser atribuída a um civil.

E para concluir, Norman Podhoretz, à imagem de qualquer bom neoconservador, defende uma linha muito agressiva em termos de política externa e, por isso, apoia claramente um ataque militar contra o Irão, tal como o fez aquando da intervenção norte-americana no Iraque. Alexandre Guerra
 

Leituras

Alexandre Guerra, 30.10.07

O Projecto Manhattan foi um dos segredos mais bem guardados dos tempos modernos e, apesar de se já ter escrito muitas linhas sobre J. Robert Oppenheimer e companhia, é possível ainda encontrar histórias por contar e lugares por descobrir.



É isso mesmo que propõe William J. Broad do New York Times, que em Why They Called It The Manhattan Project apresenta ao leitor factos muito interessantes e praticamente desconhecidos, baseados no trabalho de Robert S. Norris, investigador do Natural Resources Defense Council, e que acabou de editar o livro "The Manhattan Project".

Quando a política se torna mais atraente

Alexandre Guerra, 29.10.07

                                                                                                                              Reuters

O Diplomata não correrá um grande risco se afirmar que desde os tempos da invenção da política na Grécia clássica que aquela nobre arte de governar não é executada por pessoas bonitas. E não se está a falar do campo espiritual ou filosófico, mas sim do físico. Em Atenas, estava inerente à política uma certa ideia de beleza física e material que ao longo dos séculos se foi perdendo, ou melhor dizendo, transformando.

Hoje, o político é uma figura pouco atractiva que, nalguns casos, provoca sensações de repulsa e bastante desagradáveis junto dos cidadãos. Nalgumas situações, o político tornou-se num super-burocrata, ostentando um porte físico que não cativa câmaras nem olhos, sendo por vezes até motivo de aniquilação política. Basta relembrar o caso de Ferro Rodrigues que, devido aos seus parcos atributos físicos, todos os comentadores não hesitaram em condenar a sua potencial ascensão à liderança do Governo. Mas, também Marques Mendes foi vítima dessa ausência de atributos físicos, neste caso a altura.

Mas, a verdade é que a política destes dias tem sido desempenhada por pessoas sem qualquer tipo de atributos de beleza ou critérios estéticos. De vez em quando lá vai aparecendo um ou outro líder que desafia o tom cinzento que domina o cenário. Nesse capítulo, José Sócrates até é um dos exemplos positivos, tendo mesmo havido algumas vozes femininas que chegaram a chamá-lo de George Cloney português. Um exagero, talvez... Mas, os fatos Armani, Sócrates não dispensa.


                                                                                                                             Reuters

Perante um panorama desolador na política, Sególène Royal tornou-se num fenómeno de popularidade em França e no mundo, porque veio trazer à República francesa uma beleza até então desconhecida, tornando muito mais fácil o "consumo" de política.
 
Agora, chegou a vez de Cristina Fernández do partido Frente para a Vitória (peronista) e mulher do ainda Presidente argentino, Nestor Kirchner. Eleita este Domingo para suceder ao marido na "Casa Rosada" com uma larga margem, Cristina terá agora de corresponder às expectativas dos seus eleitores, mas, entretanto, já cativou pelo menos a atenção do autor destas linhas. Alexandre Guerra
     

A solução para fazer da Cimeira União Europeia-África um sucesso

Alexandre Guerra, 28.10.07

Um dos maiores desafios com que a Presidência portuguesa da União Europeia se tem vindo a debater nestes meses é a realização da Cimeira UE-África em Dezembro. Apesar das palavras tranquilizadoras que têm sido veiculadas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, de que se está a trabalhar numa solução para resolver o imbróglio político-diplomático que esta cimeira acarreta, parece ser claro que as Necessidades pouco ou nada têm de concreto para desbloquear o impasse criado. 



Aliás, nesta questão, tanto Amado como os secretários de Estado dos Assuntos Europeus, Manuel Lobo Antunes, e dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, João Gomes Cravinho, têm tido um discurso coerente e prudente, mas ao mesmo tempo revelador da inexistência de qualquer estratégia para sentar à mesma mesa o Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, e o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown.



Nesta altura, o Governo português terá de escolher qual dos dois vai convidar para a "festa". A questão é saber qual. É um papel ingrato para a diplomacia portuguesa, mas vai ter que o desempenhar de forma hábil, estando consciente de que neste tabuleiro as coisas poderão não correr tão bem como têm corrido até aqui. 



Em declarações ao Jornal de Angola, citado pela Lusa, Robert Mugabe disse que ainda não lhe tinha sido endereçado qualque convite para a cimeira de Dezembro. Perante isto, pode concluir-se duas coisas óbvias: ou o Governo português ainda não decidiu ou então optou pela presença de Brown em Lisboa.



