Das boas intenções ao mau gosto...
Por coincidência, no mesmo momento em que o Diplomata estava a assistir à entrevista de Márcia Rodrigues ao embaixador do Irão em Portugal (tratava-se da repetição), deu conta, através do Tugir, que tal acontecimento jornalístico está a gerar na imprensa e na blogosfera alguns comentários sobre a indumentária com que a editora de Política Internacional da RTP se apresentou perante o representante diplomático iraniano.
De facto, Márcia Rodrigues terá exagerado naquilo que pode ser interpretado como um gesto simpático e uma tentativa de "respeitar" a cultura e a tradição de um povo. O princípio é louvável, mas terá de ser aplicado com bom senso. Porque o que poderia ser uma boa estratégia para ganhar a confiança do entrevistado e credibilidade junto do público, acabou por resultar num espectáculo televisivo ridículo.
Márcia Rodrigues estava simplesmente desajustada ao ambiente, algo que desafia uma regra básica de qualquer trabalho de campo de um jornalista: discrição.
Nem mesmo no Irão, as jornalistas estrangeiras estão sujeitas a tal indumentária: lenço, sim, mas não é preciso tapar a cara e muito menos as mãos. Há uns tempos, uma jornalista portuguesa esteve no Irão e entrevistou uma das figuras mais proeminentes do clero iraniano e não foi preciso tanto aparato para a mesma realizar a sua entrevista nem outras reportagens no terreno.
Além do mais, o autor destas linhas já teve a oportunidade de estar reunido com duas altas personalidades da Embaixada e uma coisa é certa: nada fez transparecer estar-se perante um protocolo rígido, seja em termos de indumentária ou de outra categoria qualquer. Pelo contrário, ao Diplomata foi sempre manifestada muita boa vontade por parte da Embaixada dentro de moldes perfeitamente razoáveis.
Mais, o autor deste espaço chegou mesmo a ser convidado pela Embaixada iraniana para uma recepção formal, sem que fosse feita qualquer referência ao traje a usar pelo Diplomata ou por uma eventual companhia feminina.
Para concluir, não obstante as possíveis boas intenções de Márcia Rodrigues, a verdade é que a opção da jornalista revelou-se desajustada em termos de gosto, acabando por ter um efeito perverso, já que a sua aparência criou ruído sobre o conteúdo da entrevista. Alexandre Guerra