Seja qual for a decisão de Portugal, a fotografia de família da Cimeira UE-África ficará incompleta e não se vislumbra forma de atenuar esse problema. E, no pior dos cenários, o primeiro-ministro português, José Sócrates, arrisca-se a ter vários lugares vazios à volta da mesa das negociações, porque seja qual for "o convidado que ficar à porta" é provável que, por solidariedade ou conivência de posições, arraste outros países europeus ou africanos no seu protesto.



Perante tudo isto, haverá mais alguma opção que possa gerar um ambiente de concórdia na Cimeira UE-África e atribuir-lhe relevância histórica mesmo perante as contrariedades evidentes? A resposta, por incrível que parece, é positiva: Nelson Mandela.



Segundo constou ao Diplomata, trazer o líder histórico africano a Lisboa é uma das possibilidades que está em cima da mesa. Mandela é hoje a mais respeitada e admirada personalidade mundial. A sua presença em qualquer sítio é, por si só, motivo de celebração. Mandela irradia um carisma incomparável e a sua autoridade moral e política é incontestável.  



Agora, imagine-se Nelson Mandela rodeado de inúmeros líderes europeus e africanos, "rendidos" à sua figura... Mesmo que pelo meio faltassem alguns, quem iria dar pela ausência deles? 



Porém, a vinda do Nobel da Paz a Lisboa não será uma tarefa fácil, porque os seus 90 anos já não lhe permitem ter uma agenda muito intensa nem muito exigente. Alexandre Guerra   

Para os "eruditos" do pensamento liberal

Alexandre Guerra, 26.10.07


Um certo núcleo de bloggers e eruditos desta praça passam horas a discutir e a debater a evolução do pensamento liberal desde o século XIX e as suas complexidades e virtudes. As conclusões são inúmeras e para todos os gostos, mas a verdade é que pouco ou nada acrescentam ao que vem nos manuais. Por vezes, a ânsia de dizer algo novo é tanta que se acaba por distorcer as ideias originais e cair em armadilhas que em nada favorecem a reputação intelectual de quem as veicula. 



Podem ser identificados dois factores que contribuem para a pobreza do debate que se verifica, em termos generalizados, quando se aborda a questão do pensamento liberal: 1. A fraca capacidade académica e intelectual de quem realiza essas pseudo-análises; 2. A escassez de documentos que permitam apresentar um encadeamento de ideias e pensamento sobre um mesmo assunto, de modo a servir de modelo de estudo e análise.



No fundo os dois factores acima enunciados são aqueles com que qualquer estudante se depara quando está perante a tarefa de iniciar um trabalho académico, por exemplo, de ciência política: primeiro precisa de ter "cérebro" e depois tem que possuir um modelo de análise para trabalhar sobre o mesmo. Ora, o que acontece é que em muitos dos casos, nomeadamente aqui neste espaço da blogosfera, o debate acaba por ser feito sobre o vazio, apesar dos argumentos serem quase sempre apresentados como se resultassem de um rigoroso trabalho científico.  



Seja como for, tudo isto para dizer que o Los Angeles Times disponibilizou uma pequena preciosidade para aqueles que verdadeiramente se interessam pelas áreas de ciência e filosofia políticas. Na modesta opinião do autor destas linhas, os textos colocados on-line por aquele jornal permite ao leitor um exercício intelectual muito interessante e profícuo. 



Tratam-se de todos os editorias to LA Times escritos entre 1918 e os anos 90 a propósito da evolução do sistema de saúde ao longo daquelas décadas. Um exercício feito aos olhos de um jornal representativo do pensamento liberal norte-americano puro e duro. From Kaisercare to Hillarycare (referências ao sistema de Estado social "inventado" por Bismarck e às políticas de saúde defendidas na presidência Clinton) é um excelente documento de investigação, porque parte precisamente de um modelo de análise no qual se pode constatar a evolução do pensamento liberal sobre o mesmo assunto ao longo de quase um século. Aqui, o investigador ou o académico tem bastante material para poder concluir algo bastante sólido e cientificamente sustentável. Alexandre Guerra
 

Leituras

Alexandre Guerra, 24.10.07


Em US-Iraqi Contract 'in disarray pode-se constatar, mais uma vez, as debilidades do processo de reconstrução do Iraque. O artigo da BBC On Line adianta alguma informação sobre um relatório do Departamento de Estado norte-americano prestes a ser divulgado, que tece várias críticas ao contrato estabelecido entre o Governo e a empresa DynCorp, com o objectivo de dar formação à polícia iraquiana.



O resultado do trabalho dos auditores do Departamento de Estado é agora revelado: ninguém sabe onde é que foram gastos os 1,2 mil milhões de dólares entregues à DynCorp quando esta ganhou o contrato em 2004.


Uma descoberta muito interessante

Alexandre Guerra, 23.10.07



A notícia ainda não está nas páginas dos jornais, mas a descoberta feita em Jerusalém por vários arqueólogos é bastante importante e, caso se venha a confirmar as primeiras impressões dos especialistas, poder-se-á dizer que se está perante um achado histórico.

A notícia chegou ao autor destas linhas através de via diplomática privilegiada e, por isso, fica aqui o texto tal como foi recebido:


"During a recent archaeological inspection on the Temple Mount , carried out by the Israel Antiquities Authority over maintenance works of the Waqf, a sealed archaeological level dated to the First Temple Period was probably exposed in the area close the south-eastern corner of the raised platform surrounding the Dome of the Rock.  Archaeological examination of a short section of this level, undertaken by Yuval Baruch, the Jerusalem District Archaeologist, uncovered finds that included fragments of ceramic table wares and animal bones.  The finds are dated to the eighth to sixth centuries BCE.


Yuval Baruch of the IAA, Prof. Sy Gitin, Director of the William F. Albright Institute of Archaeological Research in Jerusalem, Prof. Israel Finkelstein of Tel Aviv University and Prof. Ronny Reich of Haifa University examined the finds and the archaeological data and reached the conclusion that the characteristics and location of the finds may aid scholars in reconstructing the dimensions and boundaries of the Temple Mount during the First Temple Period.

The finds include fragments of bowls, including rims, bases and body sherds; the base of a juglet used for the ladling of oil; the handle of a small juglet and the rim of a storage jar. The bowl sherds were decorated with wheel burnishing lines characteristic of the First Temple Period.  In addition, a piece of a white washed handmade object was found.  It may have been used to decorate a larger object or may have been part of a figurine." AG

Outra perspectiva da vida de um eurodeputado

Alexandre Guerra, 20.10.07


Na edição deste Sábado da revista Tabu, que acompanha o jornal Sol, pode-se encontrar um artigo interessante sobre a vida dos eurodeputados nacionais em Bruxelas. O ângulo apresentado pelo jornalista é criativo e revela ao leitor uma realidade diferente e menos "dourada" daquela que é vulgarmente referenciada para todos os políticos que optam por fazer política no Parlamento Europeu.



A pretexto da morte recente de Fausto Correia, "encontrado sem vida em casa" em Bruxelas, vários eurodeputados deram conta dos seus receios, das suas ansiedades, dos seus problemas e dificuldades que acarreta o seu estilo de vida. 



Muito interessante e, de certa forma surpreendente, é o "desabafo" da eurodeputada socialista Edite Estrela: "Se me sinto mal de noite a quem recorro? Nós não conhecemos bem os vizinhos, nem sabemos como funciona o sistema de Saúde?"  Uma declaração compreensível dado que a morte de alguém próximo suscita momentos de reflexão profunda e desperta determinados sentimentos que raramente vêm ao de cima.  



A isto junta-se o ambiente soturno e cinzento constante de uma cidade que, embora sofisticada, é pouco convidativa para a socialização.  



Quem conhece minimamente Bruxelas e o sistema de funcionamento das instituições comunitárias apercebe-se de realidades contraditórias: Por exemplo, o edifício do Parlamento Europeu em Bruxelas é o paradigma do ideal europeu, onde confluem todas as nacionalidades e culturas e nenhuma se destaca, criando um ambiente cosmopolita e multicultural, onde tudo se passa a uma velocidade estonteante (o eurodeputado Carlos Coelho disse à Tabu que chegou a "ter 14 reuniões num dia"); Mas, por outro lado, a "Bruxelas comunitária" tem um lado cinzento e frio, onde as pessoas trabalham em conjunto durante várias horas por dia, mas onde não convivem. No fim do horário de trabalho, os eurodeputados saem dos gabinetes e vão para casa. Sozinhos. Durante anos, é assim a vida diária destas pessoas. 



A verdade é que a vida de eurodeputado comporta uma certa solidão e um espírito resistente. As constantes deslocações entre Bruxelas e Lisboa e Bruxelas e Estrasburgo (pelo menos duas vezes por mês para reunir em plenário) são muito desgastantes. É certo que os ordenados são aliciantes, no entanto, o sacrifício também é elevado, sobretudo para aqueles que levam o trabalho a sério. 



Ainda em Março último, o autor destas linhas cruzou-se com Ilda Figueiredo no voo da Tap do final da tarde de Bruxelas para Lisboa. A eurodeputada comunista é também vereadora na Câmara de Gaia e a pretexto de assuntos antigos o Diplomata esteve durante alguns minutos à conversa com Ilda Figueiredo. Com vários documentos em cima das pernas, a eurodeputada ia aproveitando as duas horas e vinte minutos de voo para trabalhar. 



Eram cerca das 21 e 15 de uma Quinta-feira quando o avião chegou à Portela e o autor destas linhas, cansado que estava, tinha alguém à espera para seguir descansadamente para casa nos arredores de Lisboa. Quanto a Ilda Figueiredo, ainda ia apanhar o avião para o Porto nessa mesma noite, porque na manhã seguinte, bem cedo, tinha compromissos político-partidários. A agenda, segundo informou a eurodeputada, estava preenchida para todo o fim-de-semana. Na Segunda-feira, voltaria para Bruxelas para mais uma semana de trabalho. Alexandre Guerra
      

